TRÍDUO PASCAL
DA PAIXÃO E RESSURREIÇÃO DO SENHOR

SEXTA FEIRA DA PAIXÃO DO SENHOR


Ofício das Leituras

V. Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R.
Socorrei-me sem demora.
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Esta introdução se omite quando o Invitatório precede imediatamente ao Ofício das Leituras.

Hino

Cantem meus lábios a luta
que sobre a cruz se travou;
cantem o nobre triunfo
que no madeiro alcançou
o Redentor do Universo
quando por nós se imolou.

O Criador teve pena
do primitivo casal,
que foi ferido de morte,
comendo o fruto fatal,
e marcou logo outra árvore,
para curar-nos do mal.

Tal ordem foi exigida
na obra da salvação:
cai o inimigo no laço
de sua própria invenção.
Do próprio lenho da morte
Deus fez nascer redenção.

Na plenitude dos tempos,
a hora santa chegou
e, pelo Pai enviado,
nasceu do mundo o autor;
e duma Virgem no seio
a nossa carne tomou.

Seis lustros tendo passado,
cumpriu a sua missão.
Só para ela nascido,
livre se entrega à Paixão.
Na cruz se eleva o Cordeiro,
como perfeita oblação.

Glória e poder à Trindade.
Ao Pai e ao Filho, louvor.
Honra ao Espírito Santo.
Eterna glória ao Senhor,
que nos salvou pela graça
e nos remiu pelo amor.

Salmodia

Ant.1 Os reis de toda a terra se reúnem
e conspiram os governos todos juntos
contra o Deus onipotente e o seu Ungido.

Salmo 2

1Por que os povos agitados se revoltam? *
por que tramam as nações projetos vãos?
=2Por que os reis de toda a terra se reúnem, †
e conspiram os governos todos juntos *
contra o Deus onipotente e o seu Ungido?

3“Vamos quebrar suas correntes”, dizem eles, *
“e lançar longe de nós o seu domínio!”
4Ri-se deles o que mora lá nos céus; *
zomba deles o Senhor onipotente.
5Ele, então, em sua ira os ameaça, *
e em seu furor os faz tremer, quando lhes diz:

6“Fui eu mesmo que escolhi este meu Rei, *
e em Sião, meu monte santo, o consagrei!”
=7O decreto do Senhor promulgarei, †
foi assim que me falou o Senhor Deus: *
“Tu és meu Filho, e eu hoje te gerei!

=8Podes pedir-me, e em resposta eu te darei †
por tua herança os povos todos e as nações, *
e há de ser a terra inteira o teu domínio.
9Com cetro férreo haverás de dominá-los, *
e quebrá-los como um vaso de argila!”

10E agora, poderosos, entendei; *
soberanos, aprendei esta lição:
11Com temor servi a Deus, rendei-lhe glória *
e prestai-lhe homenagem com respeito!

12Se o irritais, perecereis pelo caminho, *
pois depressa se acende a sua ira!
– Felizes hão de ser todos aqueles *
que põem sua esperança no Senhor!

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Os reis de toda a terra se reúnem
e conspiram os governos todos juntos
contra o Deus onipotente e o seu Ungido.

Ant.2 Eles repartem entre si as minhas vestes
e sorteiam entre si a minha túnica.

Salmo 21(22),2-23 [24-32]

2Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes? *
E ficais longe de meu grito e minha prece?
3Ó meu Deus, clamo de dia e não me ouvis, *
clamo de noite e para mim não há resposta!

4Vós, no entanto, sois o santo em vosso Templo, *
que habitais entre os louvores de Israel.
5Foi em vós que esperaram nossos pais; *
esperaram e vós mesmo os libertastes.
6Seu clamor subiu a vós e foram salvos; *
em vós confiaram e não foram enganados.

7Quanto a mim, eu sou um verme e não um homem; *
sou o opróbrio e o desprezo das nações.
8Riem de mim todos aqueles que me vêem, *
torcem os lábios e sacodem a cabeça:
9“Ao Senhor se confiou, ele o liberte *
e agora o salve, se é verdade que ele o ama!”

