QUINTA-FEIRA

Ofício das Leituras

Primeira leitura
Do Segundo Livro dos Macabeus 7,20-41

O martírio dos sete irmãos. A mãe e o último filho.
20Mas sobremaneira admirável e digna de abençoada memória foi a mãe, que, vendo morrer seus sete filhos no espaço de um só dia, soube portar-se animosamente por causa das esperanças que no Senhor depositava. 21A cada um deles exortava na língua de seus pais, cheia de nobres sentimentos, animando com coragem viril o seu raciocínio de mulher. E lhes dizia: 22“Não sei como é que viestes a aparecer no meu seio, nem fui eu que vos dei o espírito e a vida, nem também fui eu que dispus organicamente os elementos de cada um de vós. 23Mas o criador do mundo, que formou o homem em seu nascimento e deu origem a todas as coisas, é ele quem vos retribuirá, na sua misericórdia, o espírito e a vida, uma vez que agora fazeis pouco caso de vós mesmos, por amor às suas leis.”
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Antíoco suspeitou estar sendo vilipendiado e desconfiou ser de censura aquela voz. Estando, pois, ainda em vida o mais moço, começou a exortá-lo não só com palavras, mas ainda com juramentos lhe assegurava que o faria rico e o tornaria feliz, contanto que abandonasse as tradições dos antepassados. Mais: que o teria na conta de seu amigo e lhe confiaria altos encargos. 25Como não lhe desse o moço a mínima atenção, o rei mandou chamar a mãe para convidá-la a fazer-se conselheira de salvação para o rapaz. 26Tendo-a exortado longamente, ela aceitou tentar persuadir ao filho. 27Inclinou-se para este e, ludibriando o cruel tirano, assim falou na língua de seus pais: “Filho, tem compaixão de mim, que por nove meses te trouxe em meu seio e por três anos te amamentei, alimentei-te e te eduquei até esta idade, provendo sempre ao teu sustento. 28Eu te suplico, meu filho contempla o céu e a terra e observa tudo o que nele existe. Reconhece que não foi de coisas existentes que Deus os fez, e que também o gênero humano surgiu da mesma forma. 29Não temas este carrasco. Ao contrário, tornando-te digno dos teus irmãos, aceita a morte, a fim de que eu torne a receber-te com eles na misericórdia.”
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Mal estava ela terminando de falar quando o moço disse: “Que estais esperando? Eu não obedeço ao mandamento do rei! Ao mandamento da Lei, porém, que foi dada aos nossos pais por meio de Moisés, a esse eu obedeço. 31Quanto a ti, que te fizeste o inventor de toda a maldade que se abate sobre os hebreus, não escaparás às mãos de Deus. 32Porquanto nós, é por causa dos nossos pecados que padecemos. 33E se agora, a escopo de castigo e de correção, o Senhor, que vive, está momentaneamente irritado contra nós, ele novamente se reconciliará com os seus servos. 34Mas tu, ó ímpio e mais celerado de todos os homens, não te eleves estultamente, agitando-te em vãs esperanças, enquanto levantas a mão contra seus servos, 35pois ainda não escapaste ao julgamento de Deus todo-poderoso, que tudo vê. 36Nossos irmãos, agora, depois de terem suportado uma aflição momentânea por uma vida imperecível, morreram pela Aliança de Deus. Tu, porém, pelo julgamento de Deus, hás de receber os justos castigos por tua soberba. 37Quanto a mim, como meus irmãos, entrego o corpo e a vida pelas leis de nossos pais, suplicando a Deus que se mostre logo misericordioso para com a nação e que, mediante provas e flagelos, te obrigue a reconhecer que só ele é Deus. 38Possa afinal deter-se, em mim e nos meus irmãos, a ira do Todo-poderoso, que se abateu com justiça por sobre todo o nosso povo!”
39Enfurecido, o rei tratou a este com crueldade ainda mais feroz que aos outros, sentindo amargamente o sarcasmo. 40Assim também este, ilibado, passou para a outra vida, confiando totalmente no Senhor. 41Por último, depois dos filhos, morreu a mãe.

