Ofício das Leituras

V. Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R. Socorrei-me sem demora.
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
Esta introdução se omite quando o Invitatório precede imediatamente ao Ofício das Leituras.

Hino
Agora é tempo favorável,
divino dom da Providência,
para curar o mundo enfermo
com um remédio, a penitência.

Da salvação refulge o dia,
na luz de Cristo a fulgurar.
O coração, que o mal feriu,
a abstinência vem curar.

Em corpo e alma, a abstinência,
Deus, ajudai-nos a guardar.
Por tal passagem, poderemos
à páscoa eterna, enfim, chegar.

Todo o Universo vos adore,
Trindade Santa, Sumo Bem.
Novos por graça entoaremos
um canto novo a vós. Amém.

Salmodia

Ant.1
Eu vos amo, ó Senhor! Sois minha força! †

Salmo 17(18),2-30

Ação de graças pela salvação e pela vitória
Na mesma hora aconteceu um grande terremoto (Ap 11,13).

I
2 Eu vos amo, ó Senhor! Sois minha força, *
3† minha rocha, meu refúgio e Salvador!
= Ó meu Deus, sois o rochedo que me abriga, †
Minha força e poderosa salvação, *
sois meu escudo e proteção: em vós espero!

4 Invocarei o meu Senhor: a ele a glória! *
e dos meus perseguidores serei salvo!
5 Ondas da morte me envolveram totalmente, *
e as torrentes da maldade me aterraram;
6 os laços do abismo me amarraram *
e a própria morte me prendeu em suas redes.

7 Ao Senhor eu invoquei na minha angústia *
e elevei o meu clamor para o meu Deus;
– de seu Templo ele escutou a minha voz, *
e chegou a seus ouvidos o meu grito.

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant.
Eu vos amo, ó Senhor! Sois minha força!

Ant.2 O Senhor me libertou, porque me ama.

II
=8 A terra toda estremeceu e se abalou, †
os fundamentos das montanhas vacilaram *
e se agitaram, porque Deus estava irado.
=9 De seu nariz, fumaça em nuvens se elevou, †
da boca saiu fogo abrasador, *
dos seus lábios, carvões incandescentes.

10 Os céus ele abaixou e então desceu *
pousando em nuvens pretas os seus pés.
11 Um querubim o conduzia no seu vôo, *
sobre as asas do vento ele pairava.

12 Das trevas fez um véu para envolver-se, *
escondeu-se em densas nuvens e água escura.
13 No clarão que procedia de seu rosto, *
carvões incandescentes se acendiam.

14 Trovejou dos altos céus o Senhor Deus, *
o Altíssimo fez ouvir a sua voz;
15 e, lançando as suas flechas, dissipou-os, *
dispersou-os com seus raios fulgurantes.

16 Até o fundo do oceano apareceu, *
e os fundamentos do universo foram vistos,
– ante as vossas ameaças, ó Senhor,*
e ao sopro abrasador de vossa ira.

17 Lá do alto ele estendeu a sua mão *
e das águas mais profundas retirou-me;
18 libertou-me do inimigo poderoso *
e de rivais muito mais fortes do que eu.

19 Assaltaram-me no dia da aflição, *
mas o Senhor foi para mim um protetor;
20 colocou-me num lugar bem espaçoso: *
o Senhor me libertou, porque me ama.

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant.
O Senhor me libertou, porque me ama.

Ant. 3
Ó Senhor, fazei brilhar a minha lâmpada!
Ó meu Deus, iluminai as minhas trevas!

III
21 O Senhor recompensou minha justiça *
e a pureza que encontrou em minhas mãos,
22 pois nos caminhos do Senhor eu caminhei, *
e de meu Deus não me afastei por minhas culpas.

23 Tive sempre à minha frente os seus preceitos, *
e de mim não afastei sua justiça.
24 Diante dele tenho sido sempre reto *
e conservei-me bem distante do pecado.
25 O Senhor recompensou minha justiça *
e a pureza que encontrou em minhas mãos.

26 Ó Senhor, vós sois fiel com o fiel, *
sois correto com o homem que é correto;
27 sois sincero com aquele que é sincero, *
mas arguto com o homem astucioso.
28 Pois salvais, ó Senhor Deus, o povo humilde, *
mas os olhos dos soberbos humilhais.