10Desde a minha concepção me conduzistes, *
e no seio maternal me agasalhastes.
11Desde quando vim à luz vos fui entregue; *
desde o ventre de minha mãe sois o meu Deus!
12Não fiqueis longe de mim, porque padeço; *
ficai perto, pois não há quem me socorra!

13Por touros numerosos fui cercado, *
e as feras de Basã me rodearam;
14escancararam contra mim as suas bocas, *
como leões devoradores a rugir.

15Eu me sinto como a água derramada, *
e meus ossos estão todos deslocados;
– como a cera se tornou meu coração, *
e dentro do meu peito se derrete.

=16Minha garganta está igual ao barro seco, †
minha língua está colada ao céu da boca, *
e por vós fui conduzido ao pó da morte!
17Cães numerosos me rodeiam furiosos, *
e por um bando de malvados fui cercado.

– Transpassaram minhas mãos e os meus pés *
18e eu posso contar todos os meus ossos.
= Eis que me olham e, ao ver-me, se deleitam! †
19Eles repartem entre si as minhas vestes *
e sorteiam entre si a minha túnica.

20Vós, porém, ó meu Senhor, não fiqueis longe, *
ó minha força, vinde logo em meu socorro!
21Da espada libertai a minha alma, *
e das garras desses cães, a minha vida!

22Arrancai-me da goela do leão, *
e a mim tão pobre, desses touros que me atacam!
23Anunciarei o vosso nome a meus irmãos *
e no meio da assembleia hei de louvar-vos!

Esta última parte do salmo é facultativa.

=24Vós que temeis ao Senhor Deus, dai-lhe louvores; †
glorificai-o, descendentes de Jacó, *
e respeitai-o toda a raça de Israel!
25Porque Deus não desprezou nem rejeitou *
a miséria do que sofre sem amparo;
– não desviou do humilhado a sua face, *
mas o ouviu quando gritava por socorro.

26Sois meu louvor em meio à grande assembleia; *
cumpro meus votos ante aqueles que vos temem!
=27Vossos pobres vão comer e saciar-se, †
e os que procuram o Senhor o louvarão; *
“Seus corações tenham a vida para sempre!”

28Lembrem-se disso os confins de toda a terra, *
para que voltem ao Senhor e se convertam,
– e se prostrem, adorando, diante dele *
todos os povos e as famílias das nações.

29Pois ao Senhor é que pertence a realeza; *
ele domina sobre todas as nações.
30Somente a ele adorarão os poderosos, *
e os que voltam para o pó o louvarão.
– Para ele há de viver a minha alma, *
31toda a minha descendência há de servi-lo;

– às futuras gerações anunciará *
32o poder e a justiça do Senhor;
– ao povo novo que há de vir, ela dirá: *
“Eis a obra que o Senhor realizou!”

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Eles repartem entre si as minhas vestes
e sorteiam entre si a minha túnica.

Ant.3 Os que buscam matar, me perseguem
e procuram tirar minha vida.

Salmo 37(38)

2Repreendei-me, Senhor, mas sem ira; *
corrigi-me, mas não com furor!

3Vossas flechas em mim penetraram; *
vossa mão se abateu sobre mim.
4Nada resta de são no meu corpo, *
pois com muito rigor me tratastes!

– Não há parte sadia em meus ossos, *
pois pequei contra vós, ó Senhor!
5Meus pecados me afogam e esmagam, *
como um fardo pesado me oprimem.

6Cheiram mal e supuram minhas chagas *
por motivo de minhas loucuras.
7Ando triste, abatido, encurvado, *
todo o dia afogado em tristeza.

8As entranhas me ardem de febre, *
já não há parte sã no meu corpo.
9Meu coração grita e geme de dor, *
esmagado e humilhado demais.

10Conheceis meu desejo, Senhor, *
meus gemidos vos são manifestos;
=11bate rápido o meu coração, †
minhas forças estão me deixando, *
e sem luz os meus olhos se apagam.

=12Companheiros e amigos se afastam, †
fogem longe das minhas feridas; *
meus parentes mantêm-se à distância.

