QUARTA-FEIRAOfício das LeiturasPrimeira leitura
Do Livro de Judite
8,1a.10-14.28-33; 9,1-6.14
Judite se preocupa com a sorte de seu povo
1aNaqueles dias, ouviu tudo isso Judite, filha de Merari.
10Mandou então sua serva, preposta a todos os seus bens,
chamar Cabris e Carmis, anciãos da cidade. 11Quando vieram
a ela, disse-lhes:
“Ouvi-me, chefes dos habitantes de Betúlia. Não é
correta a vossa palavra, a que dissestes hoje diante do
povo, nem esse juramento que proferistes entre Deus e
nós, dizendo que entregaríeis a cidade aos nossos inimigos
se, neste prazo, o Senhor não vos trouxer socorro. 12Quem
sois vós, que hoje tentais a Deus e vos colocais acima dele
no meio dos filhos dos homens? 13Agora colocais à prova
o Senhor Todo-poderoso! Jamais compreendereis coisa
alguma! 14Se não descobris o íntimo do coração do homem
e não entendeis as razões do seu pensamento, como, então,
penetrareis o Deus que fez essas coisas? Como conhecereis
seu pensamento? Como compreendereis o seu desígnio?
Não, irmãos, não irriteis o Senhor, nosso Deus!”
28Ozias lhe respondeu: “Tudo o que disseste, disseste com
ótima intenção, e não há quem contradiga tuas razões. 29Não
é de hoje que tua sabedoria se manifesta. Desde o princípio
de teus dias, todo o povo conheceu a tua inteligência, bem
como a natural bondade do teu coração. 30Mas o povo,
acossado pela forte sede, forçou-nos a fazer como dissemos
a eles, comprometendo-nos com um juramento que não
poderá ser quebrado. 31E agora, dado que és uma mulher
piedosa, roga por nós, e o Senhor enviará uma forte chuva
para encher nossas cisternas, e não mais desfaleceremos.”
32 - “Escutai-me bem”, disse-lhes Judite. “Farei algo
cuja lembrança se transmitirá aos filhos de nossa raça, de
geração em geração. 33Esta noite ficareis à porta da cidade.
Eu sairei, com minha serva, e, antes da data na qual dissestes
que entregaríeis a cidade aos inimigos, o Senhor, por minha
mão, visitará Israel.
9,1Judite prostrou-se com o rosto por terra. Pôs cinza
sobre a cabeça e despojou-se até ficar apenas com o pano
de saco que havia vestido. Era a hora em que se oferecia
em Jerusalém, no Templo de Deus, o incenso da tarde. Em
alta voz, Judite clamou ao Senhor e disse:
2“Senhor, Deus de meu pai Simeão,
em cuja mão puseste uma espada para vingança contra os
estrangeiros
que desataram o cinto de uma virgem, para sua vergonha,
que desnudaram sua coxa para sua confusão,
e profanaram seu seio, para sua desonra;
porque disseste: ‘Não será assim’; e eles o fizeram.
Por isso entregaste seus chefes à morte,
e seu leito, aviltado pela astúcia,
foi enganado até ao sangue.
Feriste os escravos com os príncipes,
e os príncipes com seus servos.
4Entregaste suas mulheres ao rapto
e suas filhas ao cativeiro,
e todos os seus despojos à partilha, em proveito dos filhos
por ti amados, os que arderam de zelo por ti,
abominaram a mancha de seu sangue
e invocaram o teu socorro.
Deus, ó meu Deus,
ouve-me, que sou uma pobre viúva.
5Tu é que fizeste o passado,
o que acontece agora e o que acontecerá depois.
O presente e o futuro foram concebidos, por ti
e o que tinhas em mente aconteceu.
6Teus desígnios se apresentaram
e disseram: ‘Aqui estamos!’
Porque todos os teus caminhos estão preparados,
e teus juízos previstos de antemão.
14Faze conhecer a todo o teu povo e a toda tribo
que Tu és o Senhor, Deus de todo poder e de toda força,
e que o povo de Israel não tem outro protetor senão a ti.”
Responsório
Cf. Jt 8,20.14.16
R. Nós não conhecemos outro Deus além do Senhor, no
qual esperamos,
* Por isso confiamos que não nos olhará com desdém,
nem
se afastará de nossa raça.
