QUARTA-FEIRA
Ofício das Leituras
Primeira leitura
Do Livro de Jó 32,1-6; 33,1-22
Eliú fala do mistério de Deus
32,1Aqueles três homens não responderam mais a Jó, porque ele
teimava em considerar-se justo. 2Então inflamou-se a ira de
Eliú, filho de Baraquel, de Buz, da família de Ram; indignou-se contra
Jó, porque ele pretendia justificar-se diante de Deus. 3Indignou-se
também contra os três amigos, porque não acharam resposta,
contentando-se em deixar a culpa a Jó. 4Enquanto falavam
com Jó, Eliú esperava, porque eram mais velhos do que ele; 5mas
ao ver que nenhum dos três tinha algo a mais para responder, encheu-se
de indignação. 6Então Eliú, filho de Baraquel, de Buz,
interveio dizendo: "Sou ainda jovem de idade e vós sois idosos; por
isso, intimidado, não me atrevia a expor-vos o meu conhecimento.33,1E
agora, Jó, escuta as minhas palavras, presta atenção ao meu discurso. 2Eis
que abro a boca, em minha boca vai falar a minha língua. 3Meu
coração dirá palavras de conhecimento e meus lábios falarão com
franqueza. 4Foi o espírito de Deus que me fez, e o sopro do
Todo-Poderoso que me animou. 5Contesta-me, se podes;
prepara-te, apresenta-te diante de mim! 6Diante de Deus eu
sou igual a ti, também eu, formado do barro. 7Por isso, o
temor de mim não deverá intimidar-te, nem minha mão pesar sobre ti.
8Disseste em minha presença, ouço ainda o eco de tuas palavras:
9"Sou puro, não tenho culpa; sou inocente, não tenho iniquidade.
10E contudo, ele encontra pretextos contra mim e me considera seu
inimigo; 11coloca meus pés no tronco e vigia todos os meus
passos". 12Não tens razão nisto, eu te digo, porque Deus é
maior do que o homem.13Como te atreves a acusá-lo, ele que
não responde palavra por palavra? 14Deus fala de um modo e
depois de outro modo, e não prestamos atenção. 15Em sonho ou
visão noturna, quando o sono profundo desce sobre os homens adormecidos
em seu leito: 16então lhes abre os ouvidos, e os aterroriza
com aparições, 17para afastar o homem de suas obras más e
livrá-lo do orgulho, 18para impedir sua alma de cair na
sepultura e sua vida de cruzar o canal da morte. 19Ele o
corrige também no leito, com o sofrimento, quando os ossos tremem sem
parar, 20a ponto de detestar o pão e ter repugnância do
alimento; 21sua carne se consome, até desaparecer,
expondo-se os ossos, que antes não se viam; 22sua alma
aproxima-se da sepultura, e sua vida da morada da morte.
Responsório Rm 11,33-34
R. Ó profundidade de tantas riquezas
da sabedoria e ciência de Deus!
* Como são insondáveis os seus julgamentos
e impenetráveis os caminhos de Deus!
V. Quem, pois, conheceu o seu
pensamento?
Ou quem se tornou o seu conselheiro? * Como são.
Segunda leitura
Dos Livros "Moralia" sobre Jó, de São Gregório Magno, papa
(Lib. 23,23-24: PL 76, 265-266)
(Séc. VI)
A verdadeira ciência foge da soberbaOuve, Jó, minhas palavras e escuta tudo o que digo. A
ciência dos arrogantes tem isto de próprio, que eles não sabem
comunicar com humildade o que ensinam e não conseguem apresentar com
simplicidade as coisas boas que sabem. Vê-se bem, pelo modo como
ensinam, que se colocam, por assim dizer, em lugar muito elevado e
olham de cima para os discípulos, postos embaixo, à distância, e não se
dignam examinar juntos a questão mas apenas se impor.
Com razão disse deles o Senhor pelo Profeta: Vós os
governáveis com severidade e tirania. Governam, na verdade, com
severidade e tirania os que não se apressam em corrigir seus súditos,
expondo-lhes serenamente as razões, mas em dobrá-los com aspereza e
predomínio.
Bem ao contrário, a verdadeira ciência foge pelo pensamento,
com tanto maior ímpeto desse vício da soberba, quanto com maior ardor
persegue com as setas de suas palavras o próprio mestre da soberba.
Cuida de não apregoar por suas atitudes o vício que procura extirpar do
coração dos ouvintes, mediante as palavras sagradas. Esforça-se por
mostrar a humildade, que é a mestra e a mãe de todas as virtudes, tanto
com as palavras quanto com a vida. Deste modo procura transmiti-la aos
discípulos da verdade, mais por seu modo de ser do que pelas palavras.
Por isso, Paulo, falando aos tessalonicenses, como que
esquecido das alturas de seu apostolado, disse: Fizemo-nos pequenos
no meio de vós. Também o apóstolo Pedro ao dizer: Preparados
sempre a dar satisfação a quem vos pede explicações sobre a esperança
que tendes, afirma o dever de, na própria ciência da doutrina,
manter a virtude do que ensina, acrescentando: Mas com modéstia e
temor, em boa consciência.
Quando Paulo diz ao discípulo: Ordena e ensina com toda a
autoridade, não fala de um domínio, mas se refere ao dever de
persuadir pela autoridade da vida. Com autoridade se ensina aquilo que
se vive antes de dizê-lo, pois não se tem confiança na doutrina quando
a consciência impede a fala. Por conseguinte, Paulo não lhe sugeriu a
força de palavras soberbas, mas a confiança da vida reta. Sobre o
Senhor está escrito: Ensinava como quem tinha poder, não como os
escribas e fariseus. De modo singular e essencial foi ele o único a
pregar o bem com autoridade, porque nunca cometeu mal algum por
fraqueza. Com efeito, pelo poder da divindade, possuía o que nos
ministrou pela inteireza de sua humanidade.
Responsório 1Pd 5,5b; Mt 11,19b
R. Revesti-vos, todos vós,
de humildade uns para os outros,
* Pois aos soberbos Deus resiste,
mas aos humildes dá sua graça.
V. Aprendei de mim que sou
de coração humilde e manso
e achareis paz e repouso
para os vossos corações. * Pois.
Oração
Ó Deus, cuja providência jamais falha, nós vos suplicamos
humildemente: afastai de nós o que é nocivo, e concedei-nos tudo o que
for útil. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do
Espírito Santo.
Conclusão da Hora
V. Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.