Ofício das Leituras

V. Vinde, ó Deus em meu auxílio.
R. Socorrei-me sem demora.
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
Como era no princípio, agora e sempre. Amém. Aleluia.

Esta introdução se omite quando o Invitatório precede imediatamente ao Ofício das Leituras.

Hino

Exulte o céu do alto,
aplaudam terra e mar;
o Cristo, ressurgindo,
a vida vem nos dar.

O tempo favorável
à terra já voltou;
felizes, contemplamos
o dia salvador,

no qual o mundo, salvo
no sangue do Cordeiro,
já brilha em meio às trevas
com brilho verdadeiro.

A morte mata a morte,
da culpa nos redime;
a força do vencido,
vencendo, apaga o crime.

É esta a nossa espera,
é este o nosso gozo:
também ressurgiremos,
com Cristo glorioso.

Por isso, celebremos
a Páscoa do Cordeiro,
repletos pela graça
do seu amor primeiro.

Jesus, sede a alegria
perene dos remidos;
uni na vossa glória
da graça os renascidos.

Louvor a vós, Jesus,
da morte vencedor,
reinando com o Pai
e o seu eterno Amor. 

Salmodia

Ant.1 Nossos pais nos transmitiram as grandezas,
os prodígios do Senhor e seu poder. Aleluia.

Salmo 77(78),1-39

A bondade de Deus e a infidelidade do povo ao longo da história da Salvação
Esses fatos aconteceram para serem exemplos para nós (1Cor 10,6).

I

1 Escuta, ó meu povo, a minha Lei, *
ouve atento as palavras que eu te digo;
2 abrirei a minha boca em parábolas, *
os mistérios do passado lembrarei.

3 Tudo aquilo que ouvimos e aprendemos, *
e transmitiram para nós os nossos pais,
4 não haveremos de ocultar a nossos filhos, *
mas à nova geração nós contaremos:

– As grandezas do Senhor e seu poder, *
as maravilhas que por nós realizou;
5 um preceito em Jacó ele ordenou, *
uma lei instituiu em Israel.

– Ele havia ordenado a nossos pais *
que ensinassem estas coisas a seus filhos,
6 para que a nova geração as conhecesse *
e os filhos que haveriam de nascer.

– Levantem-se e as contem a seus filhos, *
7 para que ponham no Senhor sua esperança;
– das obras do Senhor não se esqueçam, *
e observem fielmente os seus preceitos.

8 Nem se tornem, a exemplo de seus pais, *
rebelde e obstinada geração,
– uma raça de inconstante coração, *
infiel ao Senhor Deus, em seu espírito.

9 Os filhos de Efraim, hábeis no arco, *
no dia do combate debandaram;
10 não guardaram a Aliança do Senhor, *
recusaram-se a andar na sua Lei.

11 Esqueceram os seus feitos gloriosos *
e os prodígios que outrora lhes mostrara;
12 na presença de seus pais fez maravilhas, *
no lugar chamado Tânis, lá no Egito.

13 Rasgou o mar e os conduziu através dele, *
levantando as suas águas como um dique;
14 durante o dia orientou-os pela nuvem, *
e de noite por um fogo esplendoroso.

15 Rochedos no deserto ele partiu *
e lhes deu para beber águas correntes;
16 fez brotar água abundante do rochedo, *
e a fez correr como torrente no deserto.

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Nossos pais nos transmitiram as grandezas,
os prodígios do Senhor e seu poder. Aleluia.

Ant.2 Eles comeram o maná vindo do céu,
beberam água de uma rocha espiritual. Aleluia.

II

17 Mas pecaram contra ele sempre mais, *
Provocaram no deserto o Deus Altíssimo;
18 e tentaram o Senhor nos corações, *
exigindo alimento à sua gula.

19 Falavam contra Deus e assim diziam: *
“Pode o Senhor servir a mesa no deserto?”
20 Eis que fere os rochedos num momento *
e faz as águas transbordarem em torrentes.
– “Mas será também capaz de dar-nos pão, *
e a seu povo poderá prover de carne?”

=21 A tais palavras, o Senhor ficou irado, †
uma fogueira se ateou contra Jacó, *
e sua ira se acendeu contra Israel;
22 porque não creram no Senhor Deus de Israel, *
nem tiveram confiança em sua ajuda.

23 Ordenou, então, às nuvens lá dos céus, *
e as comportas das alturas fez abrir;
24 fez chover-lhes o maná e alimentou-os, *
e lhes deu para comer o pão do céu.

25 O homem se nutriu do pão dos anjos, *
e mandou-lhes alimento em abundância;
26 fez soprar o vento leste pelos céus *
e fez vir, por seu poder, o vento sul.

27 Fez chover carne para eles como pó, *
choveram aves como areia do oceano;
28 elas caíram sobre os seus acampamentos *
e pousaram ao redor de suas tendas.

