Do Livro do Profeta Ezequiel
38,14-39,10
Visão dos últimos dias
38,14
Profetiza, pois, filho do homem, e dize a Gog: Assim
diz o Senhor Deus: Não é assim que, quando o meu povo,
Israel, estiver habitando em segurança, tu te porás em movimento? 15Sim, virás da tua terra, do extremo norte, tu e
povos numerosos contigo, todos eles montados em cavalos,
uma tropa enorme e um exército imenso! 16Subirás contra o
meu povo Israel, como uma nuvem que cobrir a terra. Isto
acontecerá no fim dos dias. Naquele tempo te trarei contra
a minha terra, a fim de que as nações me conheçam, quando
manifestar minha santidade aos olhos deles, por meio de
teu intermediário, Gog.
17Assim diz o Senhor Deus: Tu é aquele de que falei nos
dias antigos por intermédio dos meus servos, os profetas de
Israel, os quais profetizaram naqueles dias, anunciando que
havia de trazer-te contra eles. 18Sucederá naquele dia, em
que Gog vier contra a terra de Israel - oráculo do Senhor
Deus - que a minha cólera transbordará. Na minha ira 19no
meu ciúme, no ardor da minha indignação eu o digo. Com
efeito, naquele dia haverá grande tumulto na terra de Israel.
20Diante de mim tremerão os peixes do mar, as aves do céu,
os animais do campo, todo réptil que rasteja sobre a terra
e todo homem que vive sobre a face da terra. Os montes
serão arrasados, as rochas íngremes, bem como todos os
muros ruirão por terra. 21Chamarei contra ele toda espada,
oráculo do Senhor Deus; será a espada de todos contra todos.
22Castigá-lo-ei com a peste e o sangue; farei chover uma
chuva torrencial, saraiva, fogo e enxofre sobre ele e as suas
tropas e os muitos povos que vierem com ele. 23Engrandecerme-ei, me santificarei e me darei a conhecer aos olhos de
muitas nações e elas saberão que eu sou o Senhor.
39,1Tu, filho do homem, profetiza contra Gog e dize: Assim
diz o Senhor Deus: Eis que estou contra ti, Gog, príncipe e
chefe de Mosoc e de Tubal. 2Far-te-ei voltar e conduzir-te-ei,
fazendo com que subas desde as extremidades do norte e te
trarei aos montes de Israel. 3Aí quebrarei o teu arco na tua
mão esquerda e farei cair as tuas flechas da tua mão direita.
4Sobre os montes de Israel cairás tu, juntamente com tuas
tropas e com os povos que te acompanham. Entregar-te-ei
às aves de rapina de toda espécie e aos animais selvagens
para seres devorado. 5Cairás em pleno campo, pois eu o
disse, oráculo do Senhor Deus. 6Enviarei fogo a Magog e
aos que habitam as ilhas em segurança e saberão que eu sou
o Senhor. 7Farei com que o meu nome santo seja conhecido
no seio do meu povo Israel e não consentirei na profanação
do meu santo nome. Então as nações saberão que eu sou o
Senhor, santo em Israel.
8Certamente isto há de sobrevir, pois que está decidido,
oráculo do Senhor Deus: Este é o dia de que falei.
9Então sairão os habitantes das cidades de Israel a
queimar, a fazer fogo com armas, com escudos e paveses,
com arcos e flechas, com bastões e lanças. Com eles farão
fogo durante sete anos. 10Não terão necessidade de catar
lenha no campo, nem de apanhá-la nas florestas, pois será
com as armas aí deixadas que farão fogo, e assim despojarão
aqueles que os despojavam e saquearão aqueles que os
saqueavam, oráculo do Senhor Deus.
Responsório Ez 38,19; Mt 24,27
R. No meu ciúme, no ardor da minha indignação eu o
digo:
* Naquele dia haverá um grande tumulto na terra de Israel.
V. Como o relâmpago parte do oriente e ilumina até o ocidente,
assim será a volta do Filho do Homem. * Naquele dia.
Do “Sermão sobre as Bem-aventuranças”, de São Leão
Magno, papa
(Sermo 95,6-8: PL 54,464-465)
(Séc. V)
A sabedoria cristã
Em seguida diz o Senhor: Bem-aventurados os que têm
fome e sede de justiça porque serão saciados (Mt 5,6). Esta
fome nada tem de corpóreo. Esta sede não busca nada de
terreno. Mas deseja ser saciada com a justiça e, introduzida
no segredo mais oculto, anseia por ser repleta do próprio
Senhor.
Feliz espírito, faminto do pão da justiça e que arde por tal
bebida. Na verdade não teria disso nenhuma cobiça, se não
lhe houvesse provado a doçura. Ouvindo o espírito profético
que lhe diz: Provai e vede como é suave o Senhor (Sl 33,9),
tomou uma porção da altíssima doçura e inflamou-se pelo
amor das castíssimas delícias. Abandonando todo o criado,
acendeu-se-lhe o desejo de comer e beber a justiça e experimentou a verdade do primeiro mandamento: Amarás o
Senhor Deus de todo o teu coração, com toda a tua mente,
com todas as tuas forças (Dt 6,5; cf. Mt 22,37). Porque não
são coisas diferentes amar a Deus e amar a justiça.
Por fim, como o interesse pelo próximo se une ao amor de
Deus, também aqui o desejo da justiça é acompanhado pela
virtude da misericórdia, e se diz: Bem-aventurados os mise-
ricordiosos porque deles terá Deus misericórdia (Mt 5,7).
Reconhece, ó cristão, a dignidade de tua sabedoria e
entende de que modo engenhoso foste chamado ao prêmio.
A misericórdia te quer misericordioso, a justiça, justo, para
que em sua criatura transpareça o Criador e no espelho do
coração do homem refulja a imagem de Deus expressa
pelas linhas da imitação. Firme é a fé dos que assim agem,
teus desejos te acompanham e daquilo que amas gozarás
sem fim.
Já que pela esmola tudo se faz puro para ti, chegas à
bem-aventurança que é prometida como consequência. Diz
o Senhor: Bem-aventurados os puros de coração porque
verão a Deus (Mt 5,8). Imensa felicidade, caríssimos, para
quem se prepara tão grande prêmio. Que é, então, ter o
coração puro? Entregar-se às virtudes acima descritas. Que
inteligência poderá conceber e que língua proclamar quão
grande seja a felicidade de ver a Deus? E, no entanto, isto
acontecerá quando a natureza humana for transformada, de
sorte que não mais em espelho ou enigma, mas face a face
(1Cor 13,12), verá aquela Divindade que homem algum
pôde ver tal qual é. E obterá o que os olhos não viram, nem
os ouvidos ouviram, nem subiu ao coração do homem (1Cor
2,9), pelo gáudio indizível da eterna contemplação.
Responsório Mt 5,6; Sl 35(36),10.9
R. Felizes os que têm fome e sede da justiça,
porque serão
saciados.
* Pois a fonte da vida está em ti,
e com tua luz nós vemos
a luz.
V. Eles ficam saciados com a gordura de tua casa,
tu os
embriagas com um rio de delícias.
* Pois a fonte.