13Armam laços os meus inimigos, *
que procuram tirar minha vida;
– os que buscam matar-me ameaçam *
e maquinam traições todo o dia.

14Eu me faço de surdo e não ouço, *
eu me faço de mudo e não falo;
15semelhante a alguém que não ouve *
e não tem a resposta em sua boca.

16Mas, em vós, ó Senhor, eu confio, *
e ouvireis meu lamento, ó meu Deus!
17Pois rezei: “Que não zombem de mim, *
nem se riam, se os pés me vacilam!”

18Ó Senhor, estou quase caindo, *
minha dor não me larga um momento!
19Sim, confesso, Senhor, minha culpa: *
meu pecado me aflige e atormenta.

=20São bem fortes os meus adversários †
que me vêm atacar sem razão; *
quantos há que sem causa me odeiam!
21Eles pagam o bem com o mal, *
porque busco o bem, me perseguem.

22Não deixeis vosso servo sozinho, *
ó meu Deus, ficai perto de mim!
23Vinde logo trazer-me socorro, *
porque sois para mim salvação!

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Os que buscam matar, me perseguem
e procuram tirar minha vida.

V. As falsas testemunhas se ergueram.

R. E vomitam violência contra mim.

Primeira leitura

Do Livro das Lamentações 3,1-33

Pranto e Esperança
Eu sou o homem que conheceu a miséria sob a vara de seu furor. Ele me guiou e me fez andar na treva e não na luz; só contra mim está ele volvendo e revolvendo sua mão o dia inteiro. Consumiu minha carne e minha pele, despedaçou os meus ossos. Elevou contra mim construções envolveu minha cabeça de tormento. Fez-me habitar nas trevas como os que estão mortos para sempre. Cercou-me com um muro, não posso sair; tornou pesadas minhas cadeiras. Por mais que eu grite por socorro ele abafa minha oração. Barrou meus caminhos com pedras lavradas, obstruiu minhas veredas. Ele foi para mim como urso à espreita, como leão de emboscada. Afastou-me de meu caminho, despedaçou-me, fez de mim horror. Retesou seu arco e me visou como alvo para a flecha. Cravou em meus rins as flechas de sua aljava. Tornei-me a irrisão de todo o meu povo, sua canção todo o dia. Saciou-me de amargura, inebriou-me de absinto. Ele quebrou meus dentes com cascalho, alimentou-me de cinza. Excluíste a paz de minha vida, esqueci a felicidade! Eu disse: minha existência terminou, minha esperança que vinha do Senhor. Lembra-te de minha miséria e de minha angústia: absinto e fel! Eu me lembro, sempre me lembro, transido dentro de mim. Eis o que recordarei a meu coração e por que eu espero: Os favores do Senhor não terminaram, suas compaixões não se esgotaram; elas se renovam todas as manhãs, grande é a sua fidelidade! Eu digo: minha porção é o Senhor! Eis por que nele espero. O Senhor é bom para quem nele confia, para aquele que o busca. É bom esperar em silêncio a salvação do Senhor. É bom para o homem suportar o jugo desde sua juventude. Que esteja solitário e silencioso quando o Senhor o impuser sobre ele; que ponha sua boca no pó: talvez haja esperança! Que dê sua face a quem o fere e se sacie de opróbrios. Pois o Senhor não rejeita os humanos para sempre: se ele aflige, ele se compadece segundo sua grande bondade. Pois não é de bom grado que ele humilha e que aflige os filhos do homem!

Responsório Jr 6,26;25,34
R. Filha do meu povo, veste-te de saco, revolve-te no pó,
lamenta-te como por filho único.
* No meio de vós foi morto o Salvador.
V. Gemei pastores e gritai,
revolvei-vos no pó, chefes do rebanho.
* No meio.

