Ofício das Leituras
V. Vinde, ó Deus em meu auxílio.
R. Socorrei-me sem demora.
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
Esta introdução se
omite quando o Invitatório precede imediatamente ao Ofício das Leituras.
Hino
Seguindo o preceito místico,
guardemos a abstinência
durante os quarenta dias
votados à penitência.
A Lei e os Profetas dantes
cumpriram igual preceito,
Mas Cristo, no seu deserto,
viveu o jejum perfeito.
Usemos de modo sóbrio
da fala, bebida e pão,
do sono e do riso e, atentos,
peçamos a Deus perdão.
Fujamos do mal oculto
que os laços do amor desfaz;
à voz do tirano astuto
não demos lugar jamais.
Ouvi, Unidade simples,
Trindade, Supremo Bem:
a graça da penitência
dê frutos em nós. Amém.
Salmodia
Ant.1 A
árvore da vida, ó Senhor, é a vossa cruz.
Salmo 1
Os dois caminhos do homem
Felizes aqueles que, pondo toda a sua esperança na Cruz,
desceram até a água do batismo (Autor do séc. I).
–1 Feliz é todo aquele que não anda *
conforme os conselhos dos perversos;
– que não entra no caminho dos malvados, *
nem junto aos zombadores vai sentar-se;
–2 mas encontra seu prazer na lei de Deus *
e a medita, dia e noite, sem cessar.
–3 Eis que ele é semelhante a uma árvore *
que à beira da torrente está plantada;
= ela sempre dá seus frutos a seu tempo, †
e jamais as suas folhas vão murchar. *
Eis que tudo o que ele faz vai prosperar,
=4 mas bem outra é a sorte dos perversos. †
Ao contrário, são iguais à palha seca *
espalhada e dispersada pelo vento.
–5 Por isso os ímpios não resistem no juízo *
nem os perversos, na assembleia dos fiéis.
–6 Pois Deus vigia o caminho dos eleitos, *
mas a estrada dos malvados leva à morte.
– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
Ant. A árvore da vida, ó Senhor, é a vossa cruz.
Ant.2 Fui eu mesmo que escolhi este meu Rei,
e em Sião, meu monte santo, o consagrei.
Salmo 2
O Messias, rei e vencedor
Uniram-se contra Jesus, teu santo servo, a quem ungiste (At
4,27).
–1 Por que os povos agitados se revoltam? *
por que tramam as nações projetos vãos?
=2 Por que os reis de toda a terra se reúnem, †
e conspiram os governos todos juntos *
contra o Deus onipotente e o seu Ungido?
–3 “Vamos quebrar suas correntes”, dizem eles, *
“e lançar longe de nós o seu domínio!”
–4 Ri-se deles o que mora lá nos céus; *
zomba deles o Senhor onipotente.
–5 Ele, então, em sua ira os ameaça, *
e em seu furor os faz tremer, quando lhes diz:
–6 “Fui eu mesmo que escolhi este meu Rei, *
e em Sião, meu monte santo, o consagrei!”
=7 O decreto do Senhor promulgarei, †
foi assim que me falou o Senhor Deus: *
“Tu és meu Filho, e eu hoje te gerei!
=8 Podes pedir-me, e em resposta eu te darei †
por tua herança os povos todos e as nações, *
e há de ser a terra inteira o teu domínio.
–9 Com cetro férreo haverás de dominá-los, *
e quebrá-los como um vaso de argila!”
–10 E agora, poderosos, entendei; *
soberanos, aprendei esta lição:
–11 Com temor servi a Deus, rendei-lhe glória *
e prestai-lhe homenagem com respeito!
–12 Se o irritais, perecereis pelo caminho, *
pois depressa se acende a sua ira!
– Felizes hão de ser todos aqueles *
que põem sua esperança no Senhor!
– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
Ant. Fui eu mesmo que escolhi este meu Rei,
e em Sião, meu monte santo, o consagrei.
Ant.3 Sois vós o meu escudo protetor,
a minha glória que levanta minha cabeça.
Salmo 3
O Senhor é o meu protetor
Jesus adormeceu e ergueu-se do sono da morte, porque o
Senhor era o seu protetor (Sto. Irineu).
–2 Quão numerosos, ó Senhor, os que me atacam; *
quanta gente se levanta contra mim!
