8a SEMANA DO TEMPO COMUM
IV Semana do Saltério
SEGUNDA-FEIRA
Ofício das Leituras
Primeira leitura
Do Livro de Jó 2,1-13
Coberto de chagas, Jó é visitado pelos amigos
1Num outro dia em que os filhos de Deus vieram
apresentar-se novamente ao Senhor; entre eles veio também Satanás. 2O
Senhor perguntou a Satanás: "Donde vens? Ele respondeu, dizendo: "Venho
de dar umas voltas pela terra". 3O Senhor disse a Satanás:
"Reparaste no meu servo Jó? Na terra não há outro igual: é um homem
íntegro e correto, que teme a Deus e se afasta do mal; sem motivo
algum, tu me instigaste contra ele para aniquilá-lo, mas ele persevera
em sua integridade". 4Satanás respondeu ao Senhor e disse:
"Pele por pele! Para salvar a vida o homem dá tudo o que tem. 5Mas
estende a mão sobre ele, fere-o na carne e nos ossos e então verás que
ele vai lançar maldições no teu próprio rosto". 6"Pois bem!
– disse o Senhor a Satanás – faze o que quiseres com ele, mas poupa-lhe
a vida".
7E Satanás saiu da presença do Senhor. Ele feriu Jó
com chagas malignas desde a planta dos pés até ao alto da cabeça. 8Então
Jó apanhou um caco de telha para se raspar e sentou-se no meio da
cinza. 9Sua mulher disse-lhe: "Persistes ainda em tua
integridade? Amaldiçoa a Deus e morre duma vez!" 10Ele
respondeu: "Falas como uma insensata. Se recebemos de Deus os bens, não
deveríamos receber também os males"?
Apesar de tudo isso, Jó não cometeu pecado com seus lábios. 11Três
amigos de Jó, Elifaz de Temã, Baldad de Suás e Sofar de Naamat, ao
saberem da desgraça que havia sofrido, partiram de sua terra e se
reuniram para compartilhar sua dor e consolá-lo. 12Quando
levantaram os olhos, a certa distância, não o reconheceram mais.
Levantando a voz, puseram-se a chorar; rasgaram seus mantos e, a
seguir, lançaram poeira sobre suas cabeças. 13Sentaram-se
no chão ao lado dele, durante sete dias e sete noites, sem dizer-lhe
uma palavra, vendo como era atroz seu sofrimento.
Responsório Sl 37(38),2a.3a.4a.12a
R. Repreendei-me, Senhor,
mas sem ira:
Vossas flechas em mim penetraram.
* Nada resta de são no meu corpo,
pois com muito rigor me tratastes!
V. Companheiros e amigos se afastam,
fogem longe de minhas feridas. * Nada resta.
Segunda leitura
Dos Livros "Moralia" sobre Jó, de São Gregório Magno, papa
(Lib. 3,15-16: PL 75,606-608)(Séc. VI)
Se da mão de Deus recebemos os bens, por que não
suportaremos os males?Paulo, considerando em seu íntimo as riquezas da sabedoria e
vendo-se externamente um corpo corruptível, exclama: Temos este
tesouro em vasos de barro! No santo Jó, o vaso de barro sofre no
exterior as rupturas das úlceras. Por dentro, porém, continua íntegro o
tesouro. Por fora é ferido de chagas. Por dentro, a perene nascente do
tesouro da sabedoria derrama-se em palavras santas: Se da mão de
Deus recebemos os bens, por que não suportaremos os males? Para
ele, os bens são os dons de Deus, tanto os temporais quanto os eternos,
enquanto que os males são os flagelos do momento. Diz o Senhor pelo
Profeta: Eu, o Senhor, e não há outro, faço a luz e crio as trevas,
produzo a paz e crio os males.
Faço a luz e crio as trevas: quando, pelos flagelos, são
criadas exteriormente as trevas do sofrimento, no íntimo, pela
correção, acende-se a luz do espírito. Produzo a paz e crio os males.
Voltamos à paz com Deus quando os bens criados, porém, mal desejados,
por serem males para nós, se transformam em flagelos. Pela culpa,
estamos em discórdia com Deus. Portanto, é justo que, pelos flagelos,
retornemos à paz com ele. Quando os bens criados começam a causar-nos
sofrimento, o espírito assim castigado procura humildemente a paz com o
Criador.
É preciso considerar com muita atenção, nas palavras de Jó,
contra a opinião de sua mulher, a justeza do seu raciocínio. Se
recebemos da mão do Senhor os bens, por que não suportaremos os males? Grande
conforto na tribulação é, em meio às contrariedades, lembrarmo-nos dos
dons concedidos por nosso Criador. E não nos abatemos, em face da dor,
se logo nos ocorrer à mente o dom que a reanima. Sobre isto está
escrito: Nos dias bons, não te esqueças dos maus, e nos dias maus
lembra-te dos bons.
Quem recebe os bens da vida, mas durante os bons tempos deixa
inteiramente de temer os flagelos, cai na soberba através da alegria.
Quem é atormentado pelos flagelos e nestes dias maus não se consola com
os dons recebidos, perde, com o mais profundo desespero, o equilíbrio
do espírito.
Assim sendo, é necessário unir os dois, de modo que um sempre
se apóie no outro: que a lembrança dos bens modere o sofrimento dos
flagelos e que a suspeita e o medo dos flagelos estejam a mordiscar a
alegria dos bens. O santo homem com suas chagas, para aliviar o
espírito oprimido em meio às dores dos flagelos, pensa na doçura dos
dons: Se recebemos da mão do Senhor os bens, por que não haveremos de
suportar os males?
Responsório Jó 2,10b; 1,21-22
R. Se ganhamos o bem
da mão do Senhor,
não devemos, também, o mal aceitar?
* O Senhor no-lo deu, o Senhor o tirou;
e foi feito assim, como a ele agradou:
Que seja bendito o nome de Deus!
V. Em tudo isso Jó não pecou com seus lábios,
nem falou contra Deus qualquer coisa insensata.
* O Senhor.
Oração
Fazei, ó Deus, que os acontecimentos deste mundo decorram na
paz que desejais, e vossa Igreja vos possa servir, alegre e tranquila.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito
Santo.
Conclusão da Hora
V. Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.