Ofício das Leituras

V. Vinde, ó Deus, em meu auxílio.
R. Socorrei-me sem demora.
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
Como era no princípio, agora e sempre. Amém. Aleluia.

Essa introdução se omite quando o Invitatório precede imediatamente ao Ofício das Leituras.

Hino

Eis o dia de Deus verdadeiro,
no clarão de luz santa banhado.
Nele, o sangue do novo Cordeiro
apagou deste mundo o pecado.

Deu a fé novamente aos perdidos,
deu aos cegos de novo a visão.
Quem não há de perder todo o medo,
vendo o céu ser aberto ao ladrão?

Eis o fato que aos anjos assombra:
ver o Cristo na cruz como réu,
e o ladrão que com ele padece,
conquistar a coroa do céu.

Admirável, profundo mistério:
lava a carne da carne a fraqueza
e, tirando os pecados do mundo,
restitui-lhe a antiga nobreza.

O que pode existir mais sublime
que o pecado à procura da graça?
Que da morte nascer vida nova
e um amor que aos temores desfaça?

Ó Jesus, dos fiéis corações
sede eterna alegria pascal;
congregai os nascidos da graça
pelo vosso triunfo imortal.

Glória a vós que vencestes a morte
e brilhais, com o Pai, Sumo Bem,
no esplendor coruscante do Espírito
pelos séculos eternos. Amém.

Salmodia

Ant.1 Aleluia, removida foi a pedra
da entrada do sepulcro, aleluia.

Salmo 103(104)

Hino a Deus Criador
Se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo (2Cor 5,17).

I

1 Bendize, ó minha alma, ao Senhor! *
Ó meu Deus e meu Senhor, como sois grande!
2 De majestade e esplendor vos revestis *
e de luz vos envolveis como num manto.

3 Estendeis qual uma tenda o firmamento, *
construís vosso palácio sobre as águas;
– das nuvens vós fazeis o vosso carro, *
do vento caminhais por sobre as asas;

4 dos ventos fazeis vossos mensageiros, *
do fogo e chama fazeis vossos servidores.
5 A terra vós firmastes em suas bases, *
ficará firme pelos séculos sem fim;

6 os mares a cobriam como um manto, *
e as águas envolviam as montanhas.
7 Ante a vossa ameaça elas fugiram, *
e tremeram ao ouvir vosso trovão;

8 saltaram montes e desceram pelos vales *
ao lugar que destinastes para elas;
9 elas não passam dos limites que fixastes, *
e não voltam a cobrir de novo a terra.

10 Fazeis brotar em meio aos vales as nascentes *
que passam serpeando entre as montanhas;
11 dão de beber aos animais todos do campo, *
e os da selva nelas matam sua sede;
12 às suas margens vêm morar os passarinhos, *
entre os ramos eles erguem o seu canto.

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Aleluia, removida foi a pedra
da entrada do sepulcro, aleluia.

Ant.2 Aleluia, quem procuras, ó mulher?
Entre os mortos o Vivente? aleluia.

II

13 De vossa casa as montanhas irrigais, *
com vossos frutos saciais a terra inteira;

14 fazeis crescer os verdes pastos para o gado *
e as plantas que são úteis para o homem;

15 para da terra extrair o seu sustento *
e o vinho que alegra o coração,

– o óleo que ilumina a sua face *
e o pão que revigora suas forças.

16 As árvores do Senhor são bem viçosas *
e os cedros que no Líbano plantou;

17 as aves ali fazem os seus ninhos *
e a cegonha faz a casa em suas copas;

18 os altos montes são refúgio dos cabritos, *
os rochedos são abrigo das marmotas. –

19 Para o tempo assinalar destes a lua, *
e o sol conhece a hora de se pôr;

20 estendeis a escuridão e vem a noite, *
logo as feras andam soltas na floresta;

21 eis que rugem os leões, buscando a presa, *
e de Deus eles reclamam seu sustento.