–3 Muitos dizem, comentando a meu respeito: *
“Ele não acha a salvação junto de Deus!”
–4 Mas sois vós o meu escudo protetor, *
a minha glória que levanta minha cabeça!
–5 Quando eu chamei em alta voz pelo Senhor, *
do Monte santo ele me ouviu e respondeu.
–6 Eu me deito e adormeço bem tranqüilo; *
acordo em paz, pois o Senhor é meu sustento.
–7 Não terei medo de milhares que me cerquem *
e furiosos se levantem contra mim.
= Levantai-vos, ó Senhor, vinde salvar-me! †
8 Vós que feristes em seu rosto os que me atacam, *
e quebrastes aos malvados os seus dentes.
–9 Em vós, Senhor, nós encontramos salvação; *
e repouse a vossa bênção sobre o povo!
– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
Ant. Sois vós o meu escudo protetor,
a minha glória que levanta minha cabeça.
V. Quem guardar minha palavra
R. Não verá a morte eterna.
Primeira leitura
Do Livro dos Números
12,1-15
Humildade e grandeza de Moisés
Naqueles dias, Maria e Aarão murmuraram contra
Moisés por causa da mulher cuchita que ele havia tomado.
Pois ele havia desposado uma mulher cuchita. Disseram:
“Falou, porventura, o Senhor, somente a Moisés? Não falou
também a nós?” O Senhor os ouviu. Ora, Moisés era um
homem muito humilde, o mais humilde dos homens que
havia na terra.
Subitamente disse o Senhor a Moisés, a Aarão e a Maria:
“Vinde, os três, à Tenda da Reunião.” Todos os três foram
e o Senhor desceu numa coluna de nuvem e se deteve à
entrada da Tenda. Chamou a Aarão e a Maria; ambos se
apresentaram. Disse o Senhor:
“Ouvi, pois, as minhas palavras:
Se há entre vós um profeta,
é em visão que me revelo a ele,
é em sonho que lhe falo.
Assim não se dá com o meu servo Moisés,
a quem toda a minha casa está confiada.
Falo-lhe face a face, claramente e não em enigmas,
e ele vê a forma do Senhor.
Por que ousastes falar contra meu servo Moisés?”
A ira do Senhor se inflamou contra eles. E retirou-se e a
Nuvem deixou a Tenda. E Maria tornou-se leprosa, branca
como a neve. Aarão voltou-se para ela, e estava leprosa.
Disse Aarão a Moisés: “Ai, meu senhor! Não queirais
nos infligir a culpa do pecado que tivemos a loucura de
cometer e do qual somos culpados. Peço-te, não seja ela
como um aborto cuja carne já está meio consumida ao sair
do seio de sua mãe!”
Moisés clamou ao Senhor: “Ó Deus”, disse ele, “digna-te
dar-lhe a cura, eu te suplico!”
Disse então o Senhor a Moisés: “E se seu pai lhe cuspisse
no rosto, não ficaria ela envergonhada por sete dias? Seja,
portanto, segregada sete dias fora do acampamento e depois
seja nele admitida novamente.”
Maria foi segregada durante sete dias fora do acam
pamento. O povo não partiu antes do seu retorno. Depois o
povo partiu de Haserot e foi acampar no deserto de Farã.
Responsório Hb 3,5-6;Eclo 45,1.4
R. Moisés foi fiel em toda sua casa como servidor,
para
testemunhar as coisas que iam ser ditas por Deus.
* Cristo, porém, como filho é posto à frente da sua casa.
V. Moisés foi amado por Deus e pelos homens,
sua memória
é uma bênção.
Por sua fidelidade e humildade Deus o
santificou.
* Cristo, porém.
Segunda leitura
Das Homilias sobre o Livro dos Números, de Orígenes,
presbítero
(Hom. 7,1-3: SCh 29,133-136)
(Séc. II)
Pela penitência, purifiquemo-nos
da imundice de nossa lepra
Conforme a expressão do Apóstolo, estas coisas lhes aconteciam com sentido figurativo e foram escritas como advertência para nós (1Cor 10,11). Pergunto eu: que tipo
de advertência percebemos na leitura que ouvimos? Aarão
e Maria murmuraram contra Moisés e, por isto, foram repreendidos, sendo que Maria, além do mais, ficou leprosa.
