Ofício das Leituras

V. Vinde, ó Deus em meu auxílio.
R. Socorrei-me sem demora.
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Esta introdução se omite quando o Invitatório precede imediatamente ao Ofício das Leituras.

Hino

Cantem meus lábios a luta
que sobre a cruz se travou;
cantem o nobre triunfo
que no madeiro alcançou
o Redentor do Universo
quando por nós se imolou.

O Criador teve pena
do primitivo casal,
que foi ferido de morte,
comendo o fruto fatal,
e marcou logo outra árvore,
para curar-nos do mal.

Tal ordem foi exigida
na obra da salvação:
cai o inimigo no laço
de sua própria invenção.
Do próprio lenho da morte
Deus fez nascer redenção.

Na plenitude dos tempos,
a hora santa chegou
e, pelo Pai enviado,
nasceu do mundo o autor;
e duma Virgem no seio
a nossa carne tomou.

Seis lustros tendo passado,
cumpriu a sua missão.
Só para ela nascido,
livre se entrega à Paixão.
Na cruz se eleva o Cordeiro,
como perfeita oblação.

Glória e poder à Trindade.
Ao Pai e ao Filho, louvor.
Honra ao Espírito Santo.
Eterna glória ao Senhor,
que nos salvou pela graça
e nos remiu pelo amor.

Salmodia

Ant.1 Confia ao Senhor o teu destino;
confia nele e com certeza ele agirá.

Salmo 36(37)

O destino dos maus e dos bons
Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra (Mt 5,5).

I

1 Não te irrites com as obras dos malvados *
nem invejes as pessoas desonestas;
2 eles murcham tão depressa como a grama, *
como a erva verdejante secarão.

3 Confia no Senhor e faze o bem, *
e sobre a terra habitarás em segurança.
4 Coloca no Senhor tua alegria, *
e ele dará o que pedir teu coração.

5 Deixa aos cuidados do Senhor o teu destino; *
confia nele, e com certeza ele agirá.
6 Fará brilhar tua inocência como a luz, *
e o teu direito, como o sol do meio-dia.

7 Repousa no Senhor e espera nele! *
Não cobices a fortuna desonesta,
– nem invejes quem vai bem na sua vida *
mas oprime os pequeninos e os humildes.

8 Acalma a ira e depõe o teu furor! *
Não te irrites, pois seria um mal a mais!
9 Porque serão exterminados os perversos, *
e os que esperam no Senhor terão a terra.

10 Mais um pouco e já os ímpios não existem; *
se procuras seu lugar, não o acharás.
11 Mas os mansos herdarão a nova terra, *
e nela gozarão de imensa paz.

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Confia ao Senhor o teu destino;
confia nele e com certeza ele agirá.

Ant. 2 Afasta-te do mal e faze o bem,
pois a força do homem justo é o Senhor.

II

12 O pecador arma ciladas contra o justo *
e, ameaçando, range os dentes contra ele;
13 mas o Senhor zomba do ímpio e ri-se dele, *
porque sabe que o seu dia vai chegar.

14 Os ímpios já retesam os seus arcos *
e tiram sua espada da bainha,
– para abater os infelizes e os pequenos *
e matar os que estão no bom caminho;
15 mas sua espada há de ferir seus corações, *
e os seus arcos hão de ser despedaçados.

16 Os poucos bens do homem justo valem mais *
do que a fortuna fabulosa dos iníquos.
17 Pois os braços dos malvados vão quebrar-se, *
mas aos justos é o Senhor que os sustenta.

18 O Senhor cuida da vida dos honestos, *
e sua herança permanece eternamente.
19 Não serão envergonhados nos maus dias, *
mas nos tempos de penúria, saciados.

20 Mas os ímpios com certeza morrerão, *
perecerão os inimigos do Senhor;
– como as flores das campinas secarão, *
e sumirão como a fumaça pelos ares.

21 O ímpio pede emprestado e não devolve, *
mas o justo é generoso e dá esmola.
22 Os que Deus abençoar, terão a terra; *
os que amaldiçoar, se perderão.

23 É o Senhor quem firma os passos dos mortais *
e dirige o caminhar dos que lhe agradam;
24 mesmo se caem, não irão ficar prostrados, *
pois é o Senhor quem os sustenta pela mão.

