SEXTA-FEIRA

Ofício das Leituras

Primeira leitura
Do Livro de Jó 40,1-14; 42,1-6

Jó submete-se à majestade divina
40,1
O Senhor falou a Jó, e disse: 2"O adversário do Todo-Poderoso quer lutar? O censor de Deus quererá responder? 3Jó respondeu ao Senhor, dizendo: 4"Fui precipitado. Que te posso responder? Porei minha mão sobre a boca. 5Falei uma vez, não replicarei; uma segunda vez, mas não falarei mais". 6O Senhor respondeu a Jó do meio da tempestade e disse: 7"Cinge os teus rins como um herói; vou-te interrogar, e tu me responderás. 8Tu te atreves a anular o meu julgamento, ou a condenar-me, para seres justificado? 9Se tens um braço como o de Deus e podes trovejar com voz semelhante à dele,10reveste-te de glória e majestade, cobre-te de fausto e de esplendor; 11derrama o ardor de tua ira e, com um simples olhar, abate o arrogante; 12humilha com o olhar qualquer soberbo e esmaga os ímpios no chão; 13enterra-os todos juntos no pó e amarra a cada qual na prisão. 14Então eu também te louvarei, porque a tua direita te poderá dar a salvação". 42,1Jó respondeu ao Senhor, dizendo: 2"Reconheço que podes tudo e que para ti nenhum pensamento é oculto. 3– Quem é esse que ofusca a Providência, sem nada entender? – Falei, pois, de coisas que não entendia, de maravilhas que ultrapassam a minha compreensão. 4Escuta-me, que vou falar: eu te perguntarei e tu me responderás. 5Conhecia o Senhor apenas por ouvir falar, mas, agora, eu o vejo com meus olhos. 6Por isso me retrato e faço penitência no pó e na cinza".

Responsório Jó 42,5-6; 39,35.34

R. Até hoje, Senhor, só de ouvir vos conheço,
mas agora vos vejo com os meus próprios olhos;
e por isso agora, Senhor, me retrato,
* E me penitencio no pó e na cinza.
V. Falei uma vez, oxalá não falara,
falei outra vez e não mais falarei.
Com a mão vou tapar minha boca, Senhor.
* E me penitencio.

Segunda leitura
Dos Tratados de Balduíno de Cantuária, bispo

(Tract. 6: PL 204,466-467)
(Séc. XII)

O Senhor é quem discerne os pensamentos
e as intenções do coração
O Senhor conhece os pensamentos e as intenções de nosso coração. Quanto a si, conhece-os todos, sem dúvida alguma; quanto a nós, conhece aqueles que sua graça nos faz devidamente discernir. O espírito que há no homem não conhece tudo que existe no homem, e percebe a respeito de seus pensamentos quais os que deve ou não aceitar. Contudo, nem sempre julga conforme a realidade. O que vê pelos olhos da mente não o discerne com exatidão, por causa da fraqueza da vista.

É frequente que, pela própria imaginação ou por outra pessoa ou pelo tentador, se apresente algo sob a aparência de piedade que, aos olhos de Deus, não merece o prêmio da virtude. Pois existem simulacros das verdadeiras virtudes e também dos vícios, que iludem os olhos do coração. Como por artifícios, de tal forma pressionam a penetração do espírito que muitas vezes lhe parece ver o bem onde não existe ou o mal onde não está. Faz isto parte de nossa miséria e ignorância, muito triste e muito de se lamentar e temer.

Está escrito: Caminhos há que parecem retos ao homem, cujo fim leva ao inferno. Para evitar esse perigo, São João nos adverte: Provai os espíritos a ver se são de Deus. Quem poderá provar se os espíritos são de Deus, se não lhe for dado por Deus o discernimento dos mesmos, para que possa examinar com precisão e verdadeiro juízo os pensamentos, afetos e intenções espirituais? Na verdade a discrição é a mãe de todas as virtudes, necessária a cada um, seja para a orientação da vida de outros, seja para o governo e correção da sua.

É reto o pensamento do que há a fazer, se dirigido pela vontade de Deus, se a intenção é simplesmente dirigida para ele. Desta forma todo o corpo de nossa vida ou de qualquer ação nossa será luminoso, sendo simples os olhos. O olho simples é olho e é simples porque pelo julgamento reto vê o que deve fazer e, pela intenção pura, age com simplicidade naquilo que nunca deveria fazer-se com duplicidade. O julgamento reto não admite o erro; a intenção pura exclui o fingimento. Este é o verdadeiro discernimento: a junção do reto juízo e da pura intenção.

Tudo isto se há de fazer à luz da discrição, como em Deus e diante de Deus.

Responsório Mq 6,8; Sl 36(37),3

R. Vou mostrar-te, ó homem, o que é bom
e o que é que o Senhor pede de ti:
* Que apenas pratiques a justiça,
que ames o amor e a bondade
e que diante de Deus sejas humilde.
V. Confia no Senhor e faze o bem
e sobre a terra habitarás em segurança.
* Que apenas.

Oração

Ó Deus, cuja providência jamais falha, nós vos suplicamos humildemente: afastai de nós o que é nocivo, e concedei-nos tudo o que for útil. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora

V. Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.