29 Ó Senhor, fazeis brilhar a minha lâmpada; *
ó meu Deus, iluminais as minhas trevas.
30 Junto convosco eu enfrento os inimigos, *
com vossa ajuda eu transponho altas muralhas.

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant.
Ó Senhor, fazei brilhar a minha lâmpada!
Ó meu Deus, iluminai as minhas trevas!

V. Quem medita a Lei de Deus

R. Dará frutos a seu tempo.

Primeira leitura
Do Livro dos Números 16,1-11.16-24.28-35

Rebelião de Coré, Datã e Abiram
Naqueles dias, Coré, filho de Isaar, filho de Caat, filho de Levi, Datã e Abiram, filhos de Eliab, e On, filho de Felet (Eliab e Felet eram filhos de Rúben), encheram-se de orgulho; levantaram-se contra Moisés, juntamente com duzentos e cinquenta israelitas, príncipes da comunidade, respeitados nas solenidades, homens de renome. Ajuntaram- se, pois, contra Moisés e Aarão, dizendo-lhes: “Basta! Toda a comunidade e todos os seus membros são consagrados, e o Senhor está no meio deles. Por que, então, vos exaltais acima da assembleia do Senhor?”
Moisés, ouvindo isso, prostrou-se com a face em terra. Depois disse a Coré e a todo o seu grupo: “Amanhã cedo o Senhor fará conhecer quem é dele e qual é o homem consagrado que ele permitirá aproximar-se dele. Aquele que ele fizer aproximar-se dele, esse é aquele que ele escolheu. Fazei, pois, isto: tomai os incensórios de Coré e de todo o seu grupo, ponde neles fogo e, amanhã, deitai sobre o fogo o incenso, diante do Senhor. Aquele que o Senhor escolher, esse é o homem que lhe é consagrado. Isto vos é suficiente, filhos de Levi!”
Moisés disse a Coré: “Ouvi, agora, filhos de Levi! Acaso é muito pouco para vós que o Deus de Israel vos haja separado da comunidade de Israel, trazendo-vos para perto dele, a fim de fazerdes o serviço da Habitação do Senhor, colocando-vos diante desta comunidade para ministrardes em seu favor? Ele te chamou para perto dele, tu e contigo todos os teus irmãos, os levitas, e além disso ambicionais o sacerdócio! Vós conspirastes contra o Senhor, tu e teu grupo: quem é Aarão, para que murmureis contra ele?”
Moisés disse a Coré: “Tu e toda a tua comunidade vinde amanhã, a fim de vos colocardes diante do Senhor, tu e eles e também Aarão. Cada um tome o seu incensório, ponha nele o incenso e traga cada um o seu incensório perante o Senhor - duzentos e cinquenta incensórios. Tu e Aarão, igualmente, tome cada um o seu incensório.” Cada um tomou o seu incensório, pôs fogo nele e depositou o incenso em cima. Em seguida puseram-se à porta da Tenda da Reunião, com Moisés e Aarão. Coré reuniu diante desses últimos toda a comunidade, na entrada da Tenda da Reunião, e a glória do Senhor mostrou-se a toda a comunidade.
O Senhor falou a Moisés e a Aarão. Disse-lhes: “Apartai-vos desta comunidade, pois vou destruí-la em um momento.” Eles, porém, prostraram-se com a face em terra e clamaram: “Ó Deus, Deus dos espíritos que vivificam toda carne, irritar-te-ias contra toda a comunidade quando um só pecou?” O Senhor falou a Moisés e disse: “Fala a esta comunidade e dize-lhe: Afastai-vos da habitação de Coré.”
Disse Moisés: “Nisto conhecereis que foi o Senhor que me enviou para realizar todos estes feitos e que não os fiz por mim mesmo: se estas pessoas morrerem de morte natural, atingidas pela sentença comum a todos os homens, então não foi o Senhor que me enviou. Mas se o Senhor fizer alguma coisa estranha, se a terra abrir a sua boca e os engolir, a eles e tudo aquilo que lhes pertence, e se descerem vivos ao Xeol, sabereis que estas pessoas desprezaram ao Senhor.”
E aconteceu que, acabando de pronunciar todas essas palavras, o solo se fendeu sob os seus pés, a terra abriu a sua boca e os engoliu, a eles e suas famílias, bem como todos os homens de Coré e todos os seus bens. Desceram vivos ao Xeol, eles e tudo aquilo que lhes pertencia. A terra os recobriu e desapareceram do meio da assembleia. A seus gritos, fugiram todos os israelitas que se encontravam ao redor deles. E diziam: “Que a terra não engula a nós também!”
Saiu fogo da parte do Senhor e consumiu os duzentos e cinquenta homens que ofereciam o incenso.