=25 Já fui jovem e sou hoje um ancião, †
mas nunca vi um homem justo abandonado, *
nem seus filhos mendigando o próprio pão.
26 Pode sempre emprestar e ter piedade; *
seus descendentes hão de ser abençoados.

27 Afasta-te do mal e faze o bem, *
e terás tua morada para sempre.
28 Porque o Senhor Deus ama a justiça, *
e jamais ele abandona os seus amigos.

– Os malfeitores hão de ser exterminados, *
e a descendência dos malvados destruída;
29 mas os justos herdarão a nova terra *
e nela habitarão eternamente.

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Afasta-te do mal e faze o bem,
pois a força do homem justo é o Senhor.

Ant.3 Confia em Deus e segue sempre seus caminhos!

III

30 O justo tem nos lábios o que é sábio, *
sua língua tem palavras de justiça;
31 traz a Aliança do seu Deus no coração, *
e seus passos não vacilam no caminho.

32 O ímpio fica à espreita do homem justo, *
estudando de que modo o matará;
33 mas o Senhor não o entrega em suas mãos, *
nem o condena quando vai a julgamento.

34 Confia em Deus e segue sempre seus caminhos; *
ele haverá de te exaltar e engrandecer;
– possuirás a nova terra por herança, *
e assistirás à perdição dos malfeitores.

35 Eu vi o ímpio levantar-se com soberba, *
elevar-se como um cedro exuberante;
36 depois passei por lá e já não era, *
procurei o seu lugar e não o achei.

37 Observa bem o homem justo e o honesto: *
quem ama a paz terá bendita descendência.
38 Mas os ímpios serão todos destruídos, *
e a sua descendência exterminada.

39 A salvação dos piedosos vem de Deus; *
ele os protege nos momentos de aflição.
=40 O Senhor lhes dá ajuda e os liberta, †
defende-os e protege-os contra os ímpios, *
e os guarda porque nele confiaram.

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Confia em Deus e segue sempre seus caminhos!

V. Quando eu for elevado da terra,
R. Atrairei para mim todo ser.

Primeira leitura
Do Livro das Lamentações 1,1-12.18-20

A desolação de Jerusalém
Quão solitária está a Cidade populosa! Tornou-se viúva a primeira entre as nações; a princesa das províncias, em trabalhos forçados. Passa a noite chorando, pelas faces correm-lhe as lágrimas. Não há quem a console entre os seus amantes; todos os seus amigos a traíram, tornaram-se seus inimigos. Judá foi exilada, submetida à opressão, à dura servidão; hoje habita entre as nações, sem encontrar repouso; os que a perseguiam alcançaram-na em lugares sem saída. Os caminhos de Sião estão de luto, ninguém vem às suas festas; todas as suas portas desertas, gemem seus sacerdotes; suas virgens estão tristes, ela mesma cheia de amargura. Venceram-na seus opressores, seus inimigos estão felizes, porque o Senhor a castigou por seus numerosos crimes; suas criancinhas partiram cativas diante do opressor. A filha de Sião perdeu toda a sua formosura; seus príncipes estavam como cervos que não acham pasto; caminhavam desfalecidos diante de quem os caçava. Jerusalém se lembra de seus dias de miséria e aflição, quando seu povo caía nas mãos do adversário e ninguém o socorria. Ao vê-la, seus adversários riam de sua ruína. Jerusalém pecou gravemente e tornou-se impura; os que antes a honravam desprezaram-na, vendo-lhe a nudez, e ela, entre gemidos, volta as costas. Leva sua impureza nas vestes sem pensar no futuro. Tão baixo caiu! Não há quem a console. “Vê, o Senhor, minha miséria e o triunfo do inimigo.” O adversário estendeu a mão sobre todos os seus tesouros: ela viu os pagãos entrarem no seu santuário, aos quais havias proibido entrar em sua assembleia. Todo o seu povo, entre gemidos, procura pão; deram seus tesouros para comer, para reencontrar a vida. “Vê, o Senhor, olha como me tornei desprezível! Vós todos que passais pelo caminho, olhai e vede: Se há dor semelhante à dor que me atormenta, com o que o Senhor me afligiu no dia de sua ardente ira.” “O Senhor é justo, pois me rebelei contra sua palavra. Ouvi, todos os povos, e vede minha dor. Minhas virgens e meus jovens partiram para o cativeiro. Chamei os meus amantes: eles me traíram. Meus sacerdotes e anciãos morreram na cidade, buscando um alimento que lhes devolvesse a vida. Vê, o Senhor, minha angústia e o tremor de minhas entranhas! Dentro, se me transtorna o coração: como fui rebelde! Na rua a espada me deixa sem filhos; em casa é como a morte.”

