Ofício das Leituras

V. Vinde, ó Deus em meu auxílio.
R. Socorrei-me sem demora.
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
Esta introdução se omite quando o Invitatório precede imediatamente ao Ofício das Leituras.

Hino

Seguindo o preceito místico,
guardemos a abstinência
durante os quarenta dias
votados à penitência.

A Lei e os Profetas dantes
cumpriram igual preceito,
Mas Cristo, no seu deserto,
viveu o jejum perfeito.

Usemos de modo sóbrio
da fala, bebida e pão,
do sono e do riso e, atentos,
peçamos a Deus perdão.

Fujamos do mal oculto
que os laços do amor desfaz;
à voz do tirano astuto
não demos lugar jamais.

Ouvi, Unidade simples,
Trindade, Supremo Bem:
a graça da penitência
dê frutos em nós. Amém.

Salmodia

Ant.1 Todos os dias haverei
de bendizer-vos, ó Senhor.

Salmo 144(145)

Louvor à grandeza de Deus
Justo és tu, Senhor, aquele que é e que era, o Santo (Ap 16,5).

I
1 Ó meu Deus, quero exaltar-vos, ó meu Rei, *
e bendizer o vosso nome pelos séculos.

2 Todos os dias haverei de bendizer-vos, *
hei de louvar o vosso nome para sempre.
3 Grande é o Senhor e muito digno de louvores, *
e ninguém pode medir sua grandeza.

4 Uma idade conta à outra vossas obras *
e publica os vossos feitos poderosos;
5 proclamam todos o esplendor de vossa glória *
e divulgam vossas obras portentosas!

6 Narram todos vossas obras poderosas, *
e de vossa imensidade todos falam.
7 Eles recordam vosso amor tão grandioso *
e exaltam, ó Senhor, vossa justiça.

8 Misericórdia e piedade é o Senhor, *
ele é amor, é paciência, é compaixão.
9 O Senhor é muito bom para com todos, *
sua ternura abraça toda criatura.

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Todos os dias haverei
de bendizer-vos, ó Senhor.

Ant. 2 O vosso reino, ó Senhor, é para sempre.

II
10 Que vossas obras, ó Senhor, vos glorifiquem, *
e os vossos santos com louvores vos bendigam!
11 Narrem a glória e o esplendor do vosso reino *
e saibam proclamar vosso poder!

12 Para espalhar vossos prodígios entre os homens *
e o fulgor de vosso reino esplendoroso.
13 O vosso reino é um reino para sempre, *
vosso poder, de geração em geração.

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. O vosso reino, ó Senhor, é para sempre.

Ant. 3 O Senhor é amor fiel em sua palavra,
é santidade em toda obra que ele faz. †

III
13b O Senhor é amor fiel em sua palavra, *
é santidade em toda obra que ele faz.
14 † Ele sustenta todo aquele que vacila *
e levanta todo aquele que tombou.

15 Todos os olhos, ó Senhor, em vós esperam*
e vós lhes dais no tempo certo o alimento;
16 vós abris a vossa mão prodigamente *
e saciais todo ser vivo com fartura.

17 É justo o Senhor em seus caminhos, *
é santo em toda obra que ele faz.
18 Ele está perto da pessoa que o invoca, *
de todo aquele que o invoca lealmente.

19 O Senhor cumpre os desejos dos que o temem, *
ele escuta os seus clamores e os salva.
20 O Senhor guarda todo aquele que o ama, *
mas dispersa e extermina os que são ímpios.

=21 Que a minha boca cante a glória do Senhor †
e que bendiga todo ser seu nome santo *
desde agora, para sempre e pelos séculos.

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. O Senhor é amor fiel em sua palavra,
é santidade em toda obra que ele faz.

V. Vós o nutris com o pão da vida e do saber.

R. E o saciais com uma água salutar.

Primeira leitura

Do Livro do Êxodo 22,20-23,9

Leis para proteger o estrangeiro e o pobre
(Código da Aliança)
Assim diz o Senhor: não afligirás o estrangeiro nem o oprimido, pois vós mesmos fostes estrangeiros no país do Egito. Não afligireis nenhuma viúva ou órfão. Se o afligires e ele gritar a mim, escutarei seu grito; minha ira se acenderá e vos farei perecer pela espada: vossas mulheres ficarão viúvas e vossos filhos, órfãos.
Se emprestares dinheiro a um compatriota, ao indigente que está em teu meio, não agirás com ele como credor que impõe juros.
Se tomares o manto do teu próximo em penhor, tu lho restituirás antes do pôr do sol. Porque é com ele que se cobre, é a veste do seu corpo: em que se deitaria? Se clamar a mim, eu o ouvirei, porque sou compassivo.
Não blasfemarás contra Deus, nem amaldiçoarás um chefe do teu povo.
Não tardarás em oferecer de tua abundância e do teu supérfluo. O primogênito de teus filhos, tu mo darás. Farás o mesmo com os teus bois, e com as tuas ovelhas; durante sete dias ficará com a mãe, e no oitavo dia mo darás.
Sereis para mim homens santos. Não comereis a carne de um animal dilacerado por uma fera no campo; deitá-la-eis aos cães.
Não espalharás notícias falsas, nem darás a mão ao ímpio para seres testemunha de injustiça. Não tomarás o partido da maioria para fazeres o mal, nem deporás, num processo, inclinando-te para a maioria, para torcer o direito, nem serás parcial com o desvalido no seu processo.
Se encontrares o boi do teu inimigo, ou o seu jumento, desgarrado, lho reconduzirás. Se vires cair debaixo da carga o jumento daquele que te odeia, não o abandonarás, mas o ajudarás a erguê-lo. Não desviarás o direito do teu pobre em seu processo. Da falsa acusação te afastarás; não matarás o inocente e o justo, e não justificarás o culpado. Não aceitarás presentes, porque os presentes cegam até os perspicazes e pervertem as palavras dos justos.
Não oprimirás o estrangeiro: conheceis a vida de estrangeiro, porque fostes estrangeiros no Egito.

