Do Segundo Livro dos Reis
18,17-36
Missão do copeiro-mor
17De Laquis, o rei da Assíria mandou ao rei Ezequias, em
Jerusalém, o comandante-chefe, o grande eunuco, o copeiro-mor com um forte contingente de homens. Eles, subiram,
portanto, e chegaram a Jerusalém. Tendo subido e chegado,
postaram-se perto do aqueduto do reservatório superior, que
está no caminho do campo do Pisoeiro. 18Chamaram o rei;
saíram ao seu encontro o chefe do palácio, Eliacim, filho de
Helcias, o secretário Sobna e o arauto Joaé, filho de Asaf.
19O copeiro-mor lhes disse: “Dizei a Ezequias: Assim fala o
grande rei, o rei da Assíria: Que confiança é essa em que tu
te estribas? 20Pensas que palavras vãs representam conselho
e valentia para guerrear. Em que, pois, depões tua confiança,
para te teres revoltado contra mim? 21Confias no apoio do
Egito, esse caniço quebrado, que penetra e fura a mão de
quem nele se apoia; pois não passa disso o Faraó, rei do
Egito, para todos os que nele confiam. 22Dir-me-eis talvez:
‘É no Senhor, nosso Deus, que pomos nossa confiança’,
mas não foi dele que Ezequias destruiu os lugares altos e os
altares, dizendo ao povo de Judá e de Jerusalém: ‘Só diante
deste altar, em Jerusalém, é que deveis vos prostrar’? 23Pois
bem! Aceita um desafio do meu senhor, o rei da Assíria: darte-ei dois mil cavalos, se puderes encontrar cavaleiros para
montá-los! 24Como conseguirás repelir um governador, um
dos menores servos do meu senhor? Mas tu confiastes no
Egito para ter carros e cavaleiros! 25E então, foi porventura
sem o consentimento do Senhor que eu ataquei esta cidade
para a destruir? Foi o Senhor que me disse: Ataca esse país
e devasta-o!”
26Eliacim, filho de Helcias, Sobna e Joaé disseram ao
copeiro-mor: “Peço-te que fales a teus servos em aramaico,
pois nós o entendemos; não nos fales em judaico, aos ouvidos do povo que está sobre as muralhas.” 27Mas o copeiro-mor respondeu-lhes: “Foi a teu senhor e a ti que meu senhor
mandou dizer essas coisas? Não foi antes ao povo, que está
sentado sobre as muralhas e que está condenado, como vós,
a comer seus excrementos e a beber a própria urina?”
28Então o copeiro-mor se pôs de pé e, gritando em alta
voz, em língua judaica, disse: “Escutai a palavra do grande
rei, o rei da Assíria. 29Assim fala o rei: Não vos deixeis
enganar por Ezequias, pois não poderá vos livrar da minha
mão. 30Que Ezequias não alimente vossa confiança em Deus,
dizendo: ‘Certamente o Senhor nos salvará, esta cidade
não cairá nas mãos do rei da Assíria.’ 31Não deis ouvidos
a Ezequias, pois assim fala o rei da Assíria: Fazei as pazes
comigo, rendei-vos, e cada qual poderá comer o fruto da
sua vinha e da sua figueira e beber a água da sua cisterna,
32até que eu venha para vos transportar para uma terra como
a vossa, terra que produz trigo e vinho, terra de pão e de
videiras, terra de azeite e de mel, para que possais viver e
não morrer. Mas não deis ouvidos a Ezequias, que vos ilude,
dizendo: ‘Deus nos salvará!’ 33Acaso os deuses das nações
puderam realmente livrar cada qual sua terra das mãos do rei
da Assíria? Onde estão os deuses de Emat e de Arfad? 34Onde
estão os deuses de Sefarvaim, de Ana e de Ava? Acaso eles
livraram Samaria da minha mão? 35Dentre todos os deuses
das nações, quais os que livraram sua terra da minha mão,
para que o Senhor possa salvar Jerusalém?”
