Ofício das Leituras

V. Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R. Socorrei-me sem demora.
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.Aleluia.
Esta introdução se omite quando o Invitatório precede imediatamente ao Ofício das Leituras.

Hino

Exulte o céu do alto,
aplaudam terra e mar;
o Cristo, ressurgindo,
a vida vem nos dar.

 O tempo favorável
à terra já voltou;
felizes, contemplamos
o dia salvador,

no qual o mundo, salvo
no sangue do Cordeiro,
já brilha em meio às trevas
com brilho verdadeiro.

 A morte mata a morte,
da culpa nos redime;
a força do vencido,
vencendo, apaga o crime.

 É esta a nossa espera,
é este o nosso gozo:
também ressurgiremos,
com Cristo glorioso.

 Por isso, celebremos
a Páscoa do Cordeiro,
repletos pela graça
do seu amor primeiro.

 Jesus, sede a alegria
perene dos remidos;
uni na vossa glória
da graça os renascidos.

 Louvor a vós, Jesus,
da morte vencedor,
reinando com o Pai
e o seu eterno Amor.

 Salmodia

Ant.1 Eu vos amo, ó Senhor! Sois minha força! Aleluia.

 Salmo 17(18),2-30

 Ação de graças pela salvação e pela vitória
Na mesma hora aconteceu um grande terremoto (Ap 11,13).

 I

 –2 Eu vos amo, ó Senhor! Sois minha força, *
3 minha rocha, meu refúgio e Salvador!
= Ó meu Deus, sois o rochedo que me abriga, †
Minha força e poderosa salvação, *
sois meu escudo e proteção: em vós espero!

4 Invocarei o meu Senhor: a ele a glória! *
e dos meus perseguidores serei salvo!
5 Ondas da morte me envolveram totalmente, *
e as torrentes da maldade me aterraram;
6 os laços do abismo me amarraram *
e a própria morte me prendeu em suas redes.

 –7 Ao Senhor eu invoquei na minha angústia *
e elevei o meu clamor para o meu Deus;
– de seu Templo ele escutou a minha voz, *
e chegou a seus ouvidos o meu grito.

 – Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Eu vos amo, ó Senhor! Sois minha força! Aleluia.

Ant.2 O Senhor me libertou, porque me ama. Aleluia.

II

 =8 A terra toda estremeceu e se abalou, †
os fundamentos das montanhas vacilaram *
e se agitaram, porque Deus estava irado.
=9 De seu nariz, fumaça em nuvens se elevou, †
da boca saiu fogo abrasador, *
dos seus lábios, carvões incandescentes.

 –10 Os céus ele abaixou e então desceu *
pousando em nuvens pretas os seus pés.
11 Um querubim o conduzia no seu vôo, *
sobre as asas do vento ele pairava. 

 –12 Das trevas fez um véu para envolver-se, *
escondeu-se em densas nuvens e água escura.
13 No clarão que procedia de seu rosto, *
carvões incandescentes se acendiam.

 –14 Trovejou dos altos céus o Senhor Deus, *
o Altíssimo fez ouvir a sua voz;
15 e, lançando as suas flechas, dissipou-os, *
dispersou-os com seus raios fulgurantes.

 –16 Até o fundo do oceano apareceu, *
e os fundamentos do universo foram vistos,
– ante as vossas ameaças, ó Senhor,*
e ao sopro abrasador de vossa ira.

 –17 Lá do alto ele estendeu a sua mão *
e das águas mais profundas retirou-me;
18 libertou-me do inimigo poderoso *
e de rivais muito mais fortes do que eu.

 –19 Assaltaram-me no dia da aflição, *
mas o Senhor foi para mim um protetor;
20 colocou-me num lugar bem espaçoso: *
o Senhor me libertou, porque me ama.

 – Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

 Ant. O Senhor me libertou, porque me ama. Aleluia.

 Ant.3 Ó Senhor, fazei brilhar a minha lâmpada!
Ó meu Deus, iluminai as minhas trevas!
Aleluia.

III

 21 O Senhor recompensou minha justiça *
e a pureza que encontrou em minhas mãos,
22 pois nos caminhos do Senhor eu caminhei, *
e de meu Deus não me afastei por minhas culpas.

 –23 Tive sempre à minha frente os seus preceitos, *
e de mim não afastei sua justiça.
24 Diante dele tenho sido sempre reto *
e conservei-me bem distante do pecado.
25 O Senhor recompensou minha justiça *
e a pureza que encontrou em minhas mãos.

26 Ó Senhor, vós sois fiel com o fiel, *
sois correto com o homem que é correto;
27 sois sincero com aquele que é sincero, *
mas arguto com o homem astucioso.
28 Pois salvais, ó Senhor Deus, o povo humilde, *
mas os olhos dos soberbos humilhais.

