16a SEMANA DO TEMPO COMUM

IV Semana do Saltério

QUINTA-FEIRA

Ofício das Leituras

Primeira leitura
Do Livro de Jó 19,1-29

Jó desesperado se consola na esperança.

1Jó tomou a palavra, e disse: 2Até quando continuareis a afligir-me e a magoar-me com palavras? 3Já por dez vezes me insultais, e não vos envergonhais de zombar de mim. 4Se de fato caí em erro, meu erro só diria respeito a mim. 5Quereis triunfar sobre mim, lançando-me em rosto minha afronta? 6Pois sabei que foi Deus quem me transtornou, envolvendo-me em suas redes. 7Grito: “Violência!”, e ninguém me responde, peço socorro, e ninguém me defende. 8Ele bloqueou meu caminho, e não tenho saída, encheu de trevas minhas veredas. 9Despojou-me de minha honra e tirou-me a coroa da cabeça. 10Demoliu tudo em redor de mim e tenho de ir-me, desenraizou minha esperança como uma árvore. 11Acendeu sua ira contra mim, considera-me seu inimigo. 12Chegam em massa seus esquadrões, abrem em minha direção seu caminho de acesso e acampam em volta de minha tenda. 13Ele afastou de mim os meus irmãos, os meus parentes procuram evitar-me. 14Abandonaram-me vizinhos e conhecidos, esqueceram-me os hóspedes de minha casa. 15Minhas servas consideram-me intruso, a seu ver sou estranho. 16Se chamo meu servo, ele não responde, quando lhe imploro com minha boca. 17À minha mulher repugna meu hálito, e meu mau cheiro, aos meus próprios irmãos. 18Até as crianças me desprezam e insultam-me, se procuro levantar-me. 19Todos os meus íntimos têm-me aversão, meus amigos voltam-se contra mim. 20Meus ossos estão colados à minha pele e à minha carne, ah! se eu pudesse me livrar deles com a pele de meus dentes. 21Piedade, piedade de mim, amigos meus, pois me feriu a mão de Deus! 22Por que me perseguis como Deus, e sois insaciáveis de minha carne? 23Oxalá minhas palavras fossem escritas, e fossem gravadas numa inscrição; 24como cinzel de ferro e chumbo fossem esculpidas na rocha para sempre! 25Eu sei que meu Defensor está vivo e que no fim se levantará sobre o pó: 26quando tiverem arrancado esta minha pele, fora de minha carne verei a Deus. 27Aquele que eu vir será para mim, aquele que meus olhos contemplarem não será um estranho. Dentro de mim consomem-se os meus rins. 28E se disserdes: “Como o perseguiremos, que pretexto encontraremos nele?”, 29temei a espada, pois a cólera queimará as faltas e sabereis que há julgamento!

Responsório Jó 19, 25.27
R. Eu o sei: meu vingador está vivo,
e aparecerá, finalmente, sobre a terra.
*
Por detrás de minha pele,
na minha própria carne, verei Deus.
V.
Eu mesmo o contemplarei, meus olhos o verão,
e não os olhos de outro.
*
Por detrás.

Segunda leitura
Dos “Livros das Confissões”, de Santo Agostinho, bispo
(Liv. 13, 1,1 . 2,3)
(Séc. V)


Tu me chamavas, para que eu te invocasse.

Eu te invoco, meu Deus, minha misericórdia (Sl 58,18), que me criaste, e não me esqueceste, enquanto eu te esqueci. Eu te invoco na minha alma, que tu preparas para acolher-te com o desejo que suscitas nela. Agora eu te suplico para não me abandonares, tu que, antes que eu te invocasse, me precedeste com uma crescente insistência de variados convites, para que eu ouvisse de longe e me voltasse e invocasse a ti que me chamavas.
De fato, tu, ó Senhor, apagaste todas as minhas más ações para não devolver às minhas mãos o que eu havia feito distanciando-me de ti, e precedeste todas as minhas boas ações para retribuir a obra das tuas mãos com as quais tu me havias feito. Porque tu eras já antes que eu existisse eu, pelo contrário, ainda não existia; portanto, eu não podia merecer receber o ser. No entanto, eis-me aqui: agora, pela tua bondade que tudo precede, eu sou tudo o que em mim tu realizaste e a matéria de onde me tiraste. Tu não tinhas necessidade de mim, e eu não sou um tal bem que possa ser de contentamento a ti, meu Senhor e meu Deus. Nem queres que eu te sirva quase que para aliviar o teu cansaço no seu agir, ou porque sem o meu favor seja diminuído o teu poder. Não és como a terra que se não a cultivamos permanece inculta: se eu preciso servir-te e honrar-te é para receber o bem de ti, que me dás o ser, justamente, para me preencher do bem.
Da plenitude da tua bondade toda criatura tem o seu ser, a fim de que o bem criado por ti, que não podia agradar-te nem ser igual a ti, podendo todavia ser feito de ti, não faltasse. Que merecimento tiveram diante de ti o céu e a terra que tu criaste desde o princípio? Que digam qual mérito tiveram as naturezas espirituais e corpóreas, que tu criaste na tua Sabedoria para que dela dependessem, ainda que, em esboço e informes, cada uma no seu gênero espiritual ou corpóreo, assim dispersas e numa tão distante dessemelhança de ti. E, ainda que o ser espiritual informe seja superior a um corpo formado, e um corpo formado superior ao nada absoluto, todas, como em embrião, dependiam do teu Verbo; e, sem ele que as teria podido reconduzir à tua unidade, não teriam podido serem formadas para serem tão boas nem também receber a existência de ti, único e sumo bem.
Tinham pelo menos algum mérito para existir, mesmo que somente informes, se não podiam, nem mesmo desse modo, existir sem ti?
Que mérito teve a matéria corpórea para existir, mesmo que somente assim informe e desordenada?
Não existiria nem mesmo desse modo se não tivesse sido feita por ti, e, não existindo, não podia ter diante ti o mérito de existir. Que merecimento teve a incipiente criatura espiritual, para existir como elemento tenebroso semelhante ao abismo, diverso de ti, se pelo teu Verbo não tivesse sido reenviada àquele mesmo princípio do qual foi feita, e por ele iluminada não se tornasse luz, mesmo que não igual a ti, mas à tua semelhança?
O seu bem é estar sempre próximo a ti (cf. Sl 72,28), para não perder, distanciando-se da luz adquirida, voltando-se para ti, e recair, assim, num abismo tenebroso.
Um dia, em verdade, também nós, que enquanto pela alma somos criaturas espirituais, quando voltamos as nossas costas para ti, nossa luz, nos tornamos trevas; e agora nos debatemos entre os resíduos da nossa obscuridade, até que nos tornemos, em teu Unigênito justiça tua como os montes mais altos; pois, em verdade, o teu juízo é como o grande abismo (Sl 35,7).

Responsório Sl 24,4-5; Rm 7,14-15
R. Faze-me conhecer, Senhor, os teus caminhos,
ensina-me as tuas estradas.
*
Guia-me na tua verdade e instrui-me,
pois tu és o Deus da minha salvação.
V.
Eu sou de carne, vendido como escravo do pecado.
Eu não consigo entender nem mesmo o que faço.
*
Guia-me na tua verdade.

Oração

Ó Deus, sede generoso para com os vossos filhos e filhas e multiplicai em nós os dons da vossa graça, para que, repletos de fé, esperança e caridade, guardemos fielmente os vossos mandamentos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora

V.
Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.