TERÇA-FEIRA

Ofício das Leituras

Primeira leitura
Do Livro do Profeta Daniel 6,4-27

Daniel na cova dos leões
4Ora, Daniel distinguia-se tanto entre os ministros e os sátrapas, porque nele havia um espírito extraordinário, que o rei se propôs colocá-lo à frente de todo o reino. 5Então os ministros e os sátrapas se puseram a procurar um motivo de acusação contra Daniel nos negócios do Estado. Mas não puderam encontrar motivo ou falta alguma, porque ele era fiel e nada de faltoso ou repreensível se encontrava nele. 6Foi quando esses homens começaram a dizer: “Não encontraremos nenhuma falta contra Daniel, a não ser nalguma coisa referente à Lei do seu Deus”. 7Ministros e sátrapas dirigiram-se então em grupo à presença do rei e assim lhe falaram: “Ó rei Dario, vive para sempre! 8Os ministros do reino e os magistrados, sátrapas, conselheiros e governadores, reuniram-se em conselho para estabelecer um decreto real e dar força de lei ao interdito seguinte: Todo aquele que, no decurso de trinta dias, dirigir uma prece a quem quer que seja, deus ou homem, exceto a ti, ó rei, seja lançado na cova dos leões. 9Agora, pois, ó rei, dá força de lei ao interdito assinando o documento, de sorte que nada se mude no seu teor, de acordo com a lei dos medos e dos persas, a qual não pode ser alterada”. 10Diante disso, o rei Dario assinou o documento com o interdito.
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Ao saber que o documento havia sido assinado, Daniel subiu para sua casa. As janelas do seu aposento superior estavam orientadas para Jerusalém, e três vezes por dia ele se punha de joelhos, orando e confessando o seu Deus: justamente como havia feito até então. 12E aqueles homens, acorrendo apressadamente, encontram Daniel orando e suplicando a seu Deus. 13Então, introduzindo-se na presença do rei, recordaram-lhe o interdito real: “Porventura não assinaste o interdito segundo o qual todo aquele que, no decurso de trinta dias, dirigisse uma prece a quem quer que seja, deus ou homem, exceto a ti, ó rei, seria lançado na cova dos leões?” Respondeu o rei: “A questão está decidida segundo a lei dos medos e dos persas, a qual não pode ser revogada”. 14A essas palavras eles retrucaram, dizendo ao rei: “Este Daniel, um dos deportados de Judá, não tem consideração por ti, ó rei, nem pelo interdito que promulgaste: três vezes por dia continua a fazer a sua oração”. 15Então o rei, ao ouvir essa informação, ficou muito contristado consigo mesmo e decidiu, no seu coração, salvar Daniel. De fato, até o pôr do sol esforçou-se por livrá-lo. 16Mas aqueles homens reuniram-se em tumulto junto ao rei e disseram-lhe: “Lembra-te ó rei, que a lei dos medos e dos persas determina que nenhum decreto ou interdito, promulgado pelo rei, pode ser revogado”.
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Então o rei deu ordem de trazerem Daniel e de o lançarem na cova dos leões. Disse, porém, o rei a Daniel: “Teu Deus, a quem serviste com perseverança, ele te salvará”. 18Trouxeram uma pedra que foi colocada à entrada da cova, e o rei lhe apôs o seu sinete e o dos seus dignitários. Desse modo, nada poderia ser modificado a respeito de Daniel. 19O rei voltou para o seu palácio, onde passou a noite sem comer. Também não quis que lhe trouxessem as concubinas, e o sono o deixou. 20De madrugada ao raiar da aurora, o rei levantou-se e dirigiu-se ansiosamente à cova dos leões. 21Aproximando-se da cova, gritou a Daniel com voz angustiada: Daniel, servo do Deus vivo, o teu Deus, a quem serves com tanta constância, foi capaz de te livrar dos leões?” 22Daniel respondeu ao rei: Ó rei, vive para sempre! Meu Deus enviou-me seu anjo e fechou a boca dos leões, de tal modo que não me fizeram mal. Pois eu fui considerado inocente diante dele, e também diante de ti, ó rei, não fiz mal algum”. 24Então o rei sentiu uma grande alegria por sua causa e ordenou que retirassem Daniel da cova. E Daniel foi retirado da cova, nele não se encontrando ferimento algum, porque tivera fé em seu Deus. 25O rei mandou então trazer os homens que tinham caluniado Daniel e os fez precipitar na cova dos leões: eles, seus filhos e suas mulheres. E antes mesmo que tocassem o fundo da cova, os leões já se tinham apoderado deles, esmagando-lhes os ossos.
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E o rei Dario escreveu a todos os povos, nações e línguas que habitam sobre a terra: “Que a vossa paz se multiplique! 27Eis o decreto que eu promulgo: Em todo o domínio do meu reino, todos devem tremer e temer diante do Deus de Daniel: Ele é o Deus vivo, que permanece para sempre - seu reino não será jamais destruído e seu império nunca terá fim -.