22 Quando o sol vai despontando, se retiram, *
e de novo vão deitar-se em suas tocas.

23 Então o homem sai para o trabalho, *
para a labuta que se estende até à tarde.

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Aleluia, quem procuras, ó mulher?
Entre os mortos o Vivente? aleluia.

Ant.3 Aleluia, não chores, Maria:
O Senhor ressurgiu, aleluia.

III

=24 Quão numerosas, ó Senhor, são vossas obras, †
e que sabedoria em todas elas! *
Encheu-se a terra com as vossas criaturas!

=25 Eis o mar tão espaçoso e tão imenso, †
no qual se movem seres incontáveis, *
gigantescos animais e pequeninos;

=26 nele os navios vão seguindo as suas rotas, †
e o monstro do oceano que criastes *
nele vive e dentro dele se diverte.

27 Todos eles, ó Senhor, de vós esperam *
que a seu tempo vós lhes deis o alimento;

28 vós lhes dais o que comer e eles recolhem, *
vós abris a vossa mão e eles se fartam.

=29 Se escondeis a vossa face, se apavoram, †
se tirais o seu respiro, eles perecem *
e voltam para o pó de onde vieram;

30 enviais o vosso espírito e renascem *
e da terra toda a face renovais.

31 Que a glória do Senhor perdure sempre, *
e alegre-se o Senhor em suas obras!

32 Ele olha para a terra, ela estremece; *
quando toca as montanhas, lançam fogo.

33 Vou cantar ao Senhor Deus por toda a vida, *
salmodiar para o meu Deus enquanto existo.

34 Hoje seja-lhe agradável o meu canto, *
pois o Senhor é a minha grande alegria!

=35 Desapareçam desta terra os pecadores, †
e pereçam os perversos para sempre! *
Bendize, ó minha alma, ao Senhor!

– Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Aleluia, não chores, Maria:
O Senhor ressurgiu, aleluia.

V. Refloresceu a minha carne e eu canto: Aleluia.

R. Eu agradeço ao Senhor de coração. Aleluia.

Primeira leitura
Dos Atos dos Apóstolos 20,17-38

Paulo em Mileto fala aos anciãos da Igreja de Éfeso
De Mileto, Paulo mandou emissários a Éfeso para chamarem os anciãos daquela igreja. Quando chegaram, assim lhes falou:
“Vós bem sabeis como procedi para convosco todo o tempo, desde o primeiro dia em que cheguei à Ásia. Servi ao Senhor com toda a humildade, com lágrimas, e no meio das provações que me sobrevieram pelas ciladas dos judeus. E nada do que vos pudesse ser útil eu negligenciei de anunciar-vos e ensinar-vos, em público e pelas casas, conjurando judeus e gregos ao arrependimento diante de Deus e à fé em Jesus, nosso Senhor.
Agora, acorrentado pelo Espírito, dirijo-me a Jerusalém, sem saber o que lá me sucederá. Senão que, de cidade em cidade, o Espírito Santo me adverte dizendo que me aguardam cadeias e tribulações. Mas de forma alguma considero minha vida preciosa a mim mesmo, contanto que leve a bom termo a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus: dar testemunho do Evangelho da graça de Deus.
Agora, porém, estou certo de que não mais vereis minha face, vós todos entre os quais passei proclamando o Reino. Eis por que eu o atesto, hoje, diante de vós: estou puro do sangue de todos, pois não me esquivei de vos anunciar todo o desígnio de Deus para vós.
Estais atentos a vós mesmos e a todo o rebanho: nele o Espírito Santo vos constituiu guardiães, para apascentar a Igreja de Deus, que ele adquiriu para si pelo sangue do seu próprio Filho.
Bem sei que, depois de minha partida, introduzir-se-ão entre vós lobos vorazes que não pouparão o rebanho. Mesmo do meio de vós surgirão alguns falando coisas pervertidas, para arrastarem atrás de si os discípulos. Vigiai, portanto, lembrados de que, durante três anos, dia e noite, não cessei de admoestar com lágrimas a cada um de vós.
Agora, pois, recomendo-vos a Deus e à palavra de sua graça, que tem o poder de edificar e de vos dar a herança entre todos os santificados. De resto, não cobicei prata, ouro, ou vestes de ninguém: vós mesmos sabeis que, às minhas precisões e às de meus companheiros, proveram estas mãos. Em tudo vos mostrei que é afadigando-nos assim que devemos ajudar os fracos, tendo presentes as palavras do Senhor Jesus, que disse: ‘Há mais felicidade em dar que em receber’”.
Após estas palavras, ajoelhou-se, e orou com todos eles. Todos, então, prorromperam num choro convulsivo. E, lançando-se ao pescoço de Paulo, beijavam-no, veementemente aflitos, sobretudo pela palavra que dissera: que não mais haveriam de ver sua face. E acompanharam-no até ao navio.

