Ofício das Leituras

V. Vinde, ó Deus em meu auxílio.
R. Socorrei-me sem demora.
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Esta introdução se omite quando o Invitatório precede imediatamente ao Ofício das Leituras.

Hino

Agora é tempo favorável,
divino dom da Providência,
para curar o mundo enfermo
com um remédio, a penitência.

Da salvação refulge o dia,
na luz de Cristo a fulgurar.
O coração, que o mal feriu,
a abstinência vem curar.

Em corpo e alma, a abstinência,
Deus, ajudai-nos a guardar.
Por tal passagem, poderemos
à páscoa eterna, enfim, chegar.

Todo o Universo vos adore,
Trindade Santa, Sumo Bem.
Novos por graça entoaremos
um canto novo a vós. Amém.

Salmodia

Ant.1 Estou cansado de gritar e de esperar pelo meu Deus.

Salmo 68(69),2-22.30-37

O zelo pela vossa casa me devora
Deram vinho misturado com fel para Jesus beber (Mt 27,34).

I

2 Salvai-me, ó meu Deus, porque as águas *
até o meu pescoço já chegaram!
3 Na lama do abismo eu me afundo *
e não encontro um apoio para os pés.
– Nestas águas muito fundas vim cair, *
e as ondas já começam a cobrir-me!

4 À força de gritar, estou cansado; *
minha garganta já ficou enrouquecida.
– Os meus olhos já perderam sua luz, *
de tanto esperar pelo meu Deus!

5 Mais numerosos que os cabelos da cabeça, *
são aqueles que me odeiam sem motivo;
– meus inimigos são mais fortes do que eu; *
contra mim eles se voltam com mentiras!

– Por acaso poderei restituir *
alguma coisa que de outros não roubei?
6 Ó Senhor, vós conheceis minhas loucuras, *
e minha falta não se esconde a vossos olhos.

7 Por minha causa não deixeis desiludidos *
os que esperam sempre em vós, Deus do universo!
– Que eu não seja a decepção e a vergonha *
dos que vos buscam, Senhor Deus de Israel!

8 Por vossa causa é que sofri tantos insultos, *
e o meu rosto se cobriu de confusão;
9 eu me tornei como um estranho a meus irmãos, *
como estrangeiro para os filhos de minha mãe.

10 Pois meu zelo e meu amor por vossa casa *
me devoram como fogo abrasador;
– e os insultos de infiéis que vos ultrajam *
recaíram todos eles sobre mim!

11 Se aflijo a minha alma com jejuns, *
fazem disso uma razão para insultar-me;
12 se me visto com sinais de penitência, *
eles fazem zombaria e me escarnecem!
13 Falam de mim os que se assentam junto às portas, *
sou motivo de canções, até de bêbados!

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Estou cansado de gritar e de esperar pelo meu Deus.

Ant.2 Deram-me fel como se fosse um alimento,
em minha sede ofereceram-me vinagre.

II

14 Por isso elevo para vós minha oração, *
neste tempo favorável, Senhor Deus!
– Respondei-me pelo vosso imenso amor, *
pela vossa salvação que nunca falha!

=15 Retirai-me deste lodo, pois me afundo! †
Libertai-me, ó Senhor, dos que me odeiam, *
e salvai-me destas águas tão profundas!
=16 Que as águas turbulentas não me arrastem, †
não me devorem violentos turbilhões, *
nem a cova feche a boca sobre mim!

17 Senhor, ouvi-me pois suave é vossa graça, *
ponde os olhos sobre mim com grande amor!
18 Não oculteis a vossa face ao vosso servo! *
Como eu sofro! Respondei-me bem depressa!
19 Aproximai-vos de minh’alma e libertai-me, *
apesar da multidão dos inimigos!

=20 Vós conheceis minha vergonha e meu opróbrio, †
minhas injúrias, minha grande humilhação; *
os que me afligem estão todos ante vós!
21 O insulto me partiu o coração; *
não suportei, desfaleci de tanta dor!

= Eu esperei que alguém de mim tivesse pena, †
mas foi em vão, pois a ninguém pude encontrar; *
procurei quem me aliviasse e não achei!
22 Deram-me fel como se fosse um alimento, *
em minha sede ofereceram-me vinagre!

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Deram-me fel como se fosse um alimento,
em minha sede ofereceram-me vinagre.

Ant.3 Procurai o Senhor continuamente,
e o vosso coração reviverá.

III

30 Pobre de mim, sou infeliz e sofredor! *
Que vosso auxílio me levante, Senhor Deus!
31 Cantando eu louvarei o vosso nome *
e agradecido exultarei de alegria!
32 Isto será mais agradável ao Senhor, *
que o sacrifício de novilhos e de touros.

=33 Humildes, vede isto e alegrai-vos: †
o vosso coração reviverá, *
se procurardes o Senhor continuamente!

34 Pois nosso Deus atende à prece dos seus pobres, *
e não despreza o clamor de seus cativos.
35 Que céus e terra glorifiquem o Senhor *
com o mar e todo ser que neles vive!

=36 Sim, Deus virá e salvará Jerusalém, †
reconstruindo as cidades de Judá, *
onde os pobres morarão, sendo seus donos.
=37 A descendência de seus servos há de herdá-las, †
e os que amam o santo nome do Senhor *
dentro delas fixarão sua morada!

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Procurai o Senhor continuamente,
e o vosso coração reviverá.

