QUINTA-FEIRA DEPOIS DAS CINZAS

Ofício das Leituras

V. Vinde, ó Deus em meu auxílio.
 
R. Socorrei-me sem demora.
 Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
 Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
 

Esta introdução se omite quando o Invitatório precede imediatamente ao Ofício das Leituras.

Hino
 
Agora é tempo favorável,
divino dom da Providência,
para curar o mundo enfermo
com um remédio, a penitência.

 
Da salvação refulge o dia,
na luz de Cristo a fulgurar.
O coração, que o mal feriu,
a abstinência vem curar.
 
Em corpo e alma, a abstinência,
Deus, ajudai-nos a guardar.
Por tal passagem, poderemos
à páscoa eterna, enfim, chegar.
 
Todo o Universo vos adore,
Trindade Santa, Sumo Bem.
Novos por graça entoaremos
um canto novo a vós. Amém.
 
Salmodia
 
Ant. 1 Foi vossa mão e a luz de vossa face,
que no passado salvaram nossos pais.
 
Salmo 43(44)
 
Calamidades do povo
Em tudo isso, somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou (Rm 8,37).
 
I
2 Ó Deus, nossos ouvidos escutaram, *
e contaram para nós, os nossos pais,
 – as obras que operastes em seus dias, *
em seus dias e nos tempos de outrora:
 
=3 Expulsastes as nações com vossa mão, †
e plantastes nossos pais em seu lugar; *
para aumentá-los, abatestes outros povos.
 –4 Não conquistaram essa terra pela espada, *
nem foi seu braço que lhes deu a salvação;
 
– foi, porém, a vossa mão e vosso braço *
e o esplendor de vossa face e o vosso amor.
 –5 Sois vós, o meu Senhor e o meu Rei, *
que destes as vitórias a Jacó;
6 com vossa ajuda é que vencemos o inimigo, *
por vosso nome é que pisamos o agressor.
 
7 Eu não pus a confiança no meu arco, *
a minha espada não me pôde libertar;
8 mas fostes vós que nos livrastes do inimigo, *
e cobristes de vergonha o opressor.
 –9 Em vós, ó Deus, nos gloriamos todo dia, *
celebrando o vosso nome sem cessar.

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

 
Ant. Foi vossa mão e a luz de vossa face,
que no passado salvaram nossos pais.
 
Ant. 2 O Senhor não afasta de vós a sua face,
se a ele voltardes de todo coração.
 
II
 –10 Porém, agora nos deixastes e humilhastes, *
já não saís com nossas tropas para a guerra!
 –11 Vós nos fizestes recuar ante o inimigo, *
os adversários nos pilharam à vontade.
 
12 Como ovelhas nos levastes para o corte, *
e no meio das nações nos dispersastes.
13 Vendestes vosso povo a preço baixo, *
e não lucrastes muita coisa com a venda!
 
14 De nós fizestes o escárnio dos vizinhos, *
zombaria e gozação dos que nos cercam;
15 para os pagãos somos motivo de anedotas, *
zombam de nós a sacudir sua cabeça.
 
16 À minha frente trago sempre esta desonra, *
e a vergonha se espalha no meu rosto,
 –17 ante os gritos de insultos e blasfêmias *
do inimigo sequioso de vingança.
 
– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

 
Ant. O Senhor não afasta de vós a sua face,
se a ele voltardes de todo coração.
 
Ant. 3 Levantai-vos, ó Senhor,
não nos deixeis eternamente!
 
III
 –18 E tudo isso, sem vos termos esquecido *
e sem termos violado a Aliança;
19 sem que o nosso coração voltasse atrás, *
nem se afastassem nossos pés de vossa estrada!
 –20 Mas à cova dos chacais nos entregastes *
e com trevas pavorosas nos cobristes!
 
21 Se tivéssemos esquecido o nosso Deus *
e estendido nossas mãos a um Deus estranho,
 –22 Deus não teria, por acaso, percebido, *
ele que vê o interior dos corações?
 –23 Por vossa causa nos massacram cada dia *
e nos levam como ovelha ao matadouro!
 
24 Levantai-vos, ó Senhor, por que dormis? *
Despertai! Não nos deixeis eternamente!
 –25 Por que nos escondeis a vossa face *
e esqueceis nossa opressão, nossa miséria?
 
26 Pois arrasada até o pó está noss’alma *
e ao chão está colado o nosso ventre.
 – Levantai-vos, vinde logo em nosso auxílio, *
libertai-nos pela vossa compaixão!
 
Ant. Levantai-vos, ó Senhor, não nos deixeis eternamente!
 