Responsório At 20,28;1Cor 4,2
R. Cuidai de todo o rebanho sobre o qual
o Espírito Santo vos estabeleceu como guardiães,
*
Como pastores da Igreja de Deus
que ele adquiriu com o seu sangue, aleluia.
V.
O que se exige dos administradores
é que seja cada um achado fiel.
*
Como pastores.

Segunda leitura
Dos Sermões de São Máximo de Turim, bispo
(Sermo 55,1-2: CCL 23,221-222)


Cristo comparado com a águia
Tendes presente, irmãos, que eu preguei, há muito pouco tempo, que o homem pela justiça restaura sua idade e, embora cansado da velhice, renasce como criança pelos costumes da inocência.
Deste modo, por intermédio de um mistério, vemos velhos transformados em crianças; pois é como uma restauração deixares de ser o que foste e assumires o que inicialmente eras. Restauração sim; e por isso é que se chamam néofitos, uma vez que, por uma espécie de novidade, lançam fora as manchas da velhice e assumem a graça da simplicidade, conforme diz o Apóstolo: Despojai-vos do velho homem com seus atos e revesti-vos do homem novo, criado à imagem de Deus (cf. Ef 4,22.24). Por isso diz também o santo Davi: Tua juventude se renovará como a da águia (cf. Sl 102,5), entendendo que, pela graça do Batismo, pode reviver o que estava morto em nossa vida e renovar-se, por uma certa juventude, o que havia decaído pela velhice dos pecados.
Para entenderes que o profeta fala da graça do Batismo, compreende a comparação que utiliza: a da renovação da águia. Diz-se que essa ave, por uma frequente renovação de sua plumagem, chega a uma idade avançada, pois, perdendo as penas envelhecidas e substituindo-as por uma plumagem nova, restaura sua aparência. Ficamos assim entendendo que não são os membros da águia que experimentam a velhice, mas sim suas penas. Veste-se pois, de novo, a mãe envelhecida e, externamente renovada, é restituída à condição de filhote. Com esses é que a águia deve comparar-se, pois se faz necessário que ela, com as penas brilhando, se prepare outra vez para os voos difíceis e controle os remos de suas asas, outrora bem exercitados, como se fossem os membros de uma ave nova, inerte dentro do ninho. Pois, embora pelo costume tenha conhecimento dos voos, por causa da renovação das penas lhe falta a confiança para voar.
Foi, portanto, sobre a graça do Batismo que o Salmista profetizou. Porque nossos neófitos recentemente batizados, como se depusessem os despojos de uma águia envelhecida, se revestem das vestes novas da santidade e, extintas as manchas antigas, se adornam com a graça rediviva da imortalidade. De tal modo que neles o que envelhece são os pecados e não a vida. E, como a águia é reconduzida à condição de filhote, assim eles retornam à infância espiritual. Sabem como devem comportar-se no mundo, mas não têm segurança no caminho da justiça reencontrada.
Vejamos com mais atenção o que diz o santo Davi. Não afirma que sua justiça se renovará como a das águias, mas como a da águia . Nossa juventude se deve renovar como a de uma única águia e eu diria que esta única águia é, com certeza, Cristo. Sua juventude se renovou quando ressuscitou dos mortos. Depondo os despojos do corpo corruptível, refloresceu assumindo uma carne rediviva, como ele mesmo diz pelo Profeta: Refloresceu minha carne, e com meu canto lhe rendo graças. Refloresceu minha carne (cf. Sl 27,7: Vulg.). Prestai atenção ao termo que foi empregado: disse refloresceu e não floresceu. Refloresce o que floresceu anteriormente. Floresceu a carne do Senhor quando saiu do útero imaculado de Maria Virgem, como diz Isaías: Brotará uma haste da raiz de Jessé; da raiz subirá uma flor (Is 11,1). Refloresceu quando, cortando os judeus a flor de seu corpo, germinou do sepulcro a glória rediviva da ressurreição. Então infundiu em todos os homens o perfume e o esplendor da imortalidade, espalhando o perfume com a suavidade das boas obras, irradiando o esplendor com a incorrupção da divindade eterna.

