QUARTA-FEIRAOfício das LeiturasPrimeira leitura
Do Livro de Tobias
4,1-6.19-5,18
Tobias parte em viagem
4,1Naquele dia, Tobit lembrou-se do dinheiro que havia
depositado com Gabael, em Rages, na Média, 2e pensou
consigo: “Já estou desejando morrer; seria bom chamar
meu filho Tobias para lhe falar sobre esse dinheiro, antes
de morrer.” 3Chamou, pois, seu filho Tobias para junto de
si e assim falou:
“Quando eu morrer, dar-me-ás uma digna sepultura;
honra tua mãe e não a abandones em nenhum dia de tua
vida; faze o que lhe agrada e não lhe sejas causa de tristeza
alguma. 4Lembra-te, meu filho, de tantos perigos que ela
correu por tua causa, quando te trazia no seio. E quando ela
morrer, sepulta-a junto de mim, no mesmo túmulo.
5Meu filho, lembra-te do Senhor todos os dias e não
queiras pecar nem transgredir seus mandamentos. Pratica a
justiça todos os dias da tua vida e não andes pelos caminhos
da injustiça. 6Pois, se agires conforme a verdade, terás
êxito em todas as tuas ações, como todos os que praticam
a justiça.
19Bendize ao Senhor Deus em toda circunstância,
pede-lhe que dirija teus caminhos e que cheguem a bom
termo todas as tuas veredas e teus projetos. Pois nem toda
nação possui a sabedoria; é o Senhor quem lhes dá o dom
de desejar o bem. Segundo seu beneplácito, ele exalta ou
rebaixa até o fundo da mansão dos mortos. Portanto, meu
filho, lembra-te desses mandamentos e não permitas que se
apaguem do teu coração.
20Também quero dizer-te, meu filho, que deixei em depósito com Gabael, filho de Gabri, em Rages, na Média, dez talentos de prata. 21Não te preocupes, filho, se ficamos pobres.
Tens uma grande riqueza se temes a Deus, se evitas toda espécie de pecado e se fazes o que agrada ao Senhor teu Deus.”
5,1Então Tobias respondeu a seu pai Tobit: “Pai, farei
tudo quanto me ordenaste. 2Mas como poderei recuperar
esse dinheiro? Ele não me conhece e nem eu a ele. Que
sinal lhe darei para que ele me reconheça, creia em mim e
me entregue o dinheiro? Além disso, não sei que caminho
tomar para chegar à Média.” 3Tobit então respondeu a seu
filho Tobias: “Ele me deu seu documento, e eu lhe dei o
meu; eu o dividi em dois para que cada um de nós ficasse
com a metade. Tomei uma e deixei a outra com o dinheiro.
E dizer que já faz vinte anos que depositei esse dinheiro!
Agora, meu filho, procura um homem de confiança para
teu companheiro de viagem, e lhe pagaremos pelo seu
trabalho até a tua volta; vai e recupera esse dinheiro junto
a Gabael.”
4Tobias saiu em busca de alguém que conhecesse o
caminho e que fosse com ele à Média. Ao sair, encontrou
Rafael, o anjo, de pé diante dele; mas não sabia que era
um anjo de Deus. 5Disse-lhe, pois: “De onde és, jovem?”
Respondeu-lhe: “Sou um dos israelitas, teus irmãos, e vim
procurar trabalho.” Perguntou-lhe Tobias: “Conheces o
caminho da Media?” 6“Sim” respondeu ele: “já estive lá
muitas vezes e conheço em detalhe todos os caminhos. Fui
à Média com frequência e hospedei-me na casa de Gabael,
nosso irmão, que mora em Rages, na Média. São dois
dias de viagem entre Ecbátana e Rages, pois Rages está
situada na montanha e Ecbátana na planície.” 7Disse-lhe
Tobias: “Espera-me, jovem, que eu vou informar meu pai,
porque preciso que venhas comigo; pagar-te-ei teu salário.”
