TERÇA-FEIRA

Ofício das Leituras

Primeira leitura
Início do Livro do Profeta Habacuc 1,1–2,4

Prece em momento de desolação
1,1 Oráculo que o profeta Habacuc recebeu em visão.2 Senhor, até quando clamarei, sem me atenderes? Até quando devo gritar a ti: "Violência! , sem me socorreres?3 Por que me fazes ver iniquidades, quando tu mesmo vês a maldade? Destruições e prepotência estão à minha frente; reina a discussão, surge a discórdia.4 Por isso o ensinamento se enfraquece e o direito jamais aparece! Quando o ímpio ronda o justo o direito aparece torcido!5 "Olhai entre os povos e contemplai, espantai-vos, admirai-vos! Porque realizo em vossos dias uma obra que não acreditaríeis, se fosse contada.6 Sim, eis que faço surgir os caldeus, esse povo cruel e impetuoso, que percorre a amplidão da terra para conquistar habitações que não lhe pertencem.7 É terrível e temível, só dele procede o seu direito e a sua grandeza!8 Seus cavalos são mais rápidos que as panteras, mais ferozes que lobos da estepe. Seus cavalos galopam, seus cavaleiros chegam de longe, voam como a águia que se apressa para devorar.9 Acorrem todos para a violência, sua face ardente é como um vento, amontoam prisioneiros como areia!10 Ele zomba dos reis, os chefes lhe são motivo de riso. Ri de todas as fortalezas; faz aterros e as toma!11 Então, como o vento que mudou, ele passa, e faz de sua força o seu deus! 12 Acaso não existes desde o princípio, Senhor, meu Deus, meu Santo, que não haverás de morrer? Senhor, puseste essa gente como instrumento de tua justiça; criaste-a, ó meu rochedo, para exercer punição.13 Teus olhos são puros para não veres o mal; não podes aceitar a visão da iniquidade. Por que, então, olhando para os malvados, e vendo-os devorar o justo, ficas calado?14 Tratas os homens como os peixes do mar, como os répteis, que não têm dono.15 O pescador pega tudo com o anzol, puxa os peixes com a rede varredoura e recolhe-os na outra rede; com isso, alegra-se e faz a festa.16 Faz imolação por causa da sua malha, oferece incenso por causa da sua rede, porque com elas cresceu a captura de peixes e sua comida aumentou.17 Será por isso que ele sempre desembainhará a espada, para matar os povos, sem dó nem piedade?2,1 Vou ocupar meu posto de guarda e estarei de atalaia, atento ao que me será dito e ao que será respondido à minha denúncia.2 Respondeu-me o Senhor, dizendo: "Escreve esta visão, estende seus dizeres sobre tábuas, para que possa ser lida com facilidade.3 A visão refere-se a um prazo definido, mas tende para um desfecho, e não falhará; se demorar, espera, pois ela virá com certeza, e não tardará.4 Quem não é correto, vai morrer, mas o justo viverá por sua fé".

Responsório Hb 10,37-38a.39

R. Falta apenas pouco tempo e aquele que há de vir,
vai chegar, não tardará.
* Todavia o meu justo viverá pela fé.
V. Nós não somos desertores para a nossa perdição;
somos gente que tem fé para a nossa salvação. * Todavia.

Segunda leitura
Dos Sermões de São Bernardo, abade

(Sermo 5 de diversis, 1-4: Opera Omnia, Edit. Cisterc. 6,1[1970]98-103)
(Séc. XII)

Estarei no meu posto de sentinela para ouvir o que me diz o Senhor
Lemos no Evangelho que, quando o Senhor em sua pregação convidava os discípulos a participarem do mistério de comer o seu corpo também os exortava a comungar de sua paixão, alguns disseram: É dura esta palavra; e já não mais ficaram com ele. Interrogados os discípulos se também eles queriam ir-se embora, responderam: Senhor, a quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna (Jo 6,68).

Digo-vos, irmãos, que até hoje para alguns é evidente serem as palavras faladas por Jesus espírito e vida e por isso seguem-no. Para outros parecem duras e vão em busca de outra miserável consolação. A Sabedoria as repete bem alto nas praças, na larga e espaçosa estrada que leva à morte, para chamar a si os que caminham por ela.

Até mesmo Quarenta anos estive próximo desta geração e disse: Sempre se extraviam pelo coração (Sl 94,10). Encontras também em outro salmo: Uma vez falou Deus (cf. Sl 61,12). Sim, uma vez, porque sempre. É um só e não alterado, mas contínuo e perpétuo seu falar.

Convida os pecadores a novamente entrarem em si, censura pelo erro do coração para que aí habite ele e aí fale, realizando aquilo que ensinou pelo profeta ao dizer: Falai ao coração de Jerusalém (Is 40,2).

Bem vedes, irmãos, como é proveitosa a exortação do Profeta a não endurecermos o coração, se ouvirmos hoje sua voz. Quase as mesmas palavras podeis ler no Evangelho e no Profeta. Ali diz o Senhor: Minhas ovelhas ouvem minha voz (Jo 10,27). E o santo Davi no salmo: Seu povo (do Senhor, sem dúvida) e ovelhas de suas pastagens, hoje se ouvirdes sua voz, não endureçais os vossos corações (Sl 94,7-8).

Escuta, por fim, o profeta Habacuc, como não disfarça a censura do Senhor, mas se entrega a contínua e solícita reflexão sobre ela: Estarei de atalaia, fincarei pé no meu reduto para ver o que me dirá e o que responderei a quem me repreende (Hab 2,1). Também nós, irmãos, suplico, estejamos de atalaia porque o tempo é de luta.

Entremos em nossos corações, onde Cristo habita, comportando-nos com justiça e prudência, de tal forma, porém, que não ponhamos em nós mesmos a confiança nem nos apoiemos em tão frágil proteção.

Responsório Sl 17(18),23; 18(19),9; 1Jo 2,5

R. Tive sempre à minha frente os seus preceitos,
e de mim não afastei sua justiça.
* Os preceitos do Senhor são precisos,
alegria ao coração.
O mandamento do Senhor é brilhante,
para os olhos é uma luz.
V. O amor de Deus se realiza em todo aquele,
que guarda sua palavra fielmente. * Os preceitos.

Oração

Ó Deus, pai de bondade, que nos redimistes e adotastes como filhos e filhas, concedei aos que crêem no Cristo a verdadeira liberdade e a herança eterna. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora

V.
Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.