V. Com abundantes lágrimas imploramos a sua indulgência,
e humilhamos a nossa alma diante Dele.
* Por isso.
Segunda leitura
Do Tratado “sobre a Oração”, de Orígenes, presbítero
(Nn. 2.5)
(Séc. III)
Deus conhece tudo antes que aconteça
A meu ver, foi pela consciência da insuficiência e fraqueza humanas para captar e conhecer o modo conveniente
de orar, e sobretudo, pelas palavras sábias e sublimes que
o Salvador pronunciava em sua oração ao Pai, que um dos
discípulos de Jesus disse, depois que o Senhor cessou de
orar: Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou a seus discípulos (Lc 11,1).
É, acaso, possível que um homem nutrido pelo ensino
da Lei, pela audição das palavras dos profetas, assíduo em
frequentar a sinagoga, não soubesse orar antes de ter visto
o Senhor orar em determinado lugar? É absurdo dizer isso.
Na verdade, ele orava conforme o costume judaico, mas
percebeu que precisava de maior conhecimento a respeito
da oração. Que é, pois, que João ensinava sobre a oração a
seus discípulos vindos de Jerusalém e de toda a Judeia e das
vizinhanças, para serem batizados por ele? Acreditaríamos,
talvez, que, sendo ele mais do que um profeta, teria visto
em matéria de oração algumas coisas que não ensinava a
qualquer um que viesse para ser batizado, mas apenas, em
segredo, aos que se tornavam seus discípulos, antes mesmo
de serem batizados. Tais orações, na realidade espirituais,
pois o Espírito ora no coração dos santos, são descritas como
repletas de doutrinas secretas e maravilhosas. Com efeito,
no Primeiro Livro dos Reis, assim é, ao menos em parte, a
oração de Ana. Ela não precisou de fórmula, quando multiplicava preces em presença do Senhor, falando-lhe no seu
coração (cf. 1Sm 1,11-13). O Salmo 89 intitula-se: “Oração
de Moisés”, servo de Deus. O Salmo 101 é a “oração de um
pobre, quando estava aflito e derramou a sua oração diante
do Senhor”. Estas orações, sendo realmente preces feitas
e pronunciadas no Espírito, são cheias de ensinamentos da
Sabedoria divina, de modo que se pode dizer das coisas que
nelas se anunciam: Quem é sábio e entende estas coisas? Quem é inteligente, e as conhecerá? (Os 14,10).
Assim, sendo tão difícil falar da oração que exige a
iluminação do Pai, o ensinamento do Verbo Primogênito
e a cooperação do Espírito Santo, para se entender e para
se tratar dignamente desse assunto, pedirei como homem
(pois não pretendo compreender a oração do Espírito, antes
de ter sido esclarecido sobre a natureza da oração), que me
seja concedida uma palavra plena e espiritual, e assim possa
explicar as orações comuns do Evangelho.
Que necessidade, pois, de dirigir uma oração Àquele que,
antes que o façamos, já conhece aquilo de que precisamos?
O Pai celeste já conhece aquilo de que precisamos, antes
que a ele peçamos (Mt 6,8). E isso parece justo, porque o
Pai e Criador do universo ama todos os seres, e não sente desgosto por nenhuma das coisas que criou (cf. Sb 11,24).
De um modo salutar, Deus dispensa a cada um o que lhe
é necessário, sem que seja preciso pedir. É como um pai
que vela por seus filhos, sem esperar que eles lho peçam,
ou porque são muito pequenos para pedir, ou porque desejam por ignorância ter justamente o contrário do que lhes
é proveitoso e benéfico. E nós humanos somos bem mais
distantes de Deus que a idade infantil é do coração dos
seus pais.
Responsório
Rm 11,34.35; Is 40,14
R. Quem compreendeu a mente do Senhor?
Ou quem foi
seu conselheiro?
* Ou quem lhe deu primeiro a ele,
para que lhe seja
recompensado?
V. Com quem tomou ele conselho, que lhe desse entendimento,
e lhe ensinasse o caminho Da justiça?
* Ou quem.
OraçãoÓ
Deus, que mostrais vosso poder sobretudo no perdão e na misericórdia,
derramai sempre em nós a vossa graça, para que, caminhando ao encontro
das vossas promessas, alcancemos os bens que nos reservais. Por nosso
Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.Conclusão da Hora
V. Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.