Primeira leitura

Do Livro do Profeta Baruc 4,5-29

Sião consola e anima seus filhos

5Coragem, povo meu, memorial de Israel! 6Fostes vendidos às nações, mas não para vossa perdição. Por terdes excitado a ira de Deus fostes entregues a vossos adversários, 7pois havíeis exasperado a quem vos fez sacrificando a demônios e não a Deus. 8Esquecestes-vos de quem vos alimentou, o Deus eterno, e entristecestes também Jerusalém, que por vós se desvelou! 9Ela viu desabar sobre vós a ira, vinda de Deus, e disse: Escutai, vizinhas de Sião, Deus fez vir sobre mim aflição imensa. 10Eu vi o cativeiro de meus filhos e de minhas filhas, que a eles infligiu o Eterno. 11Eu os havia nutrido com alegria, mas no pranto e na aflição os vi partir. 12Que ninguém se alegre comigo, agora viúva e abandonada de tantos: fiquei deserta por causa dos pecados de meus filhos, porque se desviaram da Lei de Deus; 13não reconheceram os seus preceitos e não andaram pelos caminhos dos mandamentos de Deus, nem palmilharam as veredas da disciplina segundo a sua justiça. 14Aproximem-se as vizinhas de Sião! Lembrai-vos do cativeiro de meus filhos e filhas, que o Eterno lhes infligiu! 15Pois fez vir contra ele uma nação vinda de longe, nação insolente e de língua estranha, que não teve respeito pelo ancião nem piedade para com a criança; 16e arrebataram os filhos queridos da viúva e deixaram-na sozinha, privada de suas filhas. 17Mas eu, como poderia vir em vosso socorro? 18Aquele que vos infligiu estes males vos arrancará à mão dos vossos inimigos. 19Caminhai, meus filhos, caminhai! Quanto a mim, deixaram-me deserta: 20depus a vestimenta da paz e revesti-me do manto humilde de suplicante: gritarei ao Eterno por todos os meus dias. 21Coragem, meus filhos, clamai a Deus: ele vos arrancará ao domínio, à mão dos inimigos. 22Eu, porém, espero do Eterno vossa salvação, e do Santo recebi uma alegria: a misericórdia virá logo para vós da parte do Eterno, vosso Salvador. 23Vi que partíeis na tristeza e no pranto, mas Deus vos restituirá a mim na alegria e no júbilo para sempre. 24Pois como agora veem as vizinhas de Sião o vosso cativeiro, assim elas verão em breve da parte de Deus a vossa salvação, a qual vos sobrevirá com a glória grandiosa e o esplendor do Eterno. 25Meus filhos, suportai a ira que sobre vós se abateu da parte de Deus. Teu inimigo te perseguiu, mas tu verás em breve a sua ruína e sobre suas nucas calcarás os pés. 26Meus filhos, alvo de tantos desvelos, caminharam por ásperos caminhos, arrebatados, como rebanho assaltado pelo inimigo. 27Mas coragem, meus filhos, e clamai a Deus: Aquele que vos infligiu estas coisas lembrar-se-á de vós. 28Assim como tivestes o pensamento de andar errantes, longe de Deus, esforçai-vos, tendo voltado para ele, dez vezes mais em procurá-lo. 29Pois aquele que vos infligiu estes males fará vir sobre vós, com a vossa salvação, a eterna alegria.

Responsório Br 4,27.29; Sl 95,3
R. Coragem, meus filhos, e clamai a Deus:
Aquele que vos infligiu estas coisas lembrar-se-á de vós.
* Pois aquele que vos infligiu estes males
fará vir sobre vós, com a vossa salvação,
a eterna alegria.
V. Anunciai sua glória por entre as nações,
pelos povos todos as suas maravilhas.
* Pois aquele que vos infligiu.

Segunda leitura

Dos Sermões sobre o Antigo Testamento, de Santo Agostinho, bispo
(Sermo 49,2-3: CCL 41,614-616)

É esta a obra de Deus: que creiais naquele que ele enviou

Interrogado sobre qual seria a obra de Deus, o Senhor Jesus respondeu: A obra de Deus é que creiais naquele que ele enviou (Jo 6,29). Nosso bom Senhor poderia ter dito: “A obra de Deus é a justiça”. Se a obra de Deus é a justiça, como poderá a obra de Deus consistir, como ele disse, em acreditarmos nele, se crer nele não for a própria justiça? Mas dizes: “Ouvimos do Senhor: A obra de Deus é que creiais nele, enquanto de ti ouvimos que a obra de Deus é a justiça. Prova-nos que essa justiça é crer em Cristo”.

