Ofício das Leituras

V. Vinde, ó Deus em meu auxílio.
R. Socorrei-me sem demora.
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Esta introdução se omite quando o Invitatório precede imediatamente ao Ofício das Leituras.

Hino

Cantem meus lábios a luta
que sobre a cruz se travou;
cantem o nobre triunfo
que no madeiro alcançou
o Redentor do Universo
quando por nós se imolou.

O Criador teve pena
do primitivo casal,
que foi ferido de morte,
comendo o fruto fatal,
e marcou logo outra árvore,
para curar-nos do mal.

Tal ordem foi exigida
na obra da salvação:
cai o inimigo no laço
de sua própria invenção.
Do próprio lenho da morte
Deus fez nascer redenção.

Na plenitude dos tempos,
a hora santa chegou
e, pelo Pai enviado,
nasceu do mundo o autor;
e duma Virgem no seio
a nossa carne tomou.

Seis lustros tendo passado,
cumpriu a sua missão.
Só para ela nascido,
livre se entrega à Paixão.
Na cruz se eleva o Cordeiro,
como perfeita oblação.

Glória e poder à Trindade.
Ao Pai e ao Filho, louvor.
Honra ao Espírito Santo.
Eterna glória ao Senhor,
que nos salvou pela graça
e nos remiu pelo amor.

Salmodia

Ant.1 Nós sofremos no mais íntimo de nós,
esperando a redenção de nosso corpo.

Salmo 38(39)

Prece de um enfermo
A criação ficou sujeita à vaidade. por sua dependência daquele que a sujeitou; esperando ser libertada (Rm 8,20).

I

2 Disse comigo: “Vigiarei minhas palavras, *
a fim de não pecar com minha língua;
– haverei de pôr um freio em minha boca *
enquanto o ímpio estiver em minha frente”.

=3 Eu fiquei silencioso como um mudo, †
mas de nada me valeu o meu silêncio, *
pois minha dor recrudesceu ainda mais.
=4 Meu coração se abrasou dentro de mim, †
um fogo se ateou ao pensar nisso, *
5
e minha língua então falou desabafando:

= “Revelai-me, ó Senhor, qual o meu fim, †
qual é o número e a medida dos meus dias, *
para que eu veja quanto é frágil minha vida!
6 De poucos palmos vós fizestes os meus dias; *
perante vós a minha vida é quase nada.

7 O homem, mesmo em pé, é como um sopro, *
ele passa como a sombra que se esvai;
– ele se agita e se preocupa inutilmente, *
junta riquezas sem saber quem vai usá-las”.

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Nós sofremos no mais íntimo de nós,
esperando a redenção de nosso corpo.

Ant.2 Ó Senhor, prestai ouvidos à minha prece,
não fiqueis surdo aos lamentos do meu pranto!

II

8 E agora, meu Senhor, que mais espero? *
Só em vós eu coloquei minha esperança!
9 De todo meu pecado libertai-me; *
não me entregueis às zombarias dos estultos!

10 Eu me calei e já não abro mais a boca, *
porque vós mesmo, ó Senhor, assim agistes.
11 Afastai longe de mim vossos flagelos; *
desfaleço ao rigor de vossa mão!

=12 Punis o homem, corrigindo as suas faltas; †
como a traça, destruís sua beleza: *
todo homem não é mais do que um sopro.
=13 Ó Senhor, prestai ouvido à minha prece, †
escutai-me quando grito por socorro, *
não fiqueis surdo aos lamentos do meu pranto!

– Sou um hóspede somente em vossa casa, *
um peregrino como todos os meus pais.
14 Desviai o vosso olhar, que eu tome alento, *
antes que parta e que deixe de existir!

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Ó Senhor, prestai ouvidos à minha prece,
não fiqueis surdo aos lamentos do meu pranto!

Ant.3 Eu confio na clemência do Senhor
agora e para sempre.

Salmo 51(52)

Contra a maldade do caluniador
Quem se gloria, glorie-se no Senhor (1Cor 1,31).

3 Por que é que te glorias da maldade, *
ó injusto prepotente?
=4 Tu planejas emboscadas todo dia, †
tua língua é qual navalha afiada, *
fabricante de mentiras!

5 Tu amas mais o mal do que o bem, *
mais a mentira que a verdade!
6 Só gostas das palavras que destroem, *
ó língua enganadora!

