II DOMINGO DO ADVENTO - ANO A
A liturgia do Tempo do Advento não somente nos faz recordar as promessas
de Deus sobre o Messias, mas também nos vai mostrando os traços da
missão desse Salvador tão prometido e tão esperado.
O profeta Isaías usa uma imagem impressionante: do velho tronco de
Jessé, isto é, da dinastia já antiga de Davi, nascerá uma tenra haste,
modesta, frágil, pequena: um rebento! Querem coisa mais frágil, mais
débil? Qualquer criancinha travessa pode quebrar, estiolar uma haste...
E, no entanto, sobre este rebento tão frágil repousará o Espírito do
Senhor. Esta haste é o Ungido pelo Espírito, é o Messias, o Cristo de
Deus, brotado da Casa de Davi! João, o Batista, diz, no Evangelho de
hoje, que “Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo”, isto é, com o fogo do Espírito! Só Ele pode fazer isso, porque somente Ele é pleno do Espírito: “Espírito de sabedoria e discernimento, Espírito de conselho e fortaleza, Espírito de ciência e temor de Deus”.
Como é Santo o Messias prometido pela boca dos profetas! Porque pleno do
Espírito, Ele é justo: Ele não julgará pelas aparências nem decidirá
somente por ouvir dizer, mas trará a justiça para os humildes e uma
ordem justa para os pacíficos”. Eis: Ele vem para quem tem um coração
pobre, para os que têm consciência de que, sozinhos, não poderão nunca
levar o peso da vida. Somente os pobres poderão acolhê-Lo, reconhecê-Lo,
alegrar-se com Sua chegada: Sua justiça é justiça para quem chorou,
para quem sentiu fraqueza física, moral, psíquica, econômica ou
existencial e no Senhor espera a salvação... “Com justiça Ele governe
o Vosso povo; com equidade Ele julgue os vossos pobres. Nos Seus dias a
justiça florirá e grande paz até que a lua perca o brilho! Libertará o
indigente que suplica, e o pobre ao qual ninguém quer ajudar. Terá pena
do humilde e do infeliz, e a vida dos humildes salvará. Todos os povos
serão nele abençoados, todas as gentes cantarão o Seu louvor!”
Que Rei bendito! Que santo Messias! Que esperança para o nosso coração
cansado, para o nosso mundo desiludido! Porque Ele vem curar os
corações, vem trazer o perdão de Deus, aqueles que O acolherem
conhecerão a paz verdadeira: “O lobo e o cordeiro viverão juntos e o
leopardo deitar-se-á ao lado do cabrito; o bezerro e o leão comerão
juntos e até mesmo uma criança poderá tangê-los. A vaca e o urso
pastarão lado a lado, enquanto suas crias descansam juntas; o leão
comerá palha como o boi; a criança de peito vai brincar em cima do
buraco da cobra venenosa; e o menino desmamado não temerá pôr a mão na
toca da serpente. Não haverá danos nem mortes... porque a terra estará
repleta da ciência do senhor quanto as águas que cobrem o mar...”
Que sonho: uma humanidade reconciliada, um mundo de paz, um homem uma
criação em harmonia... Eis o sonho do Messias, eis o dom que Ele traz e
levará à Plenitude no Dia final! São Paulo diz, na Carta aos Romanos,
que Cristo realiza este sonho prometido. A primeira reconciliação que
Ele trouxe foi unir num só povo, numa só humanidade, o que antes era
dividido: judeus e gentios. Quem O acolhe agora passa a fazer parte de
um novo Povo – a Igreja!
Mas, esta paz, já trazida pelo Messias, precisa ainda aparecer
claramente no mundo! E aqui, não nos iludamos: o mundo não conhecerá a
paz de verdade, o coração humano não conhecerá o sossego enquanto não
acolher de verdade o Cristo do Pai, o Senhor Jesus! O sonho que Deus
sonhou para nós e para toda a humanidade ao enviar Jesus, não poderá ser
sonhado e realizado sem o nosso “sim”. E o trágico é que o mundo vai
dizendo “não”. Este Natal, deste ano, certamente encontrará o mundo mais
pagão que o do ano passado... Que pena!
Nós, cristãos, temos, no entanto, uma missão neste mundo, nesta situação atual. Escutemos o profeta: “Convertei-vos,
porque o Reino dos Céus está próximo! Raça de víboras! Quem vos ensinou
a fugir da ira que vai chegar? Produzi frutos que provem a vossa
conversão! O machado está na raiz da árvore e toda aquela que não
produzir fruto será cortada e lançada ao fogo!”
Caros irmãos, o Advento, tempo de alegre expectativa, é também tempo de
juízo. O mundo precisa do nosso testemunho, da nossa palavra de verdade
evangélica e esperança, do nosso modo de viver inspirado nas palavras de
fogo do Cristo Senhor! Chega de um bando de cristãos vivendo como todo
mundo vive, pecando como todo mundo peca, medíocres como todo mundo é
medíocre! Se não dermos frutos, seremos cortados! Vivemos num mundo que
não somente é descrente como também zomba da fé: as vulgaridades dos
meios de comunicação, a corrupção dos governantes, a imoralidade sexual,
e dissolução das famílias, a imoralidade de certa ciência prepotente
que se julga senhora do bem e do mal, as calúnias e mentiras contra a
Igreja, o modo de viver de quem não tem esperança... E muitos de nós,
que nos dizemos crentes, não notamos isso, vivemos tranquilamente entre
os pagãos e como os pagãos... E ainda nos dizemos cristãos!
O roxo desse tempo convida-nos à vigilância, exorta-nos a compreender
que Aquele que vem com amor, que vem como Salvador, nós O podemos perder
para sempre se não nos abrirmos para Ele no aqui e no agora de nossa
existência. Não brinquemos com a vida que temos: ela poderá ser
plenificada pelo Santo Messias com a glória do Céu; ou poderá ser
perdida para sempre, longe do Cristo de Deus, num total absurdo, a que
chamamos inferno! Não esqueçamos: o sonho de Deus é lindo, é de salvação
e de paz, pois “Ele quer que todos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade”
(1Tm 2,4)! Levemo-Lo a sério, vivamo-Lo e sejamos Suas testemunhas no
mundo de hoje! Não relaxemos, não desanimemos, não nos cansemos de
esperar.
Como diz a profecia de Isaías, numa de suas passagens mais misteriosas: “Sentinela,
que resta da noite? Sentinela, que resta da noite? A sentinela
responde: ‘A manhã vem chegando, mas ainda é noite’. Se quereis
perguntar, perguntai! Vinde de novo!” (Is 21,11s). Quanto restará da
noite deste mundo? Não sabemos! Mas, a manhã, a aurora radiosa do Dia
do Messias virá! Nós somos as sentinelas que o Senhor colocou na noite
deste mundo. Vigiemos! Ainda que tantas vezes nos perguntemos: Meu Deus,
“quanto resta de noite?” O Senhor não nos impede de perguntar: “se quereis perguntar, perguntai...” Mas – atenção! – Ele não aceita que percamos a esperança, que deixemos nosso posto de vigia: “Vinde de novo!”
- eis, novamente, o convite que Ele nos faz: Vinde de novo! Recomeçai,
retomai a esperança, vigiai: ainda é noite, mas a manhã luminosa vem
chegando! Vem, Senhor Jesus! Vem, ó Santo Messias! Tem piedade de nós!
Amém.
Dom Henrique Soares da Costa