SEGUNDA-FEIRA
Ofício das Leituras
Primeira leitura
Do Livro de Jó 29,1-10; 30,1.9-23
Jó lamenta a sua aflição
29,1Jó continuou a falar, dizendo: 2"Quem me dera
voltar aos tempos de antigamente, aos dias em que Deus me protegia,
3quando a sua lâmpada brilhava sobre a minha cabeça e a sua luz
me guiava na escuridão: 4tal era eu nos dias de minha
adolescência, quando Deus protegia a minha tenda, 5quando o
Todo-Poderoso ainda estava comigo e meus filhos me rodeavam, 6quando
banhava meus pés com leite e a rocha me dava rios de azeite. 7Quando
me dirigia à porta da cidade e me sentava na praça, 8os
jovens, ao ver-me, se retiravam, os anciãos se levantavam e ficavam de
pé, 9os chefes interrompiam suas conversas, e punham a mão
sobre a boca; 10a voz dos líderes se calava e sua língua se
colava ao céu da boca. 30,1Mas agora zombam de mim os mais
jovens do que eu, a cujos pais teria recusado deixar com os cães do meu
rebanho. 9Agora sou alvo de suas zombarias, o tema do seu
desdém.10Cheios de horror por mim, ficam afastados e
atrevem-se a cuspir-me no rosto. 11Porque Deus deteve meu
arco e me abateu, eles perdem toda a compostura diante de mim. 12À
minha direita levantam-se os vadios, olham se estou tranquilo e abrem
contra mim caminhos de desgraça; 13desfazem minha estrada
,trabalham para minha ruína e não há quem os detenha; 14penetram
por uma larga brecha, ao assalto, no meio dos escombros. 15Os
terrores estão soltos contra mim, minha segurança se dissipa como
vento, minha salvação é varrida como nuvem. 16A minha alma
agora se dissolve: os dias de aflição apoderaram-se de mim, 17de
noite as dores penetram nos meus ossos, não dormem as chagas que me
corroem. 18Ele me agarra com violência pela roupa, segura-me
pela beira da túnica, 19ele me lança no lodo e sou
confundido com a poeira e a cinza. 20Clamo por ti, e não me
respondes; insisto, e não te importas comigo. 21Tu te
tornaste meu carrasco e me atacas com teu braço musculoso. 22Tu
me levantas e me fazes cavalgar o vento e me sacodes com a tempestade.
23Estou vendo que me entregas à morte, ao lugar de encontro de
todos os mortais.
Responsório Jó 30,17.19; 7,16b
R. As dores, de noite,
transpassam meus ossos;
não dormem os males que estão me roendo.
* Comparo-me à lama e sou semelhante à cinza
e ao pó.
V. Poupai-me, Senhor!
Meus dias de vida são um sopro de nada.
* Comparo-me.
Segunda leitura
Das Instruções de São Doroteu, abade
(Doct. 7, De accusatione sui ipsius, 1-2: PG 88,1695-1699)
(Séc. VI)
O motivo de toda perturbação vem de que ninguém se acusa a
si mesmoIndaguemos, irmãos, por que acontece tantas vezes que, ao
escutar alguém uma palavra desagradável, vai-se sem qualquer
aborrecimento, como se não a houvesse ouvido; enquanto que, em outras
ocasiões, mal a ouve, logo se perturba e se aflige? Donde será esta
diferença? Terá um motivo só ou vários? Noto haver muitas razões e
causas, mas uma é a principal que gera as outras, como alguém já disse.
Isto provém por vezes da própria situação em que se encontra a pessoa.
Se está em oração ou contemplação, sem dificuldade suporta o irmão
injurioso e continua tranquilo. Outras vezes, pelo grande afeto que
sente por um irmão, tudo tolera com toda a paciência pela amizade que
lhe tem. De outras também, por desprezo, quando faz pouco caso e
desdenha quem tenta perturbá-lo, nem se digna olhar para ele como ao
mais desprezível de todos, nem dar-lhe uma palavra em resposta, nem
mesmo referir a outrem suas injúrias e maledicências.
Não se perturbar ou afligir-se, como disse, vem de que se
despreza e não se faz caso do que dizem. Ao contrário, aborrecer-se e
incomodar-se com as palavras do irmão resulta de não se encontrar em
boas condições ou de odiar esse irmão. Existem muitas outras razões
para este fato, ditas de diversos modos. Mas a causa de toda
perturbação, se bem a procurarmos, está em que ninguém se acusa a si
mesmo.
Daí provém todo aborrecimento e aflição. Daí não termos às
vezes nenhum sossego. Nem é de se admirar porque, como aprendemos de
homens santos, não nos foi dado outro caminho para a tranquilidade. Que
assim é, nós o vimos em muitos. Negligentes e amantes da vida cômoda,
esperamos e acreditamos andar pelo caminho reto, apesar de
impacientíssimos em tudo, sem nunca querer acusar-nos a nós mesmos.
É isto o que acontece. Por mais virtudes que alguém possua,
ainda mesmo inúmeras e infinitas, se abandonar este caminho, jamais
terá sossego, mas sempre estará perturbado ou perturbará a outros e
perderá todo o trabalho.
Responsório 1Jo 1,8.9; Pr 28,13
R. Se dissermos que nós
não pecamos,
a nós mesmos, irmãos, enganamos.
* Se, porém, confessarmos as culpas,
nosso Deus, que é justo e fiel,
nos perdoará nossas faltas.
V. Quem esconde seus próprios
pecados,
jamais será bem sucedido. * Se, porém.
Oração
Ó Deus, cuja providência jamais falha, nós vos suplicamos
humildemente: afastai de nós o que é nocivo, e concedei-nos tudo o que
for útil. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do
Espírito Santo.
Conclusão da Hora
V. Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.