SÁBADO

Ofício das Leituras

Primeira leitura

Da Carta de São Paulo aos Efésios 4,1-16

Apelo à unidade

Irmãos, 1exorto-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, a andardes de modo digno da vocação a que fostes chamados: 2com toda humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros com amor, 3procurando conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz. 4Há um só Corpo e um só Espírito, assim como é uma só a esperança da vocação a que fostes chamados; 5há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; 6há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, por meio de todos e em todos.

7Mas a cada um de nós foi dada a graça pela medida do dom de Cristo, 8por isso é que se diz: Tendo subido às alturas, levou cativo o cativeiro, concedeu dons aos homens.

9Que significa “subiu”, senão que ele também desceu às profundezas da terra? 10O que desceu é também o que subiu acima de todos os céus, a fim de plenificar todas as coisas. 11E ele é que “concedeu” a uns ser apóstolos, a outros profetas, a outros evangelistas, a outros pastores e doutores, 12para aperfeiçoar os santos em vista do ministério, para a edificação do corpo de Cristo, 13até que alcancemos todos nós a unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, o estado de Homem Perfeito, a medida da estatura da plenitude de Cristo.

14Assim não seremos mais crianças, joguetes das ondas, agitados por todo vento de doutrina, presos pela artimanha dos homens e da sua astúcia que nos induz ao erro. 15Mas, seguindo a verdade em amor, cresceremos em tudo em direção àquele que é a Cabeça, Cristo, 16cujo Corpo, em sua inteireza, bem ajustado e unido por meio de toda junta e ligadura, com a operação harmoniosa de cada uma das suas partes, realiza o seu crescimento para sua própria edificação no amor.

Responsório Ef 4,4.5; Cl 1,12

R. Há um só Corpo e um só Espírito,
assim como é uma só
a vocação a que fostes chamados.
*
Um só Senhor, uma só fé, um só batismo.

V. Damos graças ao Pai,
que vos fez capazes de participar
da herança dos santos na luz.
*
Um só Senhor.

Segunda leitura

Do “Comentário sobre o Evangelho de São Mateus”, de São Pascácio Radberto, abade

(Expositio in Matth. 4,6: PL 120, 280-281)

A oração dos filhos de Deus

Se te consideras realmente unido ao corpo de Cristo, todos os outros membros se unem em suas orações, e todos juntos pedem a Deus que em ti se cumpra sua vontade. Assim convém não menosprezar essa unidade nem dar pouco valor a uma comunidade tão solidamente firmada sobre Cristo. Todos os que a compõem têm unanimidade de voz; todos em conjunto são portadores de Deus em suas almas, graças à mesma fé; todos amam com a mesma caridade e, antecipadamente, se rejubilam com a mesma esperança; todos reunidos têm apenas um desejo, todos buscam a mesma coisa e batem à mesma porta da bondade paterna. Nada existe de mais poderoso, de mais fecundo ou de melhor que essa situação em que todos são um, e onde todos se desvelam por um e, reciprocamente, cada um por todos, de modo que todos juntos são encontrados como uma unidade em Cristo. Aos que creem, o Senhor ensinou que deviam sempre permanecer nessa união, ligados pela fé, esperança e caridade.

Ninguém, pois, duvide que irá obter do Pai o que o Filho único lhe ensinou a pedir. Ninguém se omita de tratá-lo na qualidade de filho, como ele mesmo nos mostrou, porque nisso consiste a capacidade que deu aos homens de se tornarem filhos de Deus. Cristo foi o primeiro a tornar realidade tal poder, a fim de que a filiação adotiva decorra do que é próprio ao Cristo. Assim, ele nos dá a ousadia de rezar a oração que nos transmitiu e ensinou para que possamos suprir nossas faltas com sua graça. Todas as vezes que um dentre nós, mesmo afastado dos outros e escondido nos mais recônditos lugares, invocar a Deus Pai, saiba claramente que esse dom não é oferecido particularmente a cada homem, mas a todos em comum. Por esse motivo, ninguém se vanglorie dizendo: “Meu Pai, que estais nos céus”, ao invés de Pai nosso (Mt 6,9), pois tal expressão compete exclusivamente a Cristo, de quem Deus é o próprio Pai. Note-se o que Jesus diz em outra ocasião: Subo para junto do meu pai - acrescentando - e vosso Pai (Jo 20,17). Por essas palavras o Senhor insinua, com bastante precisão, que a glória especial de ser o Filho lhe pertence por natureza, enquanto a graça genérica da adoção foi concedida a todos por um dom comum e gratuito.

Como, pois, devemos ter em apreço essa oração, feliz e segura, que o doutor da vida e Senhor do céu nos ensinou! Como podemos ser felizes, não nos contentando tão somente em pronunciá-la, mas observando fielmente seu espírito nos atos de nossa vida! Que sólida esperança de salvação inspira ela aos fiéis! O amor do Criador derrama-se sobre nós e sua misericórdia e ternura nos são transmitidas, sua benevolência e o dom da confiança nos são comunicados com tanta abundância que nós, mesmo sem sermos servidores dignos, ousamos chamar a Deus Pai nosso. Daí advém-nos a necessidade de uma vida e de um procedimento compatíveis com essa dignidade de filhos de Deus, a fim de provarmos espiritualmente, por nossos atos e comportamento, que correspondemos a essa denominação.

Responsório Ef 4,1.3.4; Rm 15,5.6

R. Exorto-vos, pois, eu,
a andardes de modo digno da vocação a que fostes chamados,
procurando conservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz.
*
Como é uma só a esperança da vocação a que fostes chamados.
V. Deus vos conceda terdes os mesmos sentimentos
uns para com os outros,
a fim de que, de um só coração e de uma só voz,
glorifiquemos a Deus. * Como é uma.

Oração

Ó Deus, preparastes para quem vos ama bens que nossos olhos não podem ver; acendei em nossos corações a chama da caridade para que, amando-vos em tudo e acima de tudo, corramos ao encontro das vossas promessas que superam todo desejo. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora

V. Bendigamos ao Senhor.
R. Demos graças a Deus.