QUARTA-FEIRA

Ofício das Leituras

Primeira leitura
Do Segundo Livro dos Macabeus 7,1-19

O martírio dos sete irmãos
1Aconteceu também que sete irmãos, detidos com sua mãe, começaram a ser coagidos pelo rei a tocar na proibida carne de porco, sendo por isso atormentados com flagelos e nervos. 2Um dentre eles, fazendo-se porta-voz dos outros, assim falou: “Que pretendes interrogar e saber de nós? Estamos prontos a morrer, antes que a transgredir as leis de nossos pais.” 3O rei, enfurecido, ordenou que se pusessem ao fogo assadeiras e caldeirões. 4Tornados estes logo incandescentes, ordenou que se cortasse a língua ao que se havia feito porta-voz dos outros, e lhe arrancassem o couro cabeludo e lhe decepassem as extremidades, tudo isto aos olhos dos outros irmãos e de sua mãe. 5Já mutilado em todos os seus membros, mandou que o levassem ao fogo e o fizessem assar, enquanto ainda respirava. Difundindo-se abundantemente o vapor da assadeira, os outros exortavam- se entre si e com sua mãe, a morrer com valentia. E diziam: 6“O Senhor Deus nos observa e tem verdadeiramente compaixão de nós, segundo o que Moisés declarou no seu cântico, que atesta abertamente: ‘Ele terá compaixão de seus servos’”
7Tendo passado o primeiro desta forma à outra vida trouxeram o segundo para o suplício. Tendo-lhe arrancado a pele da cabeça com os cabelos, perguntaram-lhe: “Queres comer, antes que teu corpo seja torturado membro por membro?” 8Ele, porém, na língua de seus pais, respondeu: “Não!” Por isso, foi também submetido aos mesmos tormentos que o primeiro. 9Chegado já ao último alento, disse: “Tu, celerado, nos tiras desta vida presente. Mas o Rei do mundo nos fará ressuscitar para uma vida eterna, a nós que morremos por suas leis!”
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Depois deste, começaram a torturar o terceiro. Intimado a pôr fora a língua, ele a apresentou sem demora e estendeu suas mãos com intrepidez, 11dizendo nobremente: “Do céu recebi estes membros, e é por causa de suas leis que os desprezo, pois espero dele recebê-los novamente.” 12O próprio rei e os que rodeavam ficaram espantados com o ânimo desse adolescente, que em nada reputava os sofrimentos.
13Passado também este à outra vida, começaram a torturar da mesma forma ao quarto, desfigurando-o. 14Estando ele já próximo a morrer, assim falou: “É desejável passar para a outra vida às mãos dos homens , tendo da parte de Deus a esperança de ser um dia ressuscitado por ele. Mas para ti, ao contrário, não haverá ressurreição para a vida!”
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Imediatamente trouxeram à frente o quinto, começando a torturá-lo. 16Ele, porém, fixando os olhos sobre o rei disse: “Tendo autoridade sobre os homens, tu, embora sejas corruptível, fazes o que bem queres. Não penses, porém, que o nosso povo tenha sido abandonado por Deus. 17Quanto a ti, espera um pouco e verás o seu grande poder: como ele há de atormentar a ti e à tua descendência!”
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Depois deste trouxeram o sexto, que disse antes de morrer: “Não te iludas em vão! Nós sofremos tudo isto por nossa própria causa, porque pecamos contra o nosso Deus, acontecendo-nos em consequência coisas espantosas. 19Tu, porém, não creias que ficarás impune, depois de teres empreendido fazer guerra contra Deus!”

Responsório Cf. Sb 3,6.9
R. Examinou-os como o ouro no crisol
e aceitou-os como perfeito holocausto;
a seu tempo serão consolados.
* Graça e misericórdia são reservados aos eleitos de Deus.
V. Os que nele confiam compreenderão a verdade,
e os que são fiéis permanecerão junto a ele no amor.
* Graça.

Segunda leitura

Dos “Livros dos Estrômatas” de Clemente de Alexandria
(4-7)
(Séc. II)


Bem aventurados os que derramam
o seu sangue pela causa de Deus
Todos aqueles que cumprem os mandamentos do Salvador em todos os seus atos são mártires, isto é, testemunhas, enquanto cumprem de verdade o que Ele pede e, portanto, enquanto o chamam de Senhor, dão-lhe testemunho de que acreditam que Ele o seja de fato; eles “crucificaram a sua carne com as suas paixões e seus desejos. Se, portanto, vivemos do Espírito, caminhamos também segundo o Espírito. Quem semeia na sua carne, da carne colherá corrupção; quem semeia no Espírito, do Espírito colherá vida eterna” (Gl 5,24-25; 6,8). Porém, dado que testemunhar o Senhor nos é concedido a preço de sangue, aos homens fracos, esta morte parece ser muito violenta, não sabendo eles que esta morte é a porta que dá acesso ao início da verdadeira vida. Eles não querem refletir sobre as honras que depois da morte recebem todos aqueles que viveram de uma maneira santa, nem sobre os sofrimentos daqueles que conduziram uma vida somente submissa às paixões e à injustiça; e ainda mais não querem escutar, não digo as palavras da nossa Escritura, mas nem mesmo as palavras dos escritores deles. Por exemplo, de fato, Pitágoras escreve a Teano: “Na realidade, a vida seria um solene banquete para os maus, que morrem depois de terem feito todo tipo de maldades; se a alma não fosse imortal, a morte seria para eles um prêmio”.
Finalmente, nós sabemos que tudo concorre para o bem
daqueles que amam a Deus, que foram chamados segundo o seu desígnio. Pois os que desde o princípio os conheceu, também os predestinou a serem conformes à imagem do seu Filho, para que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos; e aos que predestinou, a estes também chamou, os que Ele chamou, também os justificou; e os que justificou, também os glorificou (Rm 8,28-30). Vê como o martírio nos é ensinado por meio do amor. Portanto, se queres ser mártir para obter a recompensa dos justos, escuta ainda: Fomos salvos na esperança. Ora aquilo que se espera, se já é visto, não é mais esperança; na verdade, aquilo que já se vê, como poderia ainda ser esperado? Porém, se esperamos aquilo que não vemos, o aguardamos com perseverança (Rm 8,24-25).
E Pedro escreve: Se também deveis sofrer por causa da justiça, bem aventurados sois vós! (1Pd 3,14). Com certeza, o sábio não considerará jamais a vida material como a finalidade de toda a vida, mas buscará com intensidade, antes de mais nada, ser para sempre o feliz, o bem aventurado e verdadeiro amigo de Deus: e ainda que alguém o quisesse marcar com um sinal de infâmia ou condená-lo ao exílio, ou confiscar os seus bens e enfim golpeá-lo de morte, jamais poderá arrancá-lo da verdadeira liberdade, e sobretudo do amor de Deus: A caridade tudo suporta (1Cor13,7), tudo sofre, porque está convicta de que a Divina Providência governa todas as coisas com justiça.
Nós vivemos na carne, mas não combatemos segundo a carne; na verdade, as armas da nossa luta não vêm da carne, mas do poder de Deus, que quebra as barreiras e destrói todo o pensamento e o desígnio cheio de presunção que nos impede de conhecê-lo. Fortalecido por essas armas, o sábio diz: Ó Senhor, oferece-me a ocasião e acolhe o meu testemunho; aconteça-me também qualquer coisa grave e terrível, eu desprezo todo perigo porque coloco em Ti todo o meu amor.
Revesti-vos, portanto, como eleitos de Deus, santos
e amados, de sentimentos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de paciência. Acima de tudo tende pois a caridade, que é o vínculo da perfeição. E a paz de Cristo reine em vossos corações, porque a ela fostes chamados a um só corpo. E sejais agradecidos! (Cl 3,12.14-15). Vós que ainda viveis no corpo, tomando posse, como os antigos justos, da paz da alma e da imunidade das paixões.

Responsório Cf. Dn 3,95
R. Estes são os vencedores amigos de Deus,
que desprezando as ordens dos príncipes,
mereceram o prêmio eterno:
* Agora recebem a coroa e a palma da vitória.
V. Entregaram os seus corpos aos suplícios pelo Senhor.
* Agora recebem.

Oração

Deus de poder e misericórdia, afastai de nós todo obstáculo para que, inteiramente disponíveis, nos dediquemos ao vosso serviço. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora

V.
Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.