15a SEMANA DO TEMPO COMUM

III Semana do Saltério

SEGUNDA-FEIRA

Ofício das Leituras

Primeira leitura
Do Livro de Jó 2,1-13

Jó, coberto de pragas, é visitado pelos amigos

1Num outro dia em que os Filhos de Deus vieram se apresentar novamente ao Senhor, entre eles veio também Satã. 2O Senhor perguntou a Satã: “De onde vens?” Ele respondeu ao Senhor: “Venho de dar uma volta pela terra, andando a esmo.” 3O Senhor disse a Satã: “Reparaste no meu servo Jó? Na terra não há outro igual: é um homem íntegro e reto, que teme a Deus e se afasta do mal. Ele persevera em sua integridade, e foi por nada que me instigaste contra ele para aniquilá-lo.” 4Satã respondeu ao Senhor e disse: “Pele após pele! Para salvar a vida, o homem dá tudo o que possui. 5Mas estende a mão, fere-o na carne e nos ossos; eu te garanto que te lançará maldições em rosto.” 6“Seja!”, disse o Senhor a Satã, “ele está em teu poder, mas poupa-lhe a vida.” 7E Satã saiu da presença do Senhor.
Ele feriu Jó com chagas malignas desde a planta dos pés até o cume da cabeça. 8Então Jó apanhou um caco de cerâmica para se coçar e sentou-se no meio da cinza. 9Sua mulher disse-lhe: “Persistes ainda em tua integridade? Amaldiçoa a Deus e morre duma vez!” 10Ele respondeu: “Falas como uma idiota: se recebemos de Deus os bens, não deveríamos receber também os males?” Apesar de tudo isso, Jó não cometeu pecado com seus lábios.
11Três amigos de Jó - Elifaz de Temã, Baldad de Suás e Sofar de Naamat -, ao inteirar-se da desgraça que havia sofrido, partiram de sua terra e reuniram-se para ir compartilhar sua dor e consolá-lo. 12Quando levantaram os olhos, a certa distância, não o reconheceram mais. Levantando a voz romperam em prantos; rasgaram seus mantos e, a seguir, espalharam pó sobre a cabeça. 13Sentaram-se no chão ao lado dele, sete dias e sete noites, sem dizer-lhe uma palavra, vendo como era atroz seu sofrimento.

Responsório Sl 37, 2.3.4.12
R. Senhor, em vossa cólera não me repreendais,
em vosso furor não me castigueis,
*
Por causa de meu pecado
nada há de intacto nos meus ossos.
V.
Amigos e companheiros fogem de minha chaga,
e meus parentes permanecem longe.
*
Por causa.

Segunda leitura
Dos “Livros Moralia sobre Jó”, de São Gregório Magno, papa
(Liv. 3,15-16: PL 75,606-608)
(Séc. VI)


Se da mão de Deus recebemos os bens,

por que não suportaremos os males?
Paulo, considerando em seu íntimo as riquezas da sabedoria e vendo-se externamente num corpo corruptível, exclama: Temos este tesouro em vasos de barro! No santo Jó, o vaso de barro sofre no exterior as rupturas das úlceras. Por dentro, porém, continua íntegro o tesouro. Por fora é ferido de chagas. Por dentro, a perene nascente do tesouro da sabedoria derrama-se em palavras santas: Se da mão de Deus recebemos os bens, por que não suportaremos os males? Para ele, os bens são os dons de Deus, tanto os temporais quanto os eternos, enquanto os males são os flagelos do momento. Diz o Senhor pelo Profeta: Eu, o Senhor, e não há outro, faço a luz e crio as trevas, produzo a paz e crio os males.
Faço a luz e crio as trevas
: quando, pelos flagelos, são criadas exteriormente as trevas do sofrimento, no íntimo, pela correção, acende-se a luz do espírito. Produzo a paz e crio os males. Voltamos à paz com Deus quando os bens criados, porém mal desejados, por serem males para nós, se transformam em flagelos. Pela culpa, estamos em discórdia com Deus. Portanto, é justo que pelos flagelos retornemos à paz com ele. Quando os bens criados começam a causar-nos sofrimento, o espírito assim castigado procura humildemente a paz com o Criador.
É preciso considerar com muita atenção, nas palavras de Jó, contra a opinião de sua mulher, a justeza do seu raciocínio. Se recebemos da mão do Senhor os bens, por que não suportaremos os males? Grande conforto na tribulação é, em meio às contrariedades, lembrarmo-nos dos dons concedidos por nosso Criador. E não nos abateremos, em face da dor, se logo nos ocorrer à mente o dom que a reanima. Sobre isto está escrito: Nos dias bons, não te esqueças dos maus, e nos dias maus lembra-te dos bons.
Quem recebe os bens da vida, mas durante os bons tempos deixa inteiramente de temer os flagelos, cai na soberba através da alegria. Quem é atormentado pelos flagelos e nestes dias maus não se consola com os dons recebidos perde, com o mais profundo desespero, o equilíbrio do espírito.
Assim sendo, é necessário unir os dois, de modo que um sempre se apoie no outro: que a lembrança dos bens modere o sofrimento dos flagelos, e que a suspeita e o medo dos flagelos estejam a mordiscar a alegria dos bens.
O santo homem com suas chagas, para aliviar o espírito oprimido em meio às dores dos flagelos, pensa na doçura dos dons: Se recebemos da mão do Senhor os bens, por que não haveremos de suportar os males?

Responsório Jó 2,10b; 1,21-22
R. Se ganhamos o bem da mão do Senhor,
não devemos, também, o mal aceitar?
*
O Senhor no-lo deu, o Senhor o tirou;
e foi feito assim, como a ele agradou:
Que seja bendito o nome de Deus!
V.
Em tudo isso Jó não pecou com seus lábios,
nem falou contra Deus qualquer coisa insensata.
*
O Senhor.

Oração

Ó Deus, que mostrais a luz da verdade aos que erram para retomarem o bom caminho, dai a todos os que professam a fé rejeitar o que não convém ao cristão, e abraçar tudo o que é digno desse nome. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora

V.
Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.