SEXTA-FEIRA DEPOIS DAS CINZAS

Ofício das Leituras

V. Vinde, ó Deus em meu auxílio.
 
R. Socorrei-me sem demora.
 Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
 Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Esta introdução se omite quando o Invitatório precede imediatamente ao Ofício das Leituras.
 
Hino
 
Agora é tempo favorável,
divino dom da Providência,
para curar o mundo enfermo
com um remédio, a penitência.

 
Da salvação refulge o dia,
na luz de Cristo a fulgurar.
O coração, que o mal feriu,
a abstinência vem curar.
 
Em corpo e alma, a abstinência,
Deus, ajudai-nos a guardar.
Por tal passagem, poderemos
à páscoa eterna, enfim, chegar.
 
Todo o Universo vos adore,
Trindade Santa, Sumo Bem.
Novos por graça entoaremos
um canto novo a vós. Amém.
 
Salmodia

Ant.1 Nossos pais nos transmitiram as grandezas,
os prodígios do Senhor e seu poder.

Salmo 77(78),1-39

A bondade de Deus e a infidelidade do povo
ao longo da história da Salvação

Esses fatos aconteceram para serem exemplos para nós (1Cor 10,6).

I

1 Escuta, ó meu povo, a minha Lei, *
ouve atento as palavras que eu te digo;
2 abrirei a minha boca em parábolas, *
os misrios do passado lembrarei.

3 Tudo aquilo que ouvimos e aprendemos, *
e transmitiram para nós os nossos pais,
4 não haveremos de ocultar a nossos filhos, *
mas à nova geração nós contaremos:

– As grandezas do Senhor e seu poder, *
as maravilhas que por nós realizou;
5 um preceito em Jacó ele ordenou, *
uma lei instituiu em Israel.

– Ele havia ordenado a nossos pais *
que ensinassem estas coisas a seus filhos,
6 para que a nova geração as conhecesse *
e os filhos que haveriam de nascer.

– Levantem-se e as contem a seus filhos, *
7
para que ponham no Senhor sua esperança;
– das obras do Senhor não se esqueçam, *
e observem fielmente os seus preceitos.

8 Nem se tornem, a exemplo de seus pais, *
rebelde e obstinada geração,
– uma raça de inconstante coração, *
infiel ao Senhor Deus, em seu espírito.

9 Os filhos de Efraim, hábeis no arco, *
no dia do combate debandaram;
10 não guardaram a Aliança do Senhor, *
recusaram-se a andar na sua Lei.

11 Esqueceram os seus feitos gloriosos *
e os progios que outrora lhes mostrara;
12 na presença de seus pais fez maravilhas, *
no lugar chamado Tânis, lá no Egito.

13 Rasgou o mar e os conduziu através dele, *
levantando as suas águas como um dique;
14 durante o dia orientou-os pela nuvem, *
e de noite por um fogo esplendoroso.

15 Rochedos no deserto ele partiu *
e lhes deu para beber águas correntes;
16 fez brotar água abundante do rochedo, *
e a fez correr como torrente no deserto.

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Nossos pais nos transmitiram as grandezas,
os prodígios do Senhor e seu poder.

Ant.2 Eles comeram o maná vindo do céu,
beberam água de uma rocha espiritual
.

II

17 Mas pecaram contra ele sempre mais, *
provocaram no deserto o Deus Altíssimo;
18 e tentaram o Senhor nos corações, *
exigindo alimento à sua gula.

19 Falavam contra Deus e assim diziam: *
“Pode o Senhor servir a mesa no deserto?”
20 Eis que fere os rochedos num momento *
e faz as águas transbordarem em torrentes.
– “Mas se também capaz de dar-nos pão, *
e a seu povo poderá prover de carne?”

=21 A tais palavras, o Senhor ficou irado, †
uma fogueira se ateou contra Jacó, *
e sua ira se acendeu contra Israel;
22 porque não creram no Senhor Deus de Israel, *
nem tiveram confiança em sua ajuda.

23 Ordenou, então, às nuvens lá dos céus, *
e as comportas das alturas fez abrir;
24 fez chover-lhes o maná e alimentou-os, *
e lhes deu para comer o pão do céu.

25 O homem se nutriu do pão dos anjos, *
e mandou-lhes alimento em abundância;
26 fez soprar o vento leste pelos céus *
e fez vir, por seu poder, o vento sul.

