15a SEMANA DO TEMPO COMUM

III Semana do Saltério

TERÇA-FEIRA

Ofício das Leituras

Primeira leitura
Do Livro de Jó 3,1-26

Lamentação de Jó

1Enfim, Jó abriu a boca e amaldiçoou o dia do seu nascimento. 2Jó tomou a palavra e disse: 3“Pereça o dia que me viu nascer, a noite que disse: ‘Um menino foi concebido!’ 4Esse dia, que se torne trevas, que Deus do alto não se ocupe dele, que sobre ele não brilhe a luz! 5Que o reclamem as trevas e sombras espessas, que uma nuvem pouse sobre ele, que um eclipse o aterrorize! 6Sim, que dele se apodere a escuridão, que não se some aos dias do ano, que não entre na conta dos meses! 7Que essa noite fique estéril, que não penetrem ali os gritos de júbilo! 8Que a amaldiçoem os que amaldiçoam o dia, os entendidos em conjurar Leviatã! 9Que se escureçam as estrelas da sua aurora, que espere pela luz que não vem, que não veja as pálpebras da alvorada. 10Porque não fechou as portas do ventre para esconder à minha vista tanta miséria. 11Por que não morri ao deixar o ventre materno, ou pereci ao sair das entranhas? 12Por que me recebeu um regaço e seios me deram de mamar? 13Agora dormiria tranquilo, descansaria em paz, 14com os reis e os ministros da terra que construíram mausoléus para si; 15ou como os nobres que amontoaram ouro e prata em seus mausoléus. 16Que eu fosse como um aborto escondido, que não existisse agora, como crianças que não viram a luz. 17Ali acaba o tumulto dos ímpios, ali repousam os que estão esgotados. 18Com eles descansam os prisioneiros, sem ouvir a voz do capataz. 19Lá pequenos e grandes se avizinham, e o escravo livra-se de seu amo. 20Por que foi dada a luz a quem o trabalho oprime, e a vida a quem a amargura aflige, 21a quem anseia pela morte que não vem, a quem a procura com afinco como um tesouro, 22a quem se alegraria em frente do túmulo e exultaria ao encontrar a sepultura? 23Por que este dom ao homem cujo caminho é escondido e que Deus cerca com uma sebe? 24Por alimento tenho soluços, e os gemidos vêm-me como água. 25 Sucede-me o que mais temia, o que mais me aterrava acontece-me. 26Para mim, nem tranquilidade, nem paz, nem repouso: nada além de tormento!”

Responsório Cf. Jó 3,24-26; 6,13
R. Em lugar do pão tenho meus suspiros,
e os meus gemidos se espalham como a água.
Todos os meus temores se realizam,
e aquilo que me dá medo vem atingir-me.
* Pesa sobre mim a sua cólera.
V.
Não encontro socorro algum,
qualquer esperança de salvação me foi tirada.
* Pesa sobre.

Segunda leitura
Dos “Livros das Confissões”, de Santo Agostinho, bispo
(Lib. 10,1,1-2,2; 5.7: CCL 27,155.158)

(Séc. V)


Seja eu quem for, sou a ti manifesto, Senhor

Que eu te conheça, ó conhecedor meu! Que eu também te conheça como sou conhecido! Tu, ó força de minha alma, entra dentro dela, ajusta-a a ti, para a teres e possuíres sem mancha nem ruga. Esta é a minha esperança e por isso falo. Nesta esperança, alegro-me quando sensatamente me alegro. Tudo o mais nesta vida tanto menos merece ser chorado quanto mais é chorado, e tanto mais seria de chorar quanto menos é chorado. Eis que amas a verdade, pois quem a faz chega-se à luz. Quero fazê-la no meu coração, diante de ti, em confissão, com minha pena, diante de muitas testemunhas.
A ti, Senhor, a cujos olhos está a nu o abismo da consciência humana, que haveria de oculto em mim, mesmo que não quisesse confessá-lo a ti? Eu me esconderia a mim mesmo, e nunca a mim diante de ti. Agora, porém, quando os meus gemidos testemunham que eu me desagrado de mim mesmo, enquanto tu refulges e agradas, és amado e desejado, que eu me envergonhe de mim mesmo, rejeite-me e te escolha! Nem a ti nem a mim seja eu agradável, a não ser por ti.
Seja eu quem for, sou a ti manifesto e declarei com que proveito o fiz. Não o faço por palavras e vozes corporais, mas com palavras da alma e clamor do pensamento. A tudo o teu ouvido escuta. Quando sou mau, confessá-lo a ti nada mais é do que não o atribuir a mim. Quando sou bom, confessá-lo a ti nada mais é do que não o atribuir a mim. Porque tu, Senhor, abençoas o justo, antes, porém, o justificas quando ímpio. Na verdade minha confissão, ó meu Deus, faz-se diante de ti em silêncio, e não em silêncio porque cala-se o ruído, clama o afeto.
Tu me julgas, Senhor, porque nenhum dos homens conhece o que há no homem a não ser o espírito do homem que nele está. Há, contudo, no homem algo que nem o próprio espírito do homem, que nele está, conhece. Tu, porém, Senhor, conheces tudo dele, pois tu o fizeste. Eu, na verdade, embora diante de ti me despreze e me considere pó e cinza, conheço algo de ti que ignoro de mim.
É certo que agora vemos como em espelho e obscura- mente, ainda não face a face. Por isto, enquanto eu peregrino longe de ti, estou mais presente a mim do que a ti e, no entanto, sei que és totalmente impenetrável, ao passo que ignoro a que tentações posso ou não resistir. Mas aí está a esperança, porque és fiel, e não permites sermos tentados acima de nossas forças e dás, com a tentação, a força para suportá-la.
Confessarei aquilo que de mim conheço, confessarei o que desconheço. Porque o que sei de mim, por tua luz o sei; e o que de mim não sei, continuarei a ignorá-lo até que minhas trevas se mudem em meio-dia diante de tua face.

Responsório Sl 138(139),1b.2b.7
R. Ó Senhor, vós me sondais e conheceis,
*
De longe penetrais meus pensamentos.
V. Em que lugar me ocultarei de vosso espírito?
E para onde fugirei de vossa face?
*
De longe.

Oração

Ó Deus, que mostrais a luz da verdade aos que erram para retomarem o bom caminho, dai a todos os que professam a fé rejeitar o que não convém ao cristão, e abraçar tudo o que é digno desse nome. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora

V.
Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.