Ofício das Leituras

V.
Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R. Socorrei-me sem demora.
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.Aleluia.
Esta introdução se omite quando o Invitatório precede imediatamente ao Ofício das Leituras.

Hino

Ó Senhor, Rei eterno e sublime,
dos fiéis imortal Redentor!
Morre a morte, por vós destruída,
e triunfa, por graça, o amor.

Sobre o trono celeste elevado,
à direita do Pai vos sentais,
e um poder é a vós concedido,
que é do céu, não pertence aos mortais,

para que todo ser que criastes
nos abismos, na terra, ou nos céus
ante vós, de joelhos, se incline,
com respeito, adorando seu Deus.

Tremem anjos, perante a mudança
que o destino dos homens sofreu:
peca a carne e a carne redime,
reina a carne no Verbo de Deus.

Sois, Senhor, nosso gozo e delícia,
que a alegria do mundo ofuscais.
Sois também nosso prêmio perene,
vós que a todo o universo guiais.

Suplicantes, portanto, rogamos:
Nossas culpas, Senhor, perdoai.
Pela força da graça divina,
nossas mentes a vós elevai.

Quando em glória voltardes na nuvem,
a julgar as nações reunidas,
afastai os devidos castigos,
dai de novo as coroas perdidas.

Honra a vós, ó Jesus glorioso,
que às alturas dos céus ascendeis.
Com o Pai e o Espírito Santo
pelos séculos sem fim reinareis.

Salmodia

Ant.1 Olhai e vede, ó Senhor, a humilhação do vosso povo! Aleluia.

Salmo 88(89),39-53

Lamentação sobre a ruína da casa de Davi
Fez aparecer para nós uma força de salvação na casa de Davi (Lc 1,69).

IV
39 E no entanto vós, Senhor, repudiastes vosso Ungido, *
gravemente vos irastes contra ele e o rejeitastes!
40 Desprezastes a Aliança com o vosso servidor, *
profanastes sua coroa, atirando-a pelo chão!

41 Derrubastes, destruístes os seus muros totalmente, *
e as suas fortalezas reduzistes a ruínas.
42 Os que passam no caminho sem piedade o saquearam *
e tornou-se uma vergonha para os povos, seus vizinhos.

43 Aumentastes o poder da mão direita do agressor, *
e exultaram de alegria os inimigos e opressores.
44 Vós fizestes sua espada ficar cega, sem ter corte, *
não quisestes sustentá-lo quando estava no combate.

45 O seu cetro glorioso arrancastes de sua mão, *
derrubastes pelo chão o seu trono esplendoroso,
46 e de sua juventude a duração abreviastes, *
recobrindo sua pessoa de vergonha e confusão.

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo,*
como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Olhai e vede, ó Senhor, a humilhação do vosso povo! Aleluia.

Ant.2 Sou o rebento da estirpe de Davi,
sou a estrela fulgurante da manhã. Aleluia.

V
47 Até quando, Senhor Deus, ficareis sempre escondido? *
Arderá a vossa ira como fogo eternamente?
48 Recordai-vos, ó Senhor, de como é breve a minha vida, *
e de como é perecível todo homem que criastes!
49 Quem acaso viverá sem provar jamais a morte, *
e quem pode arrebatar a sua vida dos abismos?

50 Onde está, ó Senhor Deus, vosso amor de antigamente? *
Não jurastes a Davi fidelidade para sempre?
51 Recordai-vos, ó Senhor, da humilhação dos vossos servos, *
pois carrego no meu peito os ultrajes das nações;

52 com os quais sou insultado pelos vossos inimigos, *
com os quais eles ultrajam vosso Ungido a cada passo!
53 O Senhor seja bendito desde agora e para sempre! *
Bendito seja o Senhor Deus, eternamente! Amém, amém!

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo,*
como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Sou o rebento da estirpe de Davi,
sou a estrela fulgurante da manhã. Aleluia

Ant.3 Os nossos dias vão murchando como a erva;
vós, Senhor, sois desde sempre e para sempre. Aleluia

Salmo 89(90)

O esplendor do Senhor esteja sobre nós
Para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos como um dia (2Pd 3,8).

1 Vós fostes um refúgio para nós, *
ó Senhor, de geração em geração.
=2 Já bem antes que as montanhas fossem feitas †
ou a terra e o mundo se formassem, *
desde sempre e para sempre vós sois Deus.

3 Vós fazeis voltar ao pó todo mortal, *
quando dizeis: “Voltai ao pó, filhos de Adão!”
4 Pois mil anos para vós são como ontem, *
qual vigília de uma noite que passou.

5 Eles passam como o sono da manhã, *
6 são iguais à erva verde pelos campos:
– De manhã ela floresce vicejante, *
mas à tarde é cortada e logo seca.

7 Por vossa ira perecemos realmente, *
vosso furor nos apavora e faz tremer;
8 pusestes nossa culpa à nossa frente, *
nossos segredos ao clarão de vossa face.

9 Em vossa ira se consomem nossos dias, *
como um sopro se acabam nossos anos.
10 Pode durar setenta anos nossa vida, *
os mais fortes talvez cheguem a oitenta;
– a maior parte é ilusão e sofrimento: *
passam depressa e também nós assim passamos.

11 Quem avalia o poder de vossa ira,*
o respeito e o temor que mereceis?
12 Ensinai-nos a contar os nossos dias, *
e dai ao nosso coração sabedoria!

13 Senhor, voltai-vos! Até quando tardareis? *
Tende piedade e compaixão de vossos servos!
14 Saciai-nos de manhã com vosso amor, *
e exultaremos de alegria todo o dia!

15 Alegrai-nos pelos dias que sofremos, *
pelos anos que passamos na desgraça!
16 Manifestai a vossa obra a vossos servos, *
e a seus filhos revelai a vossa glória!

17 Que a bondade do Senhor e nosso Deus *
repouse sobre nós e nos conduza!
– Tornai fecundo, ó Senhor, nosso trabalho, *
fazei dar frutos o labor de nossas mãos!

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo,*
como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Os nossos dias vão murchando como a erva;
vós, Senhor, sois desde sempre e para sempre. Aleluia

V. Deus, o Pai que a Jesus,
nosso Senhor, ressuscitou, aleluia,

R. Nos fará também a nós
ressuscitar por seu poder. Aleluia.

Primeira leitura

Dos Atos dos Apóstolos 27,21-44

Naufrágio de Paulo
Havia muito tempo não tomávamos alimento. Então Paulo, de pé, no meio deles, assim falou: “Amigos, teria sido melhor terem-me escutado e não sair de Creta, para sermos poupados deste perigo e prejuízo. Apesar de tudo, porém, exorto-vos a que tenhais ânimo: não haverá perda de vida alguma dentre vós, a não ser a perda do navio. Pois esta noite apareceu-me um anjo do Deus ao qual pertenço e a quem adoro, o qual me disse: ‘Não temas, Paulo. Tu deves comparecer perante César, e Deus te concede a vida de todos os que navegam contigo’. Por isso, reanimai-vos amigos! Confio em Deus que as coisas ocorrerão segundo me foi dito. É preciso, porém, que sejamos arremessados a uma ilha”.
Quando chegou a décima quarta noite, continuando nós a sermos batidos de um lado para outro do Adriático, pela meia-noite os marinheiros perceberam que se aproximava alguma terra. Lançaram então a sonda e deu vinte braças; avançando mais um pouco, lançaram novamente a sonda e deu quinze braças. Receosos de que fôssemos dar em escolhos, soltaram da popa quatro âncoras, anelando por que rompesse o dia. Entretanto, os marinheiros tentaram fugir do navio: desceram, pois, o escaler ao mar, a pretexto de irem largar as âncoras da proa. Mas Paulo disse ao centurião e aos soldados: “Se eles não permanecerem a bordo, não podereis salvar-vos!” Então os soldados cortaram as cordas do escaler e deixaram-no cair.
À espera de que o dia raiasse, Paulo insistia com todos para que tomassem alimento. E dizia: “Hoje é o décimo quarto dia em que, na expectativa, ficais em jejum, sem nada comer. Por isso, peço que vos alimenteis, pois é necessário para a vossa saúde. Ora, não se perderá um só cabelo da cabeça de nenhum de vós!” Tendo dito isto, tomou o pão, deu graças a Deus diante de todos, partiu-o e pôs-se a comer. Então, reanimando-se todos, também eles tomaram alimento. Éramos no navio, ao todo, duzentas e setenta e seis pessoas. Tendo-se alimentado fartamente, puseram-se a aliviar o navio, atirando o trigo ao mar.
Quando amanheceu, os tripulantes não reconheceram a terra. Divisando, porém, uma enseada com uma praia, consultaram entre si, a ver se poderiam impelir o navio para lá. Desprenderam então as âncoras, abandonando-as ao mar. Ao mesmo tempo soltaram as amarras dos lemes e, içando ao vento a vela da proa, dirigiram o navio para a praia. Mas, tendo-se embatido num banco de areia, entre duas correntes de água, o navio encalhou. A proa, encravada, ficou imóvel, enquanto a popa começou a desconjuntar-se pela violência das ondas.
Veio, então, aos soldados o pensamento de matar os prisioneiros, para evitar que algum deles, a nado, escapasse. Mas o centurião, querendo preservar Paulo, opôs-se a este desígnio. E mandou, aos que sabiam nadar, que saltassem primeiro e alcançassem terra. Quanto aos outros, que os seguissem agarrados a pranchas, ou sobre quaisquer destroços do navio. Foi assim que todos chegaram, sãos e salvos, em terra.

Responsório 2Tm 2,9;Sl 118(119),46
R. Por causa do Evangelho,
eu tenho sofrido até ser acorrentado como um malfeitor.
*
Mas a palavra de Deus não está acorrentada, aleluia.
V.
Quero falar de vossa lei perante os reis,
e darei meu testemunho sem temor.
*
Mas a palavra.

Segunda leitura

Do Comentário sobre o Evangelho de São João, de São Cirilo de Alexandria, bispo
(Lib. 10,16,6-7: PG 74,434)
(Séc. V)


Se eu não for o Espírito não virá a vós
Cristo tinha cumprido a sua missão sobre a terra, e para nós havia chegado o momento de entrarmos em comunhão com a natureza divina do Verbo. Era preciso que a nossa vida anterior fosse transformada em outra diferente, começando um novo estilo de vida em santidade. Ora, isto só podia ser realizado pela participação do Espírito Santo.
O tempo mais oportuno para o envio do Espírito Santo e sua descida sobre nós foi o que se seguiu à ascensão de Cristo nosso Salvador.
De fato, enquanto Cristo vivia visivelmente entre os seus fiéis, ele mesmo, segundo julgo, dispensava-lhes todos os bens. Mas quando chegou o momento estabelecido para subir ao Pai celeste, era necessário que ele continuasse presente no meio de seus fiéis por meio do Espírito e habitasse pela fé em nossos corações, a fim de que pudéssemos clamar com toda confiança: Abá - ó Pai! (Rm 8,15). E ainda nos tornássemos capazes de progredir sem demora no caminho da perfeição, superando com fortaleza invencível as ciladas do demônio e as perseguições dos homens, graças à assistência do Espírito todo-poderoso.
Não é difícil demonstrar, com o testemunho das Escrituras, tanto do Antigo como do Novo Testamento, que o Espírito transforma e comunica uma vida nova àqueles em quem habita.
O servo de Deus Samuel, dirigindo-se a Saul, diz: O Espírito do Senhor virá sobre ti e tu te tornarás outro homem (cf. 1Sm 10,6). E São Paulo afirma: Todos nós, porém, com o rosto descoberto, contemplamos e refletimos a glória do Senhor; e assim seremos transformados à sua imagem, pelo seu Espírito. Pois o Senhor é Espírito (2Cor 3,18.17).
Vês como o Espírito transforma noutra imagem aqueles em quem habita? Facilmente ele os faz passar do amor das coisas terrenas à esperança das realidades celestes, e do temor e da indecisão à firme e generosa fortaleza de alma. Foi o que sucedeu com os discípulos: animados e fortalecidos pelo espírito, nunca mais se deixaram intimidar pelos seus perseguidores, permanecendo inseparavelmente unidos e fiéis ao amor de Cristo.
É verdade, portanto, o que diz o Salvador: É bom para vós que eu volte para os céus (cf. Jo 16,7), porque tinha chegado o tempo de o Espírito Santo descer sobre eles.

Responsório Jo 16,7.13
R. Se eu não for, não há de vir o Paráclito a vós;
mas se eu for, o enviarei.
*
Quando, porém, vier a vós o Espírito da verdade,
ele vós ensinará toda a verdade, aleluia.
V.
Não falará sobre si mesmo, mas dirá tudo o que ele ouvir
e a vós anunciará as coisas todas que hão de vir.
*
Quando, porém.

Oração

Nós vos pedimos, ó Deus, que o vosso Espírito nos transforme com a força dos seus dons, dando-nos um coração capaz de agradar-vos e de aceitar a vossa vontade. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora

V. Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.