SÃO LOURENÇO RUIZ, E SEUS COMPANHEIROS, MÁRTIRES
No
século XVII, entre os anos de 1633 e 1637, dezesseis mártires, Lourenço
Ruiz e seus Companheiros, derramaram seu sangue por amor de Cristo, em
Nagasaki, no Japão. Todos pertenciam à Ordem de São Domingos ou a ela
estavam ligados. Dentre esses mártires, nove eram presbíteros, dois
religiosos, duas virgens e três leigos, sendo um deles Lourenço Ruiz,
pai de família, natural das Ilhas Filipinas. Em época e condições
diversas, pregaram a fé cristã nas Ilhas Filipinas, em Formosa e no
Japão. Manifestaram de modo admirável a universalidade do cristianismo
e, como infatigáveis missionários, espalharam copiosamente, pelo exemplo
da vida e pela morte, a semente da futura cristandade.
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Ofício das Leituras
V. Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R. Socorrei-me sem demora.
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
Como era no princípio, agora e sempre. Amém. Aleluia.
Esta introdução se omite quando o Invitatório precede imediatamente ao
Ofício das Leituras.
Hino
Rei glorioso do mártir,
sois a coroa e o troféu,
pois desprezando esta terra,
procura apenas o céu.
Que o coração inclinando,
possais ouvir nossa voz;
vossos heróis celebrando,
supliquem eles por nós!
Se pela morte venceram,
mostrando tão grande amor,
vençamos nós pela vida
de santidade e louvor.
A vós, Deus uno, Deus trino,
sobe hoje nosso louvor,
pelos heróis que imitaram
a própria cruz do Senhor.
Salmodia
Ant. 1 Até à morte fiéis ao Senhor,
derramaram seu sangue por Cristo
e alcançaram o prêmio eterno.
Salmo 2
–1 Por que os povos
agitados se revoltam? *
por que tramam as nações projetos vãos?
=2 Por que os reis de toda
a terra se reúnem, †
e conspiram os governos todos juntos *
contra o Deus onipotente e o seu Ungido?
–3 "Vamos quebrar suas
correntes , dizem eles, *
"e lançar longe de nós o seu domínio!
–4 Ri-se deles o que mora
lá nos céus; *
zomba deles o Senhor onipotente.
–5 Ele, então, em sua ira
os ameaça, *
e em seu furor os faz tremer, quando lhes diz:
–6 "Fui eu mesmo que
escolhi este meu Rei, *
e em Sião, meu monte santo, o consagrei!
=7 O decreto do Senhor
promulgarei, †
foi assim que me falou o Senhor Deus: *
"Tu és meu Filho, e eu hoje te gerei!
=8 Podes pedir-me, e em
resposta eu te darei †
por tua herança os povos todos e as nações, *
e há de ser a terra inteira o teu domínio.
–9 Com cetro férreo haverás
de dominá-los, *
e quebrá-los como um vaso de argila!
–10 E agora, poderosos,
entendei; *
soberanos, aprendei esta lição:
–11 Com temor servi a Deus,
rendei-lhe glória *
e prestai-lhe homenagem com respeito!
–12 Se o irritais,
perecereis pelo caminho, *
pois depressa se acende a sua ira!
– Felizes hão de ser todos aqueles *
que põem sua esperança no Senhor!
– Glória
ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
Ant. Até à morte fiéis ao Senhor,
derramaram seu sangue por
Cristo
e alcançaram o prêmio
eterno.
Ant. 2 Os justos viverão eternamente,
e a sua recompensa é o Senhor.
Salmo 32(33)
I
–1 Ó justos, alegrai-vos
no Senhor! *
Aos retos fica bem glorificá-lo.
–2 Dai graças ao Senhor
ao som da harpa, *
na lira de dez cordas celebrai-o!
–3 Cantai para o Senhor
um canto novo, *
com arte sustentai a louvação!
–4 Pois reta é a palavra
do Senhor, *
e tudo o que ele faz merece fé.
–5 Deus ama o direito e a
justiça, *
transborda em toda a terra a sua graça.
–6 A palavra do Senhor
criou os céus, *
e o sopro de seus lábios, as estrelas.
–7 Como num odre junta as
águas do oceano, *
e mantém no seu limite as grandes águas.
–8 Adore ao Senhor a
terra inteira, *
e o respeitem os que habitam o universo!
–9 Ele falou e toda a
terra foi criada, *
ele ordenou e as coisas todas existiram.
