QUINTA-FEIRA

Ofício das Leituras

Primeira leitura
Do Livro da Sabedoria 5,1-23

Os ímpios comparecerão em julgamento
1De pé, porém, estará o justo, em segurança, na presença dos que o oprimiram e dos que desprezaram seus sofrimentos. 2Vendo-o, serão tomados de terrível pavor, atônitos diante da salvação imprevista; 3dirão entre si, arrependidos, entre soluços e gemidos de angústia: 4“Este é aquele de quem outrora nos ríamos, de quem fizemos alvo de ultraje, nós insensatos! Considerávamos a sua vida uma loucura e seu fim infame. 5Como agora o contam entre os filhos de Deus e partilha a sorte dos santos? 6Sim, extraviamo-nos do caminho da verdade; a luz da justiça não brilhou sobre nós, para nós não nasceu o sol. 7Cansamo-nos nas veredas da iniquidade e perdição, percorremos desertos intransitáveis, mas não conhecemos o caminho do Senhor! 8Que proveito nos trouxe o orgulho? De que nos serviram riqueza e arrogância? 9Tudo isso passou como uma sombra, como notícia fugaz, 10como o navio que singra as águas ondulosas sem deixar rastro de sua travessia nem, nas ondas, a esteira de sua quilha. 11Ou como o pássaro que voa pelos ares sem deixar vestígios de seu curso; o leve ar, fustigado pelas penas, fendido pelo vigoroso silvo, é aberto em estrada pelas asas, sem que se encontre algum sinal de sua rota. 12Ou como a flecha disparada para o alvo: cicatriza num instante o ar ferido, ignorando-se o rumo que tomou. 13Assim conosco: mal nascemos, já desaparecemos, sem mostrarmos nenhum traço de virtude; na malícia nos deixamos consumir!” 14Sim, a esperança do ímpio é como a palha levada pelo vento, como a espuma miúda que a tempestade espalha; é dispersada como o fumo pelo vento, fugaz como a lembrança do hóspede de um dia... Mas os justos vivem para sempre, recebem do Senhor sua recompensa, cuida deles o altíssimo. 16Receberão a magnífica coroa real, e, das mãos do Senhor, o diadema de beleza; com sua direita os protegerá, com seu braço os escudará. 17Tomará a armadura de seu ciumento ardor, armará a criação para vingar os inimigos; 18vestirá a couraça da justiça, cingirá como capacete um julgamento irrevogável; 19usará o escudo da invencível santidade; 20afiará a espada de sua ira implacável; a seu lado, contra os insensatos, pelejará o universo: 21certeiras, surgirão rajadas de raios, voarão para o alvo do teso arco das nuvens; 22sua funda lançará furiosa saraivada, contra eles lufarão as ondas do mar, sem piedade os rios os afogarão. 23Um sopro poderoso se levantará contra eles e os dispersará qual furacão. A iniquidade fará deserta a terra inteira e a malícia derribará dos tronos os poderosos!

Responsório Sb 3,12.3
R. As almas dos justos estão nas mãos de Deus.
* Nenhum tormento as tocará.
V. Aos olhos dos estultos parecem que morrem;
mas eles estão em paz.
* Nenhum.

Segunda leitura

Do Tratado “A vida em Cristo”, de Nicolau Cabasilas
(Liv. 6)

(Séc. XIV)


Cristo em pessoa é o nosso modelo
Quem está repleto pelo amor de Cristo e das virtudes, por este amor suporta ainda as perseguições: quando necessário não se recusa a fugir e a acolher com alegria as piores injúrias, porque por ele estão reservados no céu belíssimos e grandíssimos prêmios.
Tão potente é o amor dos combatentes pelo comandante da tropa que os deverá premiar, que nele depositam a confiança pelos prêmios que ainda não podem ver, e têm por realidade presente aquilo que esperam receber no futuro.
Assim, a contínua reflexão e meditação sobre Cristo torna os que a praticam modestos, conscientes da debilidade humana e capazes de chorá-la, mansos, justos, amigos dos homens, castos, operários de paz e de reconciliação; cheios, enfim, de tanto amor por Cristo e pelas virtudes, que não somente suportam ser insultados por isso, mas chegam a gloriar-se e exultam nas perseguições.
Logo, desses pensamentos podemos tirar grandíssimos bens nos quais se encontram a beatitude.
Naquele que é o sumo Bem, podemos guardar a nossa alma na sua primitiva beleza e torná-la melhor, defender a riqueza adquirida por meio dos mistérios, não romper nem manchar a veste real.
Por isso, como o intelecto e uso da razão são próprios da natureza humana, assim se deve crer que é função do pensamento considerar os mistérios de Cristo, sobretudo porque Jesus somente é o modelo ao qual devem seguir os homens, seja em sua conduta pessoal seja na condução de outrem. Jesus, princípio, meio e fim mostrou aos homens a verdadeira justiça por sua conduta particular e também por aquela pública. Jesus é o prêmio e a coroa que devem receber os combatentes: é preciso, portanto, voltar-se para Ele, considerar atentamente a sua vida e, quanto possível, procurar entender a fundo como devemos sofrer.
Os prêmios dos atletas são proporcionais à luta: a esses prêmios esperam suportando as fadigas com tanta maior constância quanto mais conhecem o seu valor. Mas acima de tudo isso, quem não sabe que somente Jesus nos adquiriu com o seu sangue?
Por isso, não há outro a quem devemos servir, por ele somente devemos nos empenhar, corpo e alma, amor, memória e energia da inteligência, como diz também São Paulo: não sois de vós mesmos, porque fostes comprados por bom preço (1Cor 6,19-20).
Em vista do homem novo Deus criou no princípio a natureza do homem: mente e desejo foram plasmados com esse objetivo. Recebemos o pensamento para conhecer a Deus, o desejo para correr ao seu encontro, a memória para levá-lo dentro de nós; porque enquanto éramos formados, era ele o modelo.

Responsório Ef 1,3-4; 2,10
R. Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,
o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais
nos lugares celestiais em Cristo;
que nos elegeu nele antes da fundação do mundo,
* Para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele no amor.
V. Porque somos feitura sua,
criados em Cristo Jesus para as boas obras,
as quais Deus preparou para que andássemos nelas.
* Para que fôssemos.

Oração

Deus eterno e todo-poderoso, aumentai em nós a fé, a esperança e a caridade e dai-nos amar o que ordenais para conseguirmos o que prometeis. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Conclusão da Hora

V.
Bendigamos ao Senhor.
R. Graças a Deus.