Segunda leitura

Dos Tratados de São Leão Magno, papa
(Tract. 59 de
Passione Domini, 4-6: CCL 138A,354-359)

A cruz de Cristo é fonte de todas as
bênçãos e causa de todas as graças
O Senhor, entregue ao arbítrio dos violentos, que zombavam da sua dignidade de rei, carregava ele próprio o instrumento de seu suplício, para se cumprir o que Isaías predissera: Nasceu para nós um menino, foi-nos dado um filho; ele traz aos ombros a marca da realeza (Is 9,5). Quando, pois, o Senhor carregou o lenho da cruz, que transformou em cetro de seu poder, o que foi aos olhos dos ímpios grande zombaria, manifestou aos fiéis um grande mistério. Porque o invicto vencedor de Satanás, o poderoso combatente contra as forças inimigas, transformou gloriosamente o troféu de seu triunfo e trouxe para todos os reinos, em seus ombros de invencível paciência, o adorável sinal da salvação, confirmando por sua própria atitude todos os seus imitadores, aos quais disse: Quem não toma sua cruz e não me segue, não é digno de mim (Mt 10,38). Quando a multidão acompanhava Jesus até o lugar do suplício, encontrou certo Simão cireneu que carregou o lenho da cruz pelo Senhor, sendo assim prefigurada a fé dos gentios, para os quais a cruz de Cristo não seria vergonha, mas glória. Por essa transferência da cruz, passara dos judeus aos pagãos, dos filhos segundo a carne aos filhos espirituais, a expiação realizada pelo Cordeiro sem mancha e a plenitude de todos os sacramentos. Pois diz o Apóstolo: Cristo, nosso cordeiro pascal, foi imolado (1Cor 5,7), pois se ofereceu ao Pai como novo e verdadeiro sacrifício de reconciliação. Não foi crucificado no templo, cuja dignidade terminara, nem dentro da cidade que seria destruída por seu crime, mas fora dos muros, para que, cessado o mistério das antigas vítimas, nova hóstia fosse colocada em novo altar, e a cruz de Cristo se tornasse altar, não do templo, mas do mundo inteiro. Ao ser Cristo exaltado na cruz, amados filhos, não deve ocorrer à nossa mente a mesma imagem que aos olhos dos ímpios, aos quais disse Moisés: A tua vida estará suspensa diante de teus olhos; temerás dia e noite, e não crerás em tua vida (Dt 28,66). Ó! Admirável poder da cruz! Ó, inefável glória da Paixão! Nela se encontra o tribunal do Senhor, o julgamento do mundo e o poder do Crucificado! Tu, Senhor, atraíste tudo a ti. E, ao estenderes todos os dias tuas mãos a um povo infiel e rebelde, todo o mundo se converteu, reconhecendo a tua majestade. Atraíste, Senhor, tudo a ti, quando todos os elementos proferiram a mesma sentença para condenação do crime dos judeus: as luzes do céu escureceram, mudando o dia em noite, a terra foi agitada por tremores insólitos, recusando-se toda a criação a servir aos ímpios. Tu, Senhor, atraíste tudo a ti, e o que só no templo judaico era celebrado em símbolos velados, passou a constituir um sacramento pleno e aberto, a ser celebrado por todas as nações da terra. A ordem dos levitas é agora mais gloriosa, mais ampla a dignidade dos presbíteros, mais santa a unção dos sacerdotes; pois a tua cruz é fonte de todas as bênçãos e causa de todas as graças; por ela, os que creem passam da fraqueza à força, do opróbrio à glória, da morte à vida. Agora também, cessada a variedade dos sacrifícios carnais, e a diversidade das vítimas, realiza-se a única oblação do teu corpo e do teu sangue; pois és o verdadeiro Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1,29) e levas à plenitude todos os mistérios. E, assim como há um só sacrifício em lugar de tantas vítimas, também haja um só reino, formado de todas as nações.

Responsório Mt 26,38.45
R. Minha alma está triste até a morte,
permanecei aqui e vigiai comigo.
Vereis uma grande multidão que me rodeará:
* Vós fugireis e eu serei imolado por vós.
V. Eis que é chegada a hora
na qual o Filho do Homem será entregue nas mãos dos pecadores.
*
Vós fugireis.

Oração

Olhai com amor, ó Pai, esta vossa família, pela qual nosso Senhor Jesus Cristo livremente se entregou às mãos dos inimigos e sofreu o suplício da cruz. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da hora

V. Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.