SEGUNDA-FEIRA

Ofício das Leituras

Primeira leitura
Do Livro de Tobias 2,1-3,6

Tribulação de Tobias, homem justo
2,1No reinado de Asaradon, pude voltar para minha casa e foi-me devolvida minha esposa Ana com meu filho Tobias. Em nossa festa de Pentecostes (a festa das Semanas), foi-me preparado um excelente almoço e reclinei-me para comer. 2Quando puseram a mesa, com numerosos pratos, disse a meu filho Tobias: “Filho, vai procurar, entre os nossos irmãos deportados em Nínive, algum pobre de coração fiel, e traze-o aqui para comer conosco. Esperar-te-ei até que voltes, meu filho.” 3Saiu, pois, Tobias à procura de algum pobre dentre nossos irmãos e quando regressou, disse: “Meu pai!” Respondi: “E então, filho?” Continuou Tobias: “Pai, há um homem do nosso povo que acaba de ser assassinado; foi estrangulado e depois lançado na praça do mercado e ainda está lá.” 4Levantei-me imediatamente, deixei meu prato intato, fui tirar o homem da praça e o coloquei num quarto, esperando o pôr do sol para enterrá-lo. 5Tornei a entrar, lavei-me e tomei a refeição na tristeza, 6recordando-me das palavras que disse o profeta Amós contra Betel: Vossas festas se converterão em luto e todos os vossos cânticos em lamentações.
7
E eu chorei. Depois, quando o sol se pôs, saí, cavei uma fossa e o sepultei. 8Meus vizinhos diziam, rindo de mim: “Ele já não tem mais medo.” (É preciso lembrar que minha cabeça já fora posta a prêmio por tal motivo). “Na primeira vez ele fugiu; e no entanto, ei-lo de novo a sepultar os mortos!”
9
Naquela noite, tomei banho e fui para o pátio da casa e deitei-me junto ao muro do pátio, com o rosto descoberto por causa do calor. 10Não reparei que havia pardais acima de mim no muro. Caiu-me nos olhos excremento quente produzindo neles manchas brancas. Fui aos médicos para me tratar; mas quanto mais me aplicavam pomadas, mais as manchas me cegavam, até que fiquei completamente cego. Fiquei cego durante quatro anos, e todos os meus irmãos se afligiam por minha causa; e Aicar cuidou do meu sustento por dois anos, até que partiu para Elimaida.
11
Naquela ocasião, minha mulher Ana começou a trabalhar como operária; fiava lã e recebia tela para tecer; 12ela a entregava aos fregueses e estes lhe pagavam o preço. Ora no sétimo dia do mês de Distros, ela acabou uma encomenda e entregou-a aos fregueses; estes lhe pagaram o preço inteiro e ainda lhe deram um cabrito para um almoço. 13Ao entrar em minha casa, o cabrito começou a balir. Chamei então minha esposa e perguntei-lhe: “Donde vem este cabrito? Não terá sido roubado? Devolve-o a seus donos, porque não podemos comer coisa roubada.” 14Ela me disse: “É um presente que me foi dado além do meu salário!” Mas não acreditei nela e ordenei-lhe que o devolvesse a seus donos, envergonhando-me por causa dela. Então ela replicou: “Onde estão as tuas esmolas? Onde estão as tuas boas obras? Todos sabem o que isso te acarretou!”
3,1
Com a alma desolada, suspirando e chorando, comecei esta prece de lamentação: 2“Tu és justo, Senhor, e justas são todas as tuas obras. Todos os teus caminhos são graça e verdade, e tu és o Juiz do universo. 3E agora, Senhor, lembra-te de mim, olha para mim. Não me castigues por meus pecados, nem por minhas inadvertências, nem pelas de meus pais. Pois pecamos em tua presença 4e desobedecemos a teus mandamentos; e nos entregaste ao saque, ao cativeiro e à morte, ao escárnio, à zombaria e ao vitupério de todos os povos entre os quais nos dispersaste. 5E agora, todas as tuas sentenças são verdadeiras, quando me tratas segundo minhas faltas e as de meus pais. Pois não obedecemos às tuas ordens, nem caminhamos na verdade diante de ti. 6E agora, trata-me como te aprouver, digna-te retirar-me a vida: para que eu desapareça da face da terra e de novo me torne pó. Pois para mim mais vale morrer que viver. Sofri ultrajes sem motivo, imensa é a minha tristeza! Senhor, espero que tua decisão me liberte desta provação. Deixa-me partir para a morada eterna, não afastes teu rosto de mim, Senhor. Pois é melhor morrer do que passar a vida aguentando um mal inexorável, e não quero mais ouvir injúrias contra mim”.

Responsório Cf. Tb 3,13.3.2; Eclo 51,8
R. Que tua palavra me livre da terra,
pois não quero mais ouvir ultrajes.
Não me castigues por meus pecados,
nem por minhas inadvertências, nem pelas de meus pais.
* Porque tu libertas aqueles que esperam em ti, Senhor.
V. Todas as tuas obras são justas,
todos os teus caminhos são graça e verdade.
E agora, Senhor, lembra-te de mim.
* Porque tu libertas.