Responsório Rm7,6;5,6
R. Agora, mortos para aquilo que nos mantinha prisioneiros,
fomos libertados da Lei,
*
De modo a nos tornarmos escravos no novo regime do Espírito
e não mais no regime antiquado da letra, aleluia.
V.
O amor de Deus foi derramado em nossos corações
pelo Espírito Santo que nos foi dado.
*
De modo.

Hino
Te Deum
em latim

(A VÓS, Ó DEUS, LOUVAMOS)

A vós, ó Deus, louvamos,
a vós, Senhor, cantamos.
A vós, Eterno Pai,
adora toda a terra.

A vós cantam os anjos,
os céus e seus poderes:
Sois Santo, Santo, Santo,
Senhor, Deus do universo!

Proclamam céus e terra
a vossa imensa glória.
A vós celebra o coro
glorioso dos Apóstolos,

Vos louva dos Profetas
a nobre multidão
e o luminoso exército
dos vossos santos Mártires.

A vós por toda a terra
proclama a Santa Igreja,
ó Pai onipotente,
de imensa majestade,

e adora juntamente
o vosso Filho único,
Deus vivo e verdadeiro,
e ao vosso Santo Espírito.

Ó Cristo, Rei da glória,
do Pai eterno Filho,
nascestes duma Virgem,
a fim de nos salvar.

Sofrendo vós a morte,
da morte triunfastes,
abrindo aos que têm fé
dos céus o reino eterno.

Sentastes à direita
de Deus, do Pai na glória.
Nós cremos que de novo
vireis como juiz.

Portanto, vos pedimos:
salvai os vossos servos,
que vós, Senhor, remistes
com sangue precioso.

Fazei-nos ser contados,
Senhor, vos suplicamos,
em meio a vossos santos
na vossa eterna glória.

(A parte que se segue pode ser omitida, se for oportuno).

Salvai o vosso povo.
Senhor, abençoai-o.
Regei-nos e guardai-nos
até a vida eterna.

Senhor, em cada dia,
fiéis, vos bendizemos,
louvamos vosso nome
agora e pelos séculos.

Dignai-vos, neste dia,
guardar-nos do pecado.
Senhor, tende piedade
de nós, que a vós clamamos.

Que desça sobre nós,
Senhor, a vossa graça,
porque em vós pusemos
a nossa confiança.

Fazei que eu, para sempre,
não seja envergonhado:
Em vós, Senhor, confio,
sois vós minha esperança!

Oração

Deus todo-poderoso, dai-nos celebrar com fervor estes dias de júbilo em honra do Cristo ressuscitado, para que nossa vida corresponda sempre aos mistérios que recordamos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora
V. Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.