–10 O Senhor desfaz os
planos das nações *
e os projetos que os povos se propõem.
=11 Mas os desígnios do
Senhor são para sempre, †
e os pensamentos que ele traz no coração, *
de geração em geração, vão perdurar.
Glória ao Pai e ao
Filho e ao Espírito Santo.
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
Ant.Os
justos
viverão eternamente,
e a sua recompensa é o
Senhor.
Ant. 3 Vós lutastes por mim sobre a terra:
recebei, meus amigos, o prêmio.
II
–12 Feliz o povo cujo
Deus é o Senhor, *
e a nação que escolheu por sua herança!
–13 Dos altos céus o
Senhor olha e observa; *
ele se inclina para olhar todos os homens.
–14 Ele contempla do
lugar onde reside *
e vê a todos os que habitam sobre a terra.
–15 Ele formou o coração
de cada um *
e por todos os seus atos se interessa.
–16 Um rei não vence pela
força do exército, *
nem o guerreiro escapará por seu vigor.
–17 Não são cavalos que
garantem a vitória; *
ninguém se salvará por sua força.
–18 Mas o Senhor pousa o
olhar sobre os que o temem, *
e que confiam esperando em seu amor,
–19 para da morte
libertar as suas vidas *
e alimentá-los quando é tempo de penúria.
–20 No Senhor nós
esperamos confiantes, *
porque ele é nosso auxílio e proteção!
–21 Por isso o nosso
coração se alegra nele, *
seu santo nome é nossa única esperança.
–22 Sobre nós venha,
Senhor, a vossa graça, *
da mesma forma que em vós nós esperamos!
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
Ant. Vós lutastes por mim sobre a terra:
recebei, meus amigos, o prêmio.
V. No Senhor nós esperamos confiantes.
R. Porque ele é nosso auxílio e proteção.
Primeira leitura
Da Carta de São Paulo aos Romanos 8,18-39
Nada nos pode separar do amor de Deus,
que está em Cristo Jesus
Irmãos: 18Eu entendo que os sofrimentos do tempo presente nem merecem ser comparados com a glória que deve ser revelada em nós.
19De fato, toda a criação está esperando ansiosamente o momento de se revelarem os filhos deDeus. 20Pois a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua livre vontade, mas por sua dependência daquele que a sujeitou; 21também ela espera ser libertada da escravidão dacorrupção e, assim, participar da liberdade e da glória dos filhos de Deus. 22Com efeito, sabemos que toda a criação, até ao tempo presente, está gemendo como que em dores de parto.
23E não somente ela, mas nós também, que temos os primeiros frutos do Espírito, estamosinteriormente gemendo, aguardando a adoção filial e a libertação para o nosso corpo. 24Pois já fomos salvos,mas na esperança. Ora, o objeto da esperança não é aquilo que a gente está vendo; como pode alguém esperar o que já vê? 25Mas se esperamos o que não vemos, é porque o estamos aguardando mediante a perseverança.
26Também o Espírito vem em socorro da nossa fraqueza. Pois nós não sabemos o que pedir, nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis. 27E aquele que penetra o íntimo dos corações sabe qual é a intenção do Espírito. Pois é sempre segundo Deus que o Espírito intercede em favor dos santos.
28Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados para a salvação, de acordo com o projeto de Deus. 29Pois aqueles que Deus contemplou com seu amor desde sempre, a esses ele predestinou a serem conformes à imagem de seu Filho, para que este seja o primogênito numa multidão de irmãos. 30E aqueles que Deus predestinou, também os chamou. E aos que chamou, também os tornou justos;e aos que tornou justos, também os glorificou.
31Depois disto, que vos resta dizer? Se Deus é por nós, quem será contra nós? 32Deus que não poupou seu próprio filho, mas o entregou por todos nós, como não nos daria tudo junto com ele? 33Quem acusará os escolhidos de Deus? Deus, que os declara justos? 34Quem condenará? Jesus Cristo, que morreu, mais ainda, que ressuscitou, e está, à direita de Deus, intercedendo por nós?
35Quem nos separará do amor de Cristo? Tribulação? Angústia? Perseguição? Fome? Nudez? Perigo? Espada? 36Pois é assim que está escrito: “Por tua causa somos entregues à morte, o dia todo; fomos tidos como ovelhas destinadas ao matadouro”.