V. Voltai ao Senhor vosso Deus.

R. Ele é bom, compassivo e clemente.

Primeira leitura
Da Carta aos Hebreus 5,11-6,8

Elevemo-nos a uma perfeição adulta
Muitas coisas teríamos a dizer sobre isso, e a sua explicação é difícil, porque vos tornastes lentos à compreensão. Pois, uma vez que com o tempo vós deveríeis ter-vos tornado mestres, necessitais novamente que se vos ensinem os primeiros rudimentos dos oráculos de Deus, e precisais de leite, e não de alimento sólido. De fato, aquele que ainda se amamenta não pode degustar a doutrina da justiça, pois é criancinha! Os adultos, porém, que pelo hábito possuem o senso moral exercitado para discernir o bem e o mal, recebem alimento sólido. Por isso, deixando de lado o ensinamento elementar sobre Cristo, elevemo-nos à perfeição adulta, sem ter que voltar aos artigos fundamentais: o arrependimento das obras mortas e a fé em Deus, a doutrina sobre batismos e a imposição das mãos, a ressurreição dos mortos e o julgamento eterno. É isso o que faremos, se a tanto Deus nos ajudar! De fato, é impossível que, para aqueles que foram iluminados - que saborearam o dom celeste, receberam o Espírito Santo, experimentaram a beleza da palavra de Deus e as forças do mundo que há de vir - e, não obstante, decaíram, [é impossível] que renovem a conversão a segunda vez, porque da sua parte crucificam novamente o Filho de Deus e o expõem às injúrias. Pois, a terra que bebe a chuva que lhe vem abundante e produz vegetação útil aos cultivadores, receberá a bênção de Deus. Mas, se produzir espinhos e abrolhos, é rejeitada, e está perto da maldição: acabará sendo queimada.

Responsório:
Cf. Sl 94(95),8;Hb 3,12
R. Oxalá ouvísseis hoje a voz do Senhor:
* Não fecheis os vossos corações.
V. Cuidai, irmãos, que não se ache em algum de vós
um coração transviado pela incredulidade:
 que ninguém se afaste do Deus vivo.
*
Não fecheis.

Segunda leitura
Das Homílias sobre a segunda Carta aos Coríntios, de São João Crisóstomo, bispo
(Hom. 2,4-5: PG 61,397-399)

A força da oração
Muitas vezes Deus parece ficar como que acanhado, quando vê uma multidão que tem um só coração e uma só voz para o implorar. Apressemo-nos, pois, a unir nossas preces, rezemos uns pelos outros, como faziam os coríntios pelos apóstolos. Assim, cumprimos o preceito e nos estimulamos à caridade; e, quando digo caridade, encerro nessa palavra todos os bens. Mostremos também mais solicitude em dar graças. Pois, se agradecemos a Deus os dons concedidos ao próximo, com maior razão devemos agradecer-lhe os benefícios por nós recebidos. É o que fazia Davi, ao dizer: Comigo engrandecei ao Senhor Deus, exaltemos todos juntos seu nome! (Sl 33,4). É o que reclama constantemente o Apóstolo; sigamos esse conselho, publiquemos por toda parte os benefícios de Deus para associar todos os irmãos às ações de graças que lhe rendemos. Quando publicamos os benefícios que recebemos dos homens, não aumentamos sua benevolência para conosco? Publiquemos os benefícios de Deus e atrairemos de sua parte maior benevolência. E, se depois de termos obtido dos homens alguns favores, convidamos os outros a unirem seus agradecimentos aos nossos, não devemos, com maior razão, convidar nossos irmãos a se unirem a nós para agradecer ao Senhor? Paulo o fazia, ele que se aproximava de Deus com tanta confiança: com maior razão, somos nós obrigados igualmente a fazê-lo. Imploremos também às pessoas santas, conjuremo-las a agradecerem a Deus por nós e agradeçamos também a Deus uns pelos outros. Isso é dever sobretudo dos sacerdotes; não existe função mais elevada do que essa. Quando subimos ao altar, começamos por dar graças ao Senhor em nome do mundo inteiro pelos benefícios comuns que todos receberam de sua generosidade. Certamente, todos juntos gozam desses benefícios, mas não tens também tua parte? Assim sendo, por essa parte que recebes, deves associar-te às comuns ações de graças e é justo também que, particularmente, agradeças a Deus por ter estendido seus benefícios a todos os homens. Não foi somente por tua causa que ele iluminou o sol no firmamento, mas visando a todos em geral; no entanto, usufruis dele tão completamente, como se tivesse sido criado exclusivamente para ti. Foi para a utilidade de todos que Deus o fez tão grande, e tu sozinho o vês tão imenso quanto todos os mortais juntos. Por conseguinte, tua gratidão deve igualar a comum gratidão do gênero humano inteiro. Deves agradecer pela virtude dos outros. Os benefícios que Deus nos concede são também para o proveito dos outros. Se tivesse havido somente dez justos em Sodoma, não cairiam sobre eles as calamidades que sofreram. Agradeçamos a Deus com liberdade e confiança os méritos de nossos irmãos; é uma antiga lei que se arraigou na Igreja. Assim, Paulo dá graças pelos romanos, peloscoríntios, pelo mundo inteiro.

Responsório Jl 2,17
R. Jejuando e chorando, rezavam os sacerdotes dizendo:
* Senhor, tem piedade do teu povo
e não entregues à vergonha a tua herança.
V. Entre o pórtico e o altar chorem os sacerdotes e digam.
* Senhor, tem piedade.

Oração

Infundi, ó Deus, vossa graça em nossos corações, para que, fugindo aos excessos humanos, possamos, com vosso auxílio, abraçar os vossos preceitos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora

V. Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.