Responsório Hb 10,31;Tg 4,6.10
R. É terrível cair nas mãos do Deus vivo!
*
Por isso, a Escritura diz: Deus resiste aos soberbos,
mas concede a graça aos humildes.
V.
Humilhai-vos diante do Senhor, e ele vos exaltará.
*
Por isso.

Segunda leitura

Dos Livros sobre a adoração em espírito e em verdade, de São Cirilo de Alexandria, bispo
(Lib. 9: PG 68,587-589)
(Séc. IV)


Devemos adorar em espírito e verdade
São grandiosas as manifestações da caridade, tanto para com Deus como para com o próximo. No cumprimento desses dois preceitos consiste a Lei. Quem houver chegado a este grau de perfeição, será ilustre e digno de admiração, sendo contado entre os fiéis servos de Deus, quando Cristo, em alta voz, disser: Servo bom e fiel! Como te mostraste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da alegria do teu Senhor! (Mt 25,21).
Pois ele entrará livremente naquela Jerusalém celeste para habitar as celestiais mansões, gozando dos bens que superam toda compreensão e todo pedido. Coisa semelhante anuncia também o profeta Isaías: Teus olhos verão Jerusalém, uma pátria segura, uma tenda que não será de modo algum removida, cujas estacas jamais serão arrancadas, e de cujas amarras jamais alguma se romperá (Is 33,20). Pois, como dizem as Escrituras, a figura deste mundo passa (1Cor 7,31), mas é firmíssima a esperança dos bens futuros, e de modo algum pode ser abalada.
Quando tudo aquilo for dissolvido, como deveremos nos apresentar para sermos santos e puros aos olhos do Senhor? Devemos oferecer-lhe sacrifícios espirituais, adorando-o como Salvador e Redentor, levando uma vida santa e digna, de acordo com as leis evangélicas. Este modo de viver, tão venerável e digno de admiração, já era prefigurado pela antiga Lei. Ela determinava aos homens de outrora imolar animais e consagrar a Deus os dízimos, primícias e outras dádivas, dando graças pelos benefícios dele recebidos. E tudo isso - estabeleceu a Lei - deve ser feito no Tabernáculo sagrado.
A Lei também consagrou a Deus uma tribo especial, a dos levitas, estabelecendo assim uma figura que se refere a nós, pois, nas divinas Escrituras somos igualmente chamados a gente escolhida, o sacerdócio régio, a nação santa, o povo que ele conquistou (1Pd 2,9). Nós também entramos num tabernáculo mais verdadeiro, feito por Deus, e não pelo homem, isto é, a Igreja; e não nos reconciliamos com o Criador de todas as coisas por meio de animais, mas, enquanto ornados com fé pura e sincera, oferecemos oblações espirituais, com entendimento mais sublime, para exalarmos suave odor. Pois estes são os sacrifícios que agradam a Deus (Hb 13,16); e os que o adoram devem adorá-lo em espírito e em verdade (Jo 4,24), como disse nosso Salvador.

Responsório Jo 4,23-24
R. Os verdadeiros adoradores
adorarão o Pai em espírito e em verdade.
*
Estes são os adoradores que o Pai procura.
V. Deus é espírito, e os que o adoram
devem adorá-lo em espírito e em verdade.
*
Estes são.

Oração
Ó Deus de misericórdia, iluminai nossos corações purificados pela penitência. E ouvi com paternal bondade aqueles a quem dais o afeto filial. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora

V. Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.