QUARTA-FEIRA

Ofício das Leituras

Primeira leitura
Do Livro do Profeta Jeremias 2,1-13.20-23.25

Infidelidade do povo de Deus
1 A palavra do Senhor foi-me dirigida, dizendo: 2 "Vai e grita aos ouvidos de Jerusalém. Isto diz o Senhor: Lembro-me de ti, da afeição da jovem, do amor da noiva, de quando me seguias no deserto, numa terra inculta. 3 Israel, consagrado ao Senhor, era como as primícias de sua colheita; todos os que dele comiam, pecavam; males caíam sobre eles", diz o Senhor. 4 Ouvi a palavra do Senhor, ó casa de Jacó e todas as famílias da casa de Israel. 5 Isto diz o Senhor: "Que maldade acharam em mim vossos pais para se afastarem de mim e correrem atrás da falsidade e se tornarem falsos? 6 Não disseram eles: "Onde está o Senhor, que nos fez sair da terra do Egito, que nos fez atravessar o deserto, terras inóspitas e intransitáveis, terras sem água, poeirentas, terras onde ninguém morou, onde não houve povoações?" 7Eu vos introduzi numa terra de pomares, para que gozásseis de seus melhores produtos, mas, apenas chegados, contaminastes o país e tornastes abominável minha herança. 8Os sacerdotes nem perguntaram onde está o Senhor. Os versados na Lei não me reconheceram, e os chefes do povo voltaram-me as costas, os profetas profetizaram em nome de Baal e correram atrás de coisas que para nada servem. 9Por isso tenho ainda que discutir convosco, diz o Senhor, e disputarei com os filhos de vossos filhos. 10Passai às cidades de Cetim e vede, tomai contato com Cedar, tentai com esforço saber se assim aconteceu: 11se o povo mudou seus deuses, e saber que de fato esses não são deuses; pois o meu povo transformou sua glória em algo que para nada serve. 12Ó céus, espantai-vos diante disso, enchei-vos de grande horror, diz o Senhor. 13Dois pecados cometeu meu povo: abandonou-me a mim, fonte de água viva, e preferiu cavar cisternas, cisternas defeituosas que não podem reter água. 20Não é de hoje que quebraste o jugo e rompeste as amarras e disseste: "Não quero sujeitar-me". No alto de qualquer colina e debaixo de qualquer árvore frondosa, lá estavas entregando-te à prostituição. 21Entretanto, és a vinha escolhida que eu plantei, toda da mais legítima cepa; como então degeneraste em rebentos de videira agreste? 22Ainda que te laves com potassa e te cubras com folhame de ervas, perante mim estás manchada pelo teu pecado, diz o Senhor Deus. 23Como ainda dizes: "Não estou manchada, não segui a religião dos Baals?" Vê tuas andanças no Vale, pensa no que lá fizeste: eras um camelo novo que anda sem rumo. 25Não te deixes ficar com pés descalços nem com a garganta seca. Disseste: "É inútil falar, não o farei de modo algum; de fato, gosto de estrangeiros e gosto de frequentá-los".

Responsório Jr 2,21; Mt 21,43; Is 5,7b

R. Eu mesmo te plantei, como vinha excelente
de mudas escolhidas;
como, pois, aconteceu que te tornaste para mim
um sarmento tão bastardo, uma vinha tão selvagem?
* Por isso o reino de Deus será tirado de vós
e será dado a um povo, que produza seus frutos.

V. Esperava o direito e veio a iniquidade;
esperava a justiça, e eis os gritos por socorro.
* Por isso.

Segunda leitura
Das Instruções de São Columbano, abade

(Instr. 13, De Christo fonte vitae, 1-2:
Opera, Dublin 1957,116-118)
(Séc. VII)

Quem tem sede venha a mim e beba

Irmãos caríssimos, prestai ouvidos ao que vamos dizer como a algo de necessário. Contentai a sede de vossas almas nas águas da fonte divina, sobre a qual desejamos falar, mas não a extingais; bebei, mas não vos sacieis. Chama-nos a si a fonte viva, a fonte da vida e diz: Quem tem sede venha a mim e beba (Jo 7,37).

Entendei o que bebeis. Diga-vos Jeremias, diga-vos a própria fonte: Abandonaram-me a mim, fonte de água viva, diz o Senhor (Jr 2,13). O próprio Senhor, nosso Deus, Jesus Cristo, é a fonte da vida; por isso nos convida a irmos a ele, fonte, para o bebermos. Bebe-o quem ama; bebe quem se sacia com a palavra de Deus; quem muito ama, muito deseja; bebe quem arde de amor pela sabedoria.

Vede donde mana esta fonte: do mesmo lugar donde desceu o pão. Pão e fonte são o mesmo, o filho único, nosso Deus, o Cristo Senhor, de quem devemos ter sempre fome. Comemo-lo, amando; devoramo-lo desejando e, no entanto, famintos, desejemo-lo ainda. Da mesma forma, qual água de uma fonte; bebamo-lo sempre pela plenitude do desejo e deleitemo-nos com a suavidade de sua particular doçura.

Pois é doce e suave o Senhor; por mais que o comamos e bebamos, estamos sempre sedentos e famintos, porque nosso alimento e bebida nunca se podem tomar e beber totalmente; tomando, não se consome, bebido não acaba, pois nosso pão é eterno, nossa fonte é perene, nossa fonte é doce. Eis a razão por que diz o Profeta: Vós que tendes sede, ide à fonte (Is 55,1). É fonte dos sedentos, não dos saciados. Por isto chama a si sedentos, que em outro lugar declara felizes, aqueles que nunca bebem bastante, mas quanto mais sorvem, tanto mais têm sede.

Irmãos, é justo que a fonte da sabedoria, o Verbo de Deus nas alturas (Eclo 1,5 Vulg.), sempre seja desejada, buscada, amada por nós; estão escondidos, segundo as palavras do Apóstolo, todos os tesouros da sabedoria e da ciência (Cl 2,3), e chama quem tem sede a deles tomar.

Se tens sede, bebe da fonte da vida; se tens fome, come o pão da vida. Felizes os que têm fome deste pão e sede desta fonte. Sempre comendo e sempre bebendo, ainda desejam comer e beber. Porque é imensamente doce aquilo que sempre se saboreia e sempre se deseja mais. O rei profeta já dizia: Saboreai e vede quão doce, quão suave é o Senhor (Sl 33,9).

Responsório Jo 7,37-38

R. Estando de , Jesus clamava em alta voz:
* Quem tem sede venha a mim, venha beber.

V. E torrentes de água viva jorrarão
do mais íntimo de quem tem fé em mim. * Quem tem.

Oração

Ó Deus, que unis os corações dos vossos fiéis num só desejo, dai ao vosso povo amar o que ordenais e esperar o que prometeis, para que, na instabilidade deste mundo, fixemos os nossos corações onde se encontram as verdadeiras alegrias. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora

V.
Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.