TERÇA-FEIRA

Ofício das Leituras

Primeira leitura
Do Livro de Tobias 3,7-17

Infelicidade de Sara e sua oração
7Naquele mesmo dia, aconteceu que Sara, filha de Raguel, habitante de Ecbátana, na Média, teve também de ouvir insultos de uma serva de seu pai. 8Ela fora dada sete vezes em casamento, e Asmodeu, o pior dos demônios, matara seus maridos um após o outro, antes que se tivessem unido a ela como esposos. A serva lhe dizia: “És tu que matas teus maridos! Já foste dada a sete homens e não foste feliz sequer uma vez! 9Queres castigar-nos por terem morrido teus maridos? Vai procurá-los e que nunca se veja de ti filho nem filha!” 10Naquele dia, a alma de Sara se encheu de tristeza: ela se pôs a chorar e subiu ao quarto de seu pai com a intenção de se enforcar. Mas, refletindo, pensou: “Talvez isto sirva para que injuriem meu pai e lhe digam: ‘Tinhas uma filha única, amada, e ela se enforcou porque se sentia infeliz.’ Não posso consentir que meu pai, em sua velhice, desça acabrunhado a mansão dos mortos. É melhor que, em vez de enforcar-me, suplique ao Senhor que me envie a morte, para não ter de ouvir injúrias durante minha vida.” 11E naquele momento, estendendo as mãos para a janela, orou assim: “Bendito sejas tu, Deus de misericórdia! Bendito seja teu nome pelos séculos, e que todas as tuas obras te bendigam para sempre! 12Volto agora meu rosto e levanto meus olhos para ti. 13Que tua palavra me livre da terra, pois não quero mais ouvir ultrajes! 14Tu o sabes, Senhor, eu estou pura, homem algum me tocou; 15não desonrei meu nome nem o nome do meu pai na terra do meu cativeiro. Sou a filha única do meu pai; ele não tem outro filho para herdar, não tem junto a si irmão algum, nem parente a quem eu me deva reservar. Já perdi sete maridos, porque deveria eu ainda viver? Se não te apraz, Senhor, dar-me a morte, olha-me com compaixão! E não tenha eu que ouvir injúrias.”
16Naquele instante, na Glória de Deus, foi ouvida a oração de ambos, 17e foi enviado Rafael para curar os dois: para tirar as manchas brancas dos olhos de Tobit, a fim de que visse com seus próprios olhos a luz de Deus, e dar Sara, filha de Raguel, como esposa a Tobias, filho de Tobit, e livrá-la de Asmodeu, o pior dos demônios; porque Tobias tinha mais direitos sobre ela que todos quantos a pretendiam. Naquela mesma hora, voltava Tobit do pátio para a casa; e Sara, filha de Raguel, estava descendo do quarto.

Responsório Cf. Tb 3,13.22 vulg.
R. Bendito sejas tu, Deus de misericórdia!
* No tempo da tribulação perdoa os pecados
daqueles que te invocam.
V. Tu não te glorias da nossa perdição;
de fato, depois da tempestade dás a calmaria;
depois do pranto infunde a glória.
* No tempo.

Segunda leitura

Do Opúsculo “Sobre a contemplação das realidades eclesiais”, atribuído a São Germano de Constantinopla, bispo
(Séc. VIII)

Todos nós glorificamos o nosso
Deus numa paz profunda
Pai nosso que estás nos céus (Mt 6,9). Verdadeiramente Ele é o Pai de todos nós e nos conserva todos no existir. Tu o chamas Pai? Conforma a tua vida como o Filho, de modo a agradar e alegrar o próprio Pai que está nos céus. Se ao contrário, alguém é militante do poderoso príncipe do mundo infernal e foi adotado por ele como filho, poderá ousar chamar de Pai o autor e Senhor de todos os bens? Certamente este não chama de Pai o Senhor Deus dos exércitos, mas sim o adversário do qual cumpre as obras. Ó homem, tu chamas Deus de Pai? Fazes muito bem, porque Ele é o Pai e o Criador de todos nós: mas apressa-te a cumprir tudo aquilo que agrada a teu Pai. Se, ao contrário, realizas obras iníquas, é claro que chamas de pai ao diabo: ele, na verdade, é o chefe dos maus. Foge dele, imediatamente, para agradar ao teu bom Pai e Criador. Seja santificado o teu nome (Mt 6,9). É o nome do Filho de Deus que é invocado sobre nós.
Ele de fato é Cristo e nós também somos chamados de cristãos a partir do seu nome. Sem dúvida, Deus é verdadeiramente santo; mas nós lhe pedimos para que Ele santifique em nós o seu nome, porque esta é a nossa tarefa segundo a razão; e que torne santo e absolutamente puro o nosso corpo, de maneira tal que no dia do juízo seja encontrado irrepreensível. Por acaso Deus não é santo? É santo, sem dúvida; mas tu suplicas: “Seja santificado o teu nome” em mim, a fim de que os homens vejam as minhas boas obras e glorifiquem a ti, meu Pai e meu Criador.
Venha o teu reino
(Mt 6,10): o reino de Deus é o Espírito Santo, segundo aquilo que disse o próprio Senhor: O reino de Deus está no meio de vós (Lc 17,21). É, portanto, justo que com o Pai e o Filho reine o Espírito Santo, o qual santifica e ilumina todos os poderes espirituais e as forças angelicais, o exército celeste e todo homem que vem a este mundo e crê no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ele é verdadeiramente o Rei da terra, das realidades visíveis e invisíveis. Mas, como uma cidade sitiada pelos inimigos manda pedir ajuda ao rei, assim nós, cercados pelas forças adversárias e pelos pecados, invocamos o seu socorro, para que venha nos libertar. Invocas o Rei? Torna-te um soldado espiritual, de modo que agrades ao Rei e ele te associe ao seu exército! Ou será que Deus ainda não é Rei, já que o reino ainda deve chegar? Sem dúvida, Ele é Rei de tudo, mas como de uma cidade sitiada, conforme o exemplo acima referido. E também ainda de outro modo. Já que o profeta disse: Deus reina sobre os povos (Sl 46,9), nós proclamamos em alto e bom tom: “Venha o teu reino”, Senhor, sobre nós que somos os povos!
Seja feita a tua vontade assim na terra como no céu
(Mt 6,12). A vontade de Deus Pai é o reino de seu Filho. No céu os anjos vivem na concórdia e na harmonia comum, por isso peçamos também nós para vivermos com amor sincero (2Cor 6,6).
No céu, ó Senhor, acontece tudo aquilo que queres; para que isso suceda na terra, é preciso que tu o faças. O sentido é este: ó Senhor, como no céu se realiza a tua vontade e os anjos estão todos em paz, nem há entre eles alguém que agride ou que é agredido, quem aflige e quem é afligido, quem promove a guerra e quem a sofre, mas todos te glorificam numa profunda paz, assim seja feita a tua vontade entre nós homens viventes sobre a terra, a fim de que todos os povos glorifiquem a uma só voz, com um só coração a ti Criador e Pai de todos nós!

Responsório Rm 8,15; Gl 4,6
R. Vós não recebestes um espírito de escravos
para recairdes no temor, mas recebestes:
* Um espírito de filhos adotivos pelo qual gritamos: Abba, Pai!
V. E que vós sois filhos
há como prova o fato de que Deus mandou para vossos corações
o Espírito do seu Filho.
* Um espírito.

Oração

Ó Pai, que resumistes toda a lei no amor a Deus e ao próximo, fazei que, observando o vosso mandamento, consigamos chegar um dia à vida eterna. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora

V.
Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.