SÁBADOOfício das LeiturasPrimeira leitura
Do Livro de Judite
13,4-20
Morte de Holofernes e ação de graças
4Saíram todos da presença de Holofernes, do menor
ao maior, e ninguém foi deixado no quarto. Judite, de pé
junto ao leito dele, disse em seu coração: “Senhor Deus de
toda força, neste momento, volta o teu olhar para a obra de
minhas mãos, em favor da exaltação de Jerusalém. 5Agora
é o tempo de retomares tua herança e de realizares o meu
plano, para ferires os inimigos que se levantaram contra
nós.”
6Avançando então para o balaústre do leito, que estava
próximo à cabeça de Holofernes, tirou seu alfanje; 7em
seguida, aproximando-se do leito, pegou a cabeleira de sua
cabeça e disse: “Faze-me forte neste dia, Senhor Deus de
Israel.” 8Golpeou por duas vezes o seu pescoço, com toda
a força, e separou sua cabeça. 9Rolou o seu corpo do leito
e tirou o mosquiteiro das colunas. Pouco depois, saiu e deu
a cabeça de Holofernes à sua serva, 10que a jogou no alforje
de alimento. As duas saíram juntas, como de costume, para
a oração. Atravessando o acampamento, rodearam a escarpa,
subiram a encosta de Betúlia e chegaram às suas portas.
11De longe, Judite gritou para os que guardavam as
portas: “Abri, abri a porta! O Senhor nosso Deus ainda está
conosco para realizar proezas em Israel e exercer seu poder
contra os inimigos, como fez hoje.” 12Quando os homens
da cidade ouviram a sua voz, apressaram-se em descer à
porta de sua cidade e chamaram os anciãos. 13Todos se
reuniram, do maior ao menor deles, pois sua volta era-lhes
inesperada. Abriram a porta e receberam-nas. Acendendo
fogo para clarear, rodearam-nas. 14Disse-lhes Judite com
voz forte: “Louvai a Deus. Louvai-o. Louvai a Deus que
não afastou sua misericórdia da casa de Israel, mas que,
nesta noite, quebrou nossos inimigos pela minha mão.”
15Tirando a cabeça do alforje, mostrou-a e disse-lhes: “Eis
a cabeça de Holofernes, general do exército da Assíria. Eis
o mosquiteiro sob o qual se deitava em sua embriaguez. O
Senhor o feriu pela mão de uma mulher. 16Viva o Senhor que
me guardou no caminho por onde andei, pois o meu rosto
o seduziu, para sua perdição; mas não fez comigo pecado
algum para minha vergonha e desonra.” 17Todo o povo ficou
extasiado e, inclinando-se, adorou a Deus, dizendo a uma
só voz: “Bendito sejas, ó nosso Deus, que hoje aniquilaste
os inimigos de teu povo!” 18Ozias, então, disse a Judite:
“Bendita sejas, filha” pelo Deus Altíssimo,
mais que todas as mulheres da terra,
e bendito seja o Senhor Deus, Criador do céu e da terra,
que te conduziu para cortar a cabeça
do chefe dos nossos inimigos.
19Jamais tua confiança se afastará do coração dos homens,
que recordarão para sempre o poder de Deus.
20Faça Deus com que sejas exaltada para sempre,
que te visite com seus bens,
pois que não poupaste tua vida
por causa da humilhação de nossa raça,
mas vieste em socorro de nosso abatimento,
caminhando, retamente, diante de nosso Deus.”
Todo o povo respondeu: “Amém! Amém!”
Responsório
Cf. Jd 13,22.25.24
R. Bendita sejas, filha, pelo Deus Altíssimo,
que te conduziu para aniquilar os nossos inimigos.
* Que sejas exaltada para sempre.
V. Bendito seja o Senhor, Criador do céu e da terra.
* Que sejas.