7 Por isso Deus vai destruir-te para sempre *
e expulsar-te de sua tenda;
– vai extirpar-te e arrancar tuas raízes *
da terra dos viventes!

8 Os justos hão de vê-lo e temerão, *
e rindo dele vão dizer:
9 “Eis o homem que não pôs no Senhor Deus *
seu refúgio e sua força,
– mas confiou na multidão de suas riquezas, *   
subiu na vida por seus crimes!”

10 Eu, porém, como oliveira verdejante *
na casa do Senhor,
– confio na clemência do meu Deus *
agora e para sempre!

11 Louvarei a vossa graça eternamente, *
porque vós assim agistes;
– espero em vosso nome, porque é bom, *
perante os vossos santos!

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Eu confio na clemência do Senhor
agora e para sempre.

V. Quando eu for elevado da terra,
R. Atrairei para mim todo ser.

Primeira leitura

Do Livro do Profeta Jeremias 11,18-12,13

Lamento do Profeta
O Senhor mo fez conhecer e assim eu o conheci; naquela ocasião, tu me fizeste ver os seus atos.
Mas como cordeiro manso que é levado ao matadouro, não sabia que eles tramavam planos contra mim: “Des truamos a árvore em seu vigor, arranquemo-la da terra dos vivos, e seu nome não será mais lembrado!” Ó Senhor dos Exércitos, que julgas com justiça, que perscrutas os rins e o coração, verei a tua vingança contra eles, porque a ti expus a minha causa.
Por isso, assim disse o Senhor contra os homens de Anatot que atentam contra minha vida, dizendo: “Não profetizarás em nome do Senhor, senão morrerás por nossa mão!” Por isso, assim disse o Senhor dos Exércitos: Eis que os castigareis. Os seus jovens morrerão pela espada, e seus filhos e suas filhas pela fome. E ninguém restará, porque trarei a desgraça sobre os homens e Anatot no ano de seu castigo. Tu és justo demais, o Senhor, para que eu entre em processo contigo. Contudo, falarei contigo sobre questões de direito: Por que prospera o caminho dos ímpios? Por que os apóstatas estão em paz? Tu os plantastes, eles criaram raízes, vão bem e produzem fruto. Estás perto de sua boca, mas longe de seus rins. Mas tu, Senhor, me conheces e me vês, provaste o meu coração, que está contigo. Arranca-os como ovelhas para o matadouro, consagra-os para o dia do massacre. (Até quando se lamentará a terra, e ficará seca a erva de todo campo? Por causa da maldade de seus habitantes perecem os animais e os pássaros.) Pois eles dizem: Ele não vê o nosso futuro. - Se a corrida com os caminhantes te cansa, como queres competir com cavalos? Em uma terra de paz te sentes seguro, mas como farás no matagal do Jordão?
Porque até os teus irmãos e a casa de teu pai, até eles te traíram! Até eles gritaram atrás de ti. Não confies neles quando te falarem coisas boas. Eu abandonei a minha casa, rejeitei a minha herança, entreguei a minha amada nas mãos de seus inimigos. Minha herança foi para mim como um leão na floresta, levantou contra mim sua voz: por isso a odiei. Será a minha herança uma ave de rapina colorida, para que a cerquem as aves de rapina? Ide! Reuni todos os animais selvagens, trazei-os para comer! Pastores em grande número destruíram a minha vinha, pisaram a minha propriedade, transformaram a minha propriedade preferida em deserto de desolação. Fizeram dela uma região devastada, ela está de luto, devastada diante de mim. Toda a terra está devastada e não há ninguém que ponha isto em seu coração! Sobre todas as colinas do Deserto chegaram os devastadores (porque o Senhor tem espada devoradora): de uma à outra extremidade da terra, não há paz para toda carne. Eles semearam trigo, colheram espinhos, cansaram-se sem resultado. Têm vergonha de suas colheitas, por causa da ardente ira do Senhor.

