Primeira leitura

Do Livro do Profeta Isaías 45,1-13


A salvação de Israel através de Ciro

1 Isto diz o Senhor sobre Ciro, seu Ungido:
“Tomei-o pela mão
para submeter os povos ao seu domínio,
dobrar o orgulho dos reis,
abrir todas as portas à sua marcha,
e para não deixar trancar os portões.
2
Irei diante de ti e aplanarei o terreno montanhoso;
farei em pedaços as portas de bronze,
quebrarei as trancas de ferro.
3
Dar-te-ei tesouros ocultos, riquezas escondidas,
para que saibas que eu sou o Senhor,
o Deus de Israel, que te chamou pelo teu nome.
4
Por causa de meu servo Jacó,
e de meu eleito Israel, chamei-te pelo nome;
reservei-te, e não me reconheceste.
5
Eu sou o Senhor, não existe outro:
fora de mim não há deus.
Armei-te guerreiro, sem me reconheceres,
6
para que todos saibam, do Oriente ao Ocidente,
que fora de mim outro não existe.
Eu sou o Senhor, e não há outro,
7
eu formei a luz e criei as trevas,
crio o bem-estar e as condições de mal-estar:
sou o Senhor que faço todas estas coisas.
8
Céus, deixai cair orvalho das alturas,
e que as nuvens façam chover justiça;
abra-se a terra e germine a salvação;
brote igualmente a justiça; eu, o Senhor, a criei.”
9
Ai daquele que reclama contra seu criador,
quando é simples vasilha de barro entre vasilhas de argila!
Porventura a argila dirá a quem a molda:
“O que estás fazendo?" ou “tua obra não tem asas?”
10
Ai daquele que diz ao pai: “Por que geraste?”
E à mulher: “Por que dás à luz?”
11
Assim fala o Senhor, o Santo de Israel e seu criador:
“Ireis consultar-me sobre o futuro de meus filhos,
ou fazer-me prescrições a respeito do que devo fazer?
12
Fui eu que fiz a terra,
eu criei os homens que vivem nela;
foram as minhas mãos que estenderam o céu,
e a todo o seu exército eu dei ordens.
13
Fui eu que o suscitei na justiça,
aplainando todos os seus caminhos;
ele reconstruirá minha cidade,
e repatriará os meus deportados,
sem pagar resgates ou indenização”
– diz o Senhor dos exércitos.

 
Responsório Cf. Is 45,8; cf. 16,1

R. Que os céus, lá do alto, derramem o orvalho,
que chova das nuvens o Justo esperado,

* Que a terra se abra e germine o Senhor!

V. Enviai o Cordeiro que domina a terra,
de Se, no deserto, até o Monte Sião. * Que a terra.

 

Segunda leitura
Das Cartas de São Leão Magno, papa


(Ep. 31,2-3: PL 54, 791-793)

(Séc. V)


O mistério de nossa reconciliação

De nada serve afirmar que nosso Senhor, filho da Virgem Maria, é verdadeiro e perfeito homem, se não se acredita que ele também pertence a essa descendência proclamada no Evangelho.

Escreve São Mateus: Livro da origem de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão (Mt 1,1). E, a seguir, apresenta a série de gerações desde os primórdios da humanidade até José, com quem estava desposada a Mãe do Senhor.

São Lucas, porém, percorrendo em sentido inverso a ordem dos descendentes, chega ao começo do gênero humano, para mostrar que o primeiro e o último Adão têm a mesma natureza.

Com efeito, seria possível à onipotência do Filho de Deus, para ensinar e justificar os homens, manifestar-se do mesmo modo que aparecera aos patriarcas e profetas, como, por exemplo, quando travou uma luta ou manteve uma conversa, ou quando aceitou os serviços da hospitalidade a ponto de tomar o alimento que lhe apresentaram.

Mas essas aparições eram imagens, sinais misteriosos, que anunciavam a realidade humana do Cristo, assumida da descendência daqueles antepassados.

Nenhuma daquelas figuras, entretanto, poderia realizar o mistério da nossa reconciliação, preparado desde a eternidade, porque o Espírito Santo ainda não tinha descido sobre a Virgem Maria, nem o poder do Altíssimo a tinha envolvido com a sua sombra; a Sabedoria eterna não edificara ainda a sua casa no seio puríssimo de Maria para que o Verbo se fizesse homem; o Criador dos tempos ainda não tinha nascido no tempo, unindo a natureza divina e a natureza humana numa só pessoa, de modo que aquele por quem tudo foi criado fosse contado entre as suas criaturas.

Se o homem novo, revestido de uma carne semelhante à do pecado (cf. Rm 8,3), não tivesse assumido a nossa condição, envelhecida pelo pecado; se ele, consubstancial ao Pai, não se tivesse dignado ser também consubstancial à Mãe e unir a si nossa natureza, com exceção do pecado, a humanidade teria permanecido cativa sob o jugo do demônio; e não poderíamos nos beneficiar do triunfo do Vencedor, se esta vitória fosse obtida numa natureza diferente da nossa.

Dessa admirável união, brilhou para nós o sacramento da regeneração, para que renascêssemos espiritualmente pelo mesmo Espírito por quem o Cristo foi concebido e nasceu.

Por isso diz o Evangelista, referindo-se aos que crêem: Estes não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus mesmo (Jo 1,13).

 

Responsório Cf. Is 11,10; Lc 1,32

R. O Rebento de Jes há de vir salvar os povos,
e as nações o invocarão.

* Glorioso ele se.

V. O Senhor vai dar-lhe o trono de seu pai, o Rei Davi,
e reina eternamente sobre a casa de Ja. * Glorioso.

Oração

Ó Deus, criador e redentor do gênero humano, quisestes que o vosso Verbo se encarnasse no seio da Virgem. Sede favorável à nossa súplica, para que o vosso Filho Unigênito, tendo recebido nossa humanidade, nos faça participar da sua vida divina. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.


Conclusão da Hora
V. Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.