8Respondeu o outro: “Fico esperando, mas não demores.”
9Tobias foi informar seu pai e disse-lhe: “Encontrei
um homem, que é dos israelitas, irmão nosso.” E seu pai
lhe disse: “Chama-o aqui. para que eu saiba a que família
pertence e se é digno de confiança para que te acompanhe,
filho.” Tobias saiu. chamou-o e disse-lhe: “Jovem, meu pai
está te chamando.”
10O anjo entrou na casa e Tobit o saudou por primeiro. Ele
respondeu: “Desejo-te grande alegria.” Disse Tobit: “Que
alegria posso ainda ter? Estou cego e não posso ver a luz do
céu; estou mergulhado nas trevas como os mortos que não
contemplam mais luz; vivo como um morto; ouço a voz das
pessoas, mas não as vejo.” Disse-lhe o anjo: “Tem confiança,
que Deus em breve te curará. Tem confiança!” Tobit lhe
disse: “Meu filho Tobias quer ir à Média. Podes ir com ele
e servir-lhe de guia? Eu te darei teu salário, irmão.” Ele
respondeu: “Posso ir com ele, pois conheço detalhadamente
todos os caminhos e fui frequentes vezes à Média, percorri
todas as suas planícies e as suas montanhas e conheço todas
as suas veredas.” 11Disse-lhe Tobit: “Irmão, de que família
e de que tribo és tu? Fala, irmão.” 12Respondeu-lhe o anjo:
“Que importa a minha tribo?” Tobit insistiu: “Gostaria de
saber com segurança de quem és filho e qual é o teu nome.”
13Respondeu-lhe o anjo: “Sou Azarias, filho do grande
Ananias, um de teus irmãos.” 14Disse-lhe Tobit: “Bem-
vindo, irmão, salve! Não leves a mal, irmão, meu desejo de
conhecer com certeza teu nome e tua família; acontece que
és parente meu e pertences a uma família honesta e honrada.
Conheci Ananias e Natã, os dois filhos do grande Semeías;
eles iam comigo a Jerusalém, juntos lá adorávamos, e eles
não se desviaram do bom caminho. Teus irmãos são homens
de bem; descendes de ilustre estirpe. Sê bem-vindo!”
15E acrescentou: “Pagar-te-ei como salário uma dracma
por dia, e dar-te-ei, como a meu filho, o que te for necessário.
Viaja, pois, com meu filho, 16e depois ainda acrescentarei
algo ao teu salário.” O anjo respondeu: “Irei com teu
filho, nada receies. Sãos partiremos e sãos regressaremos
a ti, porque o caminho é seguro.” 17Respondeu-lhe Tobit:
“Bendito sejas, irmão!” Chamou seu filho e disse-lhe:
“Filho, prepara as coisas para a viagem e parte com teu
irmão; que lá vos proteja o Deus que está nos céus e que
vos reconduza a mim sãos e salvos: e que seu anjo vos
acompanhe com sua proteção, filho.”
Tobias saiu para empreender a viagem, e beijou seu pai
e sua mãe. Tobit lhe disse: “Boa viagem!” 18Sua mãe pôs-
se a chorar e disse a Tobit: “Para que mandaste meu filho
partir? Não é ele o bastão de nossa mão que sempre vai e
vem conosco?
Responsório
Cf. Tb 4,19; 14,8
R. Bendize o Senhor Deus em toda circunstância,
pede-lhe
que dirija teus caminhos.
* Para que cheguem a bom termo todos os teus projetos.
V. Sirvais a Deus em verdade e façais o que lhe agrada,
com
todas as tuas forças.
* Para que cheguem.
Segunda leitura
De “As confissões” de Santo Agostinho, bispo
(Liv 10,34)
(Séc. V)
Ó Luz, única! Ver-te e amar-te é uma coisa só!
