Ofício das Leituras

V. Vinde, ó Deus em meu auxílio.
R. Socorrei-me sem demora.
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Esta introdução se omite quando o Invitatório precede imediatamente ao Ofício das Leituras.

Hino

Agora é tempo favorável,
divino dom da Providência,
para curar o mundo enfermo
com um remédio, a penitência.

Da salvação refulge o dia,
na luz de Cristo a fulgurar.
O coração, que o mal feriu,
a abstinência vem curar.

Em corpo e alma, a abstinência,
Deus, ajudai-nos a guardar.
Por tal passagem, poderemos
à páscoa eterna, enfim, chegar.

Todo o Universo vos adore,
Trindade Santa, Sumo Bem.
Novos por graça entoaremos
um canto novo a vós. Amém.

Salmodia

Ant.1 Como Deus é tão bondoso para os justos,
para aqueles que têm puro o coração! †

Salmo 72(73)

O sofrimento do justo
Feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim (Mt 11,6).

I

1 Como Deus é tão bondoso para os justos, *
para aqueles que têm puro o coração!
2 † Mas por pouco os meus pés não resvalaram, *
e quase escorregaram os meus passos;
3 cheguei a ter inveja dos malvados, *
ao ver o bem-estar dos pecadores.

4 Para eles não existe sofrimento, *
seus corpos são robustos e sadios;
5 não sofrem a dureza do trabalho *
nem conhecem a aflição dos outros homens.

6 Eles fazem do orgulho o seu colar, *
da violência, uma veste que os envolve;
7 transpira a maldade de seu corpo, *
transbordam falsidade suas mentes.

8 Zombam do bem e elogiam o que é mau, *
exaltam com orgulho a opressão;
9 investe sua boca contra o céu, *
e sua língua envenena toda a terra.

10 Por isso vai meu povo procurá-los *
e beber com avidez nas suas fontes;
11 eles dizem: “Por acaso Deus entende, *
e o Altíssimo conhece alguma coisa?”
12 Olhai bem, pois são assim os pecadores, *
que tranqüilos amontoam suas riquezas.

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Como Deus é tão bondoso para os justos,
para aqueles que têm puro o coração!

Ant.2 Os maus que hoje riem, amanhã hão de chorar.

II

13 Será em vão que guardei puro o coração *
e lavei na inocência minhas mãos?
14 Porque sou chicoteado todo o tempo *
e recebo meus castigos cada dia.
15 Se eu pensasse: “Vou fazer igual a eles”, *
trairia a geração dos vossos filhos.

16 Pus-me então a refletir sobre este enigma, *
mas pareceu-me uma tarefa bem difícil.
17 Até que um dia, penetrando esse mistério, *
compreendi qual é a sorte que os espera,
18 pois colocais os pecadores num declive, *
e vós mesmo os empurrais para a desgraça.

19 Num instante eles caíram na ruína, *
acabaram e morreram de terror!
20 Como um sonho ao despertar, ó Senhor Deus, *
ao levantar-vos, desprezais a sua imagem.

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Os maus que hoje riem, amanhã hão de chorar.

Ant.3 Haverão de perecer os que vos deixam;
para mim só há um bem: é estar com Deus.

III

21 Quando então se revoltava o meu espírito, *
e dentro em mim o coração se atormentava,
22 eu, estulto, não podia compreender; *
perante vós me comportei como animal.

23 Mas agora eu estarei sempre convosco, *
porque vós me segurastes pela mão;
24 vosso conselho vai guiar-me e conduzir-me, *
para levar-me finalmente à vossa glória!

25 Para mim, o que há no céu fora de vós? *
Se estou convosco, nada mais me atrai na terra!
=26 Mesmo que o corpo e o coração se vão gastando, †
Deus é o apoio e o fundamento da minh’alma, *
é minha parte e minha herança para sempre!

27 Eis que haverão de perecer os que vos deixam, *
exterminais os que sem vós se prostituem.
28 Mas para mim só há um bem: é estar com Deus *
é colocar o meu refúgio no Senhor
– e anunciar todas as vossas maravilhas *
junto às portas da cidade de Sião.

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Haverão de perecer os que vos deixam;
para mim só há um bem: é estar com Deus.

V. Convertei-vos e crede no Evangelho.

R. Pois o reino de Deus está chegando.

Primeira leitura

Da Carta aos Hebreus 7,11-28

O sacerdócio eterno de Cristo
Se a perfeição fora atingida pelo sacerdócio levítico - pois é nele que se apoia a Lei dada ao povo - que necessidade haveria de outro sacerdote, segundo a ordem de Melquisedec, e não “segundo a ordem de Aarão”? Mudado o sacerdócio, necessariamente se muda também a Lei. Ora, aquele a quem o texto citado se refere pertencia a outra tribo, da qual membro algum se ocupou com o serviço do altar. É bem conhecido, de fato, que nosso Senhor surgiu de Judá, tribo a respeito da qual Moisés nada diz quando se trata dos sacerdotes. Mais claro ainda se torna isto quando se constitui outro sacerdote, semelhante a Melquisedec, não segundo a regra de prescrição carnal, mas de acordo com o poder de vida imperecível. Pois diz o testemunho: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec... Assim sendo, está abrogada a prescrição anterior, porque era fraca e sem proveito. De fato, a Lei nada levou à perfeição; e está introduzida uma esperança melhor, pela qual nos aproximamos de Deus. Isso não se realiza sem juramento. No entanto, não houve juramento para o sacerdócio dos outros. Para ele, porém, houve juramento daquele que disse a seu respeito: O Senhor jurou e não se arrependerá: Tu és sacerdote para sempre... Nesse sentido é que Jesus se tornou a garantia de uma aliança melhor. E além do mais, os outros tornaram-se sacerdotes em grande número, porque a morte os impedia de permanecer. Ele, porém, visto que permanece para a eternidade, possui sacerdócio imutável. Por isso é capaz de salvar totalmente aqueles que, por meio dele, se aproximam de Deus, visto que ele vive para sempre para interceder por eles. Tal é precisamente o sumo sacerdote que nos convinha: santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores, elevado mais alto do que os céus. Ele não precisa, como os sumos sacerdotes, oferecer sacrifícios a cada dia, primeiramente por seus pecados, e depois pelos do povo. Ele já o fez uma vez por todas, oferecendo-se a si mesmo. A Lei, com efeito, estabeleceu sumos sacerdotes sujeitos à fraqueza. A palavra do juramento, porém, posterior à Lei, estabeleceu o Filho, tornado perfeito para sempre.

Responsório:
Sl 109(110),4;Gn 14,18
R. Jurou o Senhor e manterá sua palavra:
* Tu és sacerdote eternamente,
segundo a ordem do rei Melquisedec!
V. Cristo não precisa, como os sumos sacerdotes,
oferecer sacrifícios a cada dia.
Ele já o fez uma vez por todas, oferecendo-se a si mesmo.
* Tu és sacerdote.

Segunda leitura
Do Tratado sobre a fé do apóstolo Pedro, de São Fulgêncio de Ruspe, bispo
(Cap. 22.62: CCL 91A,726.750-751)
(Séc. VI)

Cristo ofereceu-se por nós
Os sacrifícios de animais, que a própria Santíssima Trindade, Deus único do Antigo e do Novo Testamento, tinha ordenado que nossos antepassados lhe oferecessem, prefiguravam a agradabilíssima oferenda daquele sacrifício em que o Filho unigênito de Deus feito carne iria, misericordiosamente, oferecer-se por nós. De fato, segundo as palavras do Apóstolo, ele se entregou a Deus por nós como oferenda e sacrifício de suave odor (Ef 5,2). É ele o verdadeiro Deus e o verdadeiro sumo sacerdote que, por nossa causa, entrou de uma vez para sempre no santuário, não com o sangue de touros e bodes, mas com o seu próprio sangue. Era isso que outrora prefigurava o sumosacerdote, quando, uma vez por ano, entrava no santuário com o sangue das vítimas. Com efeito, foi Cristo que, por si só, ofereceu tudo quanto sabia ser necessário para nossa redenção; pois ele é ao mesmo tempo sacerdote e sacrifício, Deus e templo. Sacerdote, por quem somos reconciliados; sacrifício, pelo qual somos reconciliados; templo, onde somos reconciliados; Deus, com quem somos reconciliados. É o único sacerdote, sacrifício e templo, enquanto Deus na condição de servo; mas, na sua condição divina, é Deus com o Pai e o Espirito Santo. Acredita, pois, firmemente e não duvide que o próprio Filho Unigênito de Deus, o Verbo, se fez carne e se ofereceu por nós como sacrifício e vítima agradável a Deus. A ele, na unidade do Pai e do Espírito Santo, eram oferecidos sacrifícios de animais pelos patriarcas, profetas e sacerdotes do Antigo Testamento. E agora, no tempo do Novo Testamento, a ele, que é um só Deus com o Pai e o Espírito Santo, a Santa Igreja Católica não cessa de oferecer em toda a terra, na fé e na caridade, o sacrifício do pão e do vinho. Antigamente, aquelas vítimas animais prefiguravam o Corpo de Cristo, que ele, sem pecado, ofereceria pelos nossos pecados, e seu sangue, que ele derramaria pela remissão desses mesmos pecados. Agora, este sacrifício é ação de graças e memorial do Corpo de Cristo que ele ofereceu por nós, e do sangue que o mesmo Deus derramou por nós. A esse respeito, fala Paulo nos Atos dos Apóstolos: Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos estabeleceu como guardiões, como pastores da Igreja de Deus que ele adquiriu com o sangue do seu próprio Filho (At 20,28). Antigamente, aqueles sacrifícios eram figura do dom que nos seria feito; agora, este sacrifício manifesta claramente o que já nos foi doado. Naqueles sacrifícios, anunciava-se de antemão que o Filho de Deus devia sofrer a morte pelos ímpios; neste sacrifício, anuncia-se que já sofreu essa morte, conforme atesta o Apóstolo: Quando éramos ainda fracos, foi então, no devido tempo, que Cristo morreu pelos ímpios (Rm 5,6). E ainda: Quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com ele pela morte de seu Filho (Rm 5,10).

Responsório Cl 1,21-22;Rm 3,25
R. Vós que, outrora, vivíeis afastados e éreis inimigos,
só pensando em obras más, agora, no tempo presente,
Deus vos reconciliou pelo corpo carnal de seu Filho, entregue à morte,
* A fim de que possais comparecer diante dele
como santos, íntegros e irrepreensíveis.
V. É ele que Deus destinou a ser, por seu próprio sangue,
instrumento de expiação mediante a fé.
*
A fim de que.

Oração

Ó Deus, que renovais o mundo com admiráveis sacramentos, fazei a vossa Igreja caminhar segundo a vossa vontade sem que jamais lhe faltem neste mundo os auxílios de que necessita. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora

V. Bendigamos ao Senhor.

R. Graças a Deus.