Foi de tal ordem a repreensão que, durante a semana em
que Maria esteve leprosa, o povo de Deus não caminhou
para a terra da promissão, a fim de que o tabernáculo não
se movesse. Isto é para nós uma advertência oportuna e
salutar para não murmurarmos contra o irmão, para não
falarmos mal do próximo, para não abrirmos a boca em
difamação, não somente contra as pessoas piedosas, mas
também contra quem quer que seja, pois Deus mostrou
quanta repulsa e punição tal atitude merece.
Porque murmuram contra Moisés, contraem lepra na
alma, tornam-se interiormente leprosos e ficam excluídos
do recinto da Igreja de Deus. Podem ser hereges os que
murmuram contra Moisés; podem ser da Igreja os que
difamam os irmãos e falam mal do próximo: é fora de
dúvida que aqueles que incorrem neste vício estão leprosos
na alma. Depois de sete dias, Maria ficou curada, mediante
a interferência do pontífice Aarão. Se alguém, levado pelo
vício da difamação, contrair a lepra na alma, permanecerá
a alma leprosa até o fim da semana do mundo, isto é, até
o dia da ressurreição. A não ser que se corrija enquanto há
tempo de conversão e, voltando-se para o Senhor Jesus
com súplicas e penitência, purifique-se da imundice de
sua lepra.
Vede a seguir o que diz o Espírito Santo, e com que
louvores exaltou Moisés: O Senhor desceu na coluna de nuvem, parou à entrada da Tenda, e chamou Aarão e Maria. Quando se aproximaram, ele lhes disse: “Escutai minhas palavras! Se houver entre vós um profeta do Senhor, eu me revelarei a ele em visões e falarei com ele em sonhos. O mesmo, porém, não acontece com o meu servo Moisés, que é o mais fiel em toda a minha casa! Porque a ele eu falo face a face; é às claras, e não por figuras, que ele vê o Senhor! Como, pois, vos atreveis a rebaixar o meu servo Moisés?” E, indignado contra eles, o Senhor retirou-se. A nuvem que estava sobre a Tenda afastou-se. No mesmo instante, Maria se achou coberta de lepra, branca como a neve (Nm 12,5-10). Vede a que castigos se expuseram
os detratores, e que louvores ocasionaram àquele a quem
difamaram! Para si mesmos acarretaram a vergonha, para
ele, esplendor; para si mesmos lepra, para ele, glória; para
si mesmos o opróbrio, para ele, grandeza.
O Apóstolo, que interpreta o sentido das figuras e enigmas, assim se exprime: Irmãos, não quero que ignoreis o seguinte: os nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem e todos passaram pelo mar; na nuvem e no mar, todos foram batizados em Moisés; todos comeram do mesmo alimento espiritual e todos beberam da mesma bebida espiritual; de fato, bebiam de uma rocha espiritual que os acompanhava. Essa rocha era Cristo (1Cor 10,1-4). Vede como Paulo
desvenda os enigmas da Lei, como interpreta o sentido dos
enigmas, e explica que o rochedo do enigma estava junto
de Moisés, antes mesmo que ele se unisse à estrangeira
Séfora, uma cusita.
Compreendemos agora que o rochedo é Cristo; Deus nos
fala agora face a face, mediante a Lei. O Batismo se realizou
outrora no enigma da nuvem e do mar; agora a regeneração
se manifesta na água e no Espírito Santo. Outrora o alimento
era o enigma do maná, agora, porém, o verdadeiro alimento
se manifesta na carne da palavra de Deus. A minha carne,
diz ele, é verdadeira comida e o meu sangue, verdadeira bebida (Jo 6,55).
Responsório 1Cor 10,10-11.6
R. Não murmureis, como alguns deles murmuraram
e, por
isso, foram mortos pelo Exterminador.
* Essas coisas lhes aconteciam com sentido figurativo
e
foram escritas como advertência para nós.
V. Esses acontecimentos se tornaram símbolos para nós,
a
fim de não desejarmos coisas más, como eles desejaram.
* Essas coisas.
Oração
Senhor nosso Deus, dai-nos por vossa graça caminhar com alegria
na mesma caridade que levou o vosso Filho a entregar-se à morte no seu
amor pelo mundo. Por nosso Senhor Jesus Cristo, voso Filho, na unidade
do Espírito Santo.
Conclusão da Hora
V. Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.