Responsório Jr 11,9;Sl 40,8-9
R. E o Senhor me disse:
Existe uma conspiração entre os homens de Judá
e entre os habitantes de Jerusalém.
*
Os que me odeiam cochicham juntos contra mim,
e, junto a mim, consideram minha desgraça:
V.
Caiu sobre ele uma praga do inferno,
está deitado e nunca mais levantará!
*
Os que me odeiam

Segunda leitura

Do Livro sobre a Encarnação do Verbo e contra os Arianos, de Santo Atanásio, bispo
(Nn. 2-5: PG 26,987-991)
(Séc. III)


As suas feridas são o preço da nossa cura
João narra-nos a afirmação de Jesus: Destruí este templo, e em três dias eu o levantarei. Ele falava isso, prossegue o evangelista, a respeito do templo que é seu corpo (Jo 2,19.21). Ora, se o Pai tudo criou por meio do próprio Verbo e Filho, é evidente que também por meio dele realizou a ressurreição de sua própria carne. Ressuscita-o por meio dele mesmo; e por meio dele dá-lhe a vida. Ressuscita segundo a carne como homem, e recebe a vida como homem, ele que viveu como homem.
É ele, portanto, que, como Deus, edifica o próprio templo e dá a vida ao próprio corpo. Tendo dito novamente: O Pai o consagrou e enviou ao mundo (Jo 10,36), disse em outro lugar: Eu me consagro por eles, a fim de que também eles sejam consagrados na verdade (Jo 17,19). E exclamando: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? (Mt 27,46;Sl 21,2), falou como pessoa humana. Pois, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens, viveu tal qual os homens, fazendo-se obediente até à morte, e morte de cruz! (F1 2,7-8).
Assim fala Isaías: Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e sofreu as nossas dores (cf. Is 53,4). Portanto, não é por causa de si mesmo mas por causa de nós que se acabrunha de dores. Também não foi abandonado por Deus, e sim por nós. Por nossa causa, por causa de nós, os abandonados, ele veio ao mundo. A expressão da Escritura: Por isso, Deus o exaltou acima de tudo e lhe deu o Nome acima de todo nome (Fl 2,9) refere-se ao templo do seu corpo.
O que é exaltado não é o Altíssimo, mas o corpo do Altíssimo; e deu-se ao corpo do Altíssimo um nome que está acima de todo nome. Quando a Escritura diz que não havia o Espírito, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado (Jo 7,39), refere-se ao corpo de Jesus ainda não glorificado. Não é o Senhor da glória que é glorificado, mas o corpo do Senhor da glória. Ele recebe a glória quando, juntamente com ele, sua carne sobe ao céu. O Espírito de adoção ainda não estava nos homens porque as primícias da nossa natureza ainda não tinham sido elevadas ao céu.
É por causa de sua humanidade, e não da divindade, que a Escritura afirma ter o Filho recebido a glória e sido glorificado. Essa frase da Escritura: Deus não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós (Rm 8,32), relaciona-se com essa outra: Cristo amou a Igreja e se entregou por ela (Ef 5,25).
Deus, que é imortal, não veio para salvar-se a si mesmo; veio para libertar-nos, a nós que estávamos mortos. Também não padeceu por sua causa, mas por nossa causa.
Assumiu a nossa insignificância e miséria para nos prodigalizar suas riquezas. A sua paixão é a nossa impassibilidade. A sua morte, nossa imortalidade. As suas lágrimas, a nossa alegria. A sua sepultura, nossa ressur reição: Eu me consagro por eles, a fim de que também eles sejam consagrados na verdade. As suas chagas são a nossa cura. As suas feridas, o preço da nossa cura (Is 53,5;cf. 1Pd 2,24). A sua punição, a nossa paz. A punição a ele imposta era o preço da nossa paz (Is 53,5). Ele foi castigado para podermos usufruir a paz.
Quando diz na cruz: Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito (Lc 23,46), entrega ao Pai todos os homens que nele recebem a vida. São seus membros, e muitos membros são um só corpo, que é a Igreja, conforme a expressão de São Paulo aos Gálatas: Todos vós sois um só, em Cristo Jesus (Gl 3,28). Recomenda a todos, portanto, em si mesmo.

Responsório Is 53,5;Ef 5,2
R. Ele foi ferido por causa de nossos pecados,
esmagado por causa de nossos crimes;
*
A punição a ele imposta era o preço da nossa paz.
V.
Cristo nos amou e se entregou a Deus por nós
como oferenda e sacrifício de suave odor.
*
A punição a ele.

Oração

Ó Deus, que fizestes vosso Filho padecer o suplício da cruz para arrancar-nos à escravidão do pecado, concedei aos vossos servos e servas, a graça da ressurreição. Por nosso Senhor Jesus Cristo, voso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da hora

V. Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.