V. Quem medita a Lei de Deus
R. Dará frutos a seu tempo.

Primeira leitura
Inicio do Livro do Êxodo 1, 1-22

Opressão de Israel no Egito
Eis os nomes dos israelitas que entraram no Egito com Jacó; cada qual entrou com sua família: Rúben, Simeão, Levi e Judá, Issacar, Zabulon e Benjamim, Dã e Neftali, Gad e Aser. Os descendentes de Jacó eram, ao todo, setenta pessoas. José porém, já estava no Egito. Depois José morreu, bem como todos os seus irmãos e toda aquela geração. Os israelitas foram fecundos e se multiplicaram; tornaram-se cada vez mais numerosos e poderosos, a tal ponto que o país ficou repleto deles.
Chegou ao poder sobre o Egito um novo rei, que não conhecia José. Ele disse à sua gente: “Eis que o povo dos israelitas tornou-se mais numeroso e mais poderoso do que nós. Vinde, tomemos sábias medidas para impedir que ele cresça; pois do contrário, em caso de guerra, aumentará o número dos nossos adversários e combaterá contra nós, para depois sair do país.” Portanto impuseram a Israel inspetores de obras para tornar-lhe dura a vida com os trabalhos que lhe exigiam. Foi assim que ele construiu para Faraó as cidades-armazéns de Pitom e de Ramsés. Mas, quanto mais os oprimiam, tanto mais se multiplicavam e cresciam, o que fez temer os israelitas. Os egípcios obrigavam os israelitas ao trabalho, e tornavam-lhes amarga a vida com duros trabalhos: a preparação da argila, a fabricação de tijolos, vários trabalhos nos campos, e toda espécie de trabalhos aos quais os obrigavam.
O rei do Egito disse às parteiras dos hebreus, das quais uma se chamava Sefra e a outra Fua: “Quando ajudardes as hebreias a darem à luz, observai as duas pedras. Se for menino, matai-o. Se for menina, deixai-a viver.” As parteiras, porém, temeram a Deus e não fizeram o que o rei do Egito lhes havia ordenado, e deixaram os meninos viverem. Assim, pois, o rei do Egito chamou as parteiras e lhes disse: “Por que agistes desse modo, e deixastes os meninos viverem?” Elas responderam ao Faraó: “As mulheres dos hebreus não são como as egípcias. São cheias de vida e, antes que as parteiras cheguem, já deram à luz.” Por isso Deus favoreceu essas parteiras; e o povo tornou-se muito numeroso e muito poderoso. E porque as parteiras temeram a Deus, ele lhes deu uma posteridade. Então, Faraó ordenou a todo o seu povo: “Jogai no rio todo menino que nascer. Mas, deixai viver as meninas.”

Responsório
Gn 15,13-14;Is 49,26
R. Deus predisse a Abraão:
Eis que a tua descendência viverá em terra estranha
como povo peregrino e será, por quatro séculos,
escravizada e oprimida;
*
Eu, porém, hei de julgar a quem eles servirão.
V.
Eu sou o Senhor teu Salvador e teu Libertador,
o Forte de Israel. * Eu, porém.

Segunda leitura
Dos Sermões de São Leão Magno, papa
(Sermo 6 de Quadragesima, 1-2: PL 54,285-287)
(Séc. V)

A purificação espiritual por meio do jejum e da misericórdia
Em todo tempo, amados filhos, a terra está repleta da misericórdia do Senhor (Sl 32,5). A própria natureza é para todo fiel uma lição que o ensina a louvar a Deus, pois o céu, a terra, o mar e tudo o que neles existe proclamam a bondade e a onipotência de seu Criador; e a admirável beleza dos elementos postos a nosso serviço requer da criatura racional uma justa ação de graças.
O retorno, porém, desses dias que os mistérios da salvação humana marcaram de modo mais especial e que precedem imediatamente a festa da Páscoa exige que nos preparemos com maior cuidado por meio de uma purificação espiritual.
Na verdade, é próprio da solenidade pascal que a Igreja inteira se alegre com o perdão dos pecados. Não é apenas nos que renascem pelo santo batismo que ele se realiza, mas também naqueles que, desde há muito, são contados entre os filhos adotivos.
É, sem dúvida, o banho da regeneração que nos torna criaturas novas; mas todos têm necessidade de se renovar a cada dia para evitarmos a ferrugem inerente à nossa con dição mortal, e não há ninguém que não deva se esforçar para progredir no caminho da perfeição; por isso, todos, sem exceção, devemos empenhar-nos para que, no dia da redenção, pessoa alguma seja ainda encontrada nos vícios do passado.
Por conseguinte, amados filhos, aquilo que cada cristão deve praticar em todo tempo, deve praticá-lo agora com maior zelo e piedade, para cumprir a prescrição que remonta aos apóstolos de jejuar quarenta dias, não somente reduzindo os alimentos, mas sobretudo abstendo-se do pecado.
A estes santos e razoáveis jejuns, nada virá juntar-se com maior proveito do que as esmolas. Sob o nome de obras de misericórdia, incluem-se muitas e louváveis ações de bondade; graças a elas, todos os fiéis podem manifestar igualmente os seus sentimentos, por mais diversos que sejam os recursos de cada um.
Se verdadeiramente amamos a Deus e ao próximo, nenhum obstáculo impedirá nossa boa vontade. Quando os anjos cantaram: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade (Lc 2,14), proclamavam bem-aventurado, não só pela virtude da benevolência, mas também pelo dom da paz, todo aquele que, por amor, se compadece do sofrimento alheio.
São inúmeras as obras de misericórdia, o que permite aos verdadeiros cristãos tomar parte na distribuição de esmolas, sejam eles ricos, possuidores de grandes bens, ou pobres, sem muitos recursos. Apesar de nem todos poderem ser iguais na possibilidade de dar, todos podem sê-lo na boa vontade que manifestam.

Responsório Cf. 2Cor 6,4
R. Esse tempo de santo jejum a porta do céu nos abriu;
acolhamos o dom do Senhor em contínua oração, suplicando:
* que, no dia da Ressurreição, estejamos com ele na glória.

V.
Mostremo-nos servos de Deus
no pensar, no falar, no agir. * Que, no dia.

Oração
Inspirai, ó Deus, as nossas ações, e ajudai-nos a realizá-las, para que em vós comece e termine tudo aquilo que fizermos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora
V. Bendigamos ao Senhor.
R. Demos graças a Deus.