Responsório Lm 1,12
R. Vós todos que passais pelo caminho, olhai e vede,
* Se há dor semelhante à dor que me atormenta.
V. Observai, povos todos e vede, * Se há dor.

Segunda leitura
Dos Comentários sobre os Salmos, de Santo Hilário, bispo
(Tract. in Ps 131,6-7: CSEL 22,666-667)


Cristo obedeceu até à morte de cruz
para nos tornar dignos de ser a morada de Deus
Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, como um justo, realizou todos os mistérios da salvação humana cujo sentido nos foi revelado graças às profecias de Davi. Sua obra mais prodigiosa foi conscientizar o homem de que, instruído pela ciência divina, se tornaria digno de ser a morada de Deus. E que o homem é realmente a habitação de Deus, sabemos pela própria palavra do profeta: No meio deles habitarei e andarei; serei o seu Deus, e eles serão o meu povo (2Cor 6,16; cf. Ez 37,27). E ainda: Eu, morando neles, me exaltarão eternamente (cf. Sl 5,12: Vulg.). Também o próprio Senhor nos diz no Evangelho: Se alguém me ama, guardará minha palavra; meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele nossa morada (Jo 14,23). E o Apóstolo afirma: Vós sois o templo de Deus, e o Espírito de Deus habita em vós (1Cor 3,16). Deus habita os corações fiéis, não por uma penetração corporal que, pela força da gravidade, passasse de um lugar para outro, mas como algo que, por uma força espiritual, se infundisse nos corações já purificados das impurezas terrenas, tendo entrado pelas portas abertas da inocência como luz para iluminar esses corações. Revestindo-se de um corpo, o Unigênito de Deus, prometeu que não entraria em seu tabernáculo com o homem, isto é, que não iria voltar à sua habitação celeste antes que encontrasse uma morada no coração do homem. Nem prometeu que sua ascensão se processasse num leito de repouso. O leito é o lugar de repouso dos trabalhos humanos. Mas, porque no céu haverá um permanente repouso e porque a natureza descansada desconhece o labor, sempre estará no leito, isto é, sempre na paz. Nosso Senhor, permanecendo na condição de Deus, aceitou a condição de escravo, fazendo-se obediente até a morte e morte de cruz (Fl 2,8); e não existe morte mais cruel. Obedeceu até a morte de cruz para nos tornar dignos de ser morada de Deus. Quis morrer quem é a Vida. Não recusou a frágil morada do corpo, para que pudesse assumir a condição de escravo, embora permanecendo Deus. Afastou-se, pois, daquela paz própria da sua eterna bem- aventurança. Disso nos dá testemunho o Salmo 40 ao dizer que o Senhor irá ampará-lo em seu leito de dor, e lhe vai transformar a doença em vigor (Sl 40,4). Pela obediência à vontade do Pai transformou-se de Deus em homem, de força em fraqueza, de vivo em morto, de eterno juiz do mundo em réu, seu repouso tornando-se sofrimento.

Responsório Fl 2,6.7;Rm 15,1.3
R. Embora de condição divina,
Cristo Jesus não se prevaleceu de sua igualdade com Deus,
* Mas aniquilou-se a si mesmo,
assumindo a condição de escravo
e assemelhando-se aos homens.
V. Nós, os fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos,
e não buscar só o que nos agrada.
Cristo também não procurou o que lhe agradava.
*
Mas aniquilou-se a si.

Oração

Deus eterno e todo-poderoso, dai-nos celebrar de tal modo os mistérios da paixão do Senhor, que possamos alcançar vosso perdão. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da hora

V. Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.