Primeira leitura
Do Livro do Profeta Isaías 33,7-24
A salvação futura
7Vede! Ariel grita por socorro nas ruas, os mensageiros da paz choram amargamente. 8As estradas estão desertas, não há transeuntes nos caminhos. Rompeu-se a aliança, as testemunhas são desprezadas, a pessoa humana não é levada em nenhuma conta. 9A terra, coberta de luto, fenece, o Líbano, coberto de vergonha, está tomado pela praga, o Saron se tornou como a estepe, Basã e o Carmelo perdem a sua folhagem. 10Agora me erguerei, diz o Senhor, agora me levantarei, agora serei exaltado. 11Concebeis feno e dais à luz palha; meu sopro, como o fogo, vos consumirá. 12Os povos serão como que calcinados; como espinhos cortados serão queimados no fogo. 13Vós que estais longe, ouvi o que fiz, vós que estais perto, conhecei o meu poder. 14Em Sião, os pecadores ficaram apavorados: o tremor se apoderou dos ímpios. Quem dentre nós poderá permanecer junto ao fogo devorador? Quem dentre nós poderá manter-se junto aos braseiros eternos? 15Aquele que pratica a justiça e fala o que é reto, que despreza o ganho explorador, que se recusa a aceitar o suborno, que tapa os ouvidos para não ouvir falar em crimes de sangue, que fecha os olhos para não ver o mal, 16este habitará nas alturas, os rochedos inacessíveis serão seu refúgio. O pão de que necessita lhe será dado, e a água para a sub- sistência lhe será assegurada. 17Os teus olhos contemplarão o rei na sua beleza, eles verão uma terra distante. 18Teu coração relembrará os sustos de outrora: “Onde está aquele que contava? Onde está aquele que pesava? Onde está aquele que contava as torres?” 19Não tornarás a ver o povo insolente, um povo de linguagem ininteligível, de fala bárbara e sem sentido. 20Olha para Sião, cidade das nossas festas solenes, vejam teus olhos Jerusalém, morada tranquila, tenda que não será mudada, cujas estacas jamais serão arrancadas, cujas cordas nunca serão rompidas. 21É ali que o Senhor mostra seu poder, em lugar de rios e de largos canais, mas onde não navegarão barcos de remo, nem passará nenhum navio suntuoso, 22(Com efeito, o Senhor é nosso juiz, é nosso legislador, o Senhor é nosso rei: ele é nosso salvador.) 23Tuas cordas estão frouxas: não conseguem segurar o mastro, eles não içam mais a bandeira. Então o grande despojo foi repartido: os coxos se entregaram ao saque. 24Nenhum habitante seu tornará a dizer: “Estou doente.” O povo que nela morar alcançará o perdão das suas transgressões.
Responsório Cf. Is 33,22; Sl 96(97),1
R. É o Senhor nosso Juiz e nosso Rei,
* O Senhor Legislador nos salvará.
V. Deus é Rei!
Exulte a terra de alegria
e as ilhas numerosas rejubilem. * O Senhor.
Segunda leitura
Dos Comentários sobre os Salmos, de Santo Agostinho, bispo
(In Ps. 37,13-14: CCL 38, 391-392)
(Séc. V)
O
teu desejo é a tua oração
Meu coração grita e geme de dor (Sl 37,9). Há gemidos ocultos que não são ouvidos pelos homens. Contudo, se o coração está possuído por tão ardente desejo que a ferida interior do homem se manifesta em sons externos, procuramos a causa e dizemos a nós mesmos: talvez ele tenha razão de gemer, e talvez lhe tenha sucedido algo. Mas quem pode compreender esses gemidos, senão aquele a cujos olhos e ouvidos eles se dirigem? Por isso diz: Meu coração grita e geme de dor. Porque os homens, se ouvem às vezes os gemidos de um homem, ouvem freqüentemente os gemidos da carne; mas não ouvem o que geme em seu coração.
E quem seria capaz de compreender por que grita? Escuta o que diz: Diante de vós está todo o meu desejo (Sl 37,10). Não diante dos homens, que não podem ver o coração, mas diante de vós está todo o meu desejo. Se, pois, o teu desejo está diante do Pai, ele que vê o que está oculto, te recompensará.
Teu desejo é a tua oração; se o desejo é contínuo, também a oração é contínua. Não foi em vão que o Apóstolo disse: Orai sem cessar (1Ts 5,17). Será preciso ter sempre os joelhos em terra, o corpo prostrado, as mãos levantadas, para que ele nos diga: Orai sem cessar? Se é isto que chamamos orar, não creio que possamos fazê-lo sem cessar.
Há outra oração interior e contínua: é o desejo. Ainda que faças qualquer outra coisa, se desejas aquele repouso do sábado eterno, não cessas de orar. Se não queres cessar de orar, não cesses de desejar.
Se teu desejo é contínuo, a tua voz é contínua. Ficarás calado, se deixares de amar. Quais são os que se calaram? Aqueles de quem foi dito: A maldade se espalhará tanto, que o amor de muitos esfriará (Mt 24,12).
O arrefecimento da caridade é o silêncio do coração; o fervor da caridade é o clamor do coração. Se tua caridade permanece sempre, clamas sempre; se clamas sempre, desejas sempre; se desejas, tu te recordas do repouso eterno.
Diante de vós está todo o meu desejo. Se o desejo está diante de Deus, o gemido não estará? Como poderia ser assim, se o gemido é a expressão do desejo?
Por isso o salmista continua: Meu gemido não vos é oculto (Sl 37,10). Não é oculto para Deus, mas é oculto para a multidão dos homens. Ouve-se por vezes um humilde servo de Deus dizer: Meu gemido não vos é oculto e vê-se também esse servo sorrir. Será por que o desejo está morto em seu coração? Se o desejo permanece, também permanece o gemido; este nem sempre chega aos ouvidos dos homens, mas nunca está longe dos ouvidos de Deus.
Responsório
R. Caminhando
ainda no Cristo, peregrinos,
enquanto nós andamos para a meta,
cantemos de tal modo a desejar;
* Pois quem deseja, embora cale sua língua,
no coração está cantando para Deus.
V. Quem não deseja é um mudo para Deus,
embora fira nosso ouvido com seus gritos. * Pois quem.
Oração
Nós vos pedimos, ó Deus todo-poderoso, que a vossa graça sempre nos preceda e acompanhe, para que, esperando ansiosamente a vinda do vosso Filho, possamos obter a vossa ajuda nesta vida e na outra. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.