A ti que indagas, pedindo esclarecimento sobre coisas razoáveis, respondo: Achas que a justiça não consiste em crer em Cristo? Que será então? Dá um nome a essa obra. Se considerares bem o que ouviste me responderás, sem dúvida: “Ela se chama fé. Crer em Cristo se chama fé”. Concedo o que dizes, crer em Cristo se chama fé. Mas ouve também outra passagem da Escritura: O justo viverá da fé (Rm 1,17; Hab 2,4). Praticai a justiça, crede: O justo viverá da fé. É difícil viver mal, aquele que crê bem. Crede de todo o coração, crede sem vacilações, sem hesitações, sem opor a essa fé argumentos humanos. É chamada fé porque se faz o que se diz.

Pergunto-te se crês, e respondes: “Creio”. Faze o que dizes, e isso é fé. Posso ouvir a voz de quem me responde, mas não posso ver o coração de quem crê: Porventura te chamei à vinha, eu que não posso ver o coração? Não chamo, nem indico a tarefa, nem preparo o salário. Sou um operário como vós. Trabalho na vinha com as forças que ele se digna me conceder. Aquele que me chamou está vendo o esforço com que trabalho. Quanto a mim, diz o Apóstolo, pouco me importa ser julgado por vós (1Cor 4,3). Podeis também vós ouvir a minha voz, mas não podeis ver o meu coração. Coloquemos todos os nossos corações diante do Deus que os vê e façamos o trabalho com empenho. Não desgostemos a quem nos chamou, para recebermos o salário sem constrangimento.

Também nós, caríssimos, veremos os corações uns dos outros, mas depois. Agora ainda caminhamos nas trevas deste corpo mortal e andamos à luz da Escritura, tal como diz o apóstolo Pedro: Temos por mais firme a palavra dos profetas, à qual fazeis bem em recorrer como a uma luz que brilha em lugar escuro, até que raie o dia e surja a estrela d’alva em nossos corações (2Pd 1,19).

Por isso, caríssimos, por causa dessa mesma fé pela qual cremos em Deus, comparados aos que não creem, somos no dia. Quando estávamos na infidelidade, éramos noite como eles; mas agora somos luz, no dizer do Apóstolo: Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor (Ef 5,8). Em vós, sois trevas; no Senhor, sois luz. Do mesmo modo, em outra passagem: Pois que todos vós sois filhos da luz, filhos do dia. Não somos da noite, nem das trevas (1Ts 5,5). Como de dia, andemos decentemente (Rm 13,13). Assim, comparados aos que não creem, somos dia.

Mas, em comparação com aquele dia em que os mortos ressurgirão, em que este corpo corruptível se revestirá de incorruptibilidade, e este corpo mortal se revestirá de imortalidade, ainda somos noite. Diz-nos o apóstolo João, enquanto já somos dia: Caríssimos, somos filhos de Deus (1Jo 3,2). Mas, contudo, porque ainda é noite, acrescenta: O que nós seremos ainda não se manifestou. Sabemos que por ocasião desta manifestação seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é (1Jo 3,2). Mas isto é a recompensa, não a obra. Porque o veremos tal como ele é, esta é a recompensa. Então brilhará o mais luminoso dos dias. Agora, pois, andemos decentemente neste dia já presente; nesta noite que ainda cessou, não julguemos uns aos outros. Vede que quando o apóstolo Paulo diz: Como de dia, andemos decentemente, não contradiz nem destoa de seu companheiro de apostolado, Pedro, que diz: Fazeis bem em recorrer à palavra divina como a uma luz que brilha em lugar escuro, até que raie o dia e surja a estrela d’alva em nossos corações.

Responsório Jo 3,35-36;20,31
R. O Pai ama o Filho e tudo entregou em sua mão.
* Quem crê no Filho tem a vida eterna.
Quem recusa crer no Filho não verá a vida.
Pelo contrário, a ira de Deus permanece sobre ele.
V. Estas coisas foram escritas
para crerdes que Jesus é o Cristo,
o Filho de Deus, e para que, crendo,
tenhais a vida em seu nome.
* Quem crê no Filho.

Oração

Ó Deus todo-poderoso, que o natal do Salvador do mundo, manifestado pela luz da estrela, sempre refulja e cresça em nossas vidas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora

V. Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.