TERÇA-FEIRAOfício das LeiturasPrimeira leitura
Do Segundo Livro dos Macabeus
6,12-31
O martírio de Eleazar
12Agora, aos que tiverem entre as mãos este livro,
gostaria de exortar que não se desconcertem diante de
tais calamidades, mas pensem antes que esses castigos
não sucederam para a ruína, mas para a correção da nossa
gente.13De fato, não deixar impunes por longo tempo os
que cometem impiedade, mas imediatamente atingi-los
com castigos, é sinal de grande benevolência. 14Pois não é
como para com as outras nações, que o longânime Soberano
espera, até puni-las, que elas cheguem ao cúmulo dos seus
pecados: não é assim que ele decidiu proceder com relação a
nós, 15a fim de não ter de nos punir mais tarde, quando nossos
pecados tivessem atingido sua plena medida. 16Por isso,
jamais retira de nós a sua misericórdia: ainda quando corrige
com a desventura, ele não abandona o seu povo.17Estas
coisas tenham sido ditas por nós só por advertência. Após
estas poucas palavras, retornaremos à narrativa.
18Certo Eleazar, um dos mais eminentes escribas, homem
já avançado em idade e muito nobre de aspecto, estava sendo
forçado a comer carne de porco, enquanto lhe mantinham
a boca aberta. 19Mas ele, preferindo a morte gloriosa a
uma vida em desonra, encaminhou-se espontaneamente
para o suplício da roda. 20Antes, porém, cuspiu, mas do
modo como conviria que fizessem os que têm a coragem
de rejeitar aquilo que não é lícito comer, nem por amor à
própria vida. 21Os que presidiam àquele ímpio banquete
sacrifical, pelo conhecimento que desde longo tempo tinham
desse homem, tomando-o à parte, tentavam persuadi-lo a
mandar vir carnes das quais lhe era lícito servir-se e que
por ele mesmo tivessem sido preparadas. Apenas simulasse
comer das carnes prescritas pelo rei, isto é, as provenientes
do sacrifício. 22Assim agindo, ficaria livre da morte e gozaria
da sua benevolência, devido à antiga amizade que a eles o
unia. 23Ele, porém, tomou uma nobre resolução digna da sua
idade, do prestígio que lhe conferia a velhice, da cabeleira
branca adquirida como decoro, da conduta excelente desde
a infância e digna sobretudo da santa legislação estabelecida
pelo próprio Deus. E coerentemente respondeu, dizendo
sem demora o enviassem à mansão dos mortos: 24“Na
verdade, não é condizente com a nossa idade o fingimento.
Isto levaria muitos jovens, persuadidos de que Eleazar aos
noventa anos teria passado para os costumes estrangeiros,
25a se desviarem eles também por minha causa, por motivo
da minha simulação, isso em vista de um exíguo resto de
vida. Quanto a mim, o que eu ganharia seria uma nódoa
infamante para a minha velhice. 26De resto, mesmo se no
presente eu conseguisse escapar à penalidade que vem dos
homens, não me seria possível fugir, quer em vida quer
em morte, às mãos do Todo-poderoso. 27Por isso, trocando
agora a vida com coragem, mostrar-me-ei digno da minha
velhice, 28e aos jovens deixarei o nobre exemplo de como se
deve morrer, entusiasta e generosamente, pelas veneráveis
e santas leis”
Ditas essas coisas, encaminhou-se logo para o suplício
da roda. 29Os que o conduziam mudaram em dureza a
benevolência para com ele pouco antes demonstrada. E isto,
pelo fato de considerarem uma loucura as palavras acima
referidas. 30Ele, porém, estando já a ponto de morrer sob os
golpes, disse gemendo: “Ao Senhor que tem a santa ciência,
é manifesto que eu, podendo livrar-me da morte, estou
suportando cruéis dores no meu corpo, ao ser flagelado,
mas que em minha alma sofro-as com alegria por causa do
seu temor.”
31Foi assim, pois, que ele passou desta vida. E não só aos
jovens, mas à grande maioria do seu povo, deixou a própria
morte como um exemplo de generosidade e memorial de
virtude.
Responsório
Cf. 2Mc 6,30.26
R. Disse Eleazar entre gemidos:
Senhor, podendo livrar-me
da morte,
estou suportando cruéis dores no meu corpo.
* Mas em minha alma sofro-as com alegria por causa do
seu temor.