Responsório Cf. Sl 132(133),1
R. Por meio da aliança do Senhor e a lei dos patriarcas
os santos de Deus foram salvos no amor.
* Em um só espírito e uma só fé.
V. Vede como é bom,
como é agradável habitar todos juntos, como irmãos.
* Em um.

Segunda leitura

Do Discurso “sobre a Consolação da morte”, de São João Crisóstomo, bispo
( 2,4-5)

(Séc. IV)


Cristo é testemunha da ressurreição
futura, e com ele os apóstolos, os
mártires e a mãe dos Macabeus
Pergunta-te somente isto, se Cristo tinha prometido a ressurreição e quando por tantos testemunhos terás recebido a existência dessa promessa; então, assegurado pela garantia do próprio Cristo Senhor e confirmado na tua fé, deixa de temer a morte. Somente quem não crê ainda teme: este comete um pecado imperdoável, pois com a sua incredulidade ousa afirmar que ou Deus não tem poder algum ou que é mentiroso. Não era assim que pensavam os santos apóstolos e os próprios mártires. Os apóstolos, justamente por pregar a ressurreição, pregavam o Cristo ressuscitado e nele anunciavam a ressurreição dos mortos, não recusando suportar por isso nem morte, nem torturas, nem mesmo a morte de cruz. Ora, se tudo é resolvido pela boca de duas ou três testemunhas (cf. Mt 18,16), como pode ser ainda colocada em dúvida a ressurreição dos mortos, da qual existem tão numerosas e grandes testemunhas que a proclamam com o seu sangue? E o que disseram disso os mártires? Estavam seguros da ressurreição ou não?
Se não tivessem tido a certeza dela, não teriam acolhido como o prêmio máximo uma morte tão cheia de torturas e sofrimentos: não olhavam para os suplícios do tempo presente, mas para o prêmio que os seguiam depois. Sabiam de fato que as coisas visíveis são de momento, enquanto as invisíveis são eternas (2Cor 4,18 )
Ouvi ainda irmãos, este exemplo de virtude.
A mãe exortava os seus sete filhos e não chorava, mas pelo contrário se alegrava; via que arrancavam as unhas de seus filhos, que recebiam golpes de espadas, que eram queimados sobre grelhas, e não derramava lágrimas, não gritava; mas cheia de solicitude os exortava a suportar tudo pacientemente. Aquela mãe, sem dúvida, não era cruel, mas fiel; amava os filhos, não com fraqueza, mas com força. Exortava os filhos ao sacrifício, e como se alegrou quando ela própria teve que enfrentá-lo! Na verdade, estava segura da sua ressurreição e da deles.
Que mais ainda acrescentar de tantos homens, mulheres, jovens e crianças? Era como se brincassem com semelhante morte, passavam com extrema rapidez para as fileiras celestes.
Eles teriam podido continuar a viver se assim o quisessem, pois dependia deles viver renegando a Cristo, ou morrer confessando-o: porém, preferiram desprezar esta vida mortal para serem elevados à vida eterna, serem excluídos da terra para se tornarem cidadãos do céu.
Existe ainda lugar para alguma dúvida, irmãos? Sobre o que ainda poderia basear-se o medo da morte? Se somos filhos de mártires, se queremos nos mostrar seus companheiros, não nos deixemos entristecer por causa da morte, não choremos os nossos entes queridos que nos precederam para estar juntos do Senhor; pois, do contrário, serão os próprios mártires a rirem de nós, dizendo: Oh, como tendes fé! Como considerais o Reino de Deus! Chorais com tanta dor os vossos entes queridos que morrem suavemente nos seus leitos de espumas; e se os tivessem visto torturados e mortos pelos pagãos, pelo nome do Senhor, o que teríeis feito?

Responsório Is 25,8; 1Cor 15,24.26
R. Deus eliminará a morte para sempre.
* O Senhor enxugará as lágrimas de todos os rostos.
V. Cristo reduzirá a nada todo o principado,
toda a força e todo o poder;
o último inimigo a ser aniquilado será a morte.
* O Senhor enxugará.

Oração

Deus de poder e misericórdia, afastai de nós todo obstáculo para que, inteiramente disponíveis, nos dediquemos ao vosso serviço. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora

V.
Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.