8a SEMANA DO TEMPO COMUM

IV Semana do Saltério

QUARTA-FEIRA

Ofício das Leituras

Primeira leitura
Do Livro de Jó 7,1-21

O tédio da vida leva Jó a recorrer a Deus
Em resposta, disse Jó: 1"Não é acaso uma luta a vida do homem sobre a terra? Seus dias não são como dias de um mercenário? 2Como um escravo suspira pela sombra, como um assalariado aguarda sua paga,3assim tive por ganho meses de decepção, e couberam-me noites de sofrimento. 4Se me deito, penso: Quando poderei levantar-me? E, ao amanhecer, espero novamente a tarde e me encho de sofrimentos até ao anoitecer. 5Meu corpo cobre-se de vermes e crostas, a pele rompe-se e supura. 6Meus dias correm mais rápido do que a lançadeira do tear e se consomem sem esperança. 7Lembra-te de que minha vida é apenas um sopro e meus olhos não voltarão a ver a felicidade! 8Os olhos de quem me via, já não me verão; teus olhos pousarão sobre mim e deixarei de existir. 9Como a nuvem passa e desaparece, assim quem desce à mansão dos mortos jamais subirá daí,10não voltará à sua casa, sua morada não mais o verá. 11Por isso, não vou controlar minha língua; vou falar com espírito angustiado e queixar-me com a alma amargurada.12Por acaso, eu sou monstro marinho ou dragão, para que me cerques com guardas? 13Se eu disser: Meu leito me consolará e minha cama suportará comigo o sofrimento, 14então me assustas com sonhos, e me aterrorizas com pesadelos. 15Preferiria morrer sufocado. Antes a morte que meus tormentos.16Basta! Não quero viver eternamente; deixa-me, pois meus dias são apenas um sopro! 17Que é o homem, para que faças tanto caso dele, lhe dês tanta atenção, 18o vigies cada manhã e o proves a cada momento? 19Há quanto tempo já não afastas de mim o olhar e não me deixas nem engolir a saliva? 20Se pequei, que mal te fiz com isso, sentinela dos homens? Por que me tomas por alvo, e cheguei a ser um peso para mim? 21Por que não perdoas a minha falta e não absolves a minha culpa? Eu vou deitar-me no pó; tu me procurarás e eu já não existirei.

Responsório Jó 7,5.7a.6

R. Podridão e poeira cobriram minha carne,
minha pele secou, rachou e enrugou.
* Lembrai-vos, Senhor, minha vida é um sopro.
V. Meus dias se passam
com mais rapidez do que a lançadeira;
se vão desfazendo sem uma esperança.
* Lembrai-vos.

Segunda leitura
Dos Livros das Confissões, de Santo Agostinho, bispo

(Lib. 10,26.37–29,40; CCL 27,174-176)
(Séc. V)

Em tua imensa misericórdia, toda a minha esperança
Onde te encontrei, Senhor, para te conhecer? Não estavas certamente em minha memória antes que eu te conhecesse. Onde então te encontrei para te conhecer, a não ser em ti, acima de mim? Não é propriamente um lugar. Afastamo-nos, aproximamo-nos e não é um lugar. Em toda parte, ó Verdade, presides a todos que vêm com diferentes consultas. Com clareza respondes, porém, nem todos ouvem com clareza. Todos perguntam o que querem e nem sempre ouvem o que querem. Ótimo servo teu é quem não espera ouvir de ti o que desejaria, mas antes quer aquilo que de ti ouve.

Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Estavas dentro e eu fora te procurava. Precipitava-me eu disforme, sobre as coisas formosas que fizeste. Estavas comigo, contigo eu não estava. As criaturas retinham-me longe de ti, aquelas que não existiriam se não estivessem em ti. Chamaste e gritaste e rompeste a minha surdez. Cintilaste, resplandeceste e afugentaste minha cegueira. Exalaste perfume, aspirei-o e anseio por ti. Provei, tenho fome e tenho sede. Tocaste-me e abrasei-me no desejo de tua paz.

Quando me uno a ti com todo o meu ser, não há em mim dor nem fadiga. Viva será minha vida, toda repleta de ti. Agora ergues o que de ti está repleto. Como ainda não estou pleno de ti, sou um peso para mim. Lutam minhas lamentáveis alegrias com as tristezas deleitáveis. De que lado estará a vitória, não sei.

Ai de mim, Senhor! tem piedade de mim. Lutam minhas más tristezas com as boas alegrias e não sei quem vencerá. Ai de mim, Senhor! Tem piedade de mim! Ai de mim! Bem vês que não escondo minhas chagas. És o médico; eu, o doente. És misericordioso; eu, o miserável.

Não é verdade que a vida humana na terra é uma tentação? Quem deseja pesares e dificuldades? Ordenas tolerá-los, não amá-los. Ninguém ama aquilo que tolera, mesmo se gosta de tolerar. Embora alegre-se por tolerar, prefere não ter que tolerá-lo. Na adversidade desejo a felicidade; na felicidade temo a adversidade. Que meio termo haverá onde a vida humana não seja uma tentação? Ai da felicidade do mundo, uma e duas vezes, pelo temor da adversidade e pela caducidade da alegria! Ai das adversidades do mundo, pelo desejo da felicidade! A adversidade é dura e faz naufragar a tolerância. Não é verdade que é uma tentação a vida humana sobre a terra? Em tua imensa misericórdia ponho toda a minha esperança.

Responsório Lc 19,10

R. Muito tarde vos amei, ó Beleza sempre antiga,
ó Beleza sempre nova, muito tarde vos amei!
* Vós chamastes e gritastes e rompestes-me a surdez.
V. Veio o Filho do Homem buscar
e salvar o que estava perdido. * Vós chamastes.

Oração

Fazei, ó Deus, que os acontecimentos deste mundo decorram na paz que desejais, e vossa Igreja vos possa servir, alegre e tranquila. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora

V. Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.