37Mas, em tudo isso, somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou! 38Tenho a certeza que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os poderes celestiais, nem o presente nem o futuro, nem as forças cósmicas, 39nem a altura, nem a profundeza, nem outra criatura qualquer será capaz de nos separar do amor de Deus por nós, manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor.
Responsório Mt 5,44-45.48; Lc 6,17
R. Amai os vossos inimigos, diz Jesus,
orai por quem vos calunia e persegue,
* E sereis filhos do vosso Pai celeste.
V. Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito.
*
E sereis.
Segunda leitura
Da Homilia do Papa João Paulo II na Missa solene de Beatificação dos Servos de Deus Lourenço Ruiz, e seus Companheiros, celebrada em Manila
(AAS 73,1981,340-342)
(Séc. XX)
Manifestaram o maior ato de adoração e amor
para com Deus no sacrifício do próprio sangue
Segundo
a promessa do Evangelho, Cristo reconhece verdadeiramente, em presença
do seu Pai no céu, aqueles mártires fiéis que deram testemunho dele
perante os homens.
O hino de glória a Deus, que foi agora cantado por tantas vozes, é um
eco daquele “Te Deum” cantado na igreja de São Domingos, na tarde de 27
de dezembro de 1637, quando chegou a notícia do martírio de um grupo de
seis cristãos em Nagasaki. Entre eles estava o superior da missão, Frei
Antônio González, dominicano espanhol originário de León, e Lourenço
Ruiz, pai de família, nascido em Manila, no subúrbio de Binondo. Estas
testemunhas cantaram, por sua vez, salmos ao Senhor de misericórdia e
poder, não só quando estavam na prisão, mas também quando caminhavam
para o martírio que durou três dias.
A fé vence o mundo. A pregação desta fé ilumina, como o sol, todos
aqueles que desejam chegar ao conhecimento da verdade. E, realmente,
embora haja diferentes línguas no mundo, a tradição cristã é uma só.
O Senhor Jesus, com o próprio sangue, remiu verdadeiramente os seus
servos, reunidos de todas as raças, línguas e nações, a fim de fazer
deles um sacerdócio real para o nosso Deus.
Os dezesseis bem-aventurados mártires, exercendo o seu sacerdócio – o do
Batismo ou o da Sagrada Ordem – manifestaram o maior ato de adoração e
amor para com Deus no sacrifício do próprio sangue unido ao sacrifício
de Cristo, no altar da Cruz.
Assim, imitaram Cristo, sacerdote e vítima, do modo mais perfeito
possível para as criaturas humanas. Ao mesmo tempo, foi o maior ato de
amor que se possa fazer pelos irmãos, por amor dos quais somos chamados a
sacrificar-nos, seguindo o exemplo do Filho de Deus que deu a sua vida
por nós.
Foi isto o que fez Lourenço Ruiz. Guiado pelo Espírito Santo a caminho
de um termo inesperado, depois de uma vida cheia de perigos, disse aos
juízes que era cristão e que morreria por Deus: “Se tivesse muitos
milhares de vidas ofereceria todas por ele. Nunca o renegarei. Podeis
matar-me, se é isto que desejais. Morrer por Deus é a minha vontade”.
Nestas palavras contemplamos uma síntese da sua personalidade, uma
descrição da sua fé e a razão de sua morte. Foi neste momento que este
jovem pai de família testemunhou e pôs em prática a catequese cristã que
recebera na escola dos Frades dominicanos de Binondo: catequese que não
podia deixar de ser cristocêntrica quer pelo mistério que encerra, quer
por nos ensinar Cristo pelos lábios de seu mensageiro.
O exemplo de Lourenço Ruiz, filho de pai chinês e mãe filipina,
recorda-nos que a vida de cada um, a vida inteira, deve estar à
disposição de Cristo.
Ser cristão significa doar-se cada dia, em resposta ao dom de Cristo que
vem ao mundo para que todos tenham a vida e a tenham plenamente.
Responsório Cf. Ef 4,4.5
R. Estes mártires santos derramaram
o seu sangue heróico por Deus;
amaram o Cristo na vida, imitaram o Cristo na morte;
* Mereceram coroas de glória.
V. Viviam unidos na fé, no amor e no mesmo Espírito.
* Mereceram.
Oração
PConcedei-nos, Senhor Deus, a paciência dos vossos mártires Lourenço e companheiros em vosso serviço e na ajuda ao próximo, porque são felizes em vosso reino os que sofrem perseguição por amor à justiça. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Conclusão da Hora
V.
Bendigamos ao Senhor.
R. Demos graças a Deus.