Primeira leitura
Do Livro do Cântico dos Cânticos 7,11-8,7

Últimas palavras da Esposa e elogio do amor

11Eu sou do meu amado, seu desejo o traz a mim. 12Vem, meu amado, vamos ao campo, pernoitemos nas aldeias, 13madruguemos pelas vinhas, vejamos se a vinha floresce, se os botões se abrem, se as romeiras florescem: lá te darei meu amor... 14As mandrágoras exalam seu perfume; à nossa porta há de todos os frutos: frutos novos, frutos secos, que eu tinha guardado, meu amado, para ti. 8,1Ah! Se fosses meu irmão, amamentado aos seios da minha mãe! Encontrando-te fora, eu te beijaria, sem ninguém me desprezar; 2eu te levaria, te introduziria na casa de minha mãe, e tu me ensinarias; dar-te-ia a beber vinho perfumado e meu licor de romãs. 3Sua mão esquerda está sob minha cabeça, e com a direita me abraça. 4Filhas de Jerusalém, eu vos conjuro: não desperteis, não acordeis o amor, até que ele o queira! 5Quem é essa que sobe do deserto apoiada em seu amado? Sob a macieira te despertei, lá onde tua mãe te concebeu, concebeu e te deu à luz. 6Coloca-me, como sinete sobre teu coração, como sinete em teu braço. Pois o amor é forte, é como a morte, o ciúme é inflexível como o Xeol. Suas chamas são chamas de fogo uma faísca do Senhor! 7As águas da torrente jamais poderão apagar o amor, nem os rios afogá-lo. Quisesse alguém dar tudo o que tem para comprar o amor... Seria tratado com desprezo.

Responsório Ct 8,6-7;cf. Ef 2,4
R. O amor é forte, é como a morte!
Suas chamas são chamas de fogo.
* As águas da torrente jamais poderão apagar o amor.
V. Deus, pelo grande amor com que nos amou,
enviou seu Filho ao mundo.
* As águas da torrente.


Segunda leitura
Dos Sermões sobre o Cântico dos Cânticos, de São Bernardo, abade
(Sermo 31,8-10: Opera omnia, Edit. Cisterc., 1957, vol.
I,224-226)

Ele é igualmente pastor, alimento e redenção

Em todo o texto deste Cântico, encontrarás o Verbo representado por imagens deste tipo. Por isso, quando o profeta diz: O sopro de nossas narinas, o ungido do Senhor; à sua sombra viveremos entre as nações (Lm 4,20), creio que significa que agora vemos em enigma, como num espelho, e não ainda face a face. Mas isso, por certo, só enquanto vivermos entre as nações; pois, quando estivermos entre os anjos, será diferente. Então, já de posse de uma felicidade imperturbável, com eles nós também o veremos tal qual é, ou seja, na forma de Deus e não em sombra.

Assim como dizemos que entre os antigos reinavam a sombra e a imagem, enquanto para nós resplandece por si mesma a própria verdade, pela graça do Cristo presente na carne, assim também, em relação à vida futura, só não dirá que vivemos numa espécie de sombra da verdade quem não aceita o que diz o Apóstolo: O nosso conhecimento é limitado, e limitada é a nossa profecia (1Cor 13,9); e também: Não julgo que o tenha alcançado (Fl 3,13). Como, pois, não haverá diferença entre o que caminha na fé e o que já goza da visão? O justo vive da fé, mas o bem-aventurado exulta em posse da realidade. Assim o homem santo vive ainda na penumbra de Cristo, enquanto o santo anjo exulta no esplendor da glória.

Boa é a penumbra da fé; que atenua a luz para os nossos fracos olhos e os prepara para a sua plenitude. Pois está escrito: Purificando seus corações pela fé (At 15,9): A fé conserva a luz, mas não a extingue. O que o anjo contempla é guardado para os fiéis na penumbra da fé, para ser revelado a seu tempo. Até a Mãe do Senhor vivia na penumbra da fé, pois lhe foi dito: Feliz aquela que creu (Lc 1,45). Teve também a sombra do corpo de Cristo aquela que ouviu: E o poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra (Lc 1,34). Não é desprezível a sombra que provém do poder do Altíssimo. Havia, de fato, uma força na carne de Cristo, a qual envolveu a Virgem em sua sombra para que pudesse, pela interposição do invólucro de um corpo vivificante, ser portadora da presença da majestade e suportar a luz inacessível, o que seria impossível a uma mulher mortal. Trata-se, sem dúvida, de um poder pelo qual foram vencidas todas as potências contrárias. Poder e sombra, afugentando os demônios e protegendo os homens; poder que fortalece, sombra que traz refrigério.

Por isso, na sombra de Cristo vivemos nós que caminhamos na fé, e de sua carne nos alimentamos para termos a vida. Pois a carne de Cristo é verdadeira comida. E quem sabe se não é por tal motivo que ele é também representado sob a figura de um pastor, nesta passagem em que a esposa parece tratá-lo como um dos pastores: Avisa-me onde apascentas, onde descansas o rebanho ao meio-dia (Ct 1,7). É o bom pastor que dá a sua vida por suas ovelhas! Por elas dá a vida, a elas dá a carne: a vida como preço de resgate, a carne como alimento. Admirável mistério! Ele é igualmente pastor, alimento e redenção.

Responsório Is 40,10.11;Jo 10,11
R. Eis aqui o Senhor Deus: ele vem com poder.
Como um pastor apascenta ele o seu rebanho,
* Com o seu braço reúne os cordeiros,
carrega-os no seu regaço,
conduz as ovelhas que amamentam.
V. Eu sou o bom pastor:
o bom pastor dá sua vida pelas suas ovelhas.
* Com o seu braço.


Oração
Ó Deus, pelo nascimento do vosso Filho, iniciastes maravilhosamente a redenção do vosso povo. Concedei a vossos servos uma fé tão firme, que nos deixemos conduzir por ele e cheguemos à glória prometida. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora

V. Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.