V. De resto, mesmo que no presente
eu pudesse escapar
à penalidade que vem dos homens,
não me seria possível
fugir, quer em vida quer na morte,
das mãos do Todo-poderoso.
* Mas em minha.
Segunda leitura
Das “Cartas” do Bem-aventurado Amônio, eremita
(9,2-5)
Muitos são os sofrimentos do justo
Eu, que sou o vosso pai, passei por grandes tentações seja
abertamente ou em segredo, e me mostrei forte na esperança
e na oração; e o meu Senhor me livrou.
E agora, também vós, caríssimos, que recebestes os benefícios de Deus, aceitais também as tentações, até que elas
sejam vencidas por vós; somente assim recebereis a medida
superabundante acrescida à vossa perfeição e vos será dada
do céu aquela grande alegria que agora não conheceis.
O que significa, porém, vencer as tentações, e qual é o
seu remédio? Antes de tudo, é isto: não percais jamais o ânimo, mas com todo o coração suplicai a Deus com confiança
e em tudo tenhais a paciência: então a tentação se afastará.
Foi assim, de fato, que Abraão foi tentado, e saiu daquela
tentação como um atleta vitorioso. Por isso foi escrito:
“Muitas são as desventuras do justo, mas o livra de todas o
Senhor” (Sl 33,20). E também Tiago, na sua carta, diz assim:
Aquele que dentre vós está no sofrimento, ore (Tg 5,13).
Observai bem que todos os justos, quando se viram
envolvidos pela tentação, gritaram a Deus.
Também está escrito: Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças (1Cor 10,13). E agora, é Deus que age em vós para purificar o vosso coração.
Se ele não vos amasse, não vos permitiria a tentação. Na
verdade, está escrito: O Senhor corrige aquele que ele ama e castiga aquele que reconhece como filho (Hb12,6). Por
isso os fiéis têm a necessidade das tentações. Todos os que
não tiveram a experiência da tentação não são santos: podem
ter a aparência de santos, mas não possuem a virtude. Por
isso o pai Antônio nos dizia: “O homem sem tentações não
pode entrar no reino dos céus”. E, analogamente, também
Pedro na sua carta escreveu: Por isso estais revestidos de alegria, mesmo se agora deveis, por um pouco de tempo,
ser afligidos por diversas provações, porque o valor da
vossa fé é muito mais precioso do que o ouro que se prova
com o fogo (1Pd 1,6-7).
Sabei, portanto, que por esse motivo o Espírito Santo
inicia com um novo derramamento da sua alegria, intervindo
no íntimo daqueles que têm o coração puro. Em seguida,
depois de haver dado alegria e doçura, o Espírito se afasta
deles e os abandona. E eis aí o sinal: ele se comporta assim
com a alma que o busca e que teme a Deus; vai embora,
retira-se e abandona todo o homem até que este demonstre
se procura Deus ou não. Existem aqueles que, uma vez
abandonados e colocados à parte, ficam assentados, oprimidos pelo tédio e nele permanecem imóveis. Na verdade
não oram a Deus pedindo que os livre daquela pena e lhes
dê novamente a alegria e a doçura experimentada anteriormente; por isso, por causa da própria vontade negligente,
tornam-se estranhos à doçura de Deus. Por esse motivo
se tornam carnais e possuem somente a aparência, e não
a realidade da virtude. Esses têm os olhos cegos, e não
conhecem as obras de Deus.
Se, porém, tiverem reconhecido a pena como insólita e
bem distante da alegria anterior, hão de orar a Deus, chorando e jejuando; então Deus, por sua misericórdia, vendo a
sinceridade deles e que estão suplicando de todo o coração,
renegando totalmente a própria vontade, dá-lhes uma alegria
maior que a anterior, e os fortalece ainda mais.
Esse é o seu comportamento com toda a alma que busca
a Deus.
Responsório
Cf. Gn 47,25 vulg.; Sl 80(81),4
R. Em tua mão, Senhor, está a nossa salvação;
a tua misericórdia nos cubra
* E te serviremos sempre cheios de confiança.
V. Levanta-nos, Senhor, Deus dos exércitos,
faze resplandecer o teu rosto e seremos salvos.
* E te serviremos.OraçãoDeus
de poder e misericórdia, afastai de nós todo obstáculo para que,
inteiramente disponíveis, nos dediquemos ao vosso serviço. Por nosso
Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.Conclusão da Hora
V. Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.