Primeira leitura
Do Livro do Cântico dos Cânticos 5,2-16

A esposa busca e enaltece o Esposo

2Eu dormia, mas meu coração velava e ouvi o meu amado que batia: “Abre, minha irmã, minha amada, pomba minha sem defeito! Tenho a cabeça molhada, meus cabelos gotejam orvalho!” 3“Já despi a túnica, e vou vesti-la de novo? Já lavei meus pés, e os sujarei de novo?” 4Meu amado põe a mão pela fenda da porta: as entranhas me estremecem, minha alma, ouvindo-o, se esvai. 5Ponho-me de pé para abrir ao meu amado: minhas mãos gotejam mirra, meus dedos são mirra escorrendo na maçaneta da fechadura. 6Abro ao meu amado, mas o meu amado se foi... Procuro-o e não o encontro. Chamo-o e não me responde... 7Encontraram-me os guardas que rondavam a cidade. Bateram-me, feriram-me, tomaram-me o manto as sentinelas das muralhas! 8Filhas de Jerusalém, eu vos conjuro: se encontrardes o meu amado, que lhe direis?... Dizei que estou doente de amor! 9Que é teu amado mais que os outros, ó mais bela das mulheres? Que é teu amado mais que os outros, para assim nos conjurares? 10Meu amado é brando e rosado, saliente entre dez mil. 11Sua cabeça é ouro puro, uma copa de palmeira seus cabelos, negros como o corvo. 12Seus olhos... são pombas à beira de águas correntes: banham-se no leite e repousam na margem. 13Suas faces são canteiros de bálsamo, colinas de ervas perfumadas; seus lábios são lírios com mirra, que flui e se derrama. 14Seus braços são torneados em ouro incrustado com pedras de Társis. Seu ventre é bloco de marfim cravejado com safiras. 15Suas pernas, colunas de mármore firmadas em bases de ouro puro. Seu aspecto é o do Líbano altaneiro, como um cedro. 16Sua boca é muito doce... Ele todo é uma delícia! Assim é meu amigo, assim o meu amado, ó filhas de Jerusalém.

Responsório Ct 5,2;Ap 3,20
R. Ouvi o meu amado que batia:
* Abre, minha irmã, minha amada.
V. Eis que estou à porta e bato:
se alguém me abrir a porta cearei com ele, e ele comigo.
* Abre, minha irmã.

Segunda leitura
Dos Sermões sobre o Cântico dos Cânticos, de São Bernardo, abade
(Sermo 27,7-9: Opera Omnia, Edit. Cisterc. 1957, vol. I,186-188)

Em meio a eles habitarei e caminharei

Quando o divino Emanuel estabeleceu na terra o magistério da doutrina celeste, quando por Cristo e em Cristo a Jerusalém do alto, que é nossa mãe, tornou-se visível no esplendor de sua beleza, que vimos nós senão a esposa no esposo, admirando no mesmo e único Senhor da glória o esposo com sua coroa e a esposa ornada com suas joias? Assim, o que desceu é também o que subiu (Ef 4,10), pois ninguém sobe ao céu, sem de lá ter descido, o mesmo e único Senhor: esposo, enquanto cabeça, e esposa, enquanto corpo. Não foi em vão que apareceu na terra como homem celeste, já que tornou semelhante a si o maior número possível dos homens terrenos, fazendo cumprir-se o que está escrito: Qual foi o homem celeste, tais serão os celestes (1Cor 15,48).

Desde então se vive na terra como no céu. Porque, à semelhança daquelas criaturas celestes e gloriosas, esta nova rainha de Sabá, a Igreja, vinda dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão, também com casto amor se une ao esposo celeste. E, ainda que não lhe esteja unida pela visão, já lhe está prometida pela fé, segundo a promessa de Deus feita pelo profeta: Eu te desposarei a mim no amor e na ternura. Eu te desposarei a mim na fidelidade (Os 2,21.22). Por isso ela se esforça cada vez mais para se igualar ao modelo que vem do céu, imitando-lhe a modéstia e a sobriedade, o pudor e a santidade, a paciência e a misericórdia, e, finalmente, a mansidão e a humildade de coração. Deste modo ela procura, mesmo estando ausente, agradar àquele que os anjos desejam contemplar, mostrando com ardente e angélico afeto ser cidadã do céu, familiar de Deus, amada e esposa.

Vem, minha eleita, e porei em ti o meu trono (cf. Sl 44,11 Vg). Por que andas agora triste, ó minha alma, e por que me perturbas? Pensas que poderás encontrar em ti um lugar para o Senhor? E quem de nós poderá achar em si lugar digno de tal glória, adequado a tal majestade? Que eu mereça ao menos adorar no lugar onde os seus pés pousaram! Quem dera ao menos eu pudesse seguir os passos de alguma alma santa, escolhida por ele como habitação. Contudo, se ele se dignar infundir também em minha alma a unção da sua misericórdia, alargando-a como a pele que se dilata depois de ungida, eu poderei dizer igualmente: Eu corro no caminho dos teus mandamentos, pois tu alargas o meu coração (Sl 118,32). Talvez então poderei mostrar- lhe, também em mim, senão um grande cenáculo preparado onde ele possa estar à mesa com os discípulos, ao menos um lugar onde possa reclinar a cabeça. De longe ergo os olhos para aqueles verdadeiros bem-aventurados, dos quais foi dito: Em meio a eles habitarei e caminharei (2Cor 6,16; cf. Lv 26,11.12).

Responsório Os 2,19;cf. Sl 44,12 Vg
R. Vem, minha eleita, e porei em ti o meu trono;
* Porque o rei se encantou com a tua beleza.
V. Eu te desposarei a mim no amor e na ternura.
Eu te desposarei a mim na fidelidade.
* Porque o rei.


Oração
Ó Deus, quisestes que a humanidade do vosso Filho, nascendo da Virgem Maria, não fosse submetida à humilhação do homem decaído. Concedei que, participando desta nova criação, sejamos libertados da antiga culpa. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora

V. Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.