29 Eles comeram e beberam à vontade; *
o Senhor satisfizera os seus desejos.
30 Mal, porém, se tinham eles saciado, *
e a comida ainda estava em suas bocas,

=31 inflamou-se a sua ira contra eles †
e matou os mais robustos entre o povo, *
abatendo a fina flor de Israel.

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Eles comeram o maná vindo do céu,
beberam água de uma rocha espiritual. Aleluia.

Ant.3 Recordemos que o Senhor é nossa Rocha
e que o nosso Redentor é o Deus Altíssimo! Aleluia.

III

32 Com tudo isso, eles pecaram novamente, *
não deram fé às maravilhas do Senhor.
33 Foram seus dias consumidos como um sopro, *
e seus anos bem depressa se encurtaram.

34 Quando os feria, eles então o procuravam, *
convertiam-se correndo para ele;
35 recordavam que o Senhor é sua rocha *
e que Deus, seu Redentor, é o Deus Altíssimo.

36 Mas apenas o honravam com seus lábios *
e mentiam ao Senhor com suas línguas;
37 seus corações enganadores eram falsos *
e, infiéis, eles rompiam a Aliança.

38 Mas o Senhor, sempre benigno e compassivo, *
não os matava e perdoava seu pecado;
– quantas vezes dominou a sua ira *
e não deu largas à vazão de seu furor.
39 Recordava-se que eles eram carne, *
sopro que passa e jamais torna a voltar.

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Recordemos que o Senhor é nossa Rocha
e que o nosso Redentor é o Deus Altíssimo! Aleluia.

V. Céus e terra se alegram cantando: aleluia.

R. Pela ressurreição do Senhor. Aleluia.

Primeira leitura

Do Livro do Apocalipse 17,1-18

A grande Babilônia
Eu, João, vi e um dos sete Anjos das sete taças veio dizer-me: “Vem! Vou mostrar-te o julgamento da grande Prostituta que está sentada à beira de águas copiosas: os reis da terra se prostituíram com ela, e com o vinho da sua prostituição embriagaram-se os habitantes da terra.” Ele me transportou então, em espírito, ao deserto, onde vi uma mulher sentada sobre uma Besta escarlate cheia de títulos blasfemos, com sete cabeças e dez chifres. A mulher estava vestida com púrpura e escarlate, adornada de ouro, pedras preciosas e pérolas; e tinha na mão um cálice de ouro cheio de abominações; são as impurezas da sua prostituição. So- bre a fronte estava escrito um nome, um mistério: “Babi- lônia, a Grande, a mãe das prostitutas e das abominações da terra.” Vi então que a mulher estava embriagada com o sangue dos santos e com o sangue das testemunhas de Jesus. E vendo-a, fiquei profundamente admirado. O Anjo, porém, me disse: “Por que estás admirado? Explicar-te-ei o mistério da mulher e da Besta com sete cabeças e dez chifres que a carrega. A Besta que viste existia, mas não existe mais; está para subir do Abismo, mas caminha para a perdição. Os habi- tantes da terra, cujos nomes não estão escritos no livro da vida desde a fundação do mundo, ficarão admirados ao ver a Besta, pois ela existia, não existe mais, mas reaparecerá. Aqui é necessária a inteligência que tem discernimento: as sete cabeças são sete montes sobre os quais a mulher está sentada. São também sete reis, dos quais cinco já caíram, um existe e o outro ainda não veio, mas quando vier deverá permanecer por pouco tempo. A Besta que existia e não existe mais é ela própria o oitavo e também um dos sete, mas caminha para a perdição. Os dez chifres que viste são dez reis que ainda não receberam um reino. Estes, porém, receberão autoridade como reis por uma hora apenas, juntamente com a Besta. Tais reis têm um só desígnio: entregar seu poder e autoridade à Besta. Farão guerra contra o Cordeiro, mas o Cordeiro os vencerá, porque ele é Senhor dos senhores e Rei dos reis, e com ele vencerão também os chamados, os escolhidos, os fiéis.” E continuou: “As águas que viste, onde a Prostituta está sentada são povos e multidões, nações e línguas. Os dez chifres que viste e a Besta, contudo, odiarão a Prostituta e a despojarão, deixando-a nua: comerão suas carnes e a entregarão às chamas, pois Deus lhes pôs no coração realizar seu desígnio: entregar sua realeza à Besta, até que as palavras de Deus estejam cumpridas. A mulher que viste, enfim, é a Grande Cidade que reina sobre os reis da terra.”

ResponsórioAp 17,14;6,2
R. Os reis da terra vão combater contra o Cordeiro,
mas o Cordeiro os vencerá.
* Porque ele é o Senhor dos senhores
e o Rei dos reis, aleluia.
V. Deram-lhe uma coroa. Ele saiu vitorioso
e para vencer ainda mais.
* Porque ele é o Senhor.