27 Fez chover carne para eles como pó, *
choveram aves como areia do oceano;
28 elas caíram sobre os seus acampamentos *
e pousaram ao redor de suas tendas.

29 Eles comeram e beberam à vontade; *
o Senhor satisfizera os seus desejos.
30 Mal, porém, se tinham eles saciado, *
e a comida ainda estava em suas bocas,

=31 inflamou-se a sua ira contra eles †
e matou os mais robustos entre o povo, *
abatendo a fina flor de Israel.

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Eles comeram o maná vindo do céu,
beberam água de uma rocha espiritual.

Ant.3 Recordemos que o Senhor é nossa Rocha
e que o nosso Redentor é o Deus Altíssimo!

III

32 Com tudo isso, eles pecaram novamente, *
não deram às maravilhas do Senhor.
33 Foram seus dias consumidos como um sopro, *
e seus anos bem depressa se encurtaram.

34 Quando os feria, eles então o procuravam, *
convertiam-se correndo para ele;
35 recordavam que o Senhor é sua rocha *
e que Deus, seu Redentor, é o Deus Altíssimo.

36 Mas apenas o honravam com seus lábios *
e mentiam ao Senhor com suas línguas;
37 seus corações enganadores eram falsos *
e, infiéis, eles rompiam a Aliança.

38 Mas o Senhor, sempre benigno e compassivo, *
não os matava e perdoava seu pecado;
– quantas vezes dominou a sua ira *
e não deu largas à vazão de seu furor.
39 Recordava-se que eles eram carne, *
sopro que passa e jamais torna a voltar.

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Recordemos que o Senhor é nossa Rocha
e que o nosso Redentor é o Deus Altíssimo!

 
V. Voltai ao Senhor vosso Deus.
R. Ele é bom, compassivo e clemente!

Primeira leitura
Do Livro do Êxodo 2,1-22

Nascimento e fuga de Moisés
Certo homem da casa de Levi foi tomar por esposa uma descendente de Levi, a qual concebeu e deu à luz um filho. Vendo que era belo, escondeu-o por três meses. E como não pudesse mais escondê-lo, tomou um cesto de papiro, calafetou-o com betume e pez, colocou dentro a criança e a depôs nos juncos, à beira do rio. De longe, uma irmã do menino observava o que lhe iria acontecer.
Eis que a filha de Faraó desceu para se lavar no rio, enquanto as suas criadas andavam à beira do rio. Ela viu o cesto entre os juncos e mandou uma de suas servas apanhá- lo. Abrindo-o, viu a criança: era um menino que chorava. Compadecida, disse: “É uma criança dos hebreus!” Então a sua irmã disse à filha do Faraó: “Queres que eu vá e te chame uma mulher dos hebreus que possa criar esta criança?” A filha de Faraó respondeu: “Vai!” Partiu, pois, a moça e chamou a mãe da criança. A filha de Faraó lhe disse: “Leva esta criança e cria-a e eu te darei a tua paga.” A mulher recebeu a criança e a criou. Quando o menino cresceu, ela o entregou à filha de Faraó, a qual o adotou e lhe pôs o nome de Moisés, dizendo: “Eu o tirei das águas.”
Naqueles dias, Moisés, já crescido, saiu para ver os seus irmãos, e viu as tarefas que pesavam sobre eles; viu também um egípcio que feria um dos seus irmãos hebreus. E como olhasse para uma e outra parte e visse que ninguém estava ali, matou o egípcio e o escondeu na areia. No dia seguinte, voltou no momento em que dois hebreus estavam brigando, e disse ao agressor: “Por que feres o teu próximo?” E ele respondeu: “Quem te constituiu nosso chefe e nosso juiz? Acaso queres matar-me como mataste ontem o egípcio?” Moisés teve medo e disse: “O fato já é conhecido!” O Faraó, tendo notícia do caso, procurava matar Moisés. Mas este, fugindo da sua vista, retirou-se para a terra de Madiã e assentou-se junto a um poço.
Ora, um sacerdote de Madiã tinha sete filhas. Elas, tendo vindo tirar água, depois de terem enchido os bebedouros, queriam dar de beber ao rebanho de seu pai. Sobrevieram uns pastores e as expulsaram dali. Então Moisés se levantou e, defendendo as moças, deu de beber ao rebanho. Elas voltaram para Raguel, seu pai, e este lhes disse: “Por que voltastes mais cedo hoje?” Responderam: “Um egípcio nos livrou da mão dos pastores e, além disso, tirou água para nós e deu de beber ao rebanho.” - “Onde está ele?”, perguntou o pai. “Por que deixastes ir esse homem? Chamai- o para comer.” Moisés decidiu ficar com ele, que deu a Moisés sua filha Séfora. E ela deu à luz um filho, a quem ele chamou de Gersam, pois disse: “Sou um imigrante em terra estrangeira.”