Responsório Cf. Sb 10,12.11
R. Guardou-o de seus inimigos,
deu-lhe um prêmio numa áspera batalha,
* Para ensinar-lhe que a piedade é mais forte do que tudo.
V. Assistiu-o contra opressores cobiçosos e o enriqueceu.
* Para ensinar-lhe.

Segunda leitura

Da “Homilia” de um Autor do século segundo
(Cap. 13,2-14,5: Funk 1,159-163)

(Séc. XI)

A Igreja viva é o corpo de Cristo
O Senhor declara: Meu nome é incessantemente objeto de blasfêmia entre as nações (Is 52,5), e outra vez: Ai daquele por cuja causa meu nome é blasfemado (cf. Rm 2,24). Qual o motivo de ser blasfemado? Porque não fazemos o que dizemos. Os homens ouvem de nossa boca as palavras de Deus, e ficam admirados por seu valor e grandeza; depois, vendo que nossas obras em nada correspondem às palavras que dizemos, começam a blasfemar, e a tachá-las de fábulas e de enganos.
Ouvem-nos afirmar que Deus disse: Não é nada de extraordinário, se amais aqueles que vos amam; mas grande graça, se amais vossos inimigos e aqueles que vos odeiam (cf. Mt 5,46); ouvindo isso, espantam-se com bondade tão sublime: observando, porém, que não amamos os que nos odeiam e nem mesmo aqueles que nos amam, zombam de nós e o nome é blasfemado.
Por conseguinte, irmãos, cumprindo a vontade de Deus, nosso Pai, faremos parte daquela primeira Igreja espiritual, criada antes do sol e da lua. Se, ao contrário, não fizermos a vontade de Deus, seremos como diz a Escritura: Minha casa tornou-se covil de ladrões (cf. 7,11; Mt 21,13). Que nossa preferência vá para a Igreja da vida, para sermos salvos.
Julgo que estais bem cientes de que a Igreja viva é o corpo de Cristo (cf. 1Cor 12,27). Pois diz a Escritura: Deus fez o ser humano varão e mulher (Gn 1,27; 5,2); o varão é o Cristo, a mulher a Igreja. Também a Bíblia e os apóstolos afirmam que a Igreja, propriamente, não é deste tempo, mas existe desde o princípio. Era espiritual, assim como nosso Jesus, e apareceu nos últimos dias, a fim de que fôssemos salvos.
A Igreja, a espiritual, manifestou-se na carne de Cristo, mostrando-nos que se alguém, estando na carne, a preserva e não a arruína, recebê-la-á no Espírito Santo. Pois esta carne é tipo do espírito; quem destrói o tipo não recebe o arquétipo. Por isto disse, irmãos: Guardai a carne para serdes participantes do espírito. Se dizemos que a carne é a Igreja; e Cristo, espírito, segue-se que quem deturpa a carne, deturpa a Igreja. Este não será participante do espírito, que é Cristo. Esta carne é capaz de conter imensa vida e incorruptibilidade, com o auxílio do Espírito Santo, e ninguém pode descrever nem contar aquilo que o Senhor preparou para seus eleitos.

Responsório Cf. Jr 7,3; Tg 4,8
R. Assim fala o Onipotente, o Senhor, Deus de Israel:
Retificai vossos caminhos e as vossas intenções
* E convosco eu irei morar neste lugar.
V. Achegai-vos ao Senhor e ele a vós se achegará;
ó vós todos, pecadores, lavai as vossas mãos,
purificai o coração!
* E convosco.

Oração

Levantai, ó Deus, o ânimo dos vossos filhos e filhas, para que, aproveitando melhor as vossas graças, obtenham de vossa paternal bondade mais poderosos auxílios. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora

V.
Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.