QUINTA-FEIRA
Ofício das Leituras
Primeira leitura
Da Carta de São Paulo aos Gálatas
4,8-31
A liberdade da Nova Aliança
Irmãos, 8outrora, é verdade, não conhecendo a Deus,
servistes a deuses que na realidade não o são. 9Mas agora,
conhecendo a Deus, ou melhor, sendo conhecidos por
Deus, como é possível voltardes novamente a estes fracos e
miseráveis elementos aos quais vos quereis escravizar outra
vez? 10Observais cuidadosamente dias, meses, estações,
anos! 11Receio ter me afadigado em vão por vós.
12Suplico-vos, irmãos, que vos torneis como eu, pois eu
também me tornei como vós. Em nada me ofendestes. 13Bem
o sabeis, foi por causa de uma doença que eu vos evangelizei
pela primeira vez. 14E vós não mostrastes desprezo nem
desgosto, em face da vossa provação na minha carne; pelo
contrário, me recebestes como um anjo de Deus, como
Cristo Jesus. 15Onde estão agora as vossas felicitações?
Pois eu vos testemunho que, se vos fosse possível, teríeis
arrancado os olhos para dá-los a mim. 16Então, dizendo-vos
a verdade, eu me tornei vosso inimigo? 17Não é para o bem
que eles vos cortejam. O que querem é separar-vos de mim
para que vós os cortejeis a eles. 18É bom ser cortejado para
o bem sempre, e não só quando estou presente entre vós,
19meus filhos, por quem eu sofro de novo as dores do parto,
até que Cristo seja formado em vós. 20Quisera estar no meio
de vós agora e mudar o tom da voz, pois não sei que atitude
tomar a vosso respeito.
21Dizei-me, vós que quereis estar debaixo da Lei, não
ouvis vós a Lei? 22Pois está escrito que Abraão teve dois
filhos, um da serva e outro da livre. 23Mas o da serva nasceu
segundo a carne; o da livre, em virtude da promessa. 24Isto
foi dito em alegoria. Elas, com efeito, são as duas alianças;
uma, a do monte Sinai, gerando para a escravidão: é Agar
25(porque o Sinai está na Arábia), e ela corresponde à
Jerusalém de agora, que de fato é escrava com seus filhos.
26Mas a Jerusalém do alto é livre e esta é a nossa mãe,
27segundo está escrito: Alegra-te, estéril, que não davas à luz,
põe-te a gritar de alegria,
tu que não conheceste as dores do parto,
porque mais numerosos são os filhos da abandonada
do que os daquela que tem marido.
28Ora, vós, irmãos, como Isaac, sois filhos da promessa.
29Mas como então o nascido segundo a carne perseguia o
nascido segundo o espírito, assim também agora. 30Mas
que diz a Escritura? Expulsa a serva e o filho dela, pois o
filho da serva não herdará com o filho da livre. 31Portanto,
irmãos, não somos filhos de serva, mas da livre.
Responsório Cf. Gl 4,28-31; 5,1; 2Cor 3,17
R. Nós somos filhos da promessa, como Isaac.
Não somos
filhos da escrava, mas sim da que é livre.
* Cristo nos libertou para que sejamos homens livres.
V. O Senhor é Espírito,
e onde está o Espírito do Senhor, aí
há liberdade.
* Cristo nos.
Segunda leitura
Do “Comentário sobre a Carta aos Gálatas”, de Santo
Agostinho, bispo
(Nn. 37.38: PL 35,2131-2132)
(Séc. V)
Forme-se Cristo em vós
Diz o Apóstolo: Sede como eu. Embora judeu por nascimento, desprezo em meu espírito as prescrições segundo
a carne. Porque também eu, como vós, sou homem. Em seguida, com delicadeza, ele os faz reconsiderar sua caridade,
para que não o tratem como inimigo. Assim fala: Irmãos,
suplico-vos, não me ofendestes em nada. Como se dissesse:
“Não julgueis que desejo ofender-vos”.
Por isto diz ainda: Filhinhos, para que o imitem como
pai. A quem, continua, dou de novo à luz até que Cristo se
forme em vós. Fala principalmente na pessoa da santa mãe
Igreja, pois declara em outro lugar: Tornei-me pequenino
entre vós, como mãe que acalenta seus filhos.
No crente, Cristo se forma, pela fé, no homem interior,
chamado à liberdade da graça, manso e humilde de coração,
que não se envaidece pelos méritos de suas obras, que são
nulas. Se ele começa a ter algum mérito, deve-o à própria
graça. A este pode chamar seu mínimo e identificá-lo consigo aquele que disse: O que fizestes a um dos mínimos
meus, a mim o fizestes. Cristo é formado naquele que recebe
a forma de Cristo. Recebe a forma de Cristo quem adere a
Cristo com espiritual amor.
Disto decorre que, imitando-o, se torne o que ele é, na
medida que lhe é possível. Quem diz estar em Cristo, fala
João, deve caminhar como também ele caminhou.
Visto como os homens são concebidos pelas mães para
se formar e, uma vez formados, são dados à luz do nascimento, surpreendem-nos as palavras: De novo dou à luz
até que Cristo se forme em vós. Temos de entender este
novo parto como a aflição dos cuidados que ele suporta
por aqueles pelos quais sofre até que Cristo nasça. De novo
sofre as dores do parto por causa da sedução perigosa que
os perturba. Semelhante solicitude a respeito deles, que o
faz dizer estar em dores do parto, pode continuar até que
cheguem à medida da idade perfeita de Cristo, de maneira
que já não se deixem levar por todo vento de doutrina. Não
está solícito, portanto, em relação à fé inicial deles, pois já
haviam nascido, mas quanto a seu fortalecimento e sua perfeição. Assim é que ele diz: A quem de novo dou à luz, até
que Cristo se forme em vós. Com outras palavras refere-se
ao mesmo sofrimento: Os meus cuidados de todos os dias,
a solicitude por todas as Igrejas. Quem se enfraquece sem
que eu também me torne fraco? Quem tropeça, que eu não
me ponha a arder?
Responsório Ef 4,15; Pr 4,18
R. Vivendo a verdade no amor,
* Cresçamos em tudo naquele que é a Cabeça:
o Cristo
Jesus.
V. O caminho do justo é como a luz da aurora,
que vai
clareando, até ser dia perfeito.
* Cresçamos.
Oração
Ó Deus, cuja providência jamais falha, nós vos suplicamos
humildemente: afastai de nós o que é nocivo, e concedei-nos tudo o que
for útil. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do
Espírito Santo.
Conclusão da Hora
V. Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.