TERÇA-FEIRA

Ofício das Leituras

Primeira leitura
Do Livro da Sabedoria 10,1-11,4

A sabedoria foi a salvação dos patriarcas
10,1Foi a Sabedoria que protegeu o primeiro modelado, pai do mundo, que fora criado em solidão; levantou-o de sua queda 2e lhe deu poder de tudo dominar. 3Dela se afastou, em sua cólera, um injusto, arruinou-se em sua sanha fratricida. 4Por sua culpa a terra foi submersa, e outra vez a Sabedoria a salvou, pilotando o justo numa frágil embarcação. 5Quando os povos, concordes na malícia, foram confundidos, ela reconheceu o justo e o guardou imaculado diante de Deus, conservando-o forte sem abrandar-se diante de seu filho. 6Na ruína dos ímpios, foi ela que salvou o justo, fugitivo do fogo que descia sobre a Pentápolis. 7Testemunho daquela maldade, resta ainda um ermo fumegante, árvores frutíferas de frutos malogrados e, memorial à alma incrédula ergue-se uma coluna de sal! Pois, desprezando a sabedoria, não só se mutilaram ignorando o bem, mas também deixaram aos vivos um memorial de sua insensatez, para que suas faltas não ficassem ocultas. 9Mas a Sabedoria livrou das provações os seus fiéis. 10Ela guiou, por caminhos planos, o justo que fugia da ira do irmão; ela lhe mostrou o reino de Deus e lhe deu a conhecer as coisas santas; deu êxito às suas tarefas e recompensa aos seus trabalhos; 11assistiu-o contra opressores cobiçosos e o enriqueceu; 12guardando-o de seus inimigos, defendeu-os de quantos o assediavam; deu-lhe um prêmio numa áspera batalha, para ensinar-lhe que a piedade é mais forte do que tudo. 13Não abandonou o justo vendido, mas o preservou do pecado; 14desceu com ele na cova e não o deixou em suas cadeias, até trazer-lhe o cetro real e o poder sobre seus tiranos; desmascarou os que o difamavam e deu-lhe uma glória eterna. 15Ao povo santo, raça irrepreensível, libertou de uma nação de opressores. 16entrou na alma de um servo do Senhor, com prodígios e sinais enfrentou reis temíveis. 17Aos santos deu a paga de suas penas, guiou-os por um caminho maravilhoso: de dia serviu-lhes de sombra e à noite, de luz de astros. 18Fê-los passar o mar Vermelho, conduziu-os para águas caudalosas; ela afogou seus inimigos e os vomitou das profundezas do abismo. 20Assim os justos despojaram os ímpios e cantaram, Senhor, teu santo Nome; unânimes, celebraram teu braço que tinha lutado por eles. 21Porque a Sabedoria abriu a boca dos mudos, tornou eloquente a voz dos pequeninos. 11,1De êxito coroou as suas obras pelas mãos de um santo profeta. 2Eles atravessaram um deserto inabitado, armaram suas tendas em lugares inacessíveis, 3resistiram aos inimigos, rechaçaram os adversários. 4Tiveram sede e te invocaram: uma rocha áspera lhes deu água, uma pedra dura os dessedentou.

Responsório Sb 10,17.18.19
R. Deu aos santos o galardão de seus trabalhos,
conduziu-os por um caminho miraculoso;
* Durante o dia serviu-lhes de proteção,
e deu-lhes a luz dos astros durante a noite.
V. Engoliu seus inimigos,
e os tirou das profundezas do abismo.
* Durante o dia.

Segunda leitura

Dos “Discursos” de São Bernardo, abade
(21,1-3)
(Séc. XII)


A ciência da santidade consiste
em sofrer temporariamente aqui
na terra para gozar na eternidade.
O Senhor conduziu o justo por caminhos retos, mostroulhe o reino de Deus e deu-lhe o conhecimento das coisas santas; deu-lhe o sucesso nas suas lutas e multiplicou os frutos do seu trabalho (Sb 10,10). Trata-se do justo que desde o início do discurso acusa-se a si mesmo; mas é justo também aquele que vive da fé, como ainda aquele que é livre de temor. O primeiro, sem dúvida é bom, porque começou a percorrer o verdadeiro caminho; o segundo é melhor porque corre por esse caminho; e o terceiro é excelente porque já se aproxima do final do caminho.
“O Senhor conduziu o justo por caminhos retos”. Os caminhos do Senhor são retos, são belos, são cheios e planos. São retos, sem desvios, porque conduzem à vida; são belos, sem imoralidades, porque ensinam a pureza; cheios da multidão porque na verdade o mundo inteiro entra na rede de Cristo; planos, sem dificuldades, porque dão suavidade. O seu jugo de fato é suave, e o seu peso é leve (cf. Jo 11,30).
“Mostrou-lhes o reino de Deus”. O reino de Deus é concedido, prometido, mostrado, recebido. Concedido pela predestinação, prometido pela vocação, mostrado pela justificação, recebido pela glorificação. Por isso está escrito: Vinde, benditos do meu Pai: recebei o reino (Mt 25,34). Assim, em verdade, disse o Apóstolo: Aqueles pois que predestinou, também os chamou; os que chamou os justificou; aqueles que justificou também os glorificou (Rm 8,30). Na predestinação se manifesta a graça, na vocação o poder, na justificação a alegria, na exaltação a glória.
“E deu-lhe o conhecimento das coisas santas”. A ciência dos santos é sofrer um pouco aqui na terra e gozar depois eternamente. Enquanto a ciência dos maus é o contrário: é a sabedoria do mundo que ensina a vaidade, é aquela da carne que ensina o prazer. “Deu-lhe o sucesso nas suas lutas”. Talvez por isso não nos seja dado sucesso também a nós nas nossas lutas, quando tudo o que fazemos se cumpre no sinal da unidade, e não há em nós o duplo peso e a dupla medida porque são duas coisas que “abominam o Senhor”? (Pr 2,70). Ai de nós se nos alegrássemos daquilo que não está em Cristo e por Cristo. Ai de nós se oferecêssemos uma pobreza que ainda possa ser vendida!
“E multiplicou os frutos do seu trabalho”: aqui na terra na perseverança, para que até o fim permaneça firme na justiça, no céu na glória, para que se alegre eternamente. Feliz um e outro lugar, porque o justo morre aqui saciado dos dias e nasce lá no céu para uma vida sem fim, e é pleno daqui e de lá: daqui pleno da graça, e lá pleno da glória, pois o Senhor concede graça e glória (Sl 83,12). Amém.

Responsório Cf. Eclo 17,6.5; Lc 9,2
R. O Senhor os cumulou de doutrina e inteligência;
* Deu-lhes discernimento,
e colocou a sua luz nos seus corações,
para que mostrassem a grandeza das suas obras.
V. Jesus mandou os apóstolos a anunciar o reino de Deus.
* Deu-lhes discernimento.

Oração

Ó Deus de poder e misericórdia, que concedeis a vossos filhos e filhas a graça de vos servir como devem, fazei que corramos livremente ao encontro das vossas promessas. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora

V.
Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.