Ofício das Leituras

Primeira leitura
Do Livro do Profeta Isaías 29,13-24

Anúncio do julgamento de Deus

13 Disse o Senhor:
“Como este povo se aproxima de mim com palavras
e me honra só com os lábios,
enquanto seu coração está longe de mim,
e o seu temor para comigo é observado
como preceito humano para cumprir,
14
pois bem, eu continuarei a excitar a admiração
deste povo com um prodígio grande e admirável:
perecerá a sabedoria de seus sábios
e a prudência dos seus dirigentes desaparecerá”.
15
Ai dos que escondem do Senhor
suas intenções secretas,
os que praticam suas ações no escuro, e dizem:
“Quem nos vê? Quem nos conhece?”
16
Que pensamento perverso!
Acaso se pode comparar o oleiro ao barro
de tal modo que a obra diga ao seu autor:
“Tu não me fizeste?”
E o molde diga ao seu moldador:
“Tu não tiveste a idéia!”
17
Dentro de pouco tempo,
não se transformará o Líbano em jardim?
E não poderá o jardim tornar-se floresta?
18
Naquele dia, os surdos ouvirão as palavras do livro
e os olhos dos cegos verão,
no meio das trevas e das sombras.
19
Os humildes aumentarão sua alegria no Senhor,
e os mais pobres dos homens
se rejubilarão no Santo de Israel;
20
fracassou o prepotente,
desapareceu o trapaceiro,
e sucumbiram todos os malfeitores precoces,
21
os que faziam os outros pecar por palavras,
e armavam ciladas ao juiz à porta da cidade
e atacavam o justo com palavras falsas.
22
Isto diz o Senhor
à casa de Jacó, ele que libertou Abraão:
“Agora, Jacó não mais terá que envergonhar-se
nem seu rosto terá que enrubescer;
23
quando contemplarem as obras de minhas mãos,
hão de honrar meu nome no meio do povo,
honrarão o Santo de Jacó,
e temerão o Deus de Israel;
24
os homens de espírito inconstante conseguirão sabedoria
e os maldizentes concordarão em aprender”.

Responsório Is 29,18.19; cf. Mt 11,4.5

R. Os surdos ouvirão, naquele dia, as palavras do Senhor;
os cegos, libertados de suas trevas, tornarão a enxergar;

*
E os pobres saltarão de alegria pelo Santo de Israel.

V. Dizei a João o que vistes e ouvistes:
os cegos enxergam, os coxos caminham,
os surdos entendem
e os pobres recebem a Boa-nocia. * E os pobres.

Segunda leitura
Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo

(Sermo 293, 3: PL 38, 1328-1329)
(Séc. V)

João é a voz, Cristo, a Palavra
João era a voz, mas o Senhor, no princípio, era a Palavra (Jo 1,1). João era a voz passageira, Cristo, a Palavra eterna desde o princípio. Suprimi a palavra, o que se torna a voz? Esvaziada de sentido, é apenas um ruído. A voz sem palavras ressoa ao ouvido, mas não alimenta o coração.

Entretanto, mesmo quando se trata de alimentar nossos corações, vejamos a ordem das coisas. Se penso no que vou dizer, a palavra já está em meu coração. Se quero, porém, falar contigo, procuro o modo de fazer chegar ao teu coração o que já está no meu.

Procurando então como fazer chegar a ti e penetrar em teu coração o que já está no meu, recorro à voz e por ela falo contigo. O som da voz te faz entender a palavra; e quando te fez entendê-la, esse som desaparece, mas a palavra que ele te transmitiu permanece em teu coração, sem haver deixado o meu.

Não te parece que esse som, depois de haver transmitido minha palavra, está dizendo: É necessário que ele cresça e eu diminua? (Jo 3,30). A voz ressoou, cumprindo sua função, e desapareceu, como se dissesse: Esta é a minha alegria, e ela é completa (Jo 3,29). Guardemos a palavra; não percamos a palavra concebida em nosso íntimo.

Queres ver como a voz passa e a palavra divina permanece? Que foi feito do batismo de João? Cumpriu sua missão e desapareceu; agora é o batismo de Cristo que está em vigor.