36O povo guardou silêncio e não respondeu nada, pois tal
fora a ordem do rei: “Não lhes darei resposta alguma.”
Responsório Cf. Is 37,22.29; 10,24.25.5
R. Esta é a sentença do Senhor contra o rei dos Assírios:
visto que te enfureceste contra mim
e a tua insolência subiu
até os meus ouvidos,
assim diz o Senhor:
* Povo meu, não tenhas medo da Assíria;
só mais um pouco
de tempo e o furor chegará ao fim.
V. Ai da Assíria, vara da minha ira,
ela é o bastão do meu
furor posto nas sua mãos.
* Povo meu.
Dos “Comentários sobre os Salmos”, de Santo Agostinho,
bispo
(Ps 47,7: CCL 38,543-545)
(Séc. V)
Vinde, subamos ao monte do Senhor
Tal como ouvimos, assim vimos (Sl 47,9). Ó Igreja
feliz! Em certo tempo ouviste, em outro tempo viste.
Ouviu em promessas, vê na realização; ouviu na profecia,
vê no Evangelho. Tudo quanto agora se cumpre foi antes
profetizado. Levanta os olhos e lança um olhar sobre o
mundo. Contempla a herança até os confins da terra. Vê
já se realizando aquilo que foi dito: Adorá-lo-ão todos os
reis da terra, todas as nações o servirão (Sl 71,11). Vê já
realizado o que se disse: Eleva-te acima dos céus, ó Deus,
e tua glória sobre a terra inteira (Sl 107,6). Vê aquele de
pés e mãos fixados por pregos, cujos ossos, pendendo do
lenho, foram contados, lançada a sorte sobre sua túnica. Vê
reinando aquele que viram perdendo; vê assentado no céu
aquele que desprezaram andando na terra. Vê desde então
cumprir-se: Lembrar-se-ão e se converterão para o Senhor
todos os extremos da terra; adorarão em sua presença todos
os povos (Sl 21,28). Ao ver tudo isto, exclama jubilosa: Tal
como ouvimos, assim vimos (Sl 47,9).
É justo chamar assim a própria Igreja dos gentios: Ouve,
filha, e vê e esquece teu povo e a casa de teu pai (Sl 44,11).
Ouve e vê: ouves primeiro o que não vês, verás depois aquilo
que ouviste. Um povo que eu não conhecia pôs-se a meu
serviço, mal me ouviu, obedeceu-me (Sl 17,44-45). Se com
ouvidos obedientes me obedeceu, quer dizer que não viu.
E o que significa: Aqueles aos quais não fora anunciado,
verão; e aqueles que não ouviram entenderão? (Is 52,15).
Aqueles a quem tinham sido enviados os profetas, os que
anteriormente não puderam ouvi-los, foram depois os
primeiros a ouvir e entender, e encheram-se de admiração.
Restam aqueles aos quais foram enviados, que possuem
livros, mas não compreendem a verdade; têm as tábuas
da Aliança, e não possuem a herança. Mas nós, tal como
ouvimos, assim vimos.
Na cidade do Senhor dos exércitos, na cidade de nosso Deus (Sl 47,9). Ali ouvimos, ali também vimos. Deus
fundou-a para a eternidade (Sl 47,9). Não se exaltem os
que dizem: Aqui está Cristo, está ali. Quem diz: Eis que
aqui está, eis ali, acena com várias partes. Deus prometeu
a unidade. Os reis aliaram-se, não se dissiparam em facções
(cf. Sl 47,5). Mas talvez com o tempo venha a ser destruída
esta cidade que contém o mundo. De modo algum: Deus
fundou-a para a eternidade. Se Deus a fundou para a eternidade, por que temes que caia seu sustentáculo?
Responsório Lv 26,11-12; 2Cor 6,16b
R. Hei de pôr minha morada,
minha tenda em vosso meio
e não mais vou rejeitar-vos;
* Caminharei em vosso meio e serei o vosso Deus,
e sereis
o povo meu.
V. Sois o templo do Deus vivo,
como diz o Senhor Deus.
* Caminharei.