QUARTA-FEIRA

Ofício das Leituras

Primeira leitura
Do Livro do Eclesiástico 3,17-4,10

Humildade e soberba
3,17Filho, conduze teus negócios com doçura e serás amado mais do que um homem generoso. 18Quanto mais fores importante, tanto mais humilha-te para achares graça diante do Senhor; 19Numerosas são as pessoas altivas e famosas, mas é aos humildes que ele revela seus segredos. 20Pois grande é a potência do Senhor, mas ele é glorificado pelos humildes. 21Não procures o que é muito difícil para ti, não investigues o que vai além de tuas forças. 22Aplica-te àquilo que te é acessível e não te ocupes com coisas misteriosas. 23Não te aflijas com aquilo que te ultrapassa, pois foi mostrado a ti mais do que o homem pode compreender. 24Porque muitos se extraviaram em suas concepções, uma opinião errônea desviou seus pensamentos. 25Por falta de pupila és carente de luz; se és desprovido de ciência não faças declaração. 26O coração obstinado terá mau fim e o que ama o perigo nele cairá. 27O coração obstinado acumula sofrimentos, o pecador acrescenta pecado a pecado. 28Para a desgraça do orgulhoso não existe remédio, porque a árvore da perversidade enraizou-se nele. 29O coração prudente medita a parábola, o ouvido que o escuta é o sonho do sábio. 30A água apaga a chama, a esmola expia os pecados. 31Quem retribui com favores pensa no futuro, no dia de sua queda encontrará apoio. 4,1Meu filho, não recuses ao pobre a sua subsistência, e não faças enfraquecer os olhos do miserável. 2Não faças sofrer aquele que tem fome, não irrites o homem na sua indigência. 3Não agites mais um coração exasperado, não recuses teu dom ao necessitado. 4Não rejeiteis o pedinte oprimido, não desvies teu rosto do pobre. 5Do que pede não desvies teu olhar, não lhe dês motivo para te amaldiçoar, 6pois amaldiçoando-te em sua amargura, o seu Criador atenderá seu clamor. 7Faz com que a comunidade te ame, diante do grande abaixa a tua cabeça. 8Inclina teu ouvido ao pobre e responde-lhe à saudação com afabilidade. 9Arranca o injustiçado da mão do injusto e não sejas medroso no teu julgar. 10Sê para os órfãos pai e marido para sua mãe. E serás como filho do Altíssimo, ele, mais do que tua mãe, amar-te-á.

Responsório Eclo 3,31.32 vulg.
R. O coração prudente medita a parábola,
* O ouvido que o escuta é o sonho do sábio.
V. O coração sábio e inteligente
se preserva do pecado e realiza obras de justiça.
* O ouvido que.

Segunda leitura

Do Tratado “sobre a Oração”, de Orígenes, presbítero
(Nn. 28)
(Séc. III)


Responsabilidade para com o próximo
Estamos, pois, em dívida e temos certos deveres não só quanto a dar, mas também quanto a falar com amabilidade e praticar determinadas ações, e temos de ter uns com os outros tais disposições de coração. Somos responsáveis por nossos sentimentos relativos ao próximo.
Esses débitos nós os saldamos, realizando aquilo que nos ordena a lei divina; se, ao contrário, desprezamos a sã razão, ficamos em débito. De modo semelhante devemos avaliar os nossos deveres em relação aos irmãos, seja porque regenerados conosco em Cristo pela palavra da verdadeira piedade, seja porque descendem do mesmo pai e mesma mãe.
É uma obrigação também para com os nossos concidadãos e, igualmente, com todos os homens. Em particular, somos devedores para com os hóspedes e pessoas de idade que poderiam ser nossos pais. E dívida especial temos para com quem é justo honrar como filhos e irmãos. Assim, a pessoa que não cumpre os deveres relativos aos irmãos cai em falta por omissão. Nossa dívida é maior quando deixamos de fazer em favor dos outros homens aquilo a que nos obriga o Espírito de sabedoria. Temos também obrigações para conosco mesmos e para com o nosso corpo, de tal modo, porém, que não enfraqueçamos a carne por prazeres desordenados. Somos também devedores de cuidados para com a nossa alma, vigiando sobre a nossa inteligência; nossas palavras sejam isentas de termos que possam ferir e de inutilidades (cf. Mt 12,36). Se não cumprimos os deveres, agravamos nossa dívida.
Sobretudo, por sermos obra e criatura de Deus, devemos conservar para com ele uma afeição especial; amá-lo com todo o coração, com todas as forças, com toda a mente (Dt 6,4-5; Mc 12,30). Se não cumprimos isso com perfeição, ficamos como devedores diante de Deus, e pecamos contra o Senhor. E nessas circunstâncias, quem rezará por nós? Se um homem peca contra um outro homem, alguém orará por ele; mas, se peca contra o Senhor, quem orará por ele? (1Sm 2,25). Diz Eli no primeiro livro de Samuel. Somos devedores de Cristo, que nos remiu com o seu sangue, como todo escravo é devedor daquele que o resgatou e pagou por ele grande soma de dinheiro. Temos também um débito para com o Espírito Santo, e o pagamos quando não entristecemos aquele pelo qual fomos marcados em vista do dia da redenção (Ef 4,30). Quando não o entristecemos, produzimos os frutos exigidos com sua ajuda e presença que vivifica a nossa alma. Uma vez que não sabemos com clareza, quem é o anjo de cada um de nós, o qual contempla a face do Pai, no céu (cf. Mt 18,10), é bem claro que, se não lhe prestamos atenção, ficamos em dívida para com ele. É verdade que somos um espetáculo para o mundo, os anjos e os homens (1Co 4,9). Sabemos ter cada pessoa no teatro o que dizer ou fazer diante dos espectadores.
Se não agir assim, será castigada, porque desse modo terá insultado todo o teatro. Por isso, somos devedores para com todo o mundo, os anjos e os homens, de atos que aprenderíamos da sabedoria, se tivéssemos boa vontade. Além desses deveres de caráter geral, há também outras dívidas particulares, como as relativas às viúvas, das quais a Igreja tem a responsabilidade; outra acerca dos diáconos; outra, para com os presbíteros; de gravidade maior é a dívida atinente ao bispo. O Salvador de toda a Igreja exige seu pagamento e, se não for saldada, será cobrada no juízo.

Responsório Gl 5,13.14; Rm 13,8
R. Pela caridade, colocai-vos a serviço uns do outros.
* Toda a lei está contida em uma só palavra:
Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
V. Não devais nada a ninguém, a não ser o amor mútuo.
* Toda a lei.

Oração

Ó Deus eterno e todo-poderoso, que nos concedeis no vosso imenso amor de Pai mais do que merecemos e pedimos, derramai sobre nós a vossa misericórdia, perdoando o que nos pesa na consciência e dando-nos mais do que ousamos pedir. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora

V.
Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.