Ó luz, que Tobit via quando, mesmo que tivessem obscurecidos estes olhos mortais, mostrava ao filho o caminho
da vida, e o precedia seguro com o pé da caridade; luz que
Isaac via quando, mesmo com os olhos carnais ofuscados
e obscurecidos pela velhice, mereceu, não de abençoar os
filhos, reconhecendo-os, mas de reconhecê-los na bênção;
luz que via Jacó quando, tendo também ele perdido a luz
dos seus olhos pela idade, irradiou com o seu coração luminoso as gerações do futuro povo, prefiguradas nos seus
filhos, e impôs sobre os netos recebidos de José as mãos
misticamente em cruz: não como tentava corrigi-lo os seus
pais vendo do exterior, mas segundo o que ele próprio intuía
a partir do seu íntimo!
Esta é a luz, e é única, como são uma só coisa aqueles
que a veem e a amam. Enquanto a luz corpórea da qual
estava falando insinua uma doçura sedutora e perigosa na
vida dos cegos amantes do mundo. Quando, porém, ó Deus
criador do universo, aprenderam a louvar-te também por seu
intermédio, assumem-na em teu hino, ao invés de se deixarem absorver por ela na sua inércia. E eu quero ser assim.
Resisto à malícia dos olhos, para evitar que permaneçam no
cepo os pés com os quais avanço no teu caminho, e volvo
para ti os meus olhos invisíveis, a fim de que tu livres dos laços o meu pé (Sl 24,15).
E tu o fazes continuamente, porque ele cai incessantemente nas armadilhas. Não te cansas de livrar-me, enquanto
tropeço a cada passo nos obstáculos esparramados por
todo lugar, porque não cochilarás e nem cairás no sono, ó
vigia de Israel (cf. Sl 120,4). Quantas coisas, diria mais,
inumeráveis, os homens uniram a sua arte e os seus ofícios
às sedutoras ofertas naturais aos olhos: nas vestes, nos calçados, nos objetos e utensílios de toda espécie e ainda na
pintura e também nas diversas obras de cerâmica, que vão
além da necessidade, a discrição e um piedoso simbolismo!
Perdendo-se exteriormente atrás das suas criações, eles
abandonam interiormente o seu Criador e destroem aquilo
do qual foram feitos. Mas, eu, meu Senhor e minha glória,
elevo também daqui um hino a ti e ofereço em sacrifício um
louvor Àquele que se sacrifica por mim. Porque, as belezas
que, através da alma, passam pelas mãos dos artistas, vêm
daquela Beleza que está acima da alma e à qual a minha
alma anseia dia e noite. Mas aqueles que fabricam e buscam
as belezas exteriores, extraem dali a norma para aprová-las,
não aquela para fazer bom uso delas. E mesmo estando ali
esta norma eles não a veem, pois do contrário não andariam
errando tão distantes e conservariam a sua força junto de ti,
sem desperdiçá-la em prazeres inconsistentes.
Eu mesmo, que digo e vejo tudo isso, me deixo atrair
por aquelas belezas, mas tu me livras, ó Senhor, me livras
porque a tua bondade está diante dos meus olhos (Sl 25,3).
Em verdade, eu me deixo prender miseravelmente e tu me
libertas delas misericordiosamente, às vezes sem que eu
tome consciência, porque estava simplesmente envolvido
nessa insídia, às vezes com dor porque havia caído nisso
completamente.
Responsório
1Ts 5,5.6; Eclo 32,18 vulg.
R. Vós todos sois filhos da luz e filhos do dia;
nós não somos
da noite nem das trevas.
* Não durmamos portanto como os outros,
mas permaneçamos despertos e sejamos sóbrios.
V. Aquele que busca o Senhor desde o amanhecer
encontra
a bênção.
* Não durmamos.OraçãoÓ
Pai, que resumistes toda a lei no amor a Deus e ao próximo, fazei que,
observando o vosso mandamento, consigamos chegar um dia à vida eterna.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito
Santo.Conclusão da Hora
V. Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.