Segunda leitura

Do Comentário sobre o Salmo 118, de Santo Ambrósio, bispo

(Sermo 21,6-9: CSEL 62,476-478)
(Séc. IV)

Sofre perseguição gratuitamente quem
é acusado sem ter cometido crime
Os poderosos me perseguem sem motivo; meu coração, porém, só teme a vossa lei (Sl 118,161). São os poderosos do mundo e os senhores das trevas que procuram oprimir-te dentro de teu coração e movem em teu íntimo cruel perseguição, prometendo reinos terrestres, honras e riquezas, se sucumbires à fraqueza do espírito e concordares em obedecer às suas ordens. Esses poderosos, às vezes, perseguem gratuitamente, outras vezes, com razão. Perseguem gratuitamente, procurando subjugar, aquele em quem nada encontram do que é seu. Perseguem com razão aquele que se entregou a seu poder e entrou totalmente na posse deste mundo; por conseguinte, reivindicam de direito, para si, o domínio sobre os que lhes pertencem, cobrando-lhes a paga de sua iniquidade.

Diz muito bem que sofre injustamente o tormento das perseguições o mártir que nada roubou, que a ninguém oprimiu com violência, que nunca derramou sangue; que jamais desobedeceu às leis e foi obrigado a suportar cruéis suplícios por parte dos ladrões; o que defende a justiça e não é ouvido; o que diz palavras de salvação e de tal modo é combatido que pode afirmar: Quando eu falo sobre a paz, quando a promovo, é a guerra que eles tramam contra mim (S1 119,7). Sofre, pois, perseguição gratuitamente quem é acusado sem ter cometido crime.

é combatido como culpado, embora mereça ser louvado por seu procedimento. é atacado como malfeitor embora se glorie no nome do Senhor e seja o amor filial o fundamento de todas as virtudes. Verdadeiramente é combatido sem razão quem é acusado de impiedade perante os ímpios e infiéis, mesmo sendo mestre na fé.

Mas quem é combatido gratuitamente deve ser forte e constante. Como então acrescentou: Meu coração, porém, só teme a vossa lei? Temer é próprio da fraqueza, do medo e da timidez. Mas há também uma fraqueza que leva à salvação, há um temor que é próprio dos santos: Temei o Senhor Deus, seus santos todos (S1 33,10). E igualmente: Feliz o homem que teme o Senhor (Sl 111,1). Feliz como? Porque ama ardentemente seus mandamentos.

Tomemos como exemplo um mártir colocado no lugar dos suplícios. Exaspera-se. De um lado, a crueldade das feras incutindo-lhe terror; de outro, o ruído estridente das lâminas candentes e a chama da fornalha ardente. Aqui ressoa o arrastado das pesadas cadeias, ali avulta a presença do carrasco feroz. Tomemos esse mártir que vê à sua volta tudo transformado em suplício, mas pensa nos mandamentos de Deus e no fogo eterno; reflete no tormento sem fim dos maus, no sofrimento sempre recrudescente dos castigos. Teme no coração, com medo de cair na desgraça eterna se ceder à pressão das realidades presentes. Não deve esse medo do castigo ser igualado à confiança do homem que persevera? A confiança de quem deseja os bens eternos e a de quem teme os castigos de Deus chegam ao mesmo resultado.

Oxalá seja eu um homem assim! Se, por acaso, o perseguidor se enfurecer, que eu não leve em conta a crueldade de meus tormentos; que eu não meça o suplício nem o castigo; que eu não pense na atrocidade de nenhum sofrimento, mas que os tenha todos como leves. Que meu temor seja o de que Jesus Cristo me negue, me exclua, me afaste da assembleia dos sacerdotes, julgando-me indigno dessa reunião. Que eu antes me veja, embora abalado pelo terror dos sofrimentos corporais, temendo mais o juízo futuro. E, se ele me disser: Homem fraco de fé, por que duvidaste? (Mt 14,31), estender-me-á contudo sua mão direita e dar-me-á uma confiante firmeza de espírito, a mim, perturbado pelo fluxo das ondas que se levantam neste mundo.

Responsório 2Cor 4,11;Sl 43(44),23
R. Sempre levamos em nosso corpo a morte de Jesus,
* Para que também a sua vida se manifeste em nosso corpo, aleluia.
V. Por vossa causa, Senhor,
nos massacram cada dia e nos levam como ovelha ao matadouro.
* Para que.

Oração

Ó Deus, que restaurais a natureza humana dando-lhe uma dignidade ainda maior, considerai o mistério do vosso amor, conservando para sempre os dons da vossa graça naqueles que renovastes pelo sacramento de uma nova vida. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora

V. Bendigamos ao Senhor.

R. Graças a Deus.