8a SEMANA DO TEMPO COMUM

IV Semana do Saltério

SEXTA-FEIRA

Ofício das Leituras

Primeira leitura
Do Livro de Jó 12,1-25

Jó explica o domínio que Deus exerce sobre a sabedoria humana

1
Jó tomou a palavra e disse: 2"Realmente vós sois a voz do povo e convosco a sabedoria vai morrer. 3Mas eu também sei refletir, não sou inferior a vós; quem ignora tudo isso? 4Aquele que se torna objeto de irrisão dos seus amigos, como eu, esse invoca a Deus, e ele o ouvirá, pois zombam da integridade do justo. 5Vergonha para a infelicidade – dizem os que são felizes – um golpe a mais para quem vacila! 6Nas tendas dos ladrões reina a paz, e estão seguros os que desafiam a Deus, pensando que o têm na mão. 7Pergunta aos animais e eles te ensinarão, às aves do céu e elas te informarão; 8fala à terra e ela te instruirá, os peixes do mar te hão de narrar. 9Com tantos mestres, quem não reconhecerá que tudo isso é obra da mão de Deus? 10Em sua mão está a alma de todo o ser vivo e o espírito de todo o homem carnal. 11O ouvido não distingue as palavras e o paladar não saboreia as iguarias? 12Não está a sabedoria nos cabelos brancos e a prudência com os anciãos? 13Ora, ele possui sabedoria e fortaleza, dele é o conselho e o entendimento. 14O que ele destrói, ninguém o reconstrói; se ele prender, não haverá quem o solte; 15se retiver a chuva, virá a seca; se a soltar, a terra se inundará. 16Ele possui força e sabedoria, a ele pertencem o enganado e o que engana. 17Despoja os conselheiros e fere os juízes com loucura. 18Desamarra o cinturão dos reis e cinge-os com uma corda. 19Faz os sacerdotes andarem descalços e abate os bem-instalados. 20Tira a palavra aos confiantes e priva de sensatez os anciãos. 21Derrama o desprezo sobre os nobres e afrouxa o cinturão dos fortes. 22Descobre o que há de mais oculto nas trevas e ilumina a sombra da morte. 23Engrandece as nações, e também as arruína; multiplica os povos, e depois os suprime. 24Tira o juízo aos chefes de um povo e deixa-os errar num deserto sem estradas, 25cambalear nas trevas, sem luz, e tropeçar como bêbados".

Responsório Jó 12,13.14; 23,13

R. A sabedoria e o poder estão em Deus,
entendimento e conselho lhe pertencem.
* Se ele prender, não há quem possa libertar,
se destruir, não há quem possa edificar.
V. Se ele decidir alguma coisa,
então, quem poderá dissuadi-lo?
O que ele deseja, isso fará. * Se ele prender.

Segunda leitura
Dos Livros "Moralia" sobre Jó, de São Gregório Magno, papa

(Lib. 10,47-48: PL 75,946-947)
(Séc. VI)

Testemunha interior
Quem é escarnecido por seu amigo, como eu, invocará a Deus que o atenderá. Com frequência o espírito fraco, ao receber o bafejo da fama humana por suas boas ações, deixa-se levar para as alegrias exteriores, chegando a interessar-se menos pelo que deseja interiormente. Deleita-se, então, languidamente no que ouve de fora. Alegra-se mais por ser chamado de bem-aventurado do que por sê-lo de fato. Esperando com avidez as palavras de elogio, abandona o que começara a ser. Separa-se de Deus justamente naquilo que deveria ser louvado em Deus.

Às vezes, ao contrário, o homem firma-se com constância no agir reto e, no entanto, é maltratado pelas zombarias humanas. Faz coisas admiráveis e só encontra opróbrios. Podendo exteriorizar-se pelos louvores, é repelido pelas afrontas e volta-se para dentro de si mesmo. Em seu íntimo, enche-se de tanto maior força em Deus quanto não encontra fora onde repousar. Fixa toda a sua esperança no Criador e, entre as zombarias ruidosas invoca sua única testemunha, a interior. Torna-se assim o espírito aflito, tanto mais próximo de Deus quanto mais estranho aos aplausos humanos. Expande-se sem cessar em oração e, premido no exterior, com mais nitidez se purifica para penetrar nos bens interiores. É com razão, pois, que aqui se diz: Quem é escarnecido pelo amigo, como eu, invocará a Deus que o atenderá, porque quando os maus censuram a intenção dos bons, revelam que testemunha desejam para seus atos. O espírito ferido mune-se de força pela oração e alcança ouvir dentro de si as palavras do alto por ter-se separado do louvor humano.

É de notar a justeza do inciso: como eu; pois há alguns que são depreciados pelas críticas humanas, mas que não são atendidos pelos ouvidos divinos. Porque a zombaria provocada pela culpa não importa em nenhum mérito da virtude.

Ri-se da simplicidade do justo: a sabedoria deste mundo está em esconder as maquinações do coração, velar o sentido das palavras, mostrar como verdadeiro o que é falso, demonstrar ser errado aquilo que é verdadeiro.

Pelo contrário, a sabedoria dos justos consiste em nada fingir por ostentação; declarar o sentido das palavras; amar as coisas verdadeiras tais como são; evitar as falsas; fazer o bem gratuitamente; preferir tolerar de bom grado o mal a fazê-lo; não procurar vingança contra a injúria; reputar lucro a afronta, em bem da verdade. Zomba-se, porém, desta simplicidade dos justos porque para os prudentes deste mundo a virtude da pureza de coração é tida por loucura. Tudo quanto se faz com inocência, eles reputam tolice e aquilo que a verdade aprova nas ações, soa falso à sabedoria humana.

Responsório Sl 118(119),104b.105; Jo 6,68b

R. Eu odeio os caminhos da mentira;
* Vossa palavra é a luz para os meus passos,
é uma lâmpada luzente em meu caminho.
V. Senhor, a quem nós iremos?
Tu tens as palavras da vida eterna.
* Vossa palavra.

Oração

Fazei, ó Deus, que os acontecimentos deste mundo decorram na paz que desejais, e vossa Igreja vos possa servir, alegre e tranquila. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora

V. Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.