Segunda leitura
Do tratado “sobre a oração”, de Orígenes, presbítero
(Nn. 9-10)
(Séc. III)
A oração pura
Vamos provar pelas divinas Escrituras o que acima foi
dito, do seguinte modo:
Deve o orante levantar mãos puras (cf. 1Tm 2,8), perdoando todas as injúrias recebidas, removendo da sua alma
a paixão da cólera, e não guardando rancor contra ninguém.
Ao mesmo tempo, a fim de que o espírito não fique ocupado por pensamentos estranhos durante o tempo da oração,
é preciso então esquecer tudo aquilo que seja alheio à prece. Esse estado, como não há de ser felicíssimo? É o que
ensina Paulo em sua Primeira Carta a Timóteo: “Quero, pois, que os homens orem em todo lugar, levantando mãos
puras, sem cólera nem discussões” (1Tm 2,8).
Os olhos do espírito se levantam quando não se fixam
nas coisas terrenas nem se enchem mais de imagens das
coisas materiais, mas chegam a tal altura, que desprezam as coisas passageiras e pensam somente em Deus, a
quem escutam com reverência e a quem falam com modéstia. Como essas coisas tão sublimes não poderiam ser
de máximo proveito a olhos que contemplam com a face descoberta a glória do Senhor, como num espelho, e que
se transformam na sua imagem, de glória em glória?(cf.
2Cor 3,18).
A alma se eleva e, seguindo o Espírito, se separa do
corpo. Não somente segue o Espírito, mas nele se transforma, como transparece dessas palavras: A ti elevei a minha alma (Sl 24,1). Como não dizer, depois disso, que a alma
abandona, então, a sua natureza (tó eínai) e se torna espiritual? (psychê pneumatiquê).
O maior rasgo de virtude é o perdão de injúrias, no qual,
como disse o profeta Jeremias, se resume toda a Lei: Não mandei isso aos vossos pais quando saíram do Egito, mas
eis o que mandei: Cada um perdoe de coração o seu pró-
ximo (Jr 7,22-23). Quando, pois, vamos orar, perdoemos
primeiro, e cumpramos o preceito do Salvador, que diz:
Quando vos puserdes de pé para orar, perdoai, se tendes
algo contra alguém (Mc 11,25). É evidente que, com tais
disposições, já conseguimos o melhor.
Ainda que, por hipótese, nada mais conseguíssemos
com a nossa oração, já teríamos obtido o máximo lucro,
aprendendo a orar como convém e a agir de forma consequente. É evidente que aquele que ora dessa maneira,
enquanto fala e contempla a virtude do que o escuta, ouvirá esta palavra: “Aqui estou”, se, antes da oração, depôs
todo sentimento contra a Providência. É o que demonstra
o versículo: Se te livrares de todas as cadeias, do gesto ameaçador, do resmungo de murmuração (Is 58,9). Efetivamente, aquele que fica tranquilo em tudo que acontece,
é livre de todo grilhão, não estende a mão contra Deus, que
ordena tudo quanto quer para nosso exercício, e não murmura em ocultos pensamentos, embora não os escutem os
homens. Tal murmuração é própria dos maus servidores,
que não acusam abertamente as ordens do seu senhor. Eles
murmuram sem ousar fazê-lo em alta voz, mas com toda
a alma, contra o que lhes acontece, como se quisessem esconder à Providência e ao Senhor do Universo aquilo que
sofrem com impaciência.
Responsório
Jo 4,23-24
R. Os verdadeiros adoradores adorarão o Pai
em espírito
e em verdade;
* Porque o Pai procura a tais adoradores.
V. Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram
o
adorem em espírito e em verdade.
* Porque o Pai.OraçãoÓ
Deus, que mostrais vosso poder sobretudo no perdão e na misericórdia,
derramai sempre em nós a vossa graça, para que, caminhando ao encontro
das vossas promessas, alcancemos os bens que nos reservais. Por nosso
Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.Conclusão da Hora
V. Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.