Segunda leitura

Do “Discurso sobre a consolação da morte”, de São João Crisóstomo, bispo
(1,5-7)

Jesus é vida também para aqueles
que abandonam este mundo
O próprio Senhor, que ignora a mentira, exclama: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra viverá; aquele que vive e crê em mim não morrerá eternamente (Jo 11,25-26). Irmãos caríssimos, a palavra divina é clara, porque aquele que crê em Cristo e observa os seus mandamentos, mesmo que morra, viverá. O bem aventurado Paulo apóstolo acolhendo esta palavra e guardando-a, com toda a força da fé, ensinava: Não queremos deixar-vos na ignorância, irmãos, a respeito daqueles que adormecem, para que não continueis a afligir-vos (1Ts 4,13 vulg.). Que admirável expressão! Com ela, o Apóstolo antes mesmo de enunciar o todo da doutrina, já afirma a ressurreição. Chama, na verdade, aos mortos “aqueles que dormem”, de modo, que enquanto diz que dormem, garante sem dúvida alguma, que ressuscitarão. “Para que não continueis a vos afligir”, diz, “a respeito daqueles que dormem, como fazem os outros”.
Aqueles que não têm esperança se afligem, mas nós que somos filhos da esperança nos alegramos. O próprio apóstolo nos recorda qual seja esta esperança, dizendo: Nós cremos que Jesus morreu e ressuscitou; assim, também aqueles que morreram, Deus os reunirá por meio de Jesus juntamente com ele (1Ts 4,14). Jesus, em verdade, é salvação para nós que vivemos ainda neste mundo e vida para aqueles que o abandonam. Disse ainda o Apóstolo: Para mim, o viver é Cristo e o morrer é um lucro (Fl 1,21). Verdadeiramente, um lucro, porque a morte prematura nos preserva das angústias e tribulações de uma longa vida.
Porém, talvez tu perguntes: “Como serão aqueles que ressurgirão da morte?”. Escuta o teu próprio Senhor que fala: Então os justos resplandecerão como o sol no reino do seu Pai (Mt 13,43). Mas porque evocar o esplendor do sol se é necessário que os fiéis se transfigurem realmente na glória do próprio Cristo Senhor? Assim, de fato, nos atesta o apóstolo Paulo: A nossa pátria está nos céus e de lá esperamos como salvador o Senhor Jesus Cristo, o qual transfigurará o nosso mísero corpo para torná-lo conforme o seu corpo glorioso (Fl 3,20-21): sem dúvida esta carne mortal se transfigurará tornando-se conforme a glória de Cristo; o que é mortal se revestirá de imortalidade, porque: Se semeia fraco e imediatamente ressurge pleno de força (1Cor 15,43 ). A carne não terá mais medo da corrupção, não sofrerá a fome, a sede, as doenças e as adversidades. Uma paz segura constitui, de fato, também uma sólida garantia de vida. Porém, diversa sob todos os aspectos é a glória celeste, onde nos será concedida uma alegria indefectível.
Tendo tudo isso na mente e diante dos olhos, o bem-aventurado Paulo falava do desejo de ser liberto do corpo para estar com Cristo, o que seria verdadeiramente melhor (Fl 1,23). E ainda ensinava abertamente: Enquanto habitamos no corpo, estamos em exílio, distantes do Senhor, caminhamos na fé, e não ainda na visão (2Cor 5,6-7). E o que nós podemos fazer, homens de pouca fé, que sofremos e nos deprimimos quando um dos nossos entes queridos parte para o Senhor? Que podemos fazer, nós que preferimos peregrinar neste mundo a sermos conduzidos à presença de Cristo? Se, verdadeiramente, toda a nossa vida é uma peregrinação: de fato, como peregrinos neste mundo, nós não temos morada definitiva; nos angustiamos, nos afadigamos até esgotarmo-nos, caminhando por estradas de difícil acesso e cheias de perigos. Mas, mesmo sendo ameaçados por tantos perigos não somente não desejamos ser libertos deles, mas choramos com profunda aflição aqueles que conseguiram finalmente a libertação, como se os houvéssemos perdido.
Qual a vantagem então de Deus nos ter oferecido uma garantia por meio do seu Unigênito, se ainda devemos ter medo da morte? Por que nos gloriamos de termos renascido da água e do Espírito, se a partida deste mundo nos entristece? A essência da vida cristã consiste de fato na espera da verdadeira vida depois da morte, no esperar o retorno depois do fim. Tendo, pois, acolhido com confiança a palavra do Apóstolo, rendamos graças a Deus que nos concedeu a vitória contra a morte por Cristo nosso Senhor, ao qual pertence a glória e o poder agora e por toda a eternidade. Amém.

Responsório 1Cor 15,20.21.22
R. Cristo ressuscitou dos mortos,
primícia dos que adormeceram.
* E como todos morrem em Adão,
assim todos receberão a vida em Cristo.
V. Se, pois, por causa de um homem veio a morte,
por causa de um homem virá também a ressurreição dos mortos
* E como.

Oração

Ó Pai, que resumistes toda a lei no amor a Deus e ao próximo, fazei que, observando o vosso mandamento, consigamos chegar um dia à vida eterna. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora

V.
Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.