Do Livro do Profeta Jeremias
9,1-11.16-21
Corrupção moral de Judá
1Quem me dará no deserto
um refúgio de viajantes,
para que possa deixar o meu povo
e ir para longe deles?
Porque todos são adúlteros,
uma quadrilha de traidores.
2Retesam as suas línguas como um arco;
é a mentira e não a verdade
que prevalece na terra.
Porque avançam de crime em crime,
mas a mim não conhecem,
oráculo do Senhor!
3Que cada um se guarde de seu próximo,
e não confieis em nenhum irmão;
porque todo irmão só quer suplantar
e todo próximo anda caluniando.
4Cada um zomba de seu próximo,
não dizem a verdade,
habituaram suas línguas à mentira,
cansam-se de agir mal.
5A tua habitação está no meio da falsidade!
Por causa da falsidade recusam conhecer-me,
oráculo do Senhor!
6Por isso assim disse o senhor dos Exércitos:
Eis que os acrisolarei e os provarei.
Pois como poderia eu agir com a filha do meu povo?
7A sua língua é uma flecha mortífera,
falsa é a palavra de sua boca;
ele diz paz ao seu próximo,
mas, dentro de si, lhe prepara uma cilada.
8Não deveria castigá-los por isto?
- oráculo do Senhor Contra uma nação como esta
não deveria vingar-me?
9Sobre as montanhas, elevo gemido e prantos;
sobre as pastagens da estepe, um canto de lamentação.
Porque elas estão queimadas, ninguém passa por ali,
e não ouvem o grito dos rebanhos.
Desde os pássaros do céu até os animais domésticos
todos fugiram, foram embora.
10- Eu farei de Jerusalém um monte de pedras,
abrigo de chacais;
a das cidades de Judá farei uma desolação,
sem habitantes.
11Quem é o sábio que compreenderá estas coisas?
A quem a boca do Senhor falou para que ele anuncie?
Por que a terra está arruinada,
queimada como o deserto, sem nenhum passante?
16Assim disse o Senhor dos Exércitos:
Atendei! Chamai as carpideiras, para que venham!
Mandai procurar as mulheres hábeis, para que venham!
17Que elas se apressem e cantem sobre nós uma lamentação!
Que nossos olhos derramem lágrimas,
e nossas pálpebras deixem correr água.
18Sim, foi ouvida uma lamentação em Sião:
“Como estamos aniquilados, cobertos de vergonha
porque tivemos de abandonar a terra,
porque destruíram as nossas moradias”.
19Escutai, pois, mulheres, a palavra do Senhor,
que vosso ouvido receba a palavra de sua boca;
ensinai a vossas filhas o pranto,
e cada uma à sua vizinha o canto de lamentação:
20“A morte subiu por nossas janelas,
entrou em nossos palácios,
para ferir a criança na rua
e os jovens nas praças.
21Fala: Assim é o oráculo do Senhor:
Os cadáveres dos homens caem
como esterco sobre o campo
e como gavela atrás do segador,
e não há quem a recolha!”
Responsório Jr 9,2.8.7
R. Porque avançam de crime em crime,
mas a mim não
conhecem.
* Não deveria castigá-los por isto;
contra uma nação como
esta não deveria vingar-me?
V. Ele diz paz ao seu próximo,
mas, dentro de si, lhe prepara
uma cilada.
* Não deveria.
Da obra “O Sacramento do Altar”, de Balduíno de Cantuária,
bispo
(Parte II,1)
Quem é o sábio que pode compreender essas coisas?
Deus plantou um vinha. Qual? Diz Isaías: A vinha do
Senhor dos exércitos é a casa de Israel (Is 5,7). Como uma
vinha se diferencia da outra, assim também um vinho de
outro vinho. A vinha do Senhor se distingue das outras. Estas
representam os gentios, afastados do culto de Deus e dados à
idolatria. A Sinagoga, invés, que pertence à vinha do Senhor
porque por Ele plantada e cultivada, para os justos é vinha do
Senhor; para os malvados e infiéis, invés, foi transformada
no sabor amargo de uma videira selvagem. De fato são uma
geração perversa, filhos infiéis (Dt 32,20). Essa vinha deu
como fruto impiedade no lugar de fé, desconfiança em vez
de esperança, inveja e ódio em vez de amor.
Tal a vinha tal o seu vinho. Mas a Sinagoga fiel, que
deseja a Deus pela obediência, foi como fruto agradável e
como vinha escolhida. De fato, Deus se compadece da obediência dos antigos justos às promessas da lei, aos juízos,
aos mandamentos, aos juramentos. Essa obediência durou
até a paixão de Cristo. Depois houve uma nova obediência
e uma nova justiça, destinada a se comprazer ainda mais
de Deus por uma maior perfeição.
Por isso diz: Desta hora em diante, não beberei deste
fruto da videira (Mt 26,29), como se dissesse: não me deleitarei mais na obediência da lei como tenho feito até hoje.
Está próximo aquele dia, isto é, o tempo da graça que destruirá toda treva, para que por meio de uma nova promessa
e com novos preceitos e sacramentos se aumente a religião,
e com o exemplo da minha humildade seja aperfeiçoada a
obediência na qual me deleitarei grandemente convosco no
reino do meu Pai, isto é, a Igreja.
Sumo, portanto, é o cumprimento da lei: a obediência até
a morte. Essa é a perfeita caridade, este é o fim da justiça e
de toda perfeição. Esta obediência foi guardada na lei, no
primeiro e maior dos mandamentos: Amarás o Senhor teu
Deus com todo o teu coração, com toda a sua alma, com
toda a sua força e com toda a sua mente (Lc 10,27). Foi
também guardada nos sacrifícios e escondida na morte das
vítimas.
Agora, ao invés, foi manifestada no exemplo da morte
de Cristo e imposta àqueles que vivem na imitação e no
amor de Cristo. Esta obediência é o cálice da salvação, o
cálice da paixão de Cristo. Este é o vinho novo do qual o
Senhor diz: Desta hora em diante, não beberei deste fruto
da videira, até aquele dia em que o hei de beber, novo,
convosco no reino de meu Pai (Mt 26,29).
Que significa,
então, beber aquele vinho novo, senão participar por amor
da obediência de Cristo?
Que significa “o beberei convosco” senão: também vós
participareis comigo por amor à obediência? Que significa:
“o beberei, mas novo” senão que era uma novidade beber
o cálice da paixão assim como o fruto da vinha? Era uma
novidade imolar um homem no lugar de um vitelo. Beberei
esse vinho novo convosco porque me deleitarei na novidade
desse cálice; e vós vos deleitareis comigo para alegria da
alma. Mas a obediência até a morte deve ser entendida não
apenas pela morte da carne, mas em certo sentido, de toda
perfeita mortificação e penitência do corpo e especialmente
de toda renúncia à própria vontade. Quem com alegria de
espírito e na docilidade da caridade, transpondo a própria
vontade antepõe a vontade do irmão, de opinião diferente,
este dá a vida pelo seu irmão. Em todo gênero de martírio
está a obediência até a morte, seja pela morte à espada da
perseguição, seja pela espada do espírito, isto é, a palavra
de Deus.
Responsório Jr 6,16; Mt 11,29
R. Procurai saber sobre os caminhos do passado,
onde está
a estrada boa, e segui por ela:
* Assim encontrareis paz para sua alma.
V. Aprendei de mim,
que sou manso e humilde de coração:
* Assim.