8a SEMANA DO TEMPO COMUM

IV Semana do Saltério

TERÇA-FEIRA

Ofício das Leituras

Primeira leitura
Do Livro de Jó 3,1-26

Lamentos de Jó
1
Depois disso, Jó abriu a boca e amaldiçoou o seu dia,2dizendo: 3"Maldito o dia em que nasci e a noite em que fui concebido. 4Esse dia, que se torne trevas; que Deus do alto não se ocupe dele, que sobre ele não brilhe a luz! 5Que o obscureçam as trevas e as sombras da morte, que uma nuvem pouse sobre ele, e seja envolvido pela amargura! 6Sim, que dele se apodere a escuridão, que não se some aos dias do ano, que não entre na conta dos meses! 7Que aquela noite fique estéril e não seja digna de louvor. 8Que a amaldiçoem os que amaldiçoam o dia, os entendidos em conjurar contra Leviatã! 9Que se escureçam as estrelas da sua aurora, que espere pela luz que não vem, que não veja o despontar da aurora. 10Por que não fechou sobre mim a porta do ventre que me trouxe, para esconder à minha vista tanta miséria? 11Por que não morri desde o ventre materno, ou não expirei ao sair das entranhas? 12Por que me acolheu um regaço e uns seios me amamentaram? 13Estaria agora deitado e poderia descansar, dormiria e teria repouso, 14com os reis e ministros do país, que construíram para si sepulcros grandiosos; 15ou com os nobres, que amontoaram ouro e prata em seus palácios. 16Ou, então, enterrado como aborto, eu agora não existiria, como crianças que nem chegaram a ver a luz. 17Ali acaba o tumulto dos ímpios, ali repousam os que esgotaram as forças. 18Assim também os prisioneiros ficam tranquilos sem ouvir a voz do capataz. 19Confundem-se pequenos e grandes, e o escravo livra-se do seu senhor. 20Por que foi dado à luz um infeliz e vida àqueles que têm a alma amargurada? 21Eles desejam a morte que não vem e a buscam mais que um tesouro;22eles se alegrariam por um túmulo e gozariam ao receberem sepultura. 23Por que, então, foi dado à luz o homema quem seu próprio caminho está oculto, a quem Deus cercou de todos os lados? 24Por alimento só tenho os soluços e os gemidos vêm-me, como água. 25Sucede-me o que mais temia, o que mais me aterrava, acontece-me. 26Não tenho sossego nem paz, não tenho descanso; sobrevém-me a perturbação".

Responsório Jó 3,24-26; 6,13

R. O alimento, para mim, são meus suspiros
são quais águas caudalosas, meus gemidos;
porque o temor que eu receava aconteceu
e o pavor que eu temia realizou-se.
* Sobre mim caiu, Senhor, a vossa ira.

V.
Não há socorro para mim em minhas forças,
afastaram-se de mim os meus amigos. * Sobre mim.

Segunda leitura
Dos Livros das Confissões, de Santo Agostinho, bispo

(Lib. 10,1,1-2,2; 5.7: CCL 27,155.158)
(Séc. V)

Seja eu quem for, sou a ti manifesto, Senhor
Que eu te conheça, ó conhecedor meu! Que eu também te conheça como sou conhecido! Tu, ó força de minha alma, entra dentro dela, ajusta-a a ti, para a teres e possuíres sem mancha nem ruga. Esta é a minha esperança e por isso falo. Nesta esperança, alegro-me quando sensatamente me alegro. Tudo o mais nesta vida tanto menos merece ser chorado quanto mais é chorado, e tanto mais seria de chorar quanto menos é chorado. Eis que amas a verdade, pois quem a faz, chega-se à luz. Quero fazê-la no meu coração, diante de ti, em confissão, com minha pena, diante de muitas testemunhas.

A ti, Senhor, a cujos olhos está a nu o abismo da consciência humana, que haveria de oculto em mim, mesmo que não quisesse confessá-lo a ti? Eu te esconderia a mim mesmo, e nunca a mim diante de ti. Agora, porém, quando os meus gemidos testemunham que eu me desagrado de mim mesmo, enquanto tu refulges e agradas, és amado e desejado, que eu me envergonhe de mim mesmo, rejeite-me e te escolha! Nem a ti nem a mim seja eu agradável, a não ser por ti.

Seja eu quem for, sou a ti manifesto e declarei com que proveito o fiz. Não o faço por palavras e vozes corporais, mas com palavras da alma e clamor do pensamento. A tudo o teu ouvido escuta. Quando sou mau, confessá-lo a ti nada mais é do que não o atribuir a mim. Quando sou bom, confessá-lo a ti nada mais é do que não o atribuir a mim. Porque tu, Senhor, abençoas o justo, antes, porém, o justificas quando ímpio. Na verdade minha confissão, ó meu Deus, faz-se diante de ti em silêncio e não em silêncio porque cala-se o ruído, clama o afeto.

Tu me julgas, Senhor, porque nenhum dos homens conhece o que há no homem a não ser o espírito do homem que nele está. Há, contudo, no homem algo que nem o próprio espírito do homem, que nele está, conhece. Tu, porém, Senhor, conheces tudo dele, pois tu o fizeste. Eu, na verdade, embora diante de ti me despreze e me considere pó e cinza, conheço algo de ti que ignoro de mim.

É certo que agora vemos como em espelho e obscuramente, ainda não face a face. Por isto enquanto eu peregrino longe de ti, estou mais presente a mim do que a ti e, no entanto, sei que és totalmente impenetrável, ao passo que ignoro a que tentações posso ou não resistir. Mas aí está a esperança, porque és fiel e não permites sermos tentados acima de nossas forças e dás, com a tentação, a força para suportá-la.

Confessarei aquilo que de mim conheço, confessarei o que desconheço. Porque o que sei de mim, por tua luz o sei; e o que de mim não sei, continuarei a ignorá-lo até que minhas trevas se mudem em meio-dia diante de tua face.

Responsório Sl 138(139),1b.2b.7

R. Ó Senhor, vós me sondais e conheceis,
* De longe penetrais meus pensamentos.
V. Em que lugar me ocultarei de vosso espírito?
E para onde fugirei de vossa face? * De longe.

Oração

Fazei, ó Deus, que os acontecimentos deste mundo decorram na paz que desejais, e vossa Igreja vos possa servir, alegre e tranquila. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora

V. Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.