Responsório Sl 81(82),3-4;cf. Tg 2,5
R. Fazei justiça aos indefesos e aos órfãos,
ao pobre e ao humilde absolvei!
*
Libertai o oprimido, o infeliz,
da mão dos opressores arrancai-os.
V.
Deus escolheu os pobres aos olhos do mundo,
para serem ricos na fé e herdeiros do seu Reino.
*
Libertai.

Segunda leitura

Do Tratado sobre os graus da humildade e da soberba, de São Bernardo, abade
(Tract. 3,6: EC 3,20-21)
(Séc. XI)


Para que o teu coração se compadeça da miséria alheia,
é preciso antes conheceres a tua própria miséria
Como há três graus no conhecimento da verdade, vou tentar defini-los brevemente, para que se veja mais claramente com qual deles se relaciona o décimo segundo grau da humildade. De fato, procuramos a verdade em nós, no próximo e em si mesma. Em nós, julgando-nos; no próximo, partilhando seus males; em si mesma, contemplando-a de coração puro. Repara como há equivalência entre o número e a ordem. Primeiro ensine-te a própria verdade, que deve ser procurada antes no próximo do que na sua essência. Depois compreenderás porque deves procurá-la em ti antes do que no próximo.
Com efeito, o Senhor, no número das bem-aventuranças que propôs em seu sermão, colocou os misericordiosos antes dos puros de coração. Os misericordiosos, de fato, encontram logo a verdade no próximo, ao lhe dedicarem sua afeição, ao se conformarem de tal modo a ele pela caridade, que sentem como próprios o mal ou o bem que lhe sucede. Fazem-se fracos com os fracos, tornam-se solidários com aqueles que se escandalizam, acostumam-se a alegrar-se com os que se alegram e a chorar com os que choram (cf. Rm 12,15). Com o olhar do coração purificado por esta caridade fraterna, deleitam-se em contemplar a verdade em si mesma, por cujo amor suportam os males alheios.
Os que não se unem assim aos irmãos, mas, ao contrário, insultam os que choram ou constrangem os que se alegram, não sentindo o que neles se passa, porque não são atingidos do mesmo modo, como poderão encontrar a verdade no próximo? Com razão podemos aplicar-lhes o popular provérbio: “Ignora o sadio o que sente o doente, e o farto, o que sente o faminto”. Mas o doente se compadece do doente, e o faminto do faminto, quanto mais próximos e mais amigos são. Como só o coração puro vê a verdade pura, também o coração pobre é o que sente melhor a pobreza do irmão.
Mas para que teu coração se compadeça da miséria alheia, é preciso antes conheceres a tua própria miséria, a fim de que tua mente compreenda a do próximo, e saibas por tua experiência socorrê-lo, a exemplo do nosso Salvador que, para saber compadecer-se, quis padecer e tornar-se pobre para aprender a ter compaixão, como está escrito a seu respeito: Aprendeu o que significa a obediência, por aquilo que ele sofreu (Hb 5,8). Assim aprendeu também a misericórdia. Não que desconhecesse antes a compaixão, ele cuja misericórdia é eterna, mas para que aprendesse pela experiência terrena o que sabia desde sempre por sua natureza.

Responsório Cf. 1Jo 4,10-11;Jo 15,13
R. Não fomos nós que amamos a Deus,
mas foi ele que nos amou e enviou seu Filho
como oferenda de expiação pelos nossos pecados.
*
Se Deus nos amou assim,
nós também devemos amar-nos uns aos outros.
V. Ninguém tem amor maior
do que aquele que dá a vida por seus amigos.
*
Se Deus nos amou.

Oração

Ó Deus, fonte de toda misericórdia e de toda bondade, vós nos indicastes o jejum, a esmola e a oração como remédio contra o pecado. Acolhei esta confissão da nossa fraqueza para que, humilhados pela consciência de nossas faltas, sejamos confortados pela vossa misericórdia. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora

V. Bendigamos ao Senhor.

R. Graças a Deus.