Responsório Cf. Hb 11,24-25.26
R. Pela fé, Moisés, já adulto,
recusou ser chamado filho da filha do Faraó;
preferiu ser maltratado com o povo de Deus
a tirar proveito passageiro do pecado.
*
Pois ele tinha os olhos fixos na recompensa.
V.
Considerava a humilhação de Cristo
uma riqueza maior do que os tesouros do Egito.
*
Pois ele tinha.

Segunda leitura

Das Homílias de São João Crisóstomo, bispo

(Supp., Hom. 6 de precatione: PG 64,462-466)
(Séc. IV)

A oração e a luz da alma

A oração, o diálogo com Deus, é um bem incomparável, porque nos põe em comunhão íntima com Deus. Assim como os olhos do corpo são iluminados quando recebem a luz, a alma que se eleva para Deus é iluminada por sua luz inefável. Falo da oração que não é só uma atitude exterior, mas que provém do coração e não se limita a ocasiões ou horas determinadas, prolongando-se dia e noite, sem interrupção.
Com efeito, não devemos orientar o pensamento para Deus apenas quando nos aplicamos à oração; também no meio das mais variadas tarefas - como o cuidado dos pobres, as obras úteis de misericórdia ou quaisquer outros serviços do próximo - é preciso conservar sempre vivos o desejo e a lembrança de Deus. E assim, todas as nossas obras, temperadas com o sal do amor de Deus, se tornarão um alimento dulcíssimo para o Senhor do universo. Podemos, entretanto, gozar continuamente em nossa vida do bem que resulta da oração, se lhe dedicarmos todo o tempo que nos for possível.
A oração é a luz da alma, o verdadeiro conhecimento de Deus, a mediadora entre Deus e os homens. Pela oração a alma se eleva até os céus e une-se ao Senhor num abraço inefável; como uma criança que, chorando, chama sua mãe, a alma deseja o leite divino, exprime seus próprios desejos e recebe dons superiores a tudo que é natural e visível. A oração é venerável mensageira que nos leva à presença de Deus, alegra a alma e tranquiliza o coração. Não penses que essa oração se reduza a palavras. Ela é desejo de Deus, amor inexprimível que não provém dos homens, mas é efeito da graça divina, como diz o Apóstolo: Nós não sabemos o que pedir, nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis (Rm 8,26).
Semelhante oração, quando o Senhor a concede a alguém, é uma riqueza que não lhe pode ser tirada e um alimento celeste que sacia a alma. Quem a experimentou inflama-se do desejo eterno de Deus, como que de um fogo devorador que abrasa o coração.
Praticando-a em sua pureza original, adorna tua casa de modéstia e humildade, torna-a resplandecente com a luz da justiça. Enfeita-a com boas obras, quais plaquetas de ouro, ornamenta-se de fé e de magnanimidade em vez de paredes e mosaicos. Como cúpula e coroamento de todo o edifício, coloca a oração. Assim prepararás para o Senhor uma digna morada, assim terás um esplêndido palácio real para o receber, e poderás tê-lo contigo na tua alma, transformada, pela graça, em imagem e templo da sua presença.

Responsório Lm 5,20.21;Mt 8,25
R. Por que nos esqueceis eternamente?
Por que nos rejeitais por toda a vida?
*
Ó Senhor, reconduzi-nos para vós,
e para vós nós voltaremos convertidos!
V.
Salvai-nos, Ó Senhor, que perecemos.
*
Ó Senhor.

Oração

Ó Deus, assisti com vossa bondade a penitência que iniciamos, para que vivamos interiormente as práticas externas da Quaresma. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora

 V. Bendigamos ao Senhor.
R. Demos graças a Deus.