Primeira leitura
Do Livro do Profeta Isaías 26,7-21
Cântico
dos justos e promessa de ressurreição
7 O caminho do justo é reto,
e tu ainda aplainas a estrada ao justo.
8 Sim, no caminho dos teus juízos
esperamos em ti, Senhor:
para o teu nome e para a tua memória
volta-se o nosso desejo.
9 Quando vem a noite anseia por ti a minh’alma
e com a força do espírito te procuro no meu íntimo.
Quando brilharem na terra teus juízos,
os habitantes do mundo aprenderão a ser justos.
10 Dá-se perdão ao mau,
e ele não aprende a ser justo;
no país da retidão comporta-se mal
e não sente a presença da majestade de Deus.
11 Ergues a mão, Senhor, mas essa gente não a vê;
que se envergonhem, vendo o teu zelo pelo povo,
e o fogo dos teus inimigos a devorá-los.
12 Senhor, hás de dar-nos a paz,
como nos deste a mão em nossos trabalhos.
13 Senhor, nosso Deus, outros senhores
em tua ausência nos dominaram;
queremos lembrar-nos somente do teu nome.
14 Os mortos não reviverão,
os falecidos não ressuscitarão;
pois que os castigaste e destruíste,
e apagaste toda a memória deles.
15 Fizeste crescer o povo, Senhor,
fizeste-o crescer e foste glorificado;
estendeste todas as fronteiras de sua terra.
16 Senhor, eles a ti recorreram na angústia;
exageraram na superstição
e veio-lhes o teu castigo.
17 Como a mulher grávida, ao aproximar-se o parto,
geme e chora em suas dores,
assim nós, Senhor, em tua presença.
18 Concebemos e sofremos dores de parto,
e o que geramos foi vento.
Não demos à terra frutos de salvação,
não fizemos nascer habitantes para o mundo.
19 Reviverão os teus mortos
e se levantarão também os meus mortos.
Despertai, cantai louvores, vós que jazeis no pó!
Senhor, é orvalho de luz o teu orvalho,
e a terra trará à luz os falecidos.
20 Vai, povo meu, entra em casa,
deixa as portas fechadas,
fica escondido um pouquinho
até que passe a minha ira.
21 Eis que o Senhor sairá de sua morada
para punir a maldade dos habitantes da terra contra ele;
e a terra mostrará quanto sangue derramou
e não esconderá mais os seus assassínios.
Responsório Cf. Is 26,19; Dn 12,2
R. Despertai,
cantai louvores
todos vós, que estais nos túmulos!
* Ó Senhor, o vosso orvalho é de vida, é de luz.
V. Muitos daqueles que ora dormem,
despertarão do pó da terra. * Ó
Senhor.
Segunda leitura
Dos Sermões de São Pedro Crisólogo, bispo
(Sermo 147: PL, 52, 594-595)
(Séc. V)
O amor deseja ardentemente ver a Deus
Vendo o mundo oprimido pelo temor, Deus procura continuamente chamá-lo com amor, convidá-lo com a sua graça, segurá-lo com a caridade, abraçá-lo com afeto.
Por isso, purifica com o castigo do dilúvio a terra que se tinha inveterado no mal; chama Noé para gerar um mundo novo; encoraja-o com palavras afetuosas, concede-lhe sua confiante amizade, o instrui com bondade acerca do presente e anima-o com sua graça a respeito do futuro. E já não se limita a dar-lhe ordens mas, tomando parte no seu trabalho, encerra na arca toda aquela descendência que havia de perdurar por todos os tempos, para que esta aliança de amor acabasse com o temor da servidão e se conservasse na comunhão de amor o que fora salvo com a comunhão de esforços.
Por esse motivo chama Abraão dentre os pagãos, engrandece seu nome, torna-o pai dos crentes, acompanha-o em sua viagem, protege-o entre os estrangeiros, cumula-o de bens, exalta-o com vitórias, dá-lhe a garantia de suas promessas, livra-o das injúrias, torna-se seu hóspede, maravilha-o com o nascimento de um filho que ele já não podia esperar. Tudo isso a fim de que, cumulado de tantos benefícios, atraído pela grande doçura da caridade divina, aprendesse a amar a Deus e não mais temê-lo, a honrá-lo com amor e não com medo.
Por isso também, consola em sonhos a Jacó quando fugia, desafia-o para um combate em seu regresso e na luta aperta-o nos braços, para que não temesse, porém, amasse o instigador do combate.
Por isso ainda, chama Moisés na própria língua e fala-lhe com afeto paterno, convidando-o a ser o libertador de seu povo.
Em todos esses fatos que relembramos, de tal modo a chama da caridade divina inflamou o coração dos homens e o inebriamento do amor de Deus penetrou os seus sentidos que, cheios de afeto, começaram a desejar ver a Deus com os olhos do corpo.
Deus, que o mundo não pode conter, como o olhar limitado do homem o abrangeria? Mas o que deve ser, o que é possível, não é a regra do amor. O amor ignora as leis, não tem regra, desconhece medida. O amor não desiste perante o impossível, não desanima diante das dificuldades.
O amor, se não alcança o que deseja, chega a matar o que ama; vai para onde é atraído, e não para onde deveria ir. O amor gera o desejo, cresce com ardor e pretende o impossível. E que mais?
O amor não pode deixar de ver o que ama. Por isso todos os santos consideravam pouca coisa toda recompensa, enquanto não vissem a Deus.
Por isso mesmo, o amor que deseja ver a Deus, vê-se impelido, para além de todo raciocínio, pelo fervor da piedade.
Por isso Moisés se atreve a dizer: Se encontrei graça na vossa presença, mostrai-me o vosso rosto (Ex 33,13.18). Por isso, diz também o salmista: Não me escondais a vossa face (Sl 26,9). Por isso, enfim, até os próprios pagãos, no meio de seus erros, modelaram ídolos, para poderem ver com seus próprios olhos o objeto de seu culto.
Responsório Cf. Is 66,13; 1Rs 11,36; Is 66,14; 46,13
R. Assim
diz o Senhor:
Como a mãe consola o filho,
também eu vou consolar-vos,
e de Jerusalém, a cidade que escolhi,
virá a vós o meu auxílio.
* E o vosso
coração, vendo isso, exultará.
V. À cidade de Sião, eu darei a salvação
e ao povo de Israel eu darei a minha glória. * E o vosso.
Oração
Despertai, ó Deus, os nossos corações, a fim de prepararmos os caminhos do vosso Filho, para que possamos, pelo seu advento, vos servir de coração purificado. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.