QUARTA-FEIRA
Ofício das Leituras
Primeira leitura
Do Livro do Eclesiastes
5,9-6,8
Inanidade das riquezas
5,9Quem ama o dinheiro, nunca está farto de dinheiro,
quem ama a abundância, nunca tem vantagem. Isso também
é vaidade. 10Onde aumentam os bens, aumentam aqueles
que os devoram; que vantagem tem o dono, a não ser ficar
olhando?
11Coma muito ou coma pouco, o sono do operário é
gostoso; mas o rico saciado nem consegue adormecer.
12Há um mal doloroso que vejo debaixo do sol: riquezas
que o dono acumula para a sua própria desgraça. 13Num
mau negócio ele perde as riquezas e, se gerou um filho,
este fica de mãos vazias. 14Como saiu do ventre materno,
assim voltará, nu como veio: nada retirou do seu trabalho
que possa levar nas mãos. 15Isso também é mal doloroso:
ele se vai embora assim como veio; e que proveito tirou de
tanto trabalho? - Apenas vento. 16Consome seus dias todos
nas trevas, em muitos desgostos, doença e irritação.
17Eis o que observo: o que melhor convém ao homem é
comer e beber, encontrando a felicidade em todo trabalho
que faz debaixo do sol, durante os dias da vida que Deus lhe
concede. Pois esta é a sua porção. 18Todo homem a quem
Deus concede riquezas e recursos que o tornam capaz de
sustentar-se, de receber a sua porção e desfrutar do seu
trabalho, isto é um dom de Deus. 19Ele não se lembrará
muito dos dias que viveu, pois Deus ocupa seu coração de
alegria.
6,1Há outro mal que observo debaixo do sol e que é grave
para o homem: 2a um, Deus concede riquezas, recursos e
honra, e nada lhe falta de tudo o que poderia desejar; Deus,
porém, não lhe permite desfrutar estas coisas; é um estrangeiro que as desfruta. Isso é vaidade e sofrimento cruel.
3Outro, porém, teve cem filhos e viveu por muitos
anos; apesar de ter vivido muitos anos, nunca se saciou de
felicidade, e nem sequer teve sepultura. Pois eu digo que
um aborto é mais feliz do que ele.
4Ele chega na vaidade e se vai para as trevas, e as trevas
sepultam seu nome.
5Não viu o sol e nem o conhece: há mais repouso para
ele do que para o outro.
E mesmo que alguém vivesse duas vezes mil anos, não
veria a felicidade; não vão todos para o mesmo lugar?
7Todo trabalho do homem é para sua boca e, no entanto,
seu apetite nunca está satisfeito.
8Que vantagem tem o sábio sobre o insensato? O que
pensar do pobre que sabe se conduzir diante dos vivos?
Responsório
Cf. Pr 30,8; Sl 30(31),15a.16a
R. Afastai para longe de mim,
ó Senhor, a perfídia e a
mentira!
* Não me deis nem pobreza ou riqueza,
mas somente o que
me é necessário.
V. A vós, porém, ó meu Senhor, eu me confio,
eu entrego
em vossas mãos o meu destino.
* Não me deis.
Segunda leitura
Do “Comentário sobre o Eclesiastes”, de São Jerônimo,
presbítero
(PL 23,1057-1059)
(Séc. V)
Procurai as coisas do alto
Recebeu alguém de Deus riquezas e bens e a possibilidade de gozar deles, de tomar sua porção e de alegrar-se em
seu trabalho, também isso é dom de Deus. Não terá muito
que pensar nos dias de sua vida, visto que Deus o ocupa
com a alegria do coração. Em comparação daquele que se
sacia de suas posses nas trevas das preocupações e, com
grande tédio da vida, acumula as coisas perecíveis, declara
ser preferível aquele que desfruta coisas presentes. Este,
pelo menos, sente-se feliz em usá-las; para aquele, porém,
apenas o peso das inquietações. E diz por que é um dom
de Deus poder gozar das riquezas. É porque não terá muito
que pensar nos dias de sua vida.
Com efeito, Deus o ocupa com a alegria de seu coração:
não terá tristeza, não se afligirá com pensamentos, levado
pela alegria e o prazer das coisas diante de si. Contudo,
melhor ainda é entender, com o Apóstolo, o alimento e a
bebida espirituais, dados por Deus, e ver a bondade de todo
seu esforço, porque com enorme trabalho e desejo vamos
poder contemplar os bens verdadeiros. É esta a nossa porção,
alegrarmo-nos em nosso desejo e fadiga. Que é um bem,
sem dúvida, mas até que Cristo, nossa vida, se manifeste,
ainda não é a plenitude do bem. Todo o trabalho do homem
é para sua boca e, no entanto, seu espírito não se sacia. Qual
é a vantagem do sábio sobre o insensato? Qual a do pobre,
se não de saber como caminhar em face da vida?
O fruto de todo trabalho dos homens neste mundo é
consumido pela boca, mastigado e desce ao estômago para
ser digerido. E por muito pouco tempo deleita o paladar,
pois dá prazer somente enquanto está na boca.
Além disso, não se sacia a alma de quem comeu. Primeiro, porque deseja comer de novo, pois quer o sábio, quer o
tolo, não pode viver sem alimento, e a preocupação do pobre
é sustentar seu mirrado corpo para não morrer à míngua.
Segundo, porque a alma não encontra utilidade alguma na
refeição do corpo, o alimento é comum ao sábio e ao ignorante, e o pobre vai aonde percebe haver recursos.
Todavia é preferível entender a expressão do autor do
Eclesiástico que, instruído nas Escrituras celestes, concentra
todo o trabalho em sua boca, e sua alma não se sacia por
desejar sempre aprender. Nisso tem mais o sábio do que o
insensato; porque, embora se sinta pobre (aquele pobre que
o Evangelho declara feliz), caminha para alcançar a vida,
seguindo pela estrada apertada e difícil que a ela conduz.
É pobre de obras más; porém, sabe onde mora Cristo, a
vida.
Responsório
Cf. Eclo 23,4-6.1.3b
R. Ó Senhor, meu Pai e Deus de minha vida,
não me deixeis
entregue às más cogitações!
Não me deis olhos altivos e
orgulhosos!
Afastai-me, ó Senhor, do mau desejo!
* Ó Senhor, não me entregueis à irreverência,
nem me
dominem os desejos impudentes!
V. Oh! não me abandoneis, Senhor meu Deus!
Que não
cresça, ó Senhor, minha ignorância
e não se multipliquem
os meus erros!
* Ó Senhor.
Oração
Ó Deus, preparastes para quem vos ama bens que nossos olhos não
podem ver; acendei em nossos corações a chama da caridade para que,
amando-vos em tudo e acima de tudo, corramos ao encontro das vossas
promessas que superam todo desejo. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso
Filho, na unidade do Espírito Santo.
Conclusão da Hora
V. Bendigamos ao Senhor.
R. Demos graças a Deus.