 –29 Ó Senhor, fazeis brilhar a minha lâmpada; *
ó meu Deus, iluminais as minhas trevas.
30 Junto convosco eu enfrento os inimigos, *
com vossa ajuda eu transponho altas muralhas.

 – Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

 Ant. Ó Senhor, fazei brilhar a minha lâmpada!
Ó meu Deus, iluminai as minhas trevas!
Aleluia.

 V. Deus, o Pai, ressuscitou a Jesus Cristo
dentre os mortos, aleluia,

R. Para que esteja no Senhor a nossa fé
e esperança. Aleluia.
 

Primeira leitura

Dos Atos dos Apóstolos 18,1-28

Fundação da Igreja de Corinto
Paulo afastou-se de Atenas e foi para Corinto. Lá encontrou um judeu chamado Áquila, natural do Ponto, recém-chegado da Itália com Priscila, sua mulher, em vista de Cláudio ter decretado que todos os judeus se afastassem de Roma. Foi, pois, ter com eles. Como exercesse a mesma atividade artesanal, ficou ali hospedado e trabalhando: eram, de profissão, fabricantes de tendas. Cada sábado, ele discorria na sinagoga, esforçando-se por persuadir judeus e gregos.
Quando, porém, Silas e Timóteo chegaram da Macedônia, Paulo começou a dedicar-se inteiramente à Palavra, atestando aos judeus que Jesus é o Cristo. Contudo, diante da oposição e das blasfêmias deles, Paulo sacudiu suas vestes e disse-lhes: “Vosso sangue recaia sobre a vossa cabeça! Quanto a mim, estou puro, e de agora em diante dirijo-me aos gentios”. Então, retirando-se dali, dirigiu-se à casa de certo Justo, adorador de Deus, cuja casa era contígua à sinagoga. Mas Crispo, o chefe da sinagoga, creu no Senhor com toda a sua casa. Também muitos dos coríntios, ouvindo a Paulo, abraçavam a fé e eram batizados. Uma noite, disse o Senhor a Paulo, em visão: “Não temas. Continua a falar e não te cales. Eu estou contigo, e ninguém porá a mão em ti para fazer-te mal, pois tenho um povo numeroso nesta cidade”. Assim, residiu ali um ano e seis meses, ensinando entre eles a palavra de Deus.
Sendo Galião procônsul da Acaia, os judeus levantaram-se unanimemente contra Paulo e conduziram-no ao tribunal, dizendo: “Este indivíduo procura persuadir os outros a adorar a Deus de maneira contrária à Lei”. Paulo ia abrir a boca, quando Galião retrucou aos judeus: “Se se tratasse de delito ou ato perverso, ó judeus, com razão eu vos atenderia. Mas se são questões de palavra, de nomes, e da vossa própria Lei, tratai vós mesmos disso! Juiz dessas coisas eu não quero ser”. E despediu-os do tribunal. Todos então se apoderaram de Sóstenes, o chefe da sinagoga, e o espancaram diante do tribunal, sem que Galião absolutamente interviesse.
Paulo, porém, permaneceu ali ainda muitos dias. Depois, despediu-se dos irmãos e embarcou para a Síria. Priscila e Áquila o acompanhavam. Ele havia cortado os cabelos em Cencreia, por causa de uma promessa. Chegados a Éfeso, deixou os companheiros ali. Ele próprio dirigiu-se à sinagoga, onde se entreteve com os judeus. Estes lhe pediram que prolongasse a sua estada, mas Paulo não concordou. Despedindo-se deles, porém, disse: “Virei ter convosco novamente, se Deus quiser!” E de Éfeso ganhou o alto-mar.
Tendo desembarcado em Cesareia, subiu para saudar a Igreja descendo depois para Antioquia. Passado algum tempo, partiu de novo e percorreu sucessivamente a região da Galácia e da Frígia, confirmando todos os discípulos.
Um judeu, chamado Apolo, natural de Alexandria, havia chegado a Éfeso. Era homem eloquente e versado nas Escrituras. Fora instruído no caminho do Senhor e, no fervor do espírito, falava e ensinava com exatidão o que se refere a Jesus, embora só conhecesse o batismo de João. Começou, pois, a falar com intrepidez na sinagoga. Tendo-o ouvido, Priscila e Áquila tomaram-no consigo e, com mais exatidão, expuseram-lhe o Caminho.
Como ele quisesse partir para a Acaia, animaram-no os irmãos e escreveram aos discípulos para que o acolhessem. Tendo lá chegado, muito ajudou, por efeito da graça, aos que haviam abraçado a fé. Pois refutava vigorosamente os judeus em público, demonstrando pelas Escrituras que Jesus é o Cristo.

Responsório At 18,9-10;Ex 4,12
R.
Numa visão, o Senhor disse a Paulo:
Não tenhas medo;
*
Continua a falar e não te cales,
porque eu estou contigo, aleluia.
V.
Eu estarei em tua boca,
e te indicarei o que hás de falar.
*
Continua.

 Segunda leitura

Do Tratado “A vida em Cristo”, de Nicolau Cabasilas
(Lib. 4: PG 150,582-583)

Se permanecermos em Cristo, que outra coisa desejaremos?
Depois da unção sagrada, passamos para a santa mesa, que é o fim e a meta da vida sobre a qual estamos tratando. Quando a atingirmos, nada mais nos faltará para a felicidade que tanto desejamos e procuramos. Nessa vida já não haverá morte nem sepulcro; e nela acharemos não apenas uma melhor vida comum, mas aquele mesmo que ressuscitou. Nele não recebemos apenas os dons do Espírito, segundo nossa capacidade, mas o próprio doador, o próprio templo onde está a fonte de todas as graças. Ele está presente em cada um dos mistérios e nele, por assim dizer, somos ungidos e lavados. Melhor, ele mesmo é nossa unção e purificação, e também nossa ceia.
Ele está presente nos que são batizados e comunica-lhes seus dons. Certamente não está do mesmo modo em todos, mas, lavando-os, tira o lodo dos vícios e imprime sua imagem; ungindo-os, torna-os ativos e corajosos nas obras do Espírito, das quais se fez tesouro porque assumiu nossa carne.
Mas, depois de ter conduzido o batizado à mesa, isto é, depois de o alimentar com o dom de seu Corpo, muda-o completamente e transforma-o em si mesmo. Eis a razão pela qual este é o maior dos sacramentos, já que não se pode ir além dele, nem ele pode nos dar algo mais.
O batizado, pois, nos mostra tudo o que deve ao sacramento do Batismo. Mas ele ainda não chegou à perfeição, pois não possui os dons do Espírito Santo, que dependem da sagrada Crisma. O Espírito Santo não desceu sobre aqueles que Filipe batizou apenas por causa do Batismo. Eram necessárias as mãos de Pedro e de João. O Espírito Santo ainda não viera sobre nenhum deles; só tinham recebido o batismo em nome do Senhor Jesus. Pedro e João impuseram-lhes as mãos, e eles receberam o Espírito Santo (At 8,16-17).
A alguns daqueles que estavam cheios do Espírito, que profetizavam, que falavam línguas e que eram ilustres por outros carismas, faltava tanto para serem homens de Deus e inteiramente espirituais, que eram vítimas da inveja, da ambição, da rivalidade e de outros defeitos parecidos. Repreendendo-os, escreve São Paulo: Ainda sois carnais e procedeis de modo meramente humano (1Cor 3,2). Eram espirituais em relação a certa espécie de graças, mas isso não bastava para tirar-lhes da alma toda a maldade. Na Eucaristia tal coisa não pode ocorrer. Ninguém pode acusar assim aqueles nos quais o pão da vida realizou as obras pelas quais se evita a morte, se participaram da mesa sem a consciência de culpa e não cometeram pecado depois da comunhão. Com certeza esse mistério não pode operar plenamente: não pode, digo, libertar os iniciados de qualquer espécie de imperfeição.
Por quê? Porque o mistério opera assim quando os que dele se aproximam possuem todos os requisitos possíveis. A promessa da mesa fez-nos a nós habitar em Cristo, e Cristo habitar em nós. De fato ele prometeu: Permanece em mim e eu nele (Jo 6,56). Se Cristo permanece em nós, o que ainda buscaremos? Se permanecermos em Cristo, que outra coisa desejaremos? Ele habita em nós e ao mesmo tempo é nossa habitação. Quão felizes somos por ele habitar em nós! E quão felizes, outra vez, se temos uma tal morada! De fato, a alma e o corpo, e todas as faculdades imediatamente se espiritualizam, porque nossa alma se une à sua, nosso corpo ao seu e ao seu o nosso sangue. E o que resulta daí? As realidades superiores prevalecem sobre as inferiores, o humano é superado pelo divino e se realiza o que São Paulo escreveu da ressurreição: O que é mortal em nós seja absorvido pela vida (2Cor 5,4). No mais, eu vivo, mas não eu: é Cristo que vive em mim (Gl 2,20).

Responsório Jo 15,5;Gl 2,20
R. Disse Jesus a seus discípulos:
Aquele que permanece em mim, e eu nele, dá muito fruto;
* Pois sem mim, nada podeis fazer, aleluia.
V. Eu vivo, mas não eu: é Cristo que vive em mim.
*
Pois.

Oração

Considerai, ó Deus, com bondade o fervor do vosso povo. E, enquanto mortificamos o corpo, sejamos espiritualmente fortalecidos pelos frutos das boas obras. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora

V. Bendigamos ao Senhor.
R.
Demos graças a Deus.