7a SEMANA DO TEMPO COMUM

III Semana do Saltério

QUARTA-FEIRA

Ofício das Leituras

Primeira leitura
Do Livro do Eclesiastes 5,9–6,8

Inanidade das riquezas
5,9Quem ama o dinheiro, nunca dele está farto; quem ama a riqueza não tira proveito dela. Isso também é vaidade. 10Onde os bens se multiplicam, aumentam também aqueles que os devoram; que vantagem tem o dono, a não ser ficar olhando sua riqueza? 11Coma muito ou coma pouco, o sono de quem trabalha é tranquilo; mas a abundância do rico não o deixa dormir.

12Há um mal doloroso que vejo debaixo do sol: as riquezas que o dono acumula para a sua própria desgraça. 13Num mau negócio ele perde as riquezas e, se gerou um filho, este fica de mãos vazias. 14Nu como saiu do ventre materno, assim voltará como veio: nada retirou do seu trabalho que possa levar na sua mão. 15Isso também é um mal doloroso: ele vai-se embora assim como veio; e que proveito tirou de tanto trabalho? Apenas vento! 16Consome todos os seus dias nas trevas, em muitos desgostos, doença e tristeza. 17Eis o que observei: é algo bom, agradável, comer e beber, e gozar cada um a felicidade em todo o trabalho que se faz debaixo do sol, durante os dias da vida que Deus concede ao homem. Pois esta é a sua porção. 18Se a um homem Deus concede riquezas e recursos que o tornam capaz de sustentar-se, de receber a sua porção e desfrutar do seu trabalho, isso é um dom de Deus. 19Ele não se lembrará muito dos dias que viveu, pois Deus enche de alegria o seu coração.

6,1Há outro mal que observei debaixo do sol e que é grave para os seres humanos: 2um homem a quem Deus concedeu riquezas, recursos e honra, e nada lhe falta de tudo o que poderia desejar; Deus, porém, não lhe permite usufruir dessas coisas, pois é um estrangeiro que delas desfrutará; isto é vaidade e sofrimento cruel. 3Um homem que tiver gerado cem filhos e vivido por muitos anos, por muitos que sejam os dias de sua vida, se não puder saciar-se de seus bens, e nem sequer ter sepultura, dele eu digo: seria melhor que fosse um aborto, 4o qual chega em vão e se vai para as trevas, e na escuridão é sepultado o seu nome; 5ele não viu nem conheceu o sol, e tem mais sossego do que um tal homem. 6E mesmo que esse homem vivesse dois mil anos, sem experimentar a felicidade, não vão todos para o mesmo lugar?

7Todo o trabalho do homem é para a sua boca e, no entanto, ele nunca está satisfeito. 8Que vantagem tem o sábio sobre o insensato, e qual a do pobre que sabe enfrentar a vida?

Responsório Pr 30,8; Sl 30(31),15a.16a
R. Afastai para longe de mim,
ó Senhor, a perfídia e a mentira!
* Não me deis nem pobreza ou riqueza,
mas somente o que me é necessário.
V. A vós, porém, ó meu Senhor, eu me confio,
eu entrego em vossas mãos o meu destino.
* Não me deis.

Segunda leitura
Do Comentário sobre o Eclesiastes, de São Jerônimo, presbítero

(PL 23,1057-1059)
(Séc. V)

Procurai as coisas do alto
Recebeu alguém de Deus riquezas e bens e a possibilidade de gozar deles, de tomar sua porção e de alegrar-se em seu trabalho, também isso é dom de Deus. Não terá muito que pensar nos dias de sua vida, visto que Deus o ocupa com a alegria do coração. Em comparação daquele que se sacia de suas posses nas trevas das preocupações e, com grande tédio da vida, acumula as coisas perecíveis, declara ser preferível aquele que desfruta coisas presentes. Este, pelo menos, sente-se feliz em usá-las; para aquele, porém, apenas o peso das inquietações. E diz por que é um dom de Deus poder gozar das riquezas. É porque não terá muito que pensar nos dias de sua vida.

Com efeito, Deus o ocupa com a alegria de seu coração: não terá tristeza, não se afligirá com pensamentos, levado pela alegria e o prazer das coisas diante de si. Contudo, melhor ainda é entender, com o Apóstolo, o alimento e a bebida espirituais, dados por Deus, e ver a bondade de todo seu esforço, porque com enorme trabalho e desejo vamos poder contemplar os bens verdadeiros. É esta a nossa porção, alegrarmo-nos em nosso desejo e fadiga. Que é um bem, sem dúvida, mas até que Cristo, nossa vida, se manifeste, ainda não é a plenitude do bem. Todo o trabalho do homem é para sua boca e, no entanto, seu espírito não se sacia. Qual é a vantagem do sábio sobre o insensato? Qual a do pobre, se não de saber como caminhar em face da vida?

O fruto de todo trabalho dos homens neste mundo é consumido pela boca, mastigado e desce ao estômago para ser digerido. E por muito pouco tempo deleita o paladar, pois dá prazer somente enquanto está na boca.

Além disto, não se sacia a alma de quem comeu. Primeiro, porque deseja comer, de novo, pois quer o sábio, quer o tolo, não pode viver sem alimento, e a preocupação do pobre é sustentar seu mirrado corpo para não morrer à míngua. Segundo, porque a alma não encontra utilidade alguma na refeição do corpo, o alimento é comum ao sábio e ao ignorante, e o pobre vai aonde percebe haver recursos.

Todavia é preferível entender a expressão do autor do Eclesiástico que, instruído nas Escrituras celestes, concentra todo o trabalho em sua boca, e sua alma não se sacia por desejar sempre aprender. Nisso tem mais o sábio do que o insensato; porque, embora se sinta pobre (aquele pobre que o Evangelho declara feliz), caminha para alcançar a vida, seguindo pela estrada apertada e difícil que a ela conduz. É pobre de obras más, porém, sabe onde mora Cristo, a vida.

Responsório Cf. Eclo 23,4-6.1.3b
R. Ó Senhor, meu Pai e Deus de minha vida,
não me deixeis entregue às más cogitações!
Não me deis olhos altivos e orgulhosos!
Afastai-me, ó Senhor, do mau desejo!
* Ó Senhor, não me entregueis à irreverência,
nem me dominem os desejos impudentes!
V. Oh! não me abandoneis, Senhor meu Deus!
Que não cresça, ó Senhor, minha ignorância
e não se multipliquem os meus erros! * Ó Senhor.

Oração

Concedei, ó Deus todo-poderoso, que, procurando conhecer sempre o que é reto, realizemos vossa vontade em nossas palavras e ações. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora

V. Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.