Todos cremos em Cristo e esperamos dele a salvação: foi o que a voz anunciou.

Justamente porque é difícil não confundir a voz com a palavra, julgaram que João era o Cristo. Confundiram a voz com a palavra. Mas a voz reconheceu o que era para não prejudicar a palavra. Eu não sou o Cristo (Jo 1,20), disse João, nem Elias nem o Profeta. Perguntaram-lhe então: Quem és tu? Eu sou, respondeu ele, a voz que grita no deserto: “Aplainai o caminho do Senhor (Jo 1,19.23). É a voz do que grita no deserto, do que rompe o silêncio. Aplainai o caminho do Senhor, como se dissesse: “Sou a voz que se faz ouvir apenas para levar o Senhor aos vossos corações. Mas ele não se dignará vir aonde o quero levar, se não preparardes o caminho”.

O que significa: Aplainai o caminho, senão: Orai como se deve orar? O que significa ainda: Aplainai o caminho, senão: Tende pensamentos humildes? Imitai o exemplo de João. Julgam que é o Cristo e ele diz não ser aquele que julgam; não se aproveita do erro alheio para uma afirmação pessoal. Se tivesse dito: “Eu sou o Cristo”, facilmente teriam acreditado nele, pois já era considerado como tal antes que o dissesse. Mas não disse; pelo contrário, reconheceu o que era, disse o que não era, foi humilde. Viu de onde lhe vinha a salvação; compreendeu que era uma lâmpada e temeu que o vento do orgulho pudesse apagá-la.

Responsório Cf. Jo 3,30; 1,27; Mc 1,8

R. É preciso que ele cresça, eu, porém, que diminua;
o que vi depois de mim, já existia antes de mim;

*
Não sou digno de desatar-lhe as correias das sanlias.

V. Com água eu vos batizo;
mas ele vos batiza com o Esrito de Deus.
*
Não sou digno.

Hino
Te Deum

em latim

(A VÓS, Ó DEUS, LOUVAMOS)

A vós, ó Deus, louvamos,
a vós, Senhor, cantamos.
A vós, Eterno Pai,
adora toda a terra.

A vós cantam os anjos,
os céus e seus poderes:
Sois Santo, Santo, Santo,
Senhor, Deus do universo!

Proclamam céus e terra
a vossa imensa glória.
A vós celebra o coro
glorioso dos Apóstolos,

Vos louva dos Profetas
a nobre multidão
e o luminoso exército
dos vossos santos Mártires.

A vós por toda a terra
proclama a Santa Igreja,
ó Pai onipotente,
de imensa majestade,

e adora juntamente
o vosso Filho único,
Deus vivo e verdadeiro,
e ao vosso Santo Espírito.

Ó Cristo, Rei da glória,
do Pai eterno Filho,
nascestes duma Virgem,
a fim de nos salvar.

Sofrendo vós a morte,
da morte triunfastes,
abrindo aos que têm fé
dos céus o reino eterno.

Sentastes à direita
de Deus, do Pai na glória.
Nós cremos que de novo
vireis como juiz.

Portanto, vos pedimos:
salvai os vossos servos,
que vós, Senhor, remistes
com sangue precioso.

Fazei-nos ser contados,
Senhor, vos suplicamos,
em meio a vossos santos
na vossa eterna glória.

(A parte que se segue pode ser omitida, se for oportuno).

Salvai o vosso povo.
Senhor, abençoai-o.
Regei-nos e guardai-nos
até a vida eterna.

Senhor, em cada dia,
fiéis, vos bendizemos,
louvamos vosso nome
agora e pelos séculos.

Dignai-vos, neste dia,
guardar-nos do pecado.
Senhor, tende piedade
de nós, que a vós clamamos.

Que desça sobre nós,
Senhor, a vossa graça,
porque em vós pusemos
a nossa confiança.

Fazei que eu, para sempre,
não seja envergonhado:
Em vós, Senhor, confio,
sois vós minha esperança!


Oração

Ó Deus de bondade, que vedes o vosso povo esperando fervoroso o natal do Senhor, dai-nos chegar às alegrias da Salvação e celebrá-las sempre com intenso júbilo na solene liturgia. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora
V. Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.