SEXTA-FEIRA
Ofício das Leituras
Primeira leitura
Do Livro do Eclesiástico
6,5-37
A amizade
5Uma boca agradável multiplica os amigos,
uma língua afável multiplica a afabilidade.
6Sejam numerosas as tuas relações,
mas os teus conselheiros, um entre mil.
7Se queres um amigo, adquire-o pela prova
e não te apresses em nele confiar.
8Porque há amigo de ocasião:
ele não será fiel no dia de tua tribulação.
9Há amigo que se torna inimigo
e que revelará querelas para tua vergonha.
10Há amigo que é companheiro de mesa,
mas que não será fiel no dia de tua tribulação.
11Na tua prosperidade é como se fosse outro tu,
falando livremente a teus servos;
12se és humilhado, estará contra ti
e se esconderá da tua presença.
13Afasta-te de teus inimigos
e acautela-te com teus amigos.
14Amigo fiel é poderoso refúgio,
quem o descobriu, descobriu um tesouro.
15Amigo fiel não tem preço,
é imponderável o seu valor.
16Amigo fiel é bálsamo vital
e os que temem o Senhor o encontrarão.
Aquele que teme ao Senhor regra bem suas amizades,
pois tal como ele é, assim é seu amigo.
18Filho, desde a tua mocidade aplica-te à disciplina
e até com cabelos brancos encontrarás a sabedoria.
19Como o lavrador e o semeador, cultiva-a,
e espera pacientemente seus bons frutos,
porque te cansarás um pouco em seu cultivo,
mas em breve comerás de seus frutos.
20Ela é tão árdua para os insensatos,
e o sem-juízo não permanecerá nela.
21Será pesada sobre ele como pedra de toque,
e não tardará em desfazer-se dela.
22Porque a sabedoria merece bem seu nome,
ela não é acessível a grande número.
23Escuta, filho, e aceita meu parecer,
não rejeites meu conselho:
24mete teus pés nos seus grilhões
e teu pescoço no seu julgo.
25Abaixa o teu ombro e carrega-a
e não te irrites com seus liames.
26Com toda a tua alma aproxima-te dela
e com toda a tua força segue-lhe os caminhos.
27Coloca-te na sua pista e procura-a,
ela se dará a conhecer a ti;
Possuindo-a, não a deixeis mais.
28Porque, no fim, encontrarás nela o repouso
e ela se transformará, para ti, em alegria.
29Seus grilhões serão para ti possante proteção;
seu julgo, enfeite precioso
30Seu julgo será ornamento de ouro;
seus grilhões, fitas de púrpura.
31Tu a vestirás qual manto de glória,
tu a cingirás qual diadema de alegria.
Se quiseres, filho, tu te instruirás;
e tua docilidade te proporcionará a habilidade.
33Se gostares de ouvir aprenderás;
se deres ouvido, serás sábio.
34Fica na reunião dos anciãos:
E se vês um sábio, apega-te a ele.
35Escuta de boa vontade toda palavra que vem de Deus,
e não te escapem os provérbios sutis.
36Se vires um sensato, madruga para estar com ele,
e que o teu pé desgaste as soleiras de sua porta.
37Medita os preceitos do Senhor
e ocupa-te continuamente com seus mandamentos.
Ele consolidará o teu coração
e a sabedoria que desejas ser-te-á dada.
Responsório
Cf. Jo 15,14.12; Eclo 6,14
R. Vós sois meus amigos se praticais o que vos mando:
* Amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado.
V. Amigo fiel é poderoso refúgio, quem o descobriu, descobriu um tesouro.
* Amai-vos uns aos outros.
Segunda leitura
Do Tratado “sobre a amizade espiritual”, de Santo Elredo,
Abade
(Liv. 2)
(Séc. XII)
Um amigo fiel é um bálsamo de vida
Nesta vida mortal não há nada de mais santo a desejar,
de mais útil a procurar, de mais difícil de encontrar, de
mais doce a experimentar, de mais vantajoso de manter do
que a amizade. Ela traz frutos para a vida presente e para
a vida futura. Com a sua suavidade, ela dá sabor a todas as
virtudes, com a sua força vence os vícios, suaviza as adver
sidades e dispõe os acontecimentos favoráveis, de tal forma
que entre os mortais não possa existir nada de agradável
sem um amigo. Um homem que não tem um amigo com o
qual se alegrar nas horas alegres e chorar nas horas tristes,
com o qual possa desabafar o que pesa no coração, ao qual
comunicar as ideias sublimes e iluminadas que porventura
brilham na sua mente, pode comparar-se a um animal. Ai daquele que é só: se ele cai, não há ninguém que o possa
levantar (Eclo 4,10). E é verdadeiramente só quem não
tem um amigo.
Porém, que felicidade, que segurança, que alegria poder
falar com alguém como a ti mesmo: para o qual não tenhas
medo de confessar as tuas eventuais falhas; para quem não
tenhas vergonha de revelar os teus possíveis progressos na
vida espiritual; a quem podes confiar todos os segredos do
teu coração e confiar os teus projetos! O que há de mais
agradável do que poder unir-se assim, de coração e, de dois,
fazer uma só coisa, sem medo de vanglória, sem desconfiança? Sem que um se lamente de ser corrigido pelo outro,
nem deva ser levado em conta ou julgar adulação o seu
elogio. Um amigo fiel, diz o sábio, é um bálsamo de vida (Eclo 6,16). Muito bem falado! De fato, não existe remédio
mais indicado, mais eficaz ou mais bem qualificado para as
nossas feridas em todas as circunstâncias terrenas que ter
uma pessoa, a qual saiba vir ao nosso encontro, sofrendo
junto conosco em todas as desgraças e alegrando-se conosco
em todos os nossos sucessos; de modo que unindo as forças
ombro a ombro carreguem os pesos um do outro (Gl 6,2),
como disse o Apóstolo; a não ser que cada um ache mais
leve o erro cometido contra si do que aquele recebido pelo
amigo.
Portanto, a amizade torna mais belos os acontecimentos
agradáveis e torna mais leve os adversos, compartilhando-
os. Verdadeiramente, “um amigo é um excelente bálsamo de
vida”. De fato, como pensavam também os pagãos, nós nos
servimos muito mais frequentemente de um amigo do que
da água e do fogo. Em toda a ação, em todo o compromisso,
na segurança e na incerteza, em qualquer circunstância ou
condição, em segredo ou em público, em cada decisão, em
casa ou fora de casa, onde quer que estejamos, a amizade
se mostra agradável, o amigo necessário, o acordo mútuo,
útil.
E, sobretudo, a amizade é como um degrau que nos
aproxima da perfeição, a qual consiste no amor e no conhecimento de Deus: assim o homem, de amigo do homem,
torna-se amigo de Deus, conforme nos diz o Salvador no
Evangelho: Não mais vos chamo servos, mas amigos (Jo
15,15)
Responsório
1Jo 3,11; Gl 5,14
R. Esta é a mensagem que ouvistes desde o princípio:
* Que nos amemos uns aos outros.
V. Toda a Lei de fato encontra a sua plenitude em um único
preceito:
* Que nos.
Oração
Ó Deus eterno e todo-poderoso, que nos concedeis no vosso imenso amor de Pai mais do que merecemos e pedimos, derramai sobre nós a vossa misericórdia, perdoando o que nos pesa na consciência e dando-nos mais do que ousamos pedir. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.