Primeira leitura
Do Livro do Profeta Isaías 47,1.3b-15
Lamentação sobre a Babilônia
1Desce e assenta-te no pó, virgem, filha da Babilônia, senta-te no chão - já não tens trono -, filha dos caldeus, porque nunca mais te chamarão meiga e delicada. 3bEu tomo vingança de ti: ninguém se oporá a isto. 4O nosso redentor - Senhor dos Exércitos é o seu nome - o Santo de Israel, disse: 5Senta-te em silêncio, refugia-te nas trevas, filha dos caldeus, porque nunca mais tornarão a chamar-te senhora dos reinos. 6Eu estava irritado contra o meu povo, reduzi a minha herança a humilhação, entreguei-a nas tuas mãos, mas tu não usaste de compaixão para com ela: até sobre os velhos impuseste o duro peso do teu jugo. 7Certamente dizias: “Por todo o sempre serei senhora”. Estas coisas não puseste no teu coração, não te preocupaste com o que viria depois. 8Ouve isto, agora, ó voluptuosa! Tu que te sentas despreocupada e dizes no teu coração: “Eu sou, e fora de mim não há nada! Não me tornarei viúva, nem ficarei desfilhada!” 9Pois bem, justamente estas duas desgraças te sobrevirão, de repente em um só dia. Sim, desfilhamento e viuvez te sobrevirão repentinamente, apesar dos teus inúmeros sortilégios, apesar do poder dos teus encantamentos. 10Puseste a tua confiança na tua maldade e disseste: “Não há quem me veja.” A tua sabedoria e o teu conhecimento é o que te transtor- naram, e assim disseste no teu coração: “Eu sou, fora de mim não há nada.” 11Uma desgraça te sobrevirá, tu não saberás como conjurá-la; uma ruína se desencadeará sobre ti e tu não poderás afastá-la. Repentinamente virá sobre ti a calamidade, sem que o saibas. 12Persiste, pois, nos teus encantamentos e na multidão dos teus sortilégios, com os quais te fatigaste desde a tua juventude. Talvez consigas tirar deles algum proveito, talvez consigas inspirar medo. 13Estás cansada de tuas inúmeras consultas; apresentem-se, pois, e te salvem aqueles que praticam a astrologia, que observam as estrelas, que te dão a conhecer de mês em mês o que há de sobrevir-te. 14Eles são como o restolho, o fogo os queimará; não conseguirão salvar a sua vida do poder das chamas, pois não se tratará de um braseiro próprio para aquentar-se, ou de um fogo próprio para sentar-se junto dele! 15Tais serão os teus adivinhos, com os quais te fatigaste desde a tua juventude: todos eles se desgarraram do seu caminho, nenhum conseguiu salvar-te.
Responsório Is 49,13; 47,4
R. Cantai, ó céus, e exulte a terra,
gritai, ó montes, de alegria:
* Pois o Senhor se compadece de seu povo e dos aflitos.
V. Ele é o nosso
Redentor, o Senhor do universo,
o Deus santo de Israel. * Pois
o Senhor.
Segunda leitura
Do Tratado contra as heresias, de Santo Irineu, bispo
(Lib. 3, 20, 2-3: SCh 34, 342-344)
(Séc. II)
A economia da Encarnação redentora
A glória do homem é Deus; mas quem se beneficia das obras de Deus e de toda a sua sabedoria e poder é o homem.
Semelhante ao médico que demonstra sua competência no doente, assim Deus se manifesta nos homens. Eis por que o Apóstolo Paulo diz: Deus encerrou todos os homens na desobediência, a fim de exercer misericórdia para com todos (Rm 11,32). Referia-se ao homem que, por ter desobedecido a Deus, perdeu a imortalidade, mas depois obteve misericórdia, recebendo a adoção por intermédio do Filho de Deus.
Se o homem acolhe, sem orgulho nem presunção, a verdadeira glória que procede das criaturas e do criador, isto é, de Deus todo-poderoso que dá a tudo a existência, e se permanece em seu amor, na obediência e na ação de graças, receberá dele uma glória ainda maior, progredindo sempre mais, até se tornar semelhante àquele que morreu por ele.
Com efeito, Cristo se revestiu de uma carne semelhante à do pecado (Rm 8,3) para condenar o pecado e, depois de o condenar, expulsá-lo da carne. Tudo isso para incentivar o homem a tornar-se semelhante a ele, destinando-o a ser imitador de Deus, colocando-o sob a obediência paterna, a fim de que visse a Deus e tivesse acesso ao Pai. O Verbo de Deus habitou no homem e se fez filho do homem, para acostumar o homem a compreender a Deus e Deus a habitar no homem, segundo a vontade do Pai.
Por esse motivo, o sinal de nossa salvação, o Emanuel nascido da Virgem (cf. Is 7,11.14), foi dado pelo próprio Senhor; pois seria ele quem salvaria os homens, já que não poderiam salvar-se por si mesmos. Por isso São Paulo proclama a fraqueza do homem, dizendo: Estou ciente de que o bem não habita em mim (Rm 7,18), indicando que o bem de nossa salvação não vem de nós, mas de Deus. E ainda: Infeliz que sou! Quem me libertará deste corpo de morte? (Rm 7,24). E logo mostra quem o liberta: A graça de nosso Senhor Jesus Cristo (cf. Rm 7,25).
Também Isaías diz: Fortalecei as mãos enfraquecidas e firmai os joelhos debilitados. Dizei às pessoas deprimidas: “Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus, é a vingança que vem, é a recompensa de Deus; é ele que vem para nos salvar” (cf. Is 35,3-4). Na verdade, nossa salvação não poderia vir de nós mesmos, mas unicamente do socorro de Deus.
Responsório Cf. Jr 31,10; 4,5
R. Ouvi, nações,
a palavra do Senhor
e anunciai-a nas ilhas mais distantes:
* Eis que vem nosso Deus e Salvador.
V. Anunciai,
em alta voz, fazei ouvir,
com voz forte, proclamai aos homens todos:
* Eis que vem.
Oração
Ó Deus, que revelastes ao mundo o esplendor
de vossa glória pelo parto virginal de Maria, dai-nos venerar com fé pura e
celebrar sempre com amor sincero o mistério tão profundo da encarnação. Por
nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.