I DOMINGO DO ADVENTO - ANO A
Com esta santa Eucaristia, estamos iniciando um novo ano litúrgico.
É este o primeiro Domingo do Advento, o tempo de quatro semanas que nos
prepara para a Vinda do Senhor, no Dia final da Sua santa Manifestação
gloriosa, e para a celebração solene do Dia do Seu Natal segundo a
carne, no tempo da nossa história, há dois mil anos.
Tudo, na Liturgia, nos ajudará nessa santa preparação, na santa espera, cheia de esperança:
o roxo significa a vigilância de quem aguarda com desejo, com santa ansiedade,
a moderação das flores ajuda-nos a concentrar nossa atenção Naquele que vem para salvar e tudo levar à Plenitude,
o “Glória” não cantado prepara-nos para cantá-lo como novidade na Noite Santa do Natal.
Os sentimentos do nosso coração devem ser a vigilância, a
disponibilidade para acolher o Salvador que Se aproxima, a piedade
humilde de Maria Virgem, de José, dos pastores, de Simeão, Zacarias e
Isabel, o espírito de conversão anunciado por João Batista, o sonho de
um mundo “cheio da sabedoria do Senhor como as águas enchem o mar”
(Is 11,9), como Isaías profetizou... Aproveitemos essas quatro semanas
tão doces, que recordam no memorial litúrgico a espera de Israel e da
humanidade pelo Messias e que nos fazem celebrar já, no mistério
litúrgico, a Vinda gloriosa do nosso Salvador como Juiz e Senhor de
todas as coisas! Como canta a Liturgia: “Ao simples ecoar, do Vosso Nome
eterno,/ joelhos vão dobrando/ o Céu, a terra, o inferno./ Um Dia
voltareis,/ Juiz e Rei de tudo./ Oh! Dai-nos hoje a graça,/ na tentação
escudo!”
Nos textos bíblicos que a Igreja hoje nos propõe, o Senhor sonda as
angústias e saudades do coração humano e nos fala precisamente da
esperança: Ele é o Deus que vem ao encontro dos nossos anseios mais
profundos... Mas também nos exorta a vigiar, a que nos preparemos para
acolher o Dom esperado. Aliás, é esta a miséria do mundo atual: busca a
paz, procura a vida, mas não as busca Naquele que é a saciedade do nosso
coração e a salvação da nossa existência. O homem tem sede e Deus,
misericordiosamente envia-lhe a água, que é o Messias; e o nosso mundo
não O reconhece; antes, renega-O!
Vejamos se não é assim; recordemos a palavra do Profeta: “Acontecerá nos
últimos tempos que o Monte da Casa do Senhor estará firmemente
estabelecido no ponto mais alto das montanhas. A ele acorrerão todas as
nações, para lá irão povos numerosos.. porque de Sião provém a Lei e de
Jerusalém, a Palavra do Senhor”. Compreendamos bem: de Israel, Deus
prepara uma salvação, uma luz, uma direção para toda a humanidade. O
homem sozinho não encontra o caminho, por mais que teime em se julgar
grande e autossuficiente. À nossa pobreza, o Senhor vem com uma promessa
tão grande. E, se o coração da humanidade acolher a salvação que vem, a
luz que brilha, então, encontrará a paz: “Ele há de julgar as nações
e arguir numerosos povos; estes transformarão suas espadas em arados e
suas lanças em foices: não pegarão em armas uns contra os outros em não
mais travarão combate”. Eis a promessa de Deus: dá-nos a salvação;
eis o sonho do Senhor: encontrar uma humanidade que acolha o Salvador,
dele bebendo a paz!
No nosso mundo, ferido, cansado, incerto, mundo que já não mais crê de
verdade em nada, a promessa do Senhor é como um alento. Acreditemos,
irmãos! Quão triste o mundo se os cristãos viverem sem esperança, sem
certeza, sem ânimo, como os pagãos... Já nos tempos apostólicos, São
Paulo exortava os cristãos a que não ficassem tristes “como os outros, que não têm esperança”
(1Ts 4,13). Irmãos meus, em Cristo, temos esperança, em Cristo, sabemos
para onde vamos, em Cristo, esperamos com serena e profunda certeza que
o Senhor vem e nos salva!
Este Tempo do sagrado Advento quer levantar nosso ânimo: o Senhor, cujo
Natal celebraremos dentro de quatro semanas, é o mesmo que virá um Dia,
na Sua Manifestação gloriosa! Nossa vida tem rumo e sentido! Vigiemos: “Vós
sabeis em que tempo estamos! Já é hora de despertar. Agora a salvação
está mais perto de nós do que quando abraçamos a fé. A noite deste mundo
já vai adiantada, o Dia vem chegando” – o Dia é Cristo, Salvação
que Deus nos prometeu e nos preparou! Então: “Despojemo-nos das ações
das trevas e vistamos as armas da luz. Procedamos honestamente, como em
pleno dia” – como quem vive já agora, durante a noite deste mundo, no
Dia, que é Cristo-Deus: “nada de glutonerias e bebedeiras, nem de
orgias sexuais e imoralidades, nem de brigas e rivalidades. Pelo
contrário: revesti-vos do Senhor Jesus”. Eis o modo de vigiar na
noite deste mundo, eis o modo de testemunhar que esperamos, na
vigilância, o Salvador que nos foi prometido e virá como nosso Juiz para
levar à plenitude a Salvação iniciada com a Sua piedosa Vinda na nossa
carne. É oportuno recordar que este texto da Carta aos Romanos foi o que
provocou a conversão de Santo Agostinho, lá no distante século V. A
Palavra de Deus é sempre um apelo gritante e forte para nós! Que ela nos
converta também agora, neste tempo que se chama hoje!!
A grande tentação para os discípulos de Cristo, atualmente, é
conformar-se com o marasmo do pecado do mundo, é viver burguesamente,
uma vida cômoda e sem uma fé verdadeira e operante, sem aquela atitude
de alegre expectativa por aquilo que o Senhor nos prometeu. Vamos nos
ocupando e distraindo com uma vida fútil, dispersa em mil bobagens,
esquecendo daquilo que realmente importa; vamos tomando como parâmetro o
mundo e seus critérios, medidas e valores; vamos confundindo a Lei de
Cristo com o politicamente correto, desatentos às Escrituras Santas!
Vale para nós a advertência seríssima do Senhor Jesus: “A Vinda do Filho do Homem será como no tempo de Noé”:
Naquele então, todos vivam tranquilamente: “comiam e bebiam, casavam-se
e davam-se em casamento, até que Noé entrou na arca e eles nada
perceberam...” Como agora: vive-se na farra do paganismo, do consumismo,
do relaxamento moral, de tantos absurdos contrários ao Evangelho e. ao
gosto do mundo, e não percebemos que haverá um Juízo decisivo de Deus
para nós e para o mundo, um Juízo no qual o bem e o mal, o santo e o
pecador, serão separados: “um será levado e o outro será deixado”...
Triste de quem for deixado, triste de quem perder a companhia do
Senhor, nossa paz! Pois bem: logo neste iniciozinho de Advento, a
advertência do Senhor é dramática: “Ficai atentos, porque não sabeis em que dia virá o Senhor! Na hora em que menos pensais, o Filho do homem virá!”
Então, enquanto o mundo dorme no seu pecado, na sua autossatisfação e
autojustificativas, elevemos, humildemente nosso olhar e nosso coração
para Aquele que vem: “A vós, meu Deus, elevo a minha alma. Confio em
vós, que eu não seja envergonhado! Não se riam de mim meus inimigos,
pois não será desiludido quem em Vós espera!” – “Sim, Eu venho em breve!’ Amém! Vem, Senhor Jesus!” (